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OBSERVATÓRIO DA IMIGRAÇÃOOS MEIOS DECOMUNICAÇÃO ÉTNICOSEM PORTUGALdinâmiCa OrGanizaCIONAL DOS MEDIADAS COMUNIDADES DE IMIGRANTESISABELA CÂMARA SALIM29OUTUBRO 2008

OBSERVATÓRIO DA IMIGRAÇÃOOS MEIOS DECOMUNICAÇÃO ÉTNICOSEM PORTUGALdinâmiCa OrGanizaCIONAL DOS MEDIADAS COMUNIDADES DE IMIGRANTESISABELA CÂMARA SALIM29OUTUBRO 2008


OS MEIOS DE COMUNICAÇÃOÉTNICOS EM PORTUGALDinâmica organizacional d<strong>os</strong> media<strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantesISABELA CÂMARA SALIM


Biblioteca Nacional – Catalogação na PublicaçãoSALIM, Isabela CâmaraOs mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal: dinâmica organizacional d<strong>os</strong> media <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes(Estud<strong>os</strong> OI; 29)ISBN 978-989-8000-57-6I – SALIM, Isabela CâmaraCDU 316005314PROMOTORALTO-COMISSARIADO PARA A IMIGRAÇÃOE DIÁLOGO INTERCULTURAL (ACIDI, I.P.)COORDENADOR DA COLECÇÃOPROF. ROBERTO CARNEIROAUTORAISABELA CÂMARA SALIMbela.salim@gmail.comEDIÇÃOALTO-COMISSARIADO PARA A IMIGRAÇÃOE DIÁLOGO INTERCULTURAL (ACIDI, I.P.)Rua Álvaro Coutinho, n.º14, 1150-025 LisboaTelefone: (+351) 218 106 100 Fax: (+351) 218 106 117e-mail: acidi@acidi.gov.ptEXECUÇÃO GRÁFICAPAULINAS EDITORAIMPRESSÃO E ACABAMENTOSARTIPOL – ARTES TIPOGRÁFICAS, LDA. – ÁGUEDAPRIMEIRA EDIÇÃO1500 EXEMPLARESISBN978-989-8000-57-6DEPÓSITO LEGAL285 780/08LISBOA, OUTUBRO 2008(2) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


ÍNDICE GERALLISTA DE TABELAS E QUADROS 5NOTA DE ABERTURA 7NOTA DO COORDENADOR 9OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO ÉTNICOS EM PORTUGAL 11AGRADECIMENTOS 13INTRODUÇÃO 15PARTE I: CONTEXTO, CONCEITOS, APRESENTAÇÃO, FUNDAMENTOSE METODOLOGIA 17CAPÍTULO 1 – CONTEXTO DO ESTUDO 191. APRESENTAÇÃO DO OBJECTO DE ESTUDO 192. OBJECTIVO 203. PERTINÊNCIA DO ESTUDO 214. ETAPAS DE INVESTIGAÇÃO 235. METODOLOGIA 24CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTAÇÃO – DISCUSSÃO TEÓRICA EM TORNODOS CONCEITOS-CHAVE 261. O ACTO DE INFORMAR 261.1 Breve discussão <strong>em</strong> torno <strong>da</strong> palavra “informar” 262. OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO ÉTNICOS 292.1 O que se enten<strong>de</strong> por “mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação étnic<strong>os</strong>”? 292.2 As principais comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes <strong>em</strong> Portugal(ou as principais minorias étnicas <strong>em</strong> Portugal) 31Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (3)


PARTE II: TRABALHOS REALIZADOS E RESULTADOS 411. TRABALHOS REALIZADOS 432. RESULTADOS 442.1 Os mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação <strong>da</strong>s principais comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes<strong>em</strong> Portugal – análise técnica 442.2 Os mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação <strong>da</strong>s principais comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes<strong>em</strong> Portugal – análise social 502.3 Breve estudo comparativo entre <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação d<strong>os</strong> imigrantes <strong>em</strong>Portugal e outr<strong>os</strong> países com tradição <strong>de</strong> imigração 60PARTE III: CONSIDERAÇÕES FINAIS 73O que se enten<strong>de</strong> por integração? 76O “capital social” como ferramenta <strong>de</strong> integração 78Media étnic<strong>os</strong> como meio <strong>de</strong> abertura ou <strong>de</strong> fechamento <strong>da</strong>s diferentes comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<strong>de</strong> imigrantes? 81CONCLUSÃO 88RECOMENDAÇÕES 90Recomen<strong>da</strong>ções <strong>de</strong> políticas públicas 901. Media étnic<strong>os</strong> como suporte para uma informação mais rápi<strong>da</strong> e mais directa 902. Apoio financeiro por parte <strong>da</strong>s Embaixa<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s respectivas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<strong>de</strong> imigrantes e/ou através <strong>de</strong> organism<strong>os</strong> públic<strong>os</strong> 91Recomen<strong>da</strong>ções para <strong>os</strong> agentes do mercado 921. Apoio financeiro 922. Portal d<strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal 933. Media étnico como canal focalizador ao mercado <strong>de</strong> trabalho 944. Promover concurs<strong>os</strong> para potencializar <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> 94ÚLTIMAS OBSERVAÇÕES 95BIBLIOGRAFIA 99ANEXOS 105(4) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


LISTA DE TABELAS E QUADROSTabela 1 – Total <strong>de</strong> imigrantes não comunitári<strong>os</strong> <strong>em</strong> comparação a<strong>os</strong> ci<strong>da</strong>dã<strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong><strong>da</strong> União Europeia <strong>em</strong> Portugal 32Tabela 2 – Principais nacionali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes não comunitári<strong>os</strong> 33Tabela 3 – Percentag<strong>em</strong> <strong>de</strong> estrangeir<strong>os</strong> por total <strong>da</strong> população resi<strong>de</strong>nte <strong>em</strong> países <strong>da</strong> OCDE 34Tabela 4 – Evolução <strong>da</strong> população estrangeira <strong>em</strong> Portugal com estatuto legal <strong>de</strong> resi<strong>de</strong>nte 35Tabela 5 – Número <strong>de</strong> imigrantes <strong>em</strong> Portugal por área geográfica 40Quadro 1 – Activi<strong>da</strong><strong>de</strong>s programa<strong>da</strong>s para o projecto 43Quadro 2 – Os diferentes media étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal 45Quadro 3 – Características d<strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> 45Quadro 4 – Principais funções d<strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> segundo <strong>os</strong> seus representantes 46Quadro 5 – S<strong>em</strong>elhanças e diferenças entre <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> russ<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal e no Canadá 70Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (5)


(6) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


NOTA DE ABERTURAO Observatório <strong>de</strong> Imigração (OI) há muito que t<strong>em</strong> vindo a <strong>de</strong>bruçar-se sobre o olhar d<strong>os</strong>media – promovid<strong>os</strong> pela socie<strong>da</strong><strong>de</strong> maioritária <strong>de</strong> acolhimento – para as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>simi grantes e a probl<strong>em</strong>ática <strong>da</strong>s representações e estereótip<strong>os</strong> <strong>em</strong> torno <strong>da</strong>s populaçõesmi noritárias, reconhecendo o papel que têm na formação <strong>da</strong> opinião pública portuguesacom reflex<strong>os</strong> <strong>de</strong>monstrad<strong>os</strong> n<strong>os</strong> índices <strong>de</strong> integração d<strong>os</strong> imigrantes.O OI v<strong>em</strong> agora <strong>da</strong>r mais um passo no estudo <strong>de</strong>ste fenómeno ao publicar esta meritóriain vestigação sobre uma matéria inédita entre nós: <strong>de</strong>sta vez o olhar d<strong>os</strong> media promovid<strong>os</strong>pelas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s imigrantes <strong>em</strong> Portugal.Embora o estudo revele que a presença e o impacto d<strong>os</strong> media <strong>de</strong>tid<strong>os</strong> por minoriasétnicas ain<strong>da</strong> não é significativo, se comparado com países com forte tradição <strong>de</strong> acolhi -mento <strong>de</strong> imigração (caso d<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong> <strong>da</strong> América ou do Canadá), trata-se <strong>de</strong> umareali<strong>da</strong><strong>de</strong> a que as n<strong>os</strong>sas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s imigrantes não estão alheias. Este estudo m<strong>os</strong>traque algumas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s têm vindo a recorrer a esses legítim<strong>os</strong> canais tanto como forma<strong>de</strong> assegurar a sua liber<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão e i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> cultural, como para veicular assuas aspirações e informações úteis acerca do país <strong>de</strong> acolhimento.Este estudo garante, pois, outro olhar acerca <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s imigrantes <strong>em</strong> Portugal,<strong>de</strong> signa<strong>da</strong>mente quanto à forma como <strong>os</strong> imigrantes percepcionam a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> acolhi -mento. É ain<strong>da</strong> analisa<strong>da</strong> a função e representativi<strong>da</strong><strong>de</strong> d<strong>os</strong> “mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação étni -c<strong>os</strong>” junto d<strong>os</strong> imigrantes a que se dirig<strong>em</strong>, avaliando o seu justo papel no processo <strong>de</strong>integração, s<strong>em</strong> men<strong>os</strong>prezar uma dimensão fun<strong>da</strong>mental: o <strong>de</strong>, servindo <strong>de</strong> espelho <strong>da</strong>socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> acolhimento, reflectir um novo olhar sobre a mesma reali<strong>da</strong><strong>de</strong>.Em Portugal, <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação social <strong>de</strong> divulgação nacional já dispõ<strong>em</strong> <strong>de</strong> al gunsprogramas <strong>de</strong> informação especificamente <strong>de</strong>stinad<strong>os</strong> a este público alvo: é o caso doPrograma “Nós”, produzido pelo ACIDI, I.P. <strong>em</strong> colaboração com a RTP e <strong>em</strong>itido na RTP2e na RTP África, do programa Etnias <strong>da</strong> SIC, ou <strong>os</strong> programas <strong>de</strong> rádio, como é caso do“Gente como nós” <strong>da</strong> TSF, apoiado pelo ACIDI, I.P. A RTP África <strong>de</strong>dica também to<strong>da</strong> uma<strong>em</strong>issão <strong>de</strong> informação acerca d<strong>os</strong> países african<strong>os</strong>, <strong>de</strong>stacando <strong>em</strong> particular <strong>os</strong> PALOPs.Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (7)


Lado a lado com esta reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e com <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> divulgação mais restrita,exi st<strong>em</strong> também grup<strong>os</strong> <strong>de</strong> imigrantes a produzir inúmeras publicações nas suas línguasmaternas. Sejam revistas, jornais ou boletins, estas iniciativas <strong>de</strong> comunicação repre sen -tam mais um sinal muito p<strong>os</strong>itivo do dinamismo <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s imigrantes.Ao escrever esta nota <strong>de</strong> abertura realço, a título <strong>de</strong> ex<strong>em</strong>plo, o espaço <strong>de</strong> divulgação queo Centro Nacional <strong>de</strong> Apoio ao Imigrante <strong>em</strong> Lisboa disponibiliza a<strong>os</strong> “mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comu ni -ca ção étnic<strong>os</strong>”. Nesse exp<strong>os</strong>itor é p<strong>os</strong>sível encontrar ex<strong>em</strong>plares <strong>de</strong> várias revistas e jor -nais, como por ex<strong>em</strong>plo o jornal Sabiá – jornal <strong>da</strong> Casa do Brasil <strong>de</strong> Lisboa –, a revistaBrasileirinho, o jornal Mundo s<strong>em</strong> fronteiras – jornal mensal <strong>em</strong> língua ucraniana, russae romena –, o Boletim <strong>da</strong> Associação Bulgari – Associação <strong>de</strong> Búlgar<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal –, aRe vista Ver<strong>de</strong> e Amarelo ou o jornal MAJ (russo).Como refere a autora do estudo, Isabela Câmara Salim, a comunicação e a informação sãoins trument<strong>os</strong> fun<strong>da</strong>mentais para amenizar potenciais tensões entre a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> acolhi -mento e <strong>os</strong> imigrantes. Com efeito, <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação étnic<strong>os</strong> são um excelentecanal <strong>de</strong> reforço <strong>da</strong>s i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>s culturais <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s imigrantes e um veículo pri -vi legiado <strong>de</strong> informação potenciador <strong>de</strong> integração. Nessa medi<strong>da</strong> este é um fenómeno <strong>em</strong>crescimento que <strong>de</strong>ve ser estu<strong>da</strong>do e acompanhado pela aca<strong>de</strong>mia.Mas não <strong>de</strong>ve ser apenas matéria <strong>de</strong> estudo para a aca<strong>de</strong>mia, também <strong>os</strong> po<strong>de</strong>res públic<strong>os</strong>,no respeito sagrado pelo princípio <strong>da</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão, <strong>de</strong>verão estar atent<strong>os</strong> à voz<strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s imigrantes com vista a sinalizar o estado <strong>da</strong> sua Alma, <strong>da</strong> sua inte gra çãoe b<strong>em</strong> estar. Dev<strong>em</strong> ser também potencia<strong>da</strong>s parcerias com vista a veicular infor ma ção útilque chegue mais eficazmente às comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s imigrantes quanto a<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> integraçãodisponibilizad<strong>os</strong> pelo Estado, como prevê e b<strong>em</strong> o Plano para a Integração d<strong>os</strong> Imigrantes,aprovado pela Resolução do Conselho <strong>de</strong> Ministr<strong>os</strong> n.º 63ª / 2007, <strong>de</strong> 3 <strong>de</strong> Maio.Uma última palavra <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cimento à autora do estudo, Isabela Câmara Salim, pelo excelentetrabalho realizado que espero, convictamente, venha a contribuir para relançar amereci<strong>da</strong> atenção <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> portuguesa para esta t<strong>em</strong>ática.ROSÁRIO FARMHOUSEALTA COMISSÁRIA PARA A IMIGRAÇÃO E O DIÁLOGO INTERCULTURAL(8) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


