“[Che Guevara] era o pivô <strong>de</strong> toda a articulação da Olas.Na verda<strong>de</strong> ela estava articulada tendo como centro a lutaguerrilheira do Che na Bolívia. Quando ele morreu, morreua Olas. Só que os cubanos não enterraram, e eu fiqueiesperando onze meses a Olas se reunir, e a organizaçãonunca se reuniu. Até que eu <strong>de</strong>cidi que não tinha nadapara fazer lá e vim embora (...). Quando eu cheguei a AçãoPopular estava totalmente dividida entre a linha maoísta e alinha cubana. Eu a<strong>de</strong>ri à linha maoísta (...). Só havia duasalternativas: ou a<strong>de</strong>ria a tudo o que ela fazia, que era umaespécie <strong>de</strong> guerra santa, um negócio <strong>de</strong> um furor i<strong>de</strong>ológicoincrível, ou então eu tinha que sair da AP. Sair da AçãoPopular naquelas circunstâncias era como pedir para alguémsair <strong>de</strong> seu próprio corpo. Porque eu era fundador. Só <strong>de</strong>pois,em 71, é que eu elaborei a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> sair.”[betinho, na revista Teoria e Debate, nº 16 ]<strong>Betinho</strong> conheceu a sua segunda mulher,Maria Nakano, numa reunião da AP,quando os dois viviam na clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>.Ele era Wilson, e ela, Marli. Na foto àdireita, os dois exilados no Panamá.A Ação Popular no fim dos anos 1960se dividiu em duas tendências: umapróxima da Revolução Cubana, <strong>de</strong>fensorada guerrilha, e outra alinhada com aRevolução Chinesa, li<strong>de</strong>rada por Mao Tsé-Tung. O grupo maoísta terminou vitorioso.Eles pregavam que o melhor caminhopara o socialismo era uma “guerrapopular prolongada”, como havia ocorridona China, e não via um “foco guerrilheiro”.“Nosso slogan na épocaera ‘só a luta armada<strong>de</strong>rruba a ditadura’.Nós viramos maoístas, e aí o lema passou a ser ‘só aguerra popular <strong>de</strong>rruba a ditadura’. (...) A gente faziatrabalho <strong>de</strong> oposição sindical, fazíamos trabalhos nosbairros, com jovens, trabalhávamos já com igrejas, mas,obviamente que guerra, no sentido que nós pensávamos epropúnhamos, obviamente, não havia. Quem acreditavamuito na guerra era a repressão, e achava que íamos fazerguerra mesmo e vinha em cima.”[ betinho, em Os caminhos da <strong>de</strong>mocracia, p. 135 ]90O <strong>Brasil</strong> <strong>de</strong> <strong>Betinho</strong>
“Eu fui trabalhar numafábrica <strong>de</strong> porcelana,em Mauá, on<strong>de</strong> fiquei seis meses. (...) Na primeira semana,eu carregava caixotes com louça. Eu que nunca tinha carregadocaixote na minha vida punha no ombro e saía. No primeiro diacomeçou uma hemorragia no joelho. Eu trabalhei <strong>de</strong> segunda asábado com hemorragia. No sábado eu não conseguia nem andar.Fui transferido para outro trabalho. Passei a ser lixador <strong>de</strong> xícara.”(<strong>Betinho</strong>, na revista Teoria e Debate, nº 16)“A clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong> é tão difícil <strong>de</strong> ser entendidapor quem não a viveu, como a doença para quemsempre esteve são. Clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong> é uma situaçãoanormal, invertida em todos os seus aspectos. Onormal para qualquer pessoa é ter seu nome ea sua história, o reconhecimento social da suaindividualida<strong>de</strong>. O clan<strong>de</strong>stino <strong>de</strong>ve ao contrárioocultar seu próprio nome e buscar que a sua própriahistória não seja conhecida. (...) Em permanentesituação <strong>de</strong> perigo, vivendo a tensão cotidiana dorisco <strong>de</strong> ser localizado, isolado <strong>de</strong> seus ambientesanteriores, cortado em sua história pessoal, vivendoartificialmente uma história em parte verda<strong>de</strong>ira eem parte inventada, o clan<strong>de</strong>stino acaba por sofreruma série <strong>de</strong> condicionamentos que o testam sobmuitos aspectos.”