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Projeto do Promontório, Casino de Tróia, Grândola ... - Promontorio

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EDITORIALtemáticoPortugal TurísticoEntre a negação disciplinar da realida<strong>de</strong> e a procura específica <strong>de</strong> alternativasLUÍS SANTIAGO BAPTISTA|lsbaptista@revarqa.com1A temática <strong>do</strong> turismo caracteriza-se hoje, por um la<strong>do</strong>, por práticasgeneralizadas <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s indivíduos e, por outro, por críticasaos processos <strong>de</strong> massificação a que estas estão sujeitas. Se, a uma escalaplanetária, se multiplicam os potenciais <strong>de</strong>stinos turísticos, <strong>do</strong>s históricosaté aos exóticos, assiste-se igualmente a uma diversificação <strong>do</strong>s tipos <strong>de</strong>turismo, compreen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> o lúdico, o cultural, o terapêutico, o <strong>de</strong> aventura, oreligioso, o <strong>de</strong>sportivo, o urbano, o rural, o ecológico, o sexual, etc. O indivíduocontemporâneo parece ter alcança<strong>do</strong> <strong>de</strong>finitivamente a <strong>de</strong>sterritorialização.Depois <strong>do</strong>s trajetos sacraliza<strong>do</strong>s <strong>do</strong> peregrino, com percurso e <strong>de</strong>stino<strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s, <strong>do</strong> itinerário cultural <strong>do</strong> viajante, instituí<strong>do</strong> pelo Grand Tour, emesmo da experiência metropolitana <strong>do</strong> tipo blasé <strong>de</strong> Simmel e <strong>do</strong> flâneur<strong>de</strong> Benjamin, tornámo-nos cada vez mais sujeitos em movimento. Quan<strong>do</strong>Zygmunt Bauman, na sua <strong>de</strong>finição <strong>do</strong>s “sucessores <strong>do</strong> peregrino”, distingueas categorias <strong>do</strong> “<strong>de</strong>ambula<strong>do</strong>r”, <strong>do</strong> “vagabun<strong>do</strong>” e <strong>do</strong> “turista”, fá-lo paracaracterizar essa nova existência dinâmica <strong>do</strong> indivíduo contemporâneo. 1Mas o que se torna aqui <strong>de</strong>terminante é que a prática da <strong>de</strong>slocação não estárelacionada com a ativida<strong>de</strong> turística em si, sen<strong>do</strong> antes a condição estrutural<strong>do</strong>s nossos tempos. De facto, o nosso movimento é hoje expansivamente físicoe mental, real e virtual, local e global, algo que acontece entre as <strong>de</strong>slocaçõesfísicas, as viagens da consciência e, agora, as navegações na internet. Estai<strong>de</strong>ia serve-nos para interrogar as resistências que enquadram a questão <strong>do</strong>turismo no campo da arquitetura. Por sistema, os arquitetos têm tendênciapara criticar a indústria <strong>do</strong> turismo, confrontan<strong>do</strong> a banalização generalizada <strong>do</strong>merca<strong>do</strong> turístico com uma autenticida<strong>de</strong> tradicional em <strong>de</strong>saparecimento. Estaconceção dicotómica leva à oposição entre a procura <strong>do</strong> mesmo, <strong>do</strong> primeiro,ao <strong>de</strong>sejo <strong>do</strong> outro, <strong>do</strong> segun<strong>do</strong>. E, não negan<strong>do</strong> o seu fun<strong>do</strong> <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, oproblema que se coloca é que esta relação entre banalida<strong>de</strong> e alterida<strong>de</strong> acabapor se transmutar na distinção entre realida<strong>de</strong>s arquitetónicas e urbanas. Asmás <strong>do</strong>minadas pela lógica turística <strong>do</strong> simulacro, as boas entendidas comobastiões <strong>de</strong> resistência <strong>do</strong> autêntico. Como se a alterida<strong>de</strong> fosse característicaintrínseca <strong>de</strong> um certo ambiente pretensamente verda<strong>de</strong>iro. É neste pontoque a nostalgia e a melancolia se apo<strong>de</strong>ra <strong>do</strong>s arquitetos nesse confronto coma realida<strong>de</strong> massificada <strong>do</strong> turismo, reduzin<strong>do</strong>-a a uma mera <strong>de</strong>stituição <strong>do</strong>senti<strong>do</strong> da experiência. Mas não será a experiência <strong>de</strong> Monte Gor<strong>do</strong> no pino <strong>do</strong>Verão uma experiência estruturalmente “heterotópica” no senti<strong>do</strong> foucaultiano?E não teremos um verda<strong>de</strong>iro contacto com o “outro”, numas férias, em pacotetu<strong>do</strong> incluí<strong>do</strong>, num resort em Punta Cana? Temos a impressão que essarelação com a alterida<strong>de</strong>, embora mantenha uma conexão contextual, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>igualmente da natureza da resposta <strong>do</strong> dito “turista”.2Não tem si<strong>do</strong> fácil em Portugal o <strong>de</strong>bate crítico sobre arquitetura eturismo. Depois <strong>de</strong> um início promete<strong>do</strong>r nos anos 60 e 70, a arquiteturaqualificada e a indústria turística têm revela<strong>do</strong> uma convivência tensa, nãoconseguin<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolver formas <strong>de</strong> aproximação mais produtivas. Torna-sea este nível revela<strong>do</strong>r a análise breve das publicações disciplinares sobre otema na última década e meia. Des<strong>de</strong> logo, em 2000, ten<strong>do</strong> em conta arequalificação <strong>do</strong> Jornal <strong>do</strong>s Arquitetos, o renova<strong>do</strong> J.A, dirigi<strong>do</strong> por ManuelGraça Dias, <strong>de</strong>senvolvia o tema “As Praias <strong>de</strong> Portugal”, em <strong>do</strong>is númerossobre a questão <strong>do</strong> turismo, lúdico no primeiro, cultural no seguinte. Comuma frescura a que não estávamos habitua<strong>do</strong>s, pressente-se nestes númerosuma cisão entre a prática qualificada <strong>do</strong>s arquitetos e o mun<strong>do</strong> <strong>de</strong>squalifica<strong>do</strong><strong>do</strong> turismo. Talvez por isso o refúgio na exemplarida<strong>de</strong> da história mo<strong>de</strong>rnaportuguesa, patente não só nos textos, entre o histórico, o empírico e opoético, mas principalmente nos projetos apresenta<strong>do</strong>s. O afastamento, nessemomento, da arquitetura <strong>de</strong> autor em relação à promoção turística justificavaessa re<strong>de</strong>scoberta da memória mo<strong>de</strong>rna. Neste senti<strong>do</strong>, esta primeira respostaintencional ao tema não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> assumir uma certa inclinação nostálgica.“E afinal o turismo, viagem, po<strong>de</strong>ria ser uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sprendida; só se<strong>de</strong>veria querer visitar e ver o que fosse vivo e real”, 2 afirmava então Graça Dias.Mais tar<strong>de</strong>, em 2007, já com a nova direção <strong>do</strong> J.A em exercício, Ricar<strong>do</strong>Carvalho e José Adrião lançavam o tema das “Férias”, procuran<strong>do</strong> relacionara situação portuguesa com o contexto globaliza<strong>do</strong> <strong>do</strong> turismo. Os diretoresassumiam agora uma perspetiva claramente apontada à contemporaneida<strong>de</strong>e ao papel ativo <strong>do</strong>s arquitetos na qualificação <strong>do</strong> território e da paisagem:“O turismo «<strong>de</strong>scobre» e potencia um lugar, mas é também responsável, namaior parte das vezes, pela aniquilação da sua própria razão existencial. E éexatamente aqui que a arquitetura, na sua relação com o território, com osprogramas, com a cultura, po<strong>de</strong> inverter positivamente um processo irreversível<strong>de</strong> multiplicação <strong>de</strong> erros.” 3 De certa forma, essa posição afirmativa encontravaa sua explicação na então recente aproximação entre a arquitetura <strong>de</strong> autore a promoção turística, através <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> encomendas significativasa alguns <strong>do</strong>s arquitetos portugueses mais reconheci<strong>do</strong>s. Apesar da escolhasensível <strong>do</strong>s projetos e da recuperação <strong>de</strong> referências históricas nacionais,Carvalho e Adrião não <strong>de</strong>ixavam <strong>de</strong> abrir a sua perspetiva ao contextointernacional, com incursões pontuais aos <strong>de</strong>bates críticos <strong>do</strong> momento, comoo caso <strong>de</strong>lirante <strong>do</strong> Dubai. No entanto, manifestava-se ainda esse intervaloentre o papel qualifica<strong>do</strong>r conferi<strong>do</strong> aos arquitetos portugueses e a realida<strong>de</strong>produtiva <strong>do</strong> fenómeno <strong>do</strong> turismo globaliza<strong>do</strong>, como se não conseguissemverda<strong>de</strong>iramente cruzar trajetórias. Po<strong>de</strong>r-se-ia dizer que esta nova respostaao tema se concretizava agora num registo bipolar. Por fim, em 2008, noâmbito <strong>do</strong> revela<strong>do</strong>r programa Allgarve e em parceria com a Fundação <strong>de</strong>Serralves, cruzan<strong>do</strong> assim os <strong>do</strong>mínios lúdico e cultural, Luís Tavares Pereiracomissariava a exposição Reação em Ca<strong>de</strong>ia, centrada sobre a tipologia<strong>do</strong> hotel contemporâneo. Apesar <strong>do</strong> âmbito tipológico mais circunscrito, aexposição e respetivo catálogo anunciavam uma mudança <strong>de</strong> perspetivaque evitasse as limitações presentes nas interpretações anteriores. Afirmavao comissário: “A indústria <strong>do</strong> turismo confronta-se hoje com novos <strong>de</strong>safiosadvin<strong>do</strong>s da facilida<strong>de</strong> das comunicações e <strong>do</strong> consequente crescimento dacirculação <strong>de</strong> pessoas, a que se associa a crescente sofisticação <strong>do</strong> público.À medida que nos tornamos mais globais, o hotel constitui um <strong>do</strong>s principaispontos nodais <strong>de</strong> cruzamento <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> em movimento.” 4 A exposiçãoapresentava um conjunto amplo <strong>de</strong> novos hotéis, construí<strong>do</strong>s ou em projeto,num espectro geográfico global, embora manten<strong>do</strong> o centramento naarquitetura <strong>de</strong> autor. Porém, a sua relevância estava na vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> extravasar omun<strong>do</strong> disciplinar da arquitetura. Se, por um la<strong>do</strong>, as entrevistas a arquitetos,arquitetos <strong>de</strong> interiores, promotores, empresários e hoteleiros <strong>de</strong>monstravamessa atenção aos processos media<strong>do</strong>res da produção arquitetónica, por outro, aantologia <strong>de</strong> textos poéticos, narrativos e ensaísticos contemporâneos revelavam020 arqa maio|junho 2012

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