NOTA DO COORDENADORDominique Wolton, reputado sociólogo <strong>da</strong> comunicação, qualifica <strong>os</strong> media si mul ta nea -men te como um espelho e uma janela («le miroir et la fenêtre»).O espelho reflecte a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e é presa fácil d<strong>os</strong> seus estereótip<strong>os</strong> dominantes.A janela espreita sobre o futuro e <strong>de</strong>sven<strong>da</strong> cenári<strong>os</strong> alternativ<strong>os</strong>.A metáfora é oportuna para qualificar o original – e s<strong>em</strong>inal – trabalho <strong>de</strong> Isabela CâmaraSalim intitulado “Os mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal”, livro que a ColecçãoEstud<strong>os</strong> OI v<strong>em</strong> trazer ao conhecimento generalizado do público interessado.Com efeito, <strong>os</strong> media <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> – e t<strong>em</strong>ática – étnica constitu<strong>em</strong> um po<strong>de</strong>r<strong>os</strong>o espelhoreflector <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s que serv<strong>em</strong>. A sua leitura é b<strong>em</strong> reveladora d<strong>os</strong> dramas, aspi raç ões, frustrações, esperanças e ambições que povoam o quotidiano <strong>da</strong>s populaçõesmigrantes.N<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre o espelho será plano. A sua curvatura (convexa ou côncava) será também are presentação <strong>de</strong> <strong>de</strong>formações que habitam o imaginário d<strong>os</strong> pov<strong>os</strong>. Por isso, a sua análiseé um importante indicador do modo como ca<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> se vê a si própria e olha paraas <strong>de</strong>mais comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s circum-vizinhas.Mas <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação étnic<strong>os</strong> são acima <strong>de</strong> tudo uma janela volta<strong>da</strong> para o futu -ro, a manifestação autêntica <strong>da</strong>s esperanças que animam ca<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e a hipótese<strong>de</strong> negociar olhares colectiv<strong>os</strong> que traduz<strong>em</strong> propósit<strong>os</strong> e visões esperanç<strong>os</strong>as.Sau<strong>da</strong>m<strong>os</strong> este relevante estudo <strong>de</strong> Isabela Salim na convicção <strong>de</strong> que ele representaain<strong>da</strong> um virar <strong>de</strong> página na forma secun<strong>da</strong>rizante como tradicionalmente se encaram <strong>os</strong>media <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> étnica <strong>em</strong> Portugal.Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (9)


Efectivamente, muito po<strong>de</strong>m<strong>os</strong> apreen<strong>de</strong>r – e compreen<strong>de</strong>r – sobre as dinâmicas sociaise humanas <strong>de</strong> integração <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s migrantes se n<strong>os</strong> <strong>de</strong>rm<strong>os</strong> ao trabalho <strong>de</strong> aspers crutar n<strong>os</strong> seus mo<strong>de</strong>l<strong>os</strong> comunicacionais “privativ<strong>os</strong>”.E, criteri<strong>os</strong>amente analisad<strong>os</strong>, esses mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação dão-n<strong>os</strong> el<strong>em</strong>ent<strong>os</strong> preci<strong>os</strong><strong>os</strong><strong>de</strong> auto-reflexão na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que n<strong>os</strong> transmit<strong>em</strong> a imag<strong>em</strong> – real ou <strong>de</strong>forma<strong>da</strong> – que<strong>os</strong> imigrantes têm sobre a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> acolhimento.A final, o importante é a janela.Ou ela é portadora <strong>de</strong> sinais <strong>de</strong> futuro e <strong>de</strong> renova<strong>da</strong> esperança, ou b<strong>em</strong> que a comu ni -<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> apreço se encontra bloquea<strong>da</strong> – no seu âmago ou na sua relação com a en vol -vente exterior.Como profeticamente propõe Dominique Wolton, o probl<strong>em</strong>a grave ocorre quando a únicajanela... é o espelho.O ensaio investigativo <strong>de</strong> Isabela Salim é um importante alerta.Saibam<strong>os</strong> olhar para <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação étnic<strong>os</strong> <strong>de</strong> maneira inteligente e <strong>em</strong>penha -<strong>da</strong>. Neles importa-n<strong>os</strong> profeticamente <strong>de</strong>scortinar – e aju<strong>da</strong>r a <strong>de</strong>sven<strong>da</strong>r – as janelas queanunciam as primaveras <strong>de</strong> um novo t<strong>em</strong>po por realizar.ROBERTO CARNEIROCOORDENADOR DO OBSERVATÓRIO DA IMIGRAÇÃO DO ACIDI(10) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


OS MEIOS DE COMUNICAÇÃOÉTNICOS EM PORTUGALOs Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (11)


(12) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


AGRADECIMENTOSA realização <strong>de</strong> um trabalho como este não seria p<strong>os</strong>sível s<strong>em</strong> o apoio indispensável <strong>de</strong>pes soas e instituições que acreditam <strong>em</strong> nós, n<strong>os</strong> guiam, n<strong>os</strong> orientam e n<strong>os</strong> encorajam.Agra<strong>de</strong>c<strong>em</strong><strong>os</strong> assim:Ao Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural (ACIDI), através do Obser -va tório para a Imigração, por n<strong>os</strong> ter <strong>da</strong>do a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e o suporte financeiro pararealizar este trabalho;À Casa do Brasil, importante ponto <strong>de</strong> observação, <strong>de</strong> contacto e <strong>de</strong> vivência d<strong>os</strong> proble -mas do quotidiano <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> procura um abrigo seguro, uma indicação <strong>de</strong> caminho, umapalavra <strong>de</strong> confiança, um sorriso <strong>de</strong> conforto e esperança;A tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> representantes d<strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong>, que gentilmente n<strong>os</strong> receberam e <strong>em</strong>pres ta -ram uma parte do seu t<strong>em</strong>po;À n<strong>os</strong>sa família pelo apoio e pelo carinho;A to<strong>da</strong>s as pessoas amigas que acreditam n<strong>os</strong> n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> project<strong>os</strong> e n<strong>os</strong> encorajam.Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (13)


(14) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


INTRODUÇÃOIn the process, an essential truth has been l<strong>os</strong>t. The vast majority of migrants areindustrious, courageous and <strong>de</strong>termined. They don’t want a free ri<strong>de</strong>. They wanta fair opportunity. They’re not criminals or terrorists. They’re law-abiding. Theydon’t want to live appart. They want to integrate, while retaining their i<strong>de</strong>ntity 1 .Este estudo apresenta <strong>os</strong> resultad<strong>os</strong> do trabalho realizado para o projecto sobre <strong>os</strong> mediaétnic<strong>os</strong>, financiado pelo Observatório <strong>de</strong> Imigração, que teve como objecto central uma investigaçãoacerca d<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal. O principal objec tivoconsistiu na elaboração <strong>de</strong> um mapping, ou um levantamento <strong>de</strong> <strong>da</strong>d<strong>os</strong>, sist<strong>em</strong>a e instru -ment<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal, com a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r a dinâ mi -ca organizacional <strong>de</strong>sses mei<strong>os</strong>, que funções <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penham e contribuições p<strong>os</strong>iti vas ofe -rec<strong>em</strong> para as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes que representam.Para tal propósito, o Estudo está elaborado <strong>em</strong> três partes:A primeira, <strong>em</strong> que se <strong>de</strong>screve o n<strong>os</strong>so objecto <strong>de</strong> estudo, está dividi<strong>da</strong> <strong>em</strong> dois capí tu -l<strong>os</strong>. No primeiro, contextualizar<strong>em</strong><strong>os</strong> o estudo: <strong>de</strong>screver<strong>em</strong><strong>os</strong> <strong>os</strong> n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> objectiv<strong>os</strong>, escla -re ce r<strong>em</strong><strong>os</strong> a n<strong>os</strong>sa metodologia, a pertinência <strong>de</strong> se realizar um projecto como este.No segundo capítulo, para que o leitor tenha uma melhor compreensão do significado dotrabalho, apresentar<strong>em</strong><strong>os</strong> uma fun<strong>da</strong>mentação teórica e discussão <strong>em</strong> torno d<strong>os</strong> conceit<strong>os</strong>e aplicações <strong>de</strong>ste estudo, cuj<strong>os</strong> term<strong>os</strong> técnic<strong>os</strong> estão explicad<strong>os</strong> no Gl<strong>os</strong>sário, no Anexo I.Na segun<strong>da</strong> parte, tratar<strong>em</strong><strong>os</strong> d<strong>os</strong> trabalh<strong>os</strong> realizad<strong>os</strong>.Elaborar<strong>em</strong><strong>os</strong>, por um lado, uma análise técnica do n<strong>os</strong>soobjecto <strong>de</strong> estudo e, por outro, uma análise social, ba sea<strong>da</strong><strong>em</strong> observações e opiniões d<strong>os</strong> representantes d<strong>os</strong> media1 Kofi Annan, antigo Secretário-Geral <strong>da</strong>sNações Uni<strong>da</strong>s, durante um discursoen<strong>de</strong>reçado ao Parlamento Europeu, naocasião <strong>da</strong> recepção do prémio “AndreiSakharov”, pela Liber<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Pensamento,do dia 29 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 2004.Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (15)


étnic<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>, na qual n<strong>os</strong> <strong>de</strong>bruçar<strong>em</strong><strong>os</strong> sobre as funções d<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong>comunicação étnic<strong>os</strong> existentes <strong>em</strong> Por tu gal. Nesta parte, efectuar<strong>em</strong><strong>os</strong> igualmente umbreve estudo comparativo entre <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal e outr<strong>os</strong> <strong>de</strong> países comtradição imigratória, como a Al<strong>em</strong>anha.Na terceira parte, a que chamam<strong>os</strong> “Consi<strong>de</strong>rações Finais”, ir<strong>em</strong><strong>os</strong> <strong>de</strong>bruçarmo-n<strong>os</strong> sobreuma questão com a qual n<strong>os</strong> <strong>de</strong>parám<strong>os</strong> ao longo do n<strong>os</strong>so trabalho e cujo <strong>de</strong>sen vol vi -men to n<strong>os</strong> parece fun<strong>da</strong>mental para uma melhor compreensão do n<strong>os</strong>so objecto <strong>de</strong> es -tudo: <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação étnic<strong>os</strong> aju<strong>da</strong>m no acesso à informação e a<strong>da</strong>ptação d<strong>os</strong>imigrantes, po<strong>de</strong>ndo também aju<strong>da</strong>r no processo <strong>de</strong> integração, ou, pelo contrário, fechaa comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> imigrante sobre ela mesma, diminuindo as p<strong>os</strong>sibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> integraçãoe a<strong>da</strong>ptação?Importante ressalvar que o n<strong>os</strong>so estudo não é estático. Os media étnic<strong>os</strong>, por dificul <strong>da</strong><strong>de</strong>sespecíficas (financeiras, mei<strong>os</strong> human<strong>os</strong>), surg<strong>em</strong> e <strong>de</strong>saparec<strong>em</strong>. A n<strong>os</strong>sa base <strong>de</strong> <strong>da</strong>d<strong>os</strong>,por consequência, <strong>de</strong>verá certamente ser revista e compl<strong>em</strong>enta<strong>da</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> algum t<strong>em</strong> po.Por fim, nas n<strong>os</strong>sas conclusões, além d<strong>os</strong> principais fact<strong>os</strong> documentad<strong>os</strong> e discutid<strong>os</strong>,apre sentar<strong>em</strong><strong>os</strong> recomen<strong>da</strong>ções que estimam<strong>os</strong> ser<strong>em</strong> úteis para um melhor aprovei ta -mento d<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal.(16) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


PARTE ICONTEXTO, CONCEITOS,APRESENTAÇÃO, FUNDAMENTOSE METODOLOGIAOs Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (17)


(18) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


CAPÍTULO I – CONTEXTO DO ESTUDO1. Apresentação do objecto <strong>de</strong> estudoO escritor austríaco, Stefan Zweig, perguntava no seu livro Le Brésil, terre d´avenir, n<strong>os</strong>finais d<strong>os</strong> an<strong>os</strong> 1930: “Comment les hommes peuvent-ils arriver à vivre en paix sur laterre, en dépit <strong>de</strong> toutes les différences <strong>de</strong> races, <strong>de</strong> classes, <strong>de</strong> couleurs, <strong>de</strong> religions et<strong>de</strong> convictions? C’est le problème qui revient sans cesser et se p<strong>os</strong>e impérieus<strong>em</strong>ent àtoutes les sociétés, à tous les États 2 ”.Esta observação, escrita numa época <strong>em</strong> perspectiva <strong>da</strong> iminência <strong>da</strong> Segun<strong>da</strong> GuerraMun dial, po<strong>de</strong>ria ser transp<strong>os</strong>ta para o contexto actual <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>rnas.N<strong>os</strong> últim<strong>os</strong> 50 an<strong>os</strong>, o crescimento <strong>de</strong>mográfico mundial aumentou drasticamente, <strong>em</strong> -bora, <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>sproporcional, <strong>em</strong> todo o mundo. Segundo as Nações Uni<strong>da</strong>s, a po pulação mundial era estima<strong>da</strong>, <strong>em</strong> 2005, <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 6,5 mil milhões <strong>de</strong> pessoas, mais doque duas vezes o dobro do nível d<strong>os</strong> an<strong>os</strong> <strong>de</strong> 1950 3 . No entanto, enquanto as regiõesmais <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s tinham, naquele mesmo ano, uma população estima<strong>da</strong> a 1,2 mil mi -lhões <strong>de</strong> pessoas (ou 18,7% <strong>da</strong> população mundial), <strong>os</strong> países <strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimentoconta vam com 5,3 mil milhões <strong>de</strong> pessoas (ou 81,3% <strong>da</strong> população mundial).Po<strong>de</strong> ler-se no estudo <strong>de</strong> J<strong>os</strong>é Edmundo Xavier FurtadoSou sa: “Os imigrantes ucranian<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal e <strong>os</strong> cui <strong>da</strong> -d<strong>os</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>”, que “a parte correspon<strong>de</strong>nte a<strong>os</strong> países <strong>em</strong><strong>de</strong> sen vol vimento, no conjunto <strong>da</strong> população mundial,passou <strong>de</strong> 77%, <strong>em</strong> 1950, para 93%, <strong>em</strong> 1990; no final<strong>de</strong>ste século, atingirá <strong>os</strong> 95%. N<strong>os</strong> países industrializad<strong>os</strong>,pelo contrário, o crescimento <strong>de</strong>mográfico ou enfraqueceuou estagnou totalmente, e a taxa <strong>de</strong> fe cundi<strong>da</strong><strong>de</strong> é igual ouinferior a<strong>os</strong> valores mínim<strong>os</strong> ne cessári<strong>os</strong> para ir substituindoas gerações…” (2006, 22).2 «Como consegu<strong>em</strong> <strong>os</strong> homens viver <strong>em</strong>paz na Terra, <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s asdiferenças <strong>de</strong> raças, <strong>de</strong> clas ses, <strong>de</strong> cores,<strong>de</strong> religiões e <strong>de</strong> convicções? Este é oprobl<strong>em</strong>a recorrente e que se impõeimperio sa men te a to<strong>da</strong>s as socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s,a tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> Estad<strong>os</strong>» (Zweig, 1941: 25).(Tradução <strong>da</strong> autora).3 ________, “World Population Pr<strong>os</strong>pects:The 2004 Revision, Analytical Report”,United Nations, Depart ment of Economicand Social Affair, Population Division. Vertambém site: http://www.un.org/esa/population/publications/WPP2004/WPP2004_Volume3.htm. Estima-se que a populaçãomundial atingirá <strong>os</strong> 9,1 mil milhões <strong>de</strong>pessoas <strong>em</strong> 2050.Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (19)