“A coisa em Mauá começou a ficar meio tensa, porque a gentefazia trabalho <strong>de</strong> panfletagem, pregando a luta armada. Eu memu<strong>de</strong>i para Santo André, e, em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1970, caiu todo otrabalho em Mauá. (...) Pren<strong>de</strong>ram 60 caras, batendo, torturando.(...) Eu saí da casa on<strong>de</strong> estava. Segundo soube, algumas horas<strong>de</strong>pois a polícia chegou lá. Eu ainda fiquei em São Paulo umano criando as condições <strong>de</strong> saída para o exterior, porque aorganização não tinha condições <strong>de</strong> dar nada (...). E foi aí queeu comecei a tomar uma consciência claríssima do quão suicidaera a nossa situação. A gente pensava: ‘Se eu cair, eu tenho duaschances: ou eu falo, e me transformo num traidor, ou eles vão mematar’. (...) Foi aí que eu realmente tive medo.”[ <strong>Betinho</strong>, na revista Teoria e Debate, nº 16 ][ <strong>Betinho</strong>, em “Sobre a clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>”, ArquivoHerbert <strong>de</strong> Souza, CPDOC/FGV ]Da “guerra popular” ao exílio91
- Page 1:
deOrasilBetinhoREALIZAÇÃO:PATROC
- Page 7:
Realização:Patrocínio:
- Page 13:
SumárioApresentação 13O nascimen
- Page 16:
O livro se divide em nove capítulo
- Page 20 and 21:
(“Mas a verdade éque 1935 é um
- Page 22 and 23:
Integralistas de Viçosa do ceará
- Page 24 and 25:
Com o declínio domovimento armadod
- Page 26 and 27:
(“Quando nasci, e sóaí começa
- Page 28 and 29:
“A nossa experiência deinfância
- Page 31 and 32:
Fidel Castro visita o Brasil e disc
- Page 33 and 34:
Faixas de protesto na fachada da UN
- Page 35 and 36:
“A verdade é que entrei na polí
- Page 37 and 38:
A AP e a UNESentado, de gravata, o
- Page 39:
“No mundo contemporâneo acultura
- Page 42 and 43: (“Quando ele morreuque me dei con
- Page 44 and 45: 42PropAGANDA daCAmpanha deVARGAS em
- Page 46 and 47: JK, de costas, abraça Getúlio VAR
- Page 48 and 49: (“A partir de JK,industrializaç
- Page 50 and 51: JK (segundo da dir. para a esq.) an
- Page 52 and 53: (“Ele criou umestado de circo.Em
- Page 54 and 55: “Jânio era o homem damídia. Era
- Page 56 and 57: da esquerda para a direita:O govern
- Page 58 and 59: (“Não que ele fosse umrevolucion
- Page 60 and 61: “Eu fui coordenador da assessoria
- Page 63 and 64: primeiro presidente da ditadura, Ca
- Page 65 and 66: Sede da UNE no Rio de Janeiro incen
- Page 67 and 68: “Aquilo foi uma mutilação.Foi i
- Page 69 and 70: “A Igreja Católica, no fundament
- Page 71: “Para o Uruguai foram, logo depoi
- Page 74 and 75: (“A ditadura militarbrasileira er
- Page 76 and 77: “Pretendia-se queo Brasil não ti
- Page 78 and 79: (“Começou a se dar,no interior d
- Page 80 and 81: “O períodoCosta e Silva foi umpe
- Page 82 and 83: “O governo Médiciestabeleceu uma
- Page 84 and 85: (“As portas daAbertura não seabr
- Page 86 and 87: “O período Geisel tem comocaract
- Page 89 and 90: Betinho, no exílio no Canadá, emc
