O Brasil de Betinho - Ibase
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“Decidi ajudar osmeus irmãos hemofílicos,e quando digo irmãos não são só os meus, mas todos os milhemofílicos que estão registrados: 70% estão contaminados, mais de35% já morreram, e deve haver uns 60% em tratamento. Foi entãoque decidi fundar a Abia. No dia da fundação brinquei: ‘Aceito ser opresidente e sou a primeira vítima dessa presidência’. Não fui.Aí comecei todo o processo de enfrentar a aids, não só na minhavida pessoal, mas também com os outros, porque essa doençamiserável estigmatiza. A vítima passou a ser vista como culpada.Há amigos, conhecidos meus, que optaram pela morte comanonimato. É uma coisa terrível você não enfrentar nem a suaprópria vida, seu ato final, sua identidade final. Às vezes, amigosmeus se espantam: ‘Como você assumiu publicamente que éportador do vírus?’. Hoje enfrento qualquer autoridade pública,federal, municipal ou estadual, qualquer instituição, e digo queestou atuando em legítima defesa de mim e de milhares de pessoasque estão predestinadas, milhares que vão ser contaminadas.”[ Betinho, no Jornal do Brasil, 13/09/87 ]192O Brasil de Betinho
“Ainda existem pessoasque se dão ao luxo de fazerdiscriminação contra aidético,quer dizer, quem tem culpa é o aidético. Dizem: ‘A aids é uma doençade homossexual’. Não, homossexual (...) é uma vítima da aids,hemofílico é uma vítima da aids.”[ Betinho, no programa Roda Viva, 14/12/1987 ]“A aids é talvez a coisa mais pública nomundo, hoje. No entanto, o aidéticoé clandestino. Quer dizer, todos osaidéticos, com exceção de poucos, entreos quais me coloco, são clandestinos.Os aidéticos estão vivendo na maiscompleta clandestinidade. E não temDoi-Codi, Operação Bandeirantes,polícia, que os descubra. E a maioriaesmagadora está morrendo naclandestinidade. Alguns saem daclandestinidade pós-morte. Outros,nem depois da morte. Para alguns, aclandestinidade é superior à morte,e isso é um lado que me chocaprofundamente.”[ Betinho, em Cadernos de história e saúde,nº 2, p. 26 ]A cura da aids (1994) reuniu textos de Betinhosobre a doença, como “O dia da cura”, queresultou num curta-metragem de ficção coma participação especial do próprio Betinho193
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“Ainda existem pessoasque se dão ao luxo <strong>de</strong> fazerdiscriminação contra aidético,quer dizer, quem tem culpa é o aidético. Dizem: ‘A aids é uma doença<strong>de</strong> homossexual’. Não, homossexual (...) é uma vítima da aids,hemofílico é uma vítima da aids.”[ <strong>Betinho</strong>, no programa Roda Viva, 14/12/1987 ]“A aids é talvez a coisa mais pública nomundo, hoje. No entanto, o aidéticoé clan<strong>de</strong>stino. Quer dizer, todos osaidéticos, com exceção <strong>de</strong> poucos, entreos quais me coloco, são clan<strong>de</strong>stinos.Os aidéticos estão vivendo na maiscompleta clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>. E não temDoi-Codi, Operação Ban<strong>de</strong>irantes,polícia, que os <strong>de</strong>scubra. E a maioriaesmagadora está morrendo naclan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>. Alguns saem daclan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong> pós-morte. Outros,nem <strong>de</strong>pois da morte. Para alguns, aclan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong> é superior à morte,e isso é um lado que me chocaprofundamente.”[ <strong>Betinho</strong>, em Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> história e saú<strong>de</strong>,nº 2, p. 26 ]A cura da aids (1994) reuniu textos <strong>de</strong> <strong>Betinho</strong>sobre a doença, como “O dia da cura”, queresultou num curta-metragem <strong>de</strong> ficção coma participação especial do próprio <strong>Betinho</strong>193