Assim sendo, por um lado, o <strong>de</strong>sequilíbrio no crescimento <strong>da</strong> população mundial, <strong>os</strong> gran -<strong>de</strong>s probl<strong>em</strong>as económic<strong>os</strong> que se abat<strong>em</strong> sobre muit<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong>, e, por outro, a glo ba li -zação e as facili<strong>da</strong><strong>de</strong>s que <strong>de</strong>la <strong>de</strong>corr<strong>em</strong> p<strong>os</strong>sibilitando um maior <strong>de</strong>slocamento por parte<strong>da</strong>s pessoas, impulsionaram um fluxo migratório internacional s<strong>em</strong> prece<strong>de</strong>nte. De facto,o século XX viu uma parte importante <strong>da</strong> população mundial <strong>de</strong>slocar-se <strong>de</strong> um país paraoutro com o intuito <strong>de</strong> estabelecer uma nova vi<strong>da</strong>, mesmo que por um curto período <strong>de</strong>t<strong>em</strong>po, num país estrangeiro (Rocha, 1995) 4 .Desta maneira, po<strong>de</strong>-se dizer que uma <strong>da</strong>s causas <strong>da</strong> transformação <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s mo -<strong>de</strong>rnas se <strong>de</strong>ve a<strong>os</strong> constantes flux<strong>os</strong> migratóri<strong>os</strong> internacionais. No entanto – e s<strong>em</strong> pôr<strong>em</strong> causa tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> efeit<strong>os</strong> benéfic<strong>os</strong> <strong>da</strong>s migrações internacionais –, <strong>em</strong>bora as diferentesso cie<strong>da</strong><strong>de</strong>s sejam ca<strong>da</strong> vez mais multiculturais, ca<strong>da</strong> migrante leva consigo valores e umaex periência <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> quase s<strong>em</strong>pre diferentes do país acolhedor, gerando, <strong>em</strong> muit<strong>os</strong> cas<strong>os</strong>,conflit<strong>os</strong> e reacções xenófobas por ambas as partes.S<strong>em</strong> pretensão <strong>de</strong> encontrar uma solução global para esse probl<strong>em</strong>a, acreditam<strong>os</strong> que acomunicação e a informação são instrument<strong>os</strong> que po<strong>de</strong>m contribuir <strong>de</strong> forma p<strong>os</strong>itiva paraamenizá-lo. E tanto o parece ser que o actual “Plano para a Integração d<strong>os</strong> Imi grantes”,anun ciado a 18 <strong>de</strong> Dez<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2006, ap<strong>os</strong>ta, entre outras 122 medi<strong>da</strong>s, na “conso li <strong>da</strong> -ção <strong>da</strong> re<strong>de</strong> nacional <strong>de</strong> informação ao imigrante”, como forma <strong>de</strong> melhorar a integração. Defacto, esta medi<strong>da</strong> propõe um reforço d<strong>os</strong> instru ment<strong>os</strong> <strong>de</strong> informação para melhor apoiar oimigrante so bre <strong>os</strong> seus direit<strong>os</strong> e <strong>de</strong>veres. A medi<strong>da</strong> estipula igual mente que as in for maçõessejam veicula<strong>da</strong>s <strong>em</strong> tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> su portes (tais como papel, TV, web) e n<strong>os</strong> di fe ren tes idio mas<strong>da</strong>s principais comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigran tes. De acordo com o Plano, essa me di <strong>da</strong> po<strong>de</strong> tam -bém servir para que a so cie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> acolhi mento fiqueigualmente mais b<strong>em</strong> informa<strong>da</strong> sobre a imigração 5 .4 Segundo a ONU, havia, <strong>em</strong> 1995, entre120 e 130 milhões <strong>de</strong> pessoas a viver forado seu país, s<strong>em</strong> ter <strong>em</strong> conta nessesnúmer<strong>os</strong> <strong>os</strong> dit<strong>os</strong> refugiad<strong>os</strong>(https://central.faap.br/forum_02/pdf/comite_economico_finan ceiro.pdf). Actualmente,estima-se <strong>em</strong> cerca <strong>de</strong> 200 milhões onúmero <strong>de</strong> migrantes na escala global.5 Ver, para este efeito, o “Plano para aIntegração d<strong>os</strong> Imigrantes”, do AltoComissa ria do para a Imigração e DiálogoIntercultural (ACIDI).2. ObjectivoO objectivo <strong>de</strong>ste trabalho é, então, o <strong>de</strong> contribuir parauma maior compreensão <strong>da</strong>s impli cações d<strong>os</strong> flux<strong>os</strong> mi-(20) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


gratóri<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal, através do levantamento, análise e avaliação d<strong>os</strong> diferentes mei<strong>os</strong><strong>de</strong> comunicação étnic<strong>os</strong> existentes <strong>em</strong> território nacional. Tendo já ve rificado a existência<strong>de</strong> vári<strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> espalhad<strong>os</strong> pelo País, tiv<strong>em</strong><strong>os</strong> a curi<strong>os</strong>i<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> tentar compreen<strong>de</strong>rqual a importância <strong>de</strong>sses mei<strong>os</strong>, não somente para <strong>os</strong> imigrantes, mas igual -mente para a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> acolhedora.3. Pertinência do estudoA Declaração Universal sobre a Diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> Cultural, <strong>da</strong> UNESCO, assina<strong>da</strong> <strong>em</strong> Paris nodia 2 <strong>de</strong> Nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2001, elaborou um plano <strong>de</strong> acção <strong>de</strong> vinte medi<strong>da</strong>s, com o intuito<strong>de</strong> promover a diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> cultural. Acreditando que a “riqueza cultural do mundo re si<strong>de</strong>na sua diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> diálogo”, a UNESCO propõe, entre outras medi<strong>da</strong>s, a<strong>os</strong> seus Es ta -d<strong>os</strong> M<strong>em</strong>br<strong>os</strong> que “favoreçam o intercâmbio <strong>de</strong> conheciment<strong>os</strong> e <strong>de</strong> práticas re comen dá -veis <strong>em</strong> matéria <strong>de</strong> pluralismo cultural, com vista a facilitar, <strong>em</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s di ver si fica<strong>da</strong>s, ainclusão e a participação <strong>de</strong> pessoas e grup<strong>os</strong> advind<strong>os</strong> <strong>de</strong> horizontes cul turais variad<strong>os</strong> 6 ”.A medi<strong>da</strong> acima cita<strong>da</strong> corrobora a n<strong>os</strong>sa constatação acerca <strong>da</strong> importância <strong>da</strong> infor ma -ção no processo <strong>de</strong> a<strong>da</strong>ptação e interacção d<strong>os</strong> imigrantes na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> anfitriã. A perti -nência <strong>de</strong> se realizar um trabalho como o que propom<strong>os</strong> aqui justifica-se, portanto, <strong>de</strong>vidoa este reconhecimento, à falta <strong>de</strong> uma base <strong>de</strong> <strong>da</strong>d<strong>os</strong> significativa sobre <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong>comu ni cação étnic<strong>os</strong> existentes <strong>em</strong> Portugal e a relevância <strong>de</strong> se fazer um levantamento<strong>de</strong>ste porte para as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes presentes no País, assim como para <strong>os</strong>po <strong>de</strong>res públic<strong>os</strong>.A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> pluralismo cultural <strong>de</strong>fendido pela UNESCO, a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> respeitar a di -versi<strong>da</strong><strong>de</strong> e encorajar a troca <strong>de</strong> informações, parece-n<strong>os</strong> fun<strong>da</strong>mental. Muitas vezes, <strong>os</strong>pro bl<strong>em</strong>as que surg<strong>em</strong> entre grup<strong>os</strong> culturais diferentes<strong>de</strong>v<strong>em</strong>-se ao <strong>de</strong>sconhecimento mútuo <strong>de</strong>sses grup<strong>os</strong>.Se já é do conhecimento <strong>de</strong> muit<strong>os</strong> que pelas bancas <strong>de</strong>jornais encontram-se jornais e re vistas escrit<strong>os</strong> <strong>em</strong> outras6 Declaração Universal sobre a Diversi<strong>da</strong><strong>de</strong>Cultural, UNESCO, 2 <strong>de</strong> Nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong>2001. Note que esta Declaração foiaprova<strong>da</strong> por unanimi<strong>da</strong><strong>de</strong> no contextomuito particular <strong>em</strong> que o mundo vivia,logo após o 11 <strong>de</strong> Set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2001, quepôs <strong>em</strong> causa <strong>os</strong> conflit<strong>os</strong> <strong>da</strong>s civilizações.Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (21)


línguas, as informações sobre estes media são difusas e con fu sas, carecendo <strong>de</strong> umlevantamento mais aprofun<strong>da</strong>ndo que consi<strong>de</strong>re igualmente <strong>os</strong> objectiv<strong>os</strong>, as linhaseditoriais, <strong>os</strong> seus mod<strong>os</strong> <strong>de</strong> financiamento, entre outr<strong>os</strong> <strong>da</strong>d<strong>os</strong>. Assim, este estudo seráimportante para avaliar a aplicabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e benefíci<strong>os</strong> <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> comu nicaçãoorganizad<strong>os</strong> e eficientes a serviço <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s e órgã<strong>os</strong> <strong>de</strong> imigração.A<strong>de</strong>mais, a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um estudo sobre a dinâmica <strong>de</strong> organização <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<strong>de</strong> imigrantes insere-se igualmente no que R<strong>os</strong>ana Albuquerque chama <strong>de</strong> “dinâmicasassociativas e comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes”. Segundo a autora, as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes,longe <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s passivas e imóveis que apenas se sujeitam à legis laçãoe às várias medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> controlo, <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> constant<strong>em</strong>ente esforç<strong>os</strong> própri<strong>os</strong> que visama integração e interpelam o Estado a <strong>de</strong>senvolver políticas mais inclusivas e <strong>de</strong>mocráticas 7(2002: 367).O crescimento e a diversificação <strong>da</strong>s populações imigrantes criam também novas opor tu -ni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> investimento <strong>em</strong>presarial nesta área d<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação étnic<strong>os</strong>. Comorefere Oliveira (2004: 54) algumas mu<strong>da</strong>nças tornaram-se bastante visíveis com a che -ga<strong>da</strong> d<strong>os</strong> flux<strong>os</strong> <strong>da</strong> Europa <strong>de</strong> Leste, tendo crescido a oferta e a diversificação linguístican<strong>os</strong> qui<strong>os</strong>ques e bancas <strong>de</strong> jornais, um pouco por todo o País.Assim, baseando-n<strong>os</strong> n<strong>os</strong> diferentes argument<strong>os</strong> acima citad<strong>os</strong>, a n<strong>os</strong>so ver, estud<strong>os</strong> sobredinâmicas <strong>de</strong> organização <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes (neste caso, através do estudod<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong>senvolvid<strong>os</strong> e organizad<strong>os</strong>por eles) são relevantes <strong>de</strong>vido ao carácter revelador <strong>da</strong>s di -fe rentes maneiras <strong>de</strong> a<strong>da</strong>ptação e integração d<strong>os</strong> imigran -tes na sua socie<strong>da</strong><strong>de</strong> acolhedora, assim como as dificul -<strong>da</strong><strong>de</strong>s e as barreiras por eles encontra<strong>da</strong>s. Acre di ta m<strong>os</strong> queum estudo sobre <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong>Portugal é um gran<strong>de</strong> contributo para uma maior e melhorparticipação do imigrante na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> portuguesa 8 .7 Ler igualmente, a respeito: Albuquerque,R., Ferreira, L.E. e Viegas, T. (2000),O Fenómeno Associativo <strong>em</strong> ContextoMigratório – duas déca<strong>da</strong>s <strong>de</strong>associativismo <strong>de</strong> imigrantes <strong>em</strong> Portugal,Oeiras, Celta Editora.8 Sarah Spencer, no seu ensaio Thechallenge of integration in Europe, explicaque “(…) in Europe (…) there is recognitionthat integration is a two-way process,requiring a<strong>da</strong>ptation by the migrant but alsoby the institutions and public of the h<strong>os</strong>tcountry, and that to be successful it musttake place in four spheres of life: economic,social, political and cultural” (2006, 2-3).Pois, como explica Alejandro Portes, no seu livro Migrações(22) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