- Page 91: Betinho com o filho Daniel no exíl
- Page 95 and 96: Ao exílioBetinho e Henfil entrevis
- Page 97 and 98: “A hipótese central da investiga
- Page 99 and 100: Em carta de maio de 1978, Henfil bu
- Page 101 and 102: Pasquim de junho de 1979 destACOuen
- Page 103 and 104: Certidão pós-anistia que restitui
- Page 105: “Para mim hoje estar aqui é algo
- Page 108 and 109: (“Acho que ele jánasceu candidat
- Page 110 and 111: “Sarney era vice de Tancredono Co
- Page 112 and 113: Em 1974, quando tem início adisten
- Page 114 and 115: (“A ditadura nãoentregou a rapad
- Page 116 and 117: “A campanha das eleiçõesdiretas
- Page 118 and 119: (“A Nova Repúblicaterminou e ami
- Page 120 and 121: “A Aliança Democrática,majorita
- Page 122 and 123: em sentido horário, Tancredoe Get
- Page 124 and 125: “José Sarney era o homemde confi
- Page 126 and 127: (“Apesar de Sarney,o processo de
- Page 128 and 129: “Durante os dois últimos anos pa
- Page 130 and 131: (“Collor assumiu,com toda a arrog
- Page 132 and 133: à esquerda, Capa da revista Istoé
- Page 134 and 135: (“Acho que nós vivemosum momento
- Page 136 and 137: Representantes da sociedade civil s
- Page 139 and 140: Mantimentos arrecadadospela Ação
- Page 142 and 143:
FRAGMENTO DA Carta em que CARLOS Af
- Page 144 and 145:
“Inicialmente pretendíamos monta
- Page 146 and 147:
(“As 18 maiorespropriedades doBra
- Page 148:
“Enquanto membro daCampanha Nacio
- Page 151 and 152:
“A terra não é só umespaço on
- Page 153 and 154:
Rio de Janeiromanifestação no cen
- Page 155 and 156:
A vez da cidadania153
- Page 157 and 158:
Manifestação contra a violência
- Page 159 and 160:
Eco-92Debate durante o Fórum Globa
- Page 161 and 162:
Publicações do Ibase“Desde o co
- Page 163 and 164:
A Eco-92 dariavisibilidade a umnovo
- Page 165 and 166:
Ação da CidadaniaApartir de 1993,
- Page 167 and 168:
“Foi depois doimpeachment queo Mo
- Page 169 and 170:
“Eu acho que o assistencialista n
- Page 171 and 172:
A vez da cidadania169
- Page 173 and 174:
Com a saída de Collor, o novo pres
- Page 175 and 176:
A Ação da Cidadania se preocupou
- Page 177 and 178:
o que é democraciaBetinho autOGRAF
- Page 179 and 180:
“Cidadania e democraciaandam de m
- Page 181 and 182:
“A radicalidadeda propostademocr
- Page 183 and 184:
Um sociólogono poderO sociólogo e
- Page 185 and 186:
“Exílio político o sociólogoFe
- Page 187:
“A Agenda Social nasceude uma reu
- Page 190 and 191:
(“Agora, o fatode eu estarlutando
- Page 192 and 193:
“Esse desastretem muitas origens,
- Page 194 and 195:
“Decidi ajudar osmeus irmãos hem
- Page 196 and 197:
Na charge ao lado, a visão de Paul
- Page 199 and 200:
À ESQUERDA, A graúna, famosa pers
- Page 201 and 202:
“Atualmente estou tomando umremé
- Page 203 and 204:
“Como todo brasileiro vejo televi
- Page 205 and 206:
O caso dojogo do bichoBetinho viveu
- Page 207 and 208:
“Esse episódiome atingiunum mome
- Page 209 and 210:
O fim da mudançaHerbert José de S
- Page 211 and 212:
“Apesar de todos os problemas,eu
- Page 213 and 214:
BRASIL / MUNDO1954 Em 24 de agosto,
- Page 215 and 216:
BRASIL / MUNDO1967 Assume a Presid
- Page 217 and 218:
BRASIL / MUNDO1978 Estouram as grev
- Page 219 and 220:
BRASIL / MUNDOBETINHO1990 Betinho c
- Page 221 and 222:
Referências BibliográficasArquivo
- Page 223 and 224:
LÖWY, Michael (org.). O marxismo n
- Page 225 and 226:
Créditos das imagensPáginas 2 e 3
- Page 227:
PáginaS 122 e 123:Arquivo Tancredo