Internacionais, importa “sa lien tar a diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> d<strong>os</strong> mod<strong>os</strong> <strong>de</strong> incorporação d<strong>os</strong> imigrantese <strong>da</strong>s suas <strong>de</strong>terminantes es truturais e culturais, como o volume e a natureza d<strong>os</strong> recurs<strong>os</strong>que <strong>de</strong>têm, as dinâ mi cas específicas d<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> com que se <strong>de</strong>frontam ou que, inversamente,consegu<strong>em</strong> criar o ambiente político que ro<strong>de</strong>ia a sua instalação nas so cie -<strong>da</strong> <strong>de</strong>s <strong>de</strong> acolhimento, a <strong>de</strong>n si<strong>da</strong><strong>de</strong> e a coesão <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s que tec<strong>em</strong> (1999: 3)”.4. Etapas <strong>de</strong> investigaçãoPara atingir <strong>os</strong> n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> objectiv<strong>os</strong>, dividim<strong>os</strong> o trabalho nas seguintes etapas <strong>de</strong> investi gação:1. Levantamento d<strong>os</strong> <strong>da</strong>d<strong>os</strong> secundári<strong>os</strong> através <strong>da</strong> consulta à literaturaespecializa<strong>da</strong>, <strong>da</strong> Comunicação Social e <strong>da</strong> Internet, <strong>da</strong>s principais comu -ni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes presentes <strong>em</strong> Portugal, assim como d<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong>comu nicação que as representam.2. Análise d<strong>os</strong> <strong>da</strong>d<strong>os</strong> secundári<strong>os</strong> recolhid<strong>os</strong> e <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> um programa <strong>de</strong> entrevistascom <strong>os</strong> responsáveis d<strong>os</strong> diferentes media.3. Levantamento d<strong>os</strong> <strong>da</strong>d<strong>os</strong> primári<strong>os</strong> através <strong>da</strong>s entrevistas com <strong>os</strong> res pon -sáveis d<strong>os</strong> diferentes mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação, assim como a m<strong>em</strong>br<strong>os</strong> <strong>da</strong>sdiversas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes.4. Realização do tratamento d<strong>os</strong> <strong>da</strong>d<strong>os</strong> secundári<strong>os</strong> e primári<strong>os</strong>. Nesta altura <strong>da</strong>in vestigação, propus<strong>em</strong>o-n<strong>os</strong> igualmente realizar um estudo comparativo d<strong>os</strong>mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação d<strong>os</strong> imigrantes <strong>em</strong> Portugal com outr<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> si mi -lares <strong>em</strong> outr<strong>os</strong> países com tradição <strong>de</strong> imigração.5. Preparação e apresentação do Relatório Final do projecto.Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (23)


5. MetodologiaEste trabalho foi concebido <strong>em</strong> cinco etapas principais <strong>de</strong> acordo com o especificadoacima:1. Primeira Etapa – Levantamento do acervo <strong>de</strong> <strong>da</strong>d<strong>os</strong> disponíveisNesta etapa foram levanta<strong>da</strong>s as informações necessárias à realização do trabalho: quaissão as principais comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes <strong>em</strong> Portugal; quais são <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comu -ni cação que as representam. O levantamento foi feito através <strong>da</strong> recolha <strong>de</strong> <strong>da</strong>d<strong>os</strong> secun -dá ri<strong>os</strong>, servindo-se <strong>da</strong>s facili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> re<strong>de</strong> WEB, <strong>da</strong> Comunicação Social, e igualmentepor meio <strong>de</strong> consultas a bibliotecas especializa<strong>da</strong>s. Essa base secundária foi trabalha<strong>da</strong>para orientar o planeamento para a etapa seguinte que é o <strong>da</strong> colecta <strong>de</strong> <strong>da</strong>d<strong>os</strong> primári<strong>os</strong>.Os produt<strong>os</strong> <strong>de</strong>sta etapa consistiram num relatório d<strong>os</strong> <strong>da</strong>d<strong>os</strong> recolhid<strong>os</strong> e um plano paraa pesquisa <strong>de</strong> campo 9 .2. Segun<strong>da</strong> Etapa – Pesquisa <strong>de</strong> campoDurante esta etapa, efectuou-se a pesquisa <strong>de</strong> campo através <strong>de</strong> visitas a representantesd<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes indica<strong>da</strong>s pela análise <strong>da</strong>etapa anterior, com o objectivo <strong>de</strong> realizar entrevistas e recolher <strong>de</strong>poiment<strong>os</strong> sobre <strong>os</strong>media e o seu funcionamento. De ca<strong>da</strong> meio foi levanta<strong>da</strong> a sua finali<strong>da</strong><strong>de</strong>, o seu públi co--alvo, as suas prop<strong>os</strong>tas, a sua linha editorial, o seu modo <strong>de</strong> financiamento, as suas fon -tes <strong>de</strong> infor ma ção, <strong>os</strong> seus profissionais, o seu modo <strong>de</strong> distribuição, as suas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s.3. Terceira Etapa – Tratamento e consoli<strong>da</strong>ção d<strong>os</strong> <strong>da</strong>d<strong>os</strong> 109 Ver Anex<strong>os</strong> II e IV.10 Ver Anexo V.Nesta fase <strong>da</strong> investigação, tabulám<strong>os</strong> <strong>os</strong> <strong>da</strong>d<strong>os</strong> se cun -dári<strong>os</strong> e primári<strong>os</strong> <strong>em</strong> função do que foi investigado. Em(24) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


segui<strong>da</strong>, analisám<strong>os</strong> <strong>os</strong> resultad<strong>os</strong> e verificám<strong>os</strong> as tendências. Nesta etapa, a projecção<strong>de</strong> cenári<strong>os</strong> foi igualmente explora<strong>da</strong> <strong>em</strong> função <strong>da</strong> leitura d<strong>os</strong> resultad<strong>os</strong>: <strong>os</strong> objectiv<strong>os</strong> <strong>de</strong>ca<strong>da</strong> meio <strong>de</strong> comunicação são atingid<strong>os</strong>? E se não o são, o que falta? O que po<strong>de</strong>rá serrecomen<strong>da</strong>do?4. Quarta Etapa – Estudo comparativoO objectivo essencial nesta fase foi recolher <strong>os</strong> el<strong>em</strong>ent<strong>os</strong> necessári<strong>os</strong> para uma melhorcompreensão <strong>da</strong> dimensão <strong>da</strong> importância <strong>de</strong>sses mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong>Portugal e po<strong>de</strong>r propor eventuais recomen<strong>da</strong>ções para uma maior eficiência <strong>de</strong>stes, numafase final do trabalho. Foi igualmente efectuado um estudo comparativo entre <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong>comunicação étnic<strong>os</strong> i<strong>de</strong>ntificad<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal com <strong>os</strong> <strong>de</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes <strong>de</strong>outr<strong>os</strong> países com tradição imigratória, a fim <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar <strong>os</strong> principais pont<strong>os</strong> vantaj<strong>os</strong><strong>os</strong>a multiplicar e <strong>os</strong> frac<strong>os</strong> a fortalecer d<strong>os</strong> media d<strong>os</strong> imigrantes <strong>em</strong> Portugal.Numa primeira parte, <strong>os</strong> resultad<strong>os</strong> do trabalho realizado enquadram-se <strong>de</strong>ntro do que setraduz pela Análise Técnica d<strong>os</strong> especialistas acerca do t<strong>em</strong>a pesquisado. No processo <strong>de</strong>análise e vali<strong>da</strong>ção, a n<strong>os</strong>sa prop<strong>os</strong>ta foi discuti<strong>da</strong> com representantes d<strong>os</strong> media e <strong>da</strong>scomuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes no que se qualifica como Análise Comunitária ou Social <strong>da</strong>solução prop<strong>os</strong>ta. Assim, a prop<strong>os</strong>ta final p<strong>os</strong>suirá o indicativo mais próximo <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>do probl<strong>em</strong>a e a forma <strong>de</strong> solução, por ter sido construído colectivamente e vali<strong>da</strong>do pelacomuni<strong>da</strong><strong>de</strong> que, por isto, ver-se-á nela representa<strong>da</strong>.5. Quinta Etapa – Relatório finalEtapa <strong>de</strong>stina<strong>da</strong> à elaboração do Relatório Final do trabalho.Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (25)


CAPÍTULO II – FUNDAMENTAÇÃO – DISCUSSÃO TEÓRICAEM TORNO DOS CONCEITOS-CHAVEComo já mencionám<strong>os</strong>, consi<strong>de</strong>ram<strong>os</strong> importante contextualizar o estudo <strong>em</strong> torno d<strong>os</strong>conceit<strong>os</strong>-chave. Dedicar<strong>em</strong><strong>os</strong> assim este capítulo a uma breve explicação sobre <strong>os</strong> term<strong>os</strong>que inspiraram este projecto. Esta pequena discussão não preten<strong>de</strong>, <strong>de</strong> forma alguma, serexaustiva.1. O acto <strong>de</strong> informar1.1 Breve discussão <strong>em</strong> torno <strong>da</strong> palavra “informar”Pierre Sorlin, professor <strong>de</strong> Sociologia <strong>da</strong> Comunicação Audiovisual, na Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>Paris III, explica que a sociologia procura enten<strong>de</strong>r o facto do ser humano, ao contrário <strong>da</strong>maioria d<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> seres, não conseguir viver s<strong>em</strong> uma permanente interacção entre si(1997). E uma <strong>da</strong>s maneiras mais básicas <strong>de</strong> interagir é justamente através <strong>da</strong> infor ma -ção, pois, segundo Sorlin, “o pensamento e o conhecimento do mundo <strong>em</strong> que viv<strong>em</strong><strong>os</strong><strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong> ‘informação’” (1997: 57).No seu sentido etimológico, “informar”, do latim informare, significa “<strong>da</strong>r forma a; <strong>da</strong>r conhecimento a; pôr ao corrente; <strong>da</strong>r instrução a; <strong>da</strong>r força a; corroborar; apoiar”. Por ana -lo gia, o acto <strong>de</strong> informar, ou seja, a “informação” consiste na “acção ou resultado <strong>de</strong> informarou informar-se”. Numa versão mais rebusca<strong>da</strong>, po<strong>de</strong>m<strong>os</strong> ler que a informação é a“toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> consciência <strong>de</strong> um facto ignorado” ou ain<strong>da</strong> “aumentar <strong>os</strong> conheciment<strong>os</strong>,<strong>da</strong>ndo esclareciment<strong>os</strong>, informações” 11 .11 Definições tira<strong>da</strong>s d<strong>os</strong> diferentesdicionári<strong>os</strong> consultad<strong>os</strong>, cujas indicações seencontram na Bibliografia.Não obstante as <strong>de</strong>finições acima referi<strong>da</strong>s, <strong>de</strong> acordo coma “Fil<strong>os</strong>ofia <strong>da</strong> Informação”, <strong>de</strong> finir a palavra “informação”é um exercício tão complexo quanto <strong>de</strong>finir “o que é o ho -(26) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


m<strong>em</strong>” ou “o que é o mundo”. No entanto, esta mesma fil<strong>os</strong>ofia estima que informar é algoinerente à condição humana e que o acto <strong>de</strong> informar tal vez constitua uma <strong>da</strong>s primeiraspreocupações filo só ficas <strong>da</strong> história <strong>da</strong> Humani<strong>da</strong><strong>de</strong> (Ilharco, 2003).Nuno Crato, no seu livro Comunicação Social – a Imprensa, Iniciação ao Jornalismo, es -ti pula que a história <strong>da</strong> Comunicação Social po<strong>de</strong> ser analisa<strong>da</strong> como a história <strong>de</strong> luta dohom<strong>em</strong> <strong>em</strong> busca <strong>da</strong> apropriação colectiva do mundo exterior. A comunicação social seria,segundo Crato, a história do “pensamento e <strong>da</strong> sua expressão para organizar e fun <strong>da</strong> men -tar a activi<strong>da</strong><strong>de</strong> colectiva” (1992: 11).Diferentes estudi<strong>os</strong><strong>os</strong> concor<strong>da</strong>m com o facto <strong>de</strong> a linguag<strong>em</strong> ser a própria essência do ho -m<strong>em</strong>. Por outras palavras, é na linguag<strong>em</strong> que o mundo se n<strong>os</strong> revela humanamente.É ver<strong>da</strong><strong>de</strong> que o ser humano usa vári<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> para se comunicar, mas a linguag<strong>em</strong> verbalc<strong>os</strong>tuma ser o instrumento mais conveniente para transmitir mensagens mais comple xas 12 .Des<strong>de</strong> <strong>os</strong> t<strong>em</strong>p<strong>os</strong> mais r<strong>em</strong>ot<strong>os</strong>, o ser humano serve-se do acto <strong>de</strong> informar. Muito antes<strong>de</strong> Cristo, escritores já relatavam as suas epopeias, e as obras <strong>de</strong> Homero, Ilía<strong>da</strong> eOdisseia, do século VIII a.C., são bons ex<strong>em</strong>pl<strong>os</strong> disto. Durante a época <strong>da</strong>s conquistas,por ex<strong>em</strong>plo, no século XVI, <strong>os</strong> navegadores s<strong>em</strong>pre se faziam acompanhar do escriba <strong>da</strong>corte para que este pu<strong>de</strong>sse enviar informações à metrópole sobre as terras conquista<strong>da</strong>s.Mais recent<strong>em</strong>ente, <strong>da</strong><strong>da</strong> a evolução <strong>da</strong>s novas tecnologias, a informação e <strong>os</strong> diferentesveícul<strong>os</strong>, através d<strong>os</strong> quais o acto <strong>de</strong> informar é difundido, inspiram estudi<strong>os</strong><strong>os</strong> e até mes -mo romancistas. David Lyon, no seu livro A Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Informação, explica que a“tecno logia <strong>da</strong> informação está a mu<strong>da</strong>r o mundo” e que as nações mais <strong>de</strong>sen volvi<strong>da</strong>sestão a transformar-se <strong>de</strong>vido ao advento <strong>da</strong>s tecnologias<strong>da</strong> informação (1992). Porém, tais in<strong>da</strong>gações não <strong>da</strong>tam<strong>de</strong> hoje. George Orwell, no seu livro 1984, escrito <strong>em</strong>1948, já questionava o po<strong>de</strong>r <strong>da</strong> televisão que n<strong>os</strong> observapor tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> lad<strong>os</strong> privando-n<strong>os</strong>, segundo o autor, <strong>de</strong> to<strong>da</strong>sas n<strong>os</strong>sas liber<strong>da</strong><strong>de</strong>s, até mesmo a mais preci<strong>os</strong>a <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s:a liber<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> pensamento 13 .12 O estudo <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> verbal é <strong>de</strong>gran<strong>de</strong> importância nas Ciências Sociais,tanto que existe uma corrente volta<strong>da</strong> sópara este tipo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong>: a Linguística.Vári<strong>os</strong> são <strong>os</strong> filósof<strong>os</strong> que se interessarampelo estudo <strong>da</strong> Linguística. Entre <strong>os</strong> maisconhecid<strong>os</strong>, po<strong>de</strong>m<strong>os</strong> citar LudwigWittgenstein e Martin Hei<strong>de</strong>gger.13 Ver: ORWELL G. (1950), 1984, Paris:Gallimard.Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (27)


Como v<strong>em</strong><strong>os</strong>, a informação é uma ferramenta <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> re levância no contexto <strong>da</strong>s re la -ções humanas. Como já referido neste estudo, e tendo <strong>em</strong> conta as <strong>de</strong>finições acima,acreditam<strong>os</strong> que a informação, se efectua<strong>da</strong> <strong>de</strong> manei ra justa e a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>, po<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penharum papel im portante <strong>de</strong> facilitador no processo <strong>de</strong> a<strong>da</strong>ptação e/ou integra ção d<strong>os</strong>imigrantes na so cie<strong>da</strong><strong>de</strong> anfitriã.Para corroborar as n<strong>os</strong>sas palavras, citam<strong>os</strong> o antigo Alto Comissário para a Imigração eMi norias Étnicas, Padre António Vaz Pinto que, durante o Fórum <strong>de</strong> Lisboa sobre Imi -gração e Minorias Étnicas, <strong>de</strong> Nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2004, sublinhava a importância <strong>de</strong> Informar:“(…) há todo um trabalho, sobretudo para <strong>os</strong> que vêm do Leste (…), uma dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>integração (…). Para esses e para outr<strong>os</strong>, o ap<strong>os</strong>tar na informação, o fornecer at<strong>em</strong> pa -<strong>da</strong> mente <strong>os</strong> <strong>da</strong>d<strong>os</strong> indispensáveis <strong>da</strong>s diversas áreas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>de</strong>les, parece-me fun <strong>da</strong> -mental” (2004: 25).Em relação ao n<strong>os</strong>so objecto <strong>de</strong> estudo, Sergiu Renita, jornalista do jornal romeno Actua -litatea Romaneasca, acredita que a informação é imprescindível, no que diz respeito auma maior e melhor forma <strong>de</strong> a<strong>da</strong>ptação d<strong>os</strong> imigrantes na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> acolhe dora. Se gun -do Sergiu, uma boa parte d<strong>os</strong> imigrantes chegam ao país acolhedor s<strong>em</strong> muit<strong>os</strong> conhe -ciment<strong>os</strong> prévi<strong>os</strong> <strong>de</strong>ste. O primeiro passo para a<strong>da</strong>ptar-se é obtendo informações sobre asua nova socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, como igualmente sobre <strong>os</strong> seus direit<strong>os</strong> e <strong>os</strong> seus <strong>de</strong>veres nesta.Isis Alves, antiga editora <strong>da</strong> revista brasileira Sabiá, com parte <strong>da</strong> visão <strong>de</strong> Sergiu Renita,estimando que é im por tan te haver espaç<strong>os</strong> on<strong>de</strong> <strong>os</strong> imigrantes se sintam i<strong>de</strong>n ti ficad<strong>os</strong> ep<strong>os</strong>sam procurar as informações necessárias às suas condições.14 Entre <strong>os</strong> numer<strong>os</strong><strong>os</strong> <strong>de</strong>cret<strong>os</strong> e artig<strong>os</strong>,encontram<strong>os</strong>, nomea<strong>da</strong>mente, o artigo 10.º<strong>da</strong> Convenção Europeia <strong>de</strong> Direit<strong>os</strong>Human<strong>os</strong>, <strong>de</strong> 1953, que estipula que to<strong>da</strong>sas pessoas têm o direito à liber<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>opinião e expressão (…), através <strong>de</strong>qualquer tipo <strong>de</strong> media, e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>fronteiras; e o Acto Final sobre Segurança eCooperação <strong>em</strong> Helsínquia, <strong>em</strong> 1975, queinclui o direito <strong>da</strong>s minorias a receber<strong>em</strong>informação no seu próprio idioma.As constatações <strong>de</strong> Sergiu Renita e Isis Alves vê<strong>em</strong>-sefun <strong>da</strong> menta<strong>da</strong>s através d<strong>os</strong> vári<strong>os</strong> <strong>de</strong> cret<strong>os</strong>, leis e text<strong>os</strong> noes pa ço comunitário europeu, que es tipulam o direito <strong>da</strong>smi no rias, incluindo o direito ao acesso à comunicação <strong>em</strong>qual quer tipo <strong>de</strong> media, nomea <strong>da</strong> mente permitindo e incentivando as comu ni<strong>da</strong><strong>de</strong>s minoritárias a <strong>de</strong>senvolver<strong>em</strong>seus própri<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação 14 . No caso específico<strong>de</strong> Portugal, exis te a Lei n.º 115/99, <strong>de</strong> 3 <strong>de</strong> Ag<strong>os</strong>to, que(28) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


es ta belece o regime jurídico <strong>da</strong>s associações represen ta ti vas d<strong>os</strong> imigrantes e seus <strong>de</strong>s -cen <strong>de</strong>ntes 15 .De acordo com o “Manifesto Europeu para apoiar e sublinhar a importância d<strong>os</strong> Media <strong>de</strong>Comu ni<strong>da</strong><strong>de</strong>s Minoritárias”, <strong>os</strong> diferentes media étnic<strong>os</strong> cumpr<strong>em</strong> a função essencial <strong>de</strong>mo ti var <strong>os</strong> imigrantes para “uma maior participação como ci<strong>da</strong>dã<strong>os</strong> plen<strong>os</strong> no seu Estadoanfitrião 16 ”.Na segun<strong>da</strong> parte <strong>de</strong>ste trabalho, efectuar<strong>em</strong><strong>os</strong> uma base <strong>de</strong> <strong>da</strong>d<strong>os</strong> d<strong>os</strong> diferentes media<strong>da</strong>s principais comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes existentes <strong>em</strong> Portugal e tentar<strong>em</strong><strong>os</strong> encontraruma resp<strong>os</strong>ta a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> para a pergunta que impulsionou esta investigação: – Em qu<strong>em</strong>edi<strong>da</strong> <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> são importantes para <strong>os</strong> imigrantes? Por outras palavras: – Quepapel <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penham <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> para as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s que representam?2. Os mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação étnic<strong>os</strong>2.1 O que se enten<strong>de</strong> por “mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação étnic<strong>os</strong>”?Ressalva: segundo Pierre Sorlin, o termo “media” refere-se a<strong>os</strong> “mei<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> quais a informaçãoe o entretenimento são difundid<strong>os</strong>” (1997: 3). O mesmo autor diz ain<strong>da</strong> que<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação pertenc<strong>em</strong> a um processo es pe cial através do qual as comuni<strong>da</strong> -<strong>de</strong>s humanas são for ma <strong>da</strong>s. Assim, esses mei<strong>os</strong>, pelo fac to<strong>de</strong> informar<strong>em</strong>, faz<strong>em</strong> parte do processo <strong>de</strong> comu nicação.A palavra media, na sua aceptação inglesa, substitui assima expressão “mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação”. Optam<strong>os</strong>, então,igual mente pelo uso do termo media pois, além <strong>de</strong> ser universalmenteaceite, ain<strong>da</strong> <strong>de</strong>fine <strong>de</strong> maneira justa o papelque <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penham <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<strong>de</strong> imigrantes.15 Esta lei estipula a participação na<strong>de</strong>finição <strong>da</strong> política <strong>de</strong> imigração,participação n<strong>os</strong> process<strong>os</strong> legislativ<strong>os</strong>relativ<strong>os</strong> à imigração, participação <strong>em</strong>órgã<strong>os</strong> consultiv<strong>os</strong> e beneficio do direito <strong>de</strong>antena n<strong>os</strong> serviç<strong>os</strong> públic<strong>os</strong> <strong>de</strong> rádio e <strong>de</strong>televisão (Albuquerque, R. (2002),“Dinâmicas associativas e comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>imigrantes”, in A imigração <strong>em</strong> Portugal –<strong>os</strong> moviment<strong>os</strong> human<strong>os</strong> e culturais <strong>em</strong>Portugal, Lisboa: SOS Racismo).16 Ver, a este respeito, “Um ManifestoEuropeu para apoiar e sublinhar aimportância d<strong>os</strong> Media <strong>de</strong> Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>sMinoritárias”: http://www.multicultural.net/manifesto/in<strong>de</strong>x.htmOs Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (29)


Ao referirmo-n<strong>os</strong> a “media étnic<strong>os</strong>”, “media <strong>da</strong>s comu ni <strong>da</strong> <strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes” ou ain<strong>da</strong>“media <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s mi no ritárias”, enten<strong>de</strong>m<strong>os</strong> por isto <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comun ica ção<strong>de</strong>senvolvid<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> imigrantes para <strong>os</strong> imigrantes.Des<strong>de</strong> logo quer<strong>em</strong><strong>os</strong> enfatizar que <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comu ni cação mencionad<strong>os</strong>, e que pro -pus<strong>em</strong><strong>os</strong> estu<strong>da</strong>r, são <strong>os</strong> formais d<strong>os</strong> media escrit<strong>os</strong>, fa la d<strong>os</strong> e televisiv<strong>os</strong>, utilizad<strong>os</strong>, hoje<strong>em</strong> dia, como instrument<strong>os</strong> <strong>de</strong> informação e divulgação.Os term<strong>os</strong> acima referid<strong>os</strong> não foram por nós inventad<strong>os</strong>. Intitulamo-l<strong>os</strong> assim por ser <strong>de</strong>ssamaneira que a literatura, nacional e internacional, c<strong>os</strong>tuma <strong>de</strong>signá-l<strong>os</strong>. De facto, <strong>em</strong> francês,<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação feit<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> imigrantes são comumente chamad<strong>os</strong> <strong>de</strong> “media issus<strong>de</strong>s migrations”; <strong>em</strong> inglês, o termo mais usado é “ethnic media”; <strong>em</strong> espanhol, “medi<strong>os</strong> étnic<strong>os</strong>”.Em Portugal, quando se fala <strong>em</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação feit<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> imigrantes, estessão geralmente <strong>de</strong>signad<strong>os</strong> por “media étnic<strong>os</strong>” ou “media <strong>da</strong>s comu ni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes”.As <strong>de</strong>signações “media <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s minoritárias” ou “<strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigran -tes” são lógicas, quando sab<strong>em</strong><strong>os</strong> que esses mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação são elaborad<strong>os</strong> por epara <strong>os</strong> imigrantes. As expressões “mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação étnic<strong>os</strong>” ou “media étnic<strong>os</strong>”pro vêm <strong>da</strong> <strong>de</strong>finição <strong>da</strong><strong>da</strong> à palavra “étnica” que se refere a um grupo humano comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> linguística e cultural, ou ain<strong>da</strong>, um grupo caracterizado por cultura específica, <strong>de</strong> -signativo <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> população.17 Ibi<strong>de</strong>m, nota n.º 16O Manifesto Europeu para apoiar e sublinhar a importância d<strong>os</strong> Media <strong>de</strong> Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s Mi -no ritárias explica que “n<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> M<strong>em</strong>br<strong>os</strong> <strong>da</strong> União Europeia há milhares <strong>de</strong> iniciativasd<strong>os</strong> Media <strong>de</strong> Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s Minoritárias, envolvendo <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> pessoas. OsMedia <strong>de</strong> Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s Minoritárias consist<strong>em</strong> essencialmente <strong>em</strong> revistas, jornais, In ter -net media, estações <strong>de</strong> rádio e televisão, assim como programas produzid<strong>os</strong> por, para esobre imigrantes e minorias étnicas. Os grup<strong>os</strong> <strong>de</strong> Media <strong>de</strong> Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s Mi no ritárias sãomuitas vezes iniciativas locais, às vezes regionais e nacionais, frequen te mente usando oidioma <strong>da</strong> sua audiência e fornecendo-lhes informação sobre participação e educação nopaís anfitrião. Proporcionam uma plataforma para discussão e partilha <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>s comu -ni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes e <strong>de</strong> minorias étnicas, b<strong>em</strong> como entreas comuni <strong>da</strong><strong>de</strong>s minoritárias e maioritária 17 ”.(30) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


De facto, durante o n<strong>os</strong>so estudo, através <strong>da</strong>s entrevistas que fiz<strong>em</strong><strong>os</strong> a responsáveis ejornalistas d<strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong>, assim como a m<strong>em</strong>br<strong>os</strong> <strong>da</strong>s diferentes comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>imigrantes, pu<strong>de</strong>m<strong>os</strong> perceber a im portância <strong>de</strong>stes mei<strong>os</strong> para estas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s.Se as iniciativas, <strong>os</strong> tip<strong>os</strong> <strong>de</strong> prop<strong>os</strong>tas <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> meio variam, <strong>em</strong> geral, o objectivo<strong>de</strong>sses media parece ser quase s<strong>em</strong>pre o mesmo: criar espaç<strong>os</strong> on<strong>de</strong> <strong>os</strong> imigrantesp<strong>os</strong>sam sentir-se repre sentad<strong>os</strong> através <strong>de</strong> ini ciativas que lhes diz<strong>em</strong> directamenterespeito.É b<strong>em</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong> que exist<strong>em</strong> <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> associações <strong>de</strong> imigrantes espalha<strong>da</strong>s pelo terri -tó rio nacional português. Efectivamente, há cerca <strong>de</strong> 100 associações <strong>de</strong> imigrantes, <strong>de</strong>âmbito nacional e local, reconheci<strong>da</strong>s pelo ACIDI. O propósito <strong>de</strong>stas associações é <strong>de</strong>apoiar o imigrante fornecendo-lhe informações acerca d<strong>os</strong> seus direit<strong>os</strong> e <strong>de</strong>veres, masmuitas cumpr<strong>em</strong> igualmente uma função social <strong>de</strong> “apoio moral”, proporcionando activi -<strong>da</strong> <strong>de</strong>s e convívi<strong>os</strong> própri<strong>os</strong> a ca<strong>da</strong> nacionali<strong>da</strong><strong>de</strong>.No entanto, se essas associações são importantes no serviço à informação a<strong>os</strong> imigrantes,elas não <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ser algo estático. “Já <strong>os</strong> media que circulam vão directamente ao en -con tro d<strong>os</strong> imigrantes, o que facilita, no acesso à informação”, avalia Isis Alves.Para uma análise mais justa d<strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong>, importa contextualizar as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<strong>de</strong> imigrantes existentes <strong>em</strong> Portugal: quais são, porque imigraram para Portugal, que tipo<strong>de</strong> ligação histórica p<strong>os</strong>su<strong>em</strong> com o país acolhedor? Como na <strong>de</strong>scrição d<strong>os</strong> diferentescon cei t<strong>os</strong> acima efectua<strong>da</strong>, o estudo que far<strong>em</strong><strong>os</strong> a seguir é prop<strong>os</strong>ita<strong>da</strong>mente breve econse quen t<strong>em</strong>ente não preten<strong>de</strong> ser exaustivo.2.2 As principais comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes <strong>em</strong> Portugal (ou as principais minoriasétnicas <strong>em</strong> Portugal)Antes do mais, importa esclarecer que analisar<strong>em</strong><strong>os</strong> <strong>os</strong> media disponíveis para as princi -pais comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes que actualmente exist<strong>em</strong> <strong>em</strong> Portugal (sendo estas comu -ni<strong>da</strong><strong>de</strong>s as maiores <strong>em</strong> term<strong>os</strong> <strong>de</strong> númer<strong>os</strong>). Faz<strong>em</strong><strong>os</strong> isto por uma questão <strong>de</strong> limi ta çãoOs Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (31)


<strong>de</strong> t<strong>em</strong>po, mas também <strong>de</strong> clareza. Estimam<strong>os</strong> que através <strong>da</strong> análise <strong>de</strong>stas comu ni <strong>da</strong> -<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>r<strong>em</strong><strong>os</strong> ter uma visão global <strong>da</strong> probl<strong>em</strong>ática.Tampouco tratar<strong>em</strong><strong>os</strong> aqui <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes provenientes <strong>de</strong> países <strong>da</strong>União Europeia (UE). Isto por duas razões óbvias: a primeira, pelo facto já mencionadoaqui acima, que é o do número inferior <strong>de</strong> ci<strong>da</strong>dã<strong>os</strong> comunitári<strong>os</strong> resi<strong>de</strong>ntes <strong>em</strong> Portugal<strong>em</strong> com paração com <strong>os</strong> ci<strong>da</strong>dã<strong>os</strong> extracomunitári<strong>os</strong> (Tabela 1). Para além disso, <strong>os</strong> ci<strong>da</strong> -dã<strong>os</strong> comu nitári<strong>os</strong> que aqui resi<strong>de</strong>m, actualmente, gozam praticamente d<strong>os</strong> mesm<strong>os</strong> direi -t<strong>os</strong> d<strong>os</strong> ci<strong>da</strong>dã<strong>os</strong> nacionais, o que permite, pelo men<strong>os</strong> a priori, uma maior a<strong>da</strong>ptação àso cie<strong>da</strong><strong>de</strong> acolhedora.TABELA 1Total <strong>de</strong> imigrantes não comunitári<strong>os</strong> <strong>em</strong> comparação com <strong>os</strong> ci<strong>da</strong>dã<strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong><strong>da</strong> União Europeia, <strong>em</strong> PortugalFonte: SEF (Serviço <strong>de</strong> Estrangeir<strong>os</strong> e Fronteiras)Impõe-se aqui uma ressalva importante: sab<strong>em</strong><strong>os</strong> que a Roménia a<strong>de</strong>riu à União Europeia<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o dia 1 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 2007. No entanto, as limitações ain<strong>da</strong> imp<strong>os</strong>tas pel<strong>os</strong> antig<strong>os</strong>países m<strong>em</strong>br<strong>os</strong> <strong>da</strong> UE a estes nov<strong>os</strong> ci<strong>da</strong>dã<strong>os</strong> comunitári<strong>os</strong> justificam que incluam<strong>os</strong> acomuni<strong>da</strong><strong>de</strong> romena neste estudo.(32) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


De acordo com <strong>os</strong> <strong>da</strong>d<strong>os</strong> do Serviço <strong>de</strong> Estrangeir<strong>os</strong> e Fronteir<strong>os</strong> (SEF), as principaiscomuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes existentes <strong>em</strong> Portugal são as provenientes <strong>da</strong>s antigas coló -nias portuguesas – que formam a Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> d<strong>os</strong> Países <strong>de</strong> Língua Portuguesa (CPLP)– assim como <strong>da</strong> China e <strong>de</strong> países do Leste Europeu. A Tabela 2 m<strong>os</strong>tra esta tendência:TABELA 2Principais nacionali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes não comunitári<strong>os</strong>Autorizações <strong>de</strong> Permanência (2001-2004) + Autorizações <strong>de</strong> Residência (2004)Fonte: SEF (Serviço <strong>de</strong> Estrangeir<strong>os</strong> e Fronteiras)Assim, as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes <strong>da</strong>s quais tratar<strong>em</strong><strong>os</strong> aqui são as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>países <strong>da</strong> CPLP, a chinesa e as d<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> do Leste Europeu mais presentes no País(Roménia, República Mol<strong>da</strong>va, Rússia e Ucrânia).Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (33)


Como já é do conhecimento <strong>de</strong> tod<strong>os</strong>, tradicionalmente, um país <strong>de</strong> <strong>em</strong>igração, Portugalentra na categoria <strong>de</strong> país <strong>de</strong> imigração, há pouco mais <strong>de</strong> duas déca<strong>da</strong>s. No entanto, <strong>em</strong> -bora a imigração <strong>em</strong> Portugal seja um fenómeno recente <strong>em</strong> comparação a outr<strong>os</strong> países<strong>da</strong> União Europeia, esta t<strong>em</strong> crescido <strong>de</strong> forma substancial. As Tabelas 3 e 4 indicam b<strong>em</strong>a diferença do número <strong>de</strong> imigrantes, n<strong>os</strong> diferentes países <strong>da</strong> OCDE (Orga ni zação para aCooperação e Desenvolvimento Económico), e a maneira como a imigração v<strong>em</strong> cres -cendo <strong>em</strong> Portugal 18 .TABELA 3Percentag<strong>em</strong> <strong>de</strong> estrangeir<strong>os</strong>, por total <strong>de</strong> população resi<strong>de</strong>nte, <strong>em</strong> países <strong>da</strong> OCDEFonte: SOPEMI 200418 Segundo um artigo do DiárioEconómico, intitulado “Imigrantes val<strong>em</strong>7% <strong>da</strong> riqueza do País”, do dia 5 <strong>de</strong> Abril<strong>de</strong> 2007, Portugal é actualmente o quintopaís <strong>da</strong> OCDE mais procurado pel<strong>os</strong>imigrantes.(34) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


TABELA 4Evolução <strong>da</strong> população estrangeira com estatuto legal <strong>de</strong> resi<strong>de</strong>nte, <strong>em</strong> PortugalFonte: SEF – Relatório Estatístico <strong>de</strong> 2004Excluindo <strong>os</strong> europeus que se estabeleceram <strong>em</strong> Portugal, nas déca<strong>da</strong>s <strong>de</strong> 1940/1950,por motiv<strong>os</strong> polític<strong>os</strong> ou por motiv<strong>os</strong> profissionais muito específic<strong>os</strong> (turismo ou comérciodo Vinho do Porto, por ex<strong>em</strong>plo), <strong>os</strong> primeir<strong>os</strong> imigrantes não comunitári<strong>os</strong> a chegar<strong>em</strong> aoPaís foram <strong>os</strong> oriund<strong>os</strong> <strong>da</strong>s antigas colónias portuguesas. As principais causas que expli -cam esses flux<strong>os</strong> migratóri<strong>os</strong> são, num primeiro momento, factores <strong>de</strong> atracção e repulsãoassim como, num segundo momento, as re<strong>de</strong>s sociais e <strong>de</strong> contact<strong>os</strong> aqui estabeleci<strong>da</strong>satravés <strong>da</strong>s primeiras vagas <strong>de</strong> imigrantes.Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (35)


Em relação à imigração africana, n<strong>os</strong> an<strong>os</strong> 1960, <strong>de</strong>vido a um gran<strong>de</strong> fluxo <strong>em</strong>igratóriopor tuguês, o país escasseava <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra e ia recrutá-la n<strong>os</strong> Países African<strong>os</strong> <strong>de</strong>Língua Oficial Portuguesa (igualmente conhecid<strong>os</strong> por PALOP), na época, ain<strong>da</strong> colóniaspor tu gue sas. Havia igualmente african<strong>os</strong> que vinham a Portugal nesta época por motiv<strong>os</strong>escolares. No entanto, esses aflux<strong>os</strong> eram mínim<strong>os</strong> e bastante controlad<strong>os</strong> e, por ser<strong>em</strong>,então, ain<strong>da</strong> colónias <strong>de</strong> Portugal, essas correntes migratórias não eram consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>scomo imigração internacional, e sim vistas como <strong>de</strong>slocament<strong>os</strong> intra-regionais.Em mead<strong>os</strong> d<strong>os</strong> an<strong>os</strong> <strong>de</strong> 1970, <strong>em</strong> função do contexto histórico, a corrente imigratóriaafri cana ten<strong>de</strong> a aumentar. De facto, o fim <strong>da</strong> ditadura <strong>em</strong> Portugal com as consequentesmu<strong>da</strong>nças sociais, políticas e económicas; a in<strong>de</strong>pendência <strong>da</strong>s antigas colónias portu -gue sas e a <strong>de</strong>sorganização social intensa <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>a<strong>da</strong> pelas súbitas alterações so cio po -líticas n<strong>os</strong> nov<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes; e as re<strong>de</strong>s sociais constituí<strong>da</strong>s <strong>em</strong> solo nacionalportu guês pel<strong>os</strong> imigrantes african<strong>os</strong> já aqui estabelecid<strong>os</strong>, impulsionaram uma correnteimi gra tória d<strong>os</strong> países do PALOP para Portugal. Assim, no final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970, <strong>os</strong>afri can<strong>os</strong> passam a representar quase a meta<strong>de</strong> do número total <strong>de</strong> estrangeir<strong>os</strong> resi<strong>de</strong>ntes<strong>em</strong> Portugal 19 (Pires, 2003). Esta tendência, como vim<strong>os</strong> n<strong>os</strong> quadr<strong>os</strong> acima, continua aser observa<strong>da</strong> até a<strong>os</strong> dias <strong>de</strong> hoje.No que concerne ao Brasil, também ex-colónia portuguesa, <strong>em</strong>bora <strong>de</strong> sécul<strong>os</strong> atrás, éevi <strong>de</strong>nte que <strong>os</strong> laç<strong>os</strong> históric<strong>os</strong> e o facto <strong>de</strong> compartir o mesmo idioma são factores expli -ca tiv<strong>os</strong> <strong>da</strong> escolha <strong>de</strong> Portugal como país <strong>de</strong> <strong>em</strong>igração. Para além <strong>de</strong>sses motiv<strong>os</strong> maisóbvi<strong>os</strong>, inicialmente <strong>os</strong> imigrantes brasileir<strong>os</strong> afluíram a Portugal <strong>de</strong>vido a uma contra cor -rente migratória.Assim, a importante <strong>em</strong>igração portuguesa para solo brasileiro provocou uma corrente migratória no sentido inverso. “Estas contracorrentes explicam-se quer pela existência <strong>de</strong>flu x<strong>os</strong> <strong>de</strong> retorno, on<strong>de</strong> se combinam nacionais e <strong>os</strong> seus familiares estrangeir<strong>os</strong>, querpelo facto <strong>da</strong> integração d<strong>os</strong> <strong>em</strong>igrantes <strong>da</strong> corrente principal na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> recep çãop<strong>os</strong> sibilitar a constituição <strong>de</strong> relações <strong>de</strong> sociabili<strong>da</strong><strong>de</strong> quefun cionam como equiva lente funcional <strong>da</strong>s ca<strong>de</strong>ias migra -tó rias, n<strong>os</strong> plan<strong>os</strong> <strong>da</strong> difusão <strong>da</strong> informação e <strong>da</strong> redu ção19 Ver igualmente, a este respeito, o sitedo Instituto Nacional <strong>de</strong> Estatística (INE):www.ine.pt(36) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


d<strong>os</strong> cust<strong>os</strong> <strong>da</strong> integração, para <strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong> que percorr<strong>em</strong> a contracorrente” (Pires,2003: 151). É neste contexto que <strong>os</strong> brasileir<strong>os</strong> foram uma <strong>da</strong>s primeiras comuni <strong>da</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> imigrantes existente <strong>em</strong> Portugal e que a maioria d<strong>os</strong> imigrantes brasileir<strong>os</strong> resi<strong>de</strong>ntesno País, <strong>em</strong> 1960, chegou já nas déca<strong>da</strong>s <strong>de</strong> 40 e 50.No entanto, ao longo do t<strong>em</strong>po, o perfil <strong>da</strong> imigração brasileira obteve um novo signifi -cado. Na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 80, <strong>os</strong> imigrantes brasileir<strong>os</strong> a chegar<strong>em</strong> a Portugal vieram, na suamaioria, “fugindo” <strong>da</strong> crise socioeconómica do Brasil e atraíd<strong>os</strong> pela esperança <strong>de</strong> umavi<strong>da</strong> melhor <strong>em</strong> Portugal. A a<strong>de</strong>são do país à Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> Europeia facilitou o im pulso<strong>de</strong>sse novo fluxo migratório brasileiro que po<strong>de</strong> ser explicado pelo que a teoria neo clássica<strong>da</strong> imigração chama <strong>de</strong> avaliação d<strong>os</strong> “cust<strong>os</strong> e benefíci<strong>os</strong>” na hora <strong>de</strong> imi grar. Esta vaga<strong>de</strong> imigrantes era principalmente constituí<strong>da</strong> por imigrantes qualificad<strong>os</strong>, sobretudo <strong>de</strong>n -tistas, informátic<strong>os</strong> e publicitári<strong>os</strong> (Padilha 2005).Com o passar do t<strong>em</strong>po, as re<strong>de</strong>s sociais constituí<strong>da</strong>s <strong>em</strong> Portugal pel<strong>os</strong> imigrantes brasi -leir<strong>os</strong> já aqui estabelecid<strong>os</strong> atraíram uma nova vaga <strong>de</strong> imigração brasileira n<strong>os</strong> an<strong>os</strong> 90,e que continua a fluir n<strong>os</strong> dias <strong>de</strong> hoje. Outro factor explicativo <strong>de</strong>sta nova vaga, para além<strong>da</strong>s re<strong>de</strong>s sociais, é a dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> ca<strong>da</strong> vez maior para entrar n<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong>o 11 <strong>de</strong> Set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2001, o que tornou Portugal ain<strong>da</strong> mais atractivo para a imigraçãobrasileira (Padilha, 2005). Esta nova vaga, ao contrário do que aconteceu na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong>80, é comp<strong>os</strong>ta por imigrantes que trabalham <strong>em</strong> sectores men<strong>os</strong> quali fi cad<strong>os</strong>, como asáreas <strong>de</strong> restauração, hotelaria e construção civil.Em relação à imigração chinesa, para além <strong>da</strong> longa “tradição” <strong>de</strong> migração internacional,factores <strong>de</strong> atracção e repulsão explicam o fluxo migratório chi nês, <strong>em</strong> Portugal. Os pri -mei r<strong>os</strong> chineses a chegar<strong>em</strong> estabeleceram-se no País por volta <strong>de</strong> 1920 e estavam li ga -d<strong>os</strong> ao comércio ambulante. Na época do Estado Novo, muit<strong>os</strong> <strong>de</strong>sses chineses <strong>em</strong>igra -ram para as antigas colónias portuguesas, <strong>em</strong> espe cial para Moçambique, on<strong>de</strong> formaramsignificativas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s.Com o fim <strong>da</strong> ditadura <strong>em</strong> Portugal e a in<strong>de</strong>pendência <strong>da</strong>s antigas colónias, muit<strong>os</strong> d<strong>os</strong>chi neses referid<strong>os</strong> imigraram para Portugal. Para além disso, mais recent<strong>em</strong>ente, o cresci -Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (37)


mento económico <strong>de</strong>sequilibrado na China, conjugado com o forte crescimento <strong>de</strong>mo grá -fico, impulsionou uma nova vaga <strong>de</strong> imigração chinesa para território português. Esse aflu -xo foi facilitado, durante a déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990, com <strong>os</strong> process<strong>os</strong> <strong>de</strong> regularização extraor -dinária – 1992/3 e 1996 – (Oliveira, 2002).Actualmente, <strong>os</strong> imigrantes chineses <strong>em</strong> Portugal provêm especialmente <strong>da</strong> província <strong>de</strong>Zhejiang, no Su<strong>de</strong>ste <strong>da</strong> China, que t<strong>em</strong> uma política activa <strong>de</strong> apoio e estimulo à <strong>em</strong>i -gra ção. O professor universitário e investigador Miguel Sant<strong>os</strong> Neves conclui, no seu es -tudo, A comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> negóci<strong>os</strong> chinesa <strong>em</strong> Portugal: implicações para a política externaportuguesa e as relações bilaterais Portugal-China, que esta província t<strong>em</strong> uma estratégia<strong>de</strong> “especialização na <strong>em</strong>igração”, por consi<strong>de</strong>rar que a <strong>em</strong>igração é essencial para o <strong>de</strong> -sen volvimento <strong>da</strong>s regiões, tanto <strong>em</strong> term<strong>os</strong> comerciais, através <strong>da</strong> expansão <strong>da</strong>s expor -tações, como <strong>em</strong> term<strong>os</strong> <strong>de</strong> investimento estrangeiro, pois <strong>os</strong> <strong>em</strong>igrantes <strong>de</strong>s<strong>em</strong> pe nhamum papel relevante na mobilização <strong>de</strong> investimento estrangeiro não chinês 20 .Mais recent<strong>em</strong>ente, imigrantes provenientes d<strong>os</strong> países do Leste europeu aflu<strong>em</strong> ao terri -tório português invertendo as tendências “habituais” <strong>da</strong>s características imigratórias <strong>em</strong>Por tugal. S<strong>em</strong> nenhuma ligação histórica, linguística ou cultural entre Portugal e essespaíses, esses nov<strong>os</strong> imigrantes começam, no entanto, a chegar a Portugal no fim <strong>de</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990. Os principais motiv<strong>os</strong> evocad<strong>os</strong> para este novo tipo <strong>de</strong> imigração são o fimdo Comunismo, o <strong>de</strong>s m<strong>em</strong> bramento <strong>da</strong> antiga UniãoSoviética – com a abertura <strong>da</strong>s fronteiras facilitando a <strong>em</strong>igração– e <strong>os</strong> probl<strong>em</strong>as económic<strong>os</strong> que <strong>da</strong>í advieram.20 Ver, a este respeito, Meneses, J. P.(2005), Chineses chegam a Portugal comapoi<strong>os</strong> do seu governo, Ponto Final, Portaldiário <strong>de</strong> Macau, http://www.pontofinalmacau.com/modules.php?op=modload&name =News &file=article&sid=8428&mo<strong>de</strong>=thread&or<strong>de</strong>r=0&thold=021 No fim <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990, a<strong>em</strong>igração portuguesa voltou a crescer.Estima-se que, entre <strong>os</strong> an<strong>os</strong> <strong>de</strong> 1996 e1997, a saí<strong>da</strong> <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra portuguesachegou a ultrapassar as 100.000 saí<strong>da</strong>sanuais. A baixa taxa <strong>de</strong> fecundi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong>Portugal explica também essas mu<strong>da</strong>nças(Pires, 2003).22 Estima-se, por ex<strong>em</strong>plo, que haja naEspanha mais <strong>de</strong> 373.000 romen<strong>os</strong>. Umnúmero elevado, se comparado com <strong>os</strong>12.155 romen<strong>os</strong>, estimad<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal.Desta maneira, muit<strong>os</strong> eslav<strong>os</strong> imigraram para Portugal,nesta época, atraíd<strong>os</strong> pela oferta <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra um tantoesgota<strong>da</strong> no país, <strong>de</strong>vido às mu<strong>da</strong>nças socio <strong>de</strong> mo grá fi -cas 21 . O facto <strong>de</strong> Portugal ser um país <strong>da</strong> União Europeiainfluencia também, na escolha <strong>de</strong>ste país como <strong>de</strong>stinoimi gratório. A saturação <strong>de</strong> imigrantes do Leste noutr<strong>os</strong> paí -ses europeus explica igualmente a preferência por Portugal,na hora <strong>de</strong> imigrar 22 . A<strong>de</strong>mais, como t<strong>em</strong> sido constatado(38) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


com <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> tip<strong>os</strong> <strong>de</strong> imigração, a teoria <strong>da</strong>s re<strong>de</strong>s sociais fornece uma explicação compl<strong>em</strong>entar<strong>de</strong>ste fenómeno: uma vez aqui estabelecid<strong>os</strong>, <strong>os</strong> imigrantes for mam uma es -pécie <strong>de</strong> re<strong>de</strong> social local atraindo <strong>os</strong> imigrantes seguintes.Os imigrantes originári<strong>os</strong> <strong>da</strong> Europa <strong>de</strong> Leste, <strong>em</strong>bora tenham níveis <strong>de</strong> qualificação rela -ti va mente mais elevad<strong>os</strong>, <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penham predominant<strong>em</strong>ente activi<strong>da</strong><strong>de</strong>s com baix<strong>os</strong>salá ri<strong>os</strong> e <strong>de</strong>svalorizad<strong>os</strong> socialmente, como a construção civil, serviç<strong>os</strong> <strong>de</strong> limpeza etraba lh<strong>os</strong> doméstic<strong>os</strong>. Estes imigrantes apresentam um padrão <strong>de</strong> inserção profissional eterri to rial mais diversificado do que <strong>os</strong> <strong>de</strong>mais imigrantes. Se, no geral, <strong>os</strong> imigrantes doLeste se fixam na área metropolitana <strong>de</strong> Lisboa, po<strong>de</strong>-se encontrá-l<strong>os</strong> igualmente <strong>em</strong> to<strong>da</strong>sas regiões do País, <strong>em</strong> função <strong>da</strong>s oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalh<strong>os</strong> existentes <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> região(Fonseca, 2003).De facto, na sua maioria, <strong>em</strong> Portugal, <strong>os</strong> imigrantes estão concentrad<strong>os</strong> na região metro -politana <strong>de</strong> Lisboa, com 45% d<strong>os</strong> imigrantes a viver nesta região. Em segui<strong>da</strong>, a maiorcon centração <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes no País encontra-se <strong>em</strong> Setúbal, Porto eFaro, como po<strong>de</strong>m<strong>os</strong> ver na Tabela 5.Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (39)


TABELA 5Número <strong>de</strong> imigrantes <strong>em</strong> Portugal, por área geográficaFonte: SEF (Serviço <strong>de</strong> Estrangeir<strong>os</strong> e Fronteiras)(40) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


PARTE IITRABALHOS REALIZADOSE RESULTADOSOs Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (41)


(42) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


1. Trabalh<strong>os</strong> realizad<strong>os</strong>Para facilitar a leitura, elaboram<strong>os</strong> um quadro técnico (Quadro 1) <strong>da</strong>s metas previstas paraeste estudo e <strong>de</strong> como proce<strong>de</strong>m<strong>os</strong> para atingi-las.QUADRO 1Activi<strong>da</strong><strong>de</strong>s programa<strong>da</strong>s para o projectoOs Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (43)


2. Resultad<strong>os</strong>2.1 Os mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação <strong>da</strong>s principais comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes <strong>em</strong> Portugal– Análise técnicaAcreditando na importância d<strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> como um meio relevante na participaçãod<strong>os</strong> imigrantes na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> anfitriã, o Manifesto Europeu para apoiar e sublinhar a im -por tância d<strong>os</strong> Media <strong>de</strong> Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s Minoritárias pe<strong>de</strong>, entre outras iniciativas, que “asau tori<strong>da</strong><strong>de</strong>s e enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> União Europeia reconheçam o papel d<strong>os</strong> Media <strong>da</strong>s Comu ni -<strong>da</strong><strong>de</strong>s Minoritárias na União Europeia como actores importantes na impl<strong>em</strong>en tação <strong>da</strong>spolíticas <strong>de</strong> integração e que reconheçam estes mei<strong>os</strong> como um serviço público essenciale que, como tais, sejam incluíd<strong>os</strong> <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as legislações europeias e nacionais sobr<strong>em</strong>edia (…) 23 ”.Dedicar<strong>em</strong><strong>os</strong>, então, esta segun<strong>da</strong> parte do n<strong>os</strong>so trabalho ao objecto do n<strong>os</strong>so estudo: <strong>os</strong>mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação d<strong>os</strong> imigrantes. Antes <strong>de</strong> abor<strong>da</strong>rm<strong>os</strong> a análise social do trabalho,uma análise técnica do que foi elaborado torna-se necessária para po<strong>de</strong>rm<strong>os</strong> obter umavisão global <strong>da</strong> probl<strong>em</strong>ática. Esta leitura técnica encontra-se resumi<strong>da</strong> n<strong>os</strong> Quadr<strong>os</strong> 2, 3e 4 e vê-se compl<strong>em</strong>enta<strong>da</strong> através <strong>da</strong> i<strong>de</strong>ntificação d<strong>os</strong> diferentes media étnic<strong>os</strong> exis ten -tes <strong>em</strong> Portugal (Anexo II), <strong>da</strong>s n<strong>os</strong>sas fichas técnicas que se encontram no Anexo V e dodocumentário fotográfico (Anexo III) que ilustra <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação étnic<strong>os</strong> i<strong>de</strong>n -tificad<strong>os</strong> no País.Em <strong>de</strong>corrência <strong>da</strong> n<strong>os</strong>sa investigação e <strong>da</strong>s entrevistas rea liza<strong>da</strong>s com <strong>os</strong> representantesd<strong>os</strong> diferentes media étni c<strong>os</strong>, acima citad<strong>os</strong>, po<strong>de</strong>m<strong>os</strong> fazer a seguinte leitura:23 Ver, nota n.º 16: http://www.multicultural.net/manifesto/in<strong>de</strong>x.htm;note que a Lei n.° 115/99, acima cita<strong>da</strong>,na página 28 <strong>de</strong>ste estudo, estipula obenefício do direito <strong>de</strong> antena n<strong>os</strong> serviç<strong>os</strong>públic<strong>os</strong> <strong>de</strong> rádio e <strong>de</strong> televisão,mas não menciona na<strong>da</strong> no quediz respeito ao direito d<strong>os</strong> media<strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s minoritárias.(44) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


QUADRO 2Os diferentes media étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> PortugalQUADRO 3Características d<strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong>Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (45)


QUADRO 4Principais funções d<strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong>, segundo <strong>os</strong> seus representantes(46) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


Tip<strong>os</strong> <strong>de</strong> mediaA imprensa escrita é o tipo <strong>de</strong> veículo mais usado pelas diferentes comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Pouc<strong>os</strong>são <strong>os</strong> programas <strong>de</strong> rádio. A comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira beneficia <strong>de</strong> um portal online, e nãohá nenhum programa <strong>de</strong> televisão elaborado pel<strong>os</strong> imigrantes <strong>em</strong> Portugal.A comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira e as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s russa e ucraniana são as mais b<strong>em</strong> repre sen -ta<strong>da</strong>s, <strong>em</strong> term<strong>os</strong> <strong>de</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação d<strong>os</strong> imigrantes. A comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> africana pra -ti camente não p<strong>os</strong>sui nenhum meio <strong>de</strong> comunicação que a represente, com a excepçãodo jornal angolano.O programa <strong>de</strong> rádio <strong>em</strong> russo Tchas Obo Vc<strong>em</strong> t<strong>em</strong> uma característica particular: não éfeito por imigrantes, <strong>em</strong>bora seja direccionado para eles. De facto, Ana Isabel, a apre sen -tadora do programa, é <strong>de</strong> nacionali<strong>da</strong><strong>de</strong> portuguesa, mas viveu onze an<strong>os</strong> na Rússia e falafluent<strong>em</strong>ente o russo. No entanto, se o programa é elaborado por uma portuguesa, estefoi pensado pela própria comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> russófona que havia pedido a Ana Isabel para criarum programa <strong>de</strong> rádio, apresentado <strong>em</strong> russo, on<strong>de</strong> <strong>os</strong> imigrantes f<strong>os</strong>s<strong>em</strong> o alvo principal.IniciativaNa sua gran<strong>de</strong> maioria, <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação étnic<strong>os</strong> são iniciativas <strong>de</strong> particulares.As excepções consist<strong>em</strong> n<strong>os</strong> jornais <strong>da</strong>s associações brasileira (Casa do Brasil, através dojornal Sabiá), angolana (Casa <strong>de</strong> Angola, pelo seu Angola Magazine) e ucraniana (Asso-cia ção d<strong>os</strong> ucranian<strong>os</strong> <strong>de</strong> Portugal, através do seu boletim).Linhas editoriaisAs t<strong>em</strong>áticas <strong>de</strong> informações, ou seja, as linhas editoriais <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> meio, com poucas excepções (como a revista Brasil, por ex<strong>em</strong>plo, cuja linha editorial é especialmente volta<strong>da</strong>para o entretenimento), abor<strong>da</strong>m questões im portantes para as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s que repre -Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (47)


sentam. Assim, <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação tratam <strong>de</strong> assunt<strong>os</strong> tão divers<strong>os</strong> como legislação(como se faz para obter um visto; como pedir a dupla nacionali<strong>da</strong><strong>de</strong>, etc.), informaçõessobre curs<strong>os</strong> <strong>de</strong> Português, as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>s pessoas ao imigrar<strong>em</strong>, informação útil parao imigrante (como se faz para abrir uma conta ban cária, como enviar dinheiro para casa,etc.) b<strong>em</strong> como on<strong>de</strong> encontrar um bom restaurante brasileiro ou um mercado chinês.Edição e distribuiçãoA totali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sses mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação t<strong>em</strong> edição própria e a gran<strong>de</strong> maioria distri buiigualmente <strong>os</strong> jornais pel<strong>os</strong> seus própri<strong>os</strong> mei<strong>os</strong>. As únicas excepções são <strong>os</strong> jornais russ<strong>os</strong>e o jornal romeno Diáspora Romaneasca que contratam uma <strong>em</strong>presa <strong>de</strong> distri bui ção.Embora <strong>os</strong> jornais e revistas sejam <strong>de</strong> iniciativas locais, eles são distribuíd<strong>os</strong> por todo oter ritório nacional português, com especial enfoque n<strong>os</strong> locais e áreas <strong>de</strong> maior afluência<strong>de</strong> imigrantes <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. A excepção é o jornal Sabiá que é apenas distribuídona área <strong>da</strong> gran<strong>de</strong> Lisboa e <strong>em</strong> alguns pont<strong>os</strong> específic<strong>os</strong> do País. Os programas <strong>de</strong> rádiotêm um alcance regional.Na sua maioria, <strong>os</strong> diferentes media étnic<strong>os</strong> <strong>de</strong> Portugal são feit<strong>os</strong> e editad<strong>os</strong> neste País.No entanto, dois jornais e uma revista são editad<strong>os</strong> no estrangeiro. Os jornais romen<strong>os</strong>Diás pora Romaneasca é editado <strong>em</strong> Londres e circula <strong>em</strong> cinco países <strong>da</strong> União Euro peia(Reino Unido, Irlan<strong>da</strong>, Espanha, Portugal e Itália) e o Actualitatea Romaneasca, <strong>em</strong> Buca -reste, na Roménia, e circula por treze países (Espanha, Portugal, Itália, Grécia, Chi pre,Rei no Unido, Irlan<strong>da</strong>, Israel, Áustria, França, Bélgica e Al<strong>em</strong>anha). A revista brasi lei ra Realé igualmente edita<strong>da</strong> <strong>em</strong> Londres e t<strong>em</strong> distribuição <strong>em</strong> cinco países <strong>da</strong> União Europeia(Portugal, Reino Unido, Bélgica, Irlan<strong>da</strong> e Suíça). Esses três mei<strong>os</strong> p<strong>os</strong>su<strong>em</strong> a mesma ca -rac terística: são comp<strong>os</strong>t<strong>os</strong> <strong>de</strong> secções para ca<strong>da</strong> país on<strong>de</strong> circulam e o número <strong>de</strong> pá -gi nas varia <strong>em</strong> função <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> imigrantes <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> um <strong>de</strong>sses países. Nessesentido, esses mei<strong>os</strong> cumpr<strong>em</strong> uma função a mais que <strong>os</strong> outr<strong>os</strong>: circulando por vári<strong>os</strong>países ao mesmo t<strong>em</strong>po, eles proporcionam a troca <strong>de</strong> informação mútua para ca<strong>da</strong> uma<strong>de</strong>ssas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s.(48) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


Formas <strong>de</strong> financiamentoOs mod<strong>os</strong> <strong>de</strong> financiamento d<strong>os</strong> diferentes media variam. No entanto, <strong>de</strong> um modo geral,a maior parte d<strong>os</strong> financiament<strong>os</strong> são efectuad<strong>os</strong> através <strong>de</strong> anúnci<strong>os</strong> e patrocíni<strong>os</strong>, mui -tas vezes esses patrocíni<strong>os</strong> vêm <strong>de</strong> anúnci<strong>os</strong> <strong>de</strong> negóci<strong>os</strong> <strong>da</strong>s próprias comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>imi grantes. O jornal chinês Sino é o único, <strong>de</strong>ntre <strong>os</strong> pesquisad<strong>os</strong>, que p<strong>os</strong>sui uma par -ceria com outro jornal como meio <strong>de</strong> financiamento. Muit<strong>os</strong> recorr<strong>em</strong> igualmente a assina -turas: Magazine Angola, jornal Sino, as revistas Brasil e Brasileirinho, o jornal Slovo e ojornal Diáspora Romaneasca; alguns são vendid<strong>os</strong> nas bancas <strong>de</strong> jornais: <strong>os</strong> jornais Slovo,Vr<strong>em</strong>echko e Sino e outr<strong>os</strong> ain<strong>da</strong> têm recurso a financiamento próprio: <strong>os</strong> jornais Slovo eVr<strong>em</strong>echko e a revista Real.Dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>sNa sua generali<strong>da</strong><strong>de</strong>, a gran<strong>de</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sses mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação é financeira.É precisamente por esta razão que muitas iniciativas <strong>de</strong>saparec<strong>em</strong> (um bom ex<strong>em</strong>plodisso é o Jornal <strong>de</strong> Portugalia, uma iniciativa <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> romena que só conseguiuso breviver por cinco meses – <strong>de</strong> Dez<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2003 a Maio <strong>de</strong> 2004 – e ain<strong>da</strong> fechoucom um prejuízo <strong>de</strong> 18 mil eur<strong>os</strong>), que <strong>os</strong> jornais romen<strong>os</strong> não são editad<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugale que outr<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> (como o jornal Sabiá <strong>da</strong> Casa do Brasil, por ex<strong>em</strong>plo) não consegu<strong>em</strong>ter uma publicação regular.Alcance d<strong>os</strong> mediaOs representantes d<strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> estimam que ca<strong>da</strong> jornal/revista é lido por umamédia <strong>de</strong> cinco pessoas. Se n<strong>os</strong> basearm<strong>os</strong> nesta estimativa, po<strong>de</strong>-se dizer que o jornalDiás pora Romaneasca, que p<strong>os</strong>sui uma tirag<strong>em</strong> s<strong>em</strong>anal <strong>de</strong> 3200 ex<strong>em</strong>plares, é lido poruma média <strong>de</strong> 16.000 romen<strong>os</strong> e mol<strong>da</strong>v<strong>os</strong>. Segundo <strong>os</strong> <strong>da</strong>d<strong>os</strong> oficiais do Serviço <strong>de</strong> Es -tran geir<strong>os</strong> e Fronteiras (SEF), actualmente viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> Portugal à volta <strong>de</strong> 10.000 romen<strong>os</strong>e 12.000 mol<strong>da</strong>v<strong>os</strong>.Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (49)


Os mesm<strong>os</strong> cálcul<strong>os</strong> po<strong>de</strong>m ser feit<strong>os</strong> para <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> media. A revista Brasil, por ex<strong>em</strong> plo,edita 10.000 ex<strong>em</strong>plares por mês. Portanto, segundo as estimativas, esta revista será li<strong>da</strong>por cerca <strong>de</strong> 50.000 brasileir<strong>os</strong>. Calcula-se, segundo <strong>os</strong> <strong>da</strong>d<strong>os</strong> oficiais do SEF, que hajauma média <strong>de</strong> 67.000 brasileir<strong>os</strong> a viver actualmente <strong>em</strong> Portugal. Aliás, o res ponsávelpela revista, Luís Pacheco, contou-n<strong>os</strong> que, no mês <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 2007, a distribuição nãopô<strong>de</strong> ser efectua<strong>da</strong> <strong>em</strong> cert<strong>os</strong> pont<strong>os</strong> do País, por forte <strong>de</strong>man<strong>da</strong> <strong>em</strong> outr<strong>os</strong> lugares.Evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente, esses cálcul<strong>os</strong> são meramente estimativ<strong>os</strong> e po<strong>de</strong>m ser discutid<strong>os</strong>. Naprá tica, é difícil avaliar <strong>de</strong> maneira precisa o alcance d<strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong>, já que não exis -t<strong>em</strong> <strong>da</strong>d<strong>os</strong> estatístic<strong>os</strong> oficiais, pois, como ver<strong>em</strong><strong>os</strong> mais adiante, não são elabora<strong>da</strong>s son -<strong>da</strong>gens específicas para o público imigrante <strong>em</strong> Portugal.É ver<strong>da</strong><strong>de</strong> que as percentagens <strong>de</strong> audiências são armas vali<strong>os</strong>as para a angariação <strong>de</strong>fund<strong>os</strong> publicitári<strong>os</strong> e, portanto, cálcul<strong>os</strong> estatístic<strong>os</strong> precis<strong>os</strong> são <strong>de</strong> fun<strong>da</strong>mental relevân -cia para o financiamento d<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação. No entanto, no caso específico don<strong>os</strong>so estudo, uma avaliação rudimentar é suficiente para perceber que a maioria d<strong>os</strong>media étnic<strong>os</strong> p<strong>os</strong>su<strong>em</strong> já o seu público cativo. Basta ir a um bar on<strong>de</strong> trabalh<strong>em</strong> bra -sileir<strong>os</strong> para perceber que as músicas provêm <strong>da</strong> Rádio Tropical. N<strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> chineses,muit<strong>os</strong> estão a ler o jornal Sino e a maioria d<strong>os</strong> imigrantes do Leste com qu<strong>em</strong> co nver sá -m<strong>os</strong> conhec<strong>em</strong> o programa <strong>de</strong> rádio <strong>de</strong> Ana Isabel 24 . Segundo K<strong>os</strong>tantin Yakovlev, directordo jornal Slovo, muit<strong>os</strong> imigrantes russófon<strong>os</strong> não “sobre viv<strong>em</strong>” mais s<strong>em</strong> este jornal, àsexta-feira (dia <strong>da</strong> sua saí<strong>da</strong>).2.2 Os mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação <strong>da</strong>s principais comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes <strong>em</strong> Portugal– Leitura socialSegundo o Instituto Pan<strong>os</strong>, uma organização internacional com escritóri<strong>os</strong> <strong>em</strong> Paris, es pe -cializa<strong>da</strong> <strong>em</strong> assunt<strong>os</strong> d<strong>os</strong> media e que tenta promover o “pluralismo na informação”, <strong>os</strong>mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> sen volvid<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> imigrantes“proporcionam uma visão diferente do que acontece nascomuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes”. De acor do com o director <strong>de</strong>24 Os bares, <strong>os</strong> mercad<strong>os</strong> e <strong>os</strong> imigrantesdo Leste <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> falam<strong>os</strong> provêm tod<strong>os</strong> <strong>da</strong>área metropolitana <strong>de</strong> Lisboa.(50) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


programas <strong>de</strong>ste Instituto, Reynald Blion, um d<strong>os</strong> objectiv<strong>os</strong> do Instituto consiste <strong>em</strong>realçar a gran<strong>de</strong> relação que <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> p<strong>os</strong>su<strong>em</strong> com as minorias étnicas e aimportante re lação que têm com as suas raízes 25 .O objectivo acima mencionado corrobora o que constatám<strong>os</strong>, ao longo do n<strong>os</strong>so estudo.De facto, durante o n<strong>os</strong>so trabalho, i<strong>de</strong>ntificám<strong>os</strong> várias funções que <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penham <strong>os</strong> di -fe rentes media étnic<strong>os</strong>, <strong>em</strong> relação às comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes. Nesta fase do tra ba -lho, através <strong>da</strong> leitura social <strong>da</strong> n<strong>os</strong>sa investigação, propom<strong>os</strong> estu<strong>da</strong>r as diferentes fun -ções <strong>de</strong>stes media.Para tal, estimam<strong>os</strong> que a melhor maneira <strong>de</strong> elaborar esta leitura é “<strong>da</strong>ndo voz” a<strong>os</strong> queestão directamente relacionad<strong>os</strong> com o n<strong>os</strong>so objecto <strong>de</strong> estudo. Por outras palavras, acre -ditam<strong>os</strong> que as observações e <strong>de</strong>clarações d<strong>os</strong> representantes d<strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> dir-n<strong>os</strong>--ão mais do que qualquer conclusão simplesmente feita por nós. E é <strong>de</strong>sta maneira quepropom<strong>os</strong> a leitura social do n<strong>os</strong>so trabalho.Aproximação à comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>No geral, as avaliações d<strong>os</strong> responsáveis d<strong>os</strong> media e do público-alvo foram no sentido <strong>de</strong>que <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> cumpr<strong>em</strong> uma função <strong>de</strong> aproximação às comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imi gran -tes na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que estes são pensad<strong>os</strong> e elaborad<strong>os</strong> para servir <strong>os</strong> interesses <strong>da</strong>scomu ni<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Os mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação étnic<strong>os</strong>, por representar<strong>em</strong> a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do imi -gran te, são vist<strong>os</strong> como muito críveis pelas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Por ser<strong>em</strong> direccionad<strong>os</strong> paraum certo tipo <strong>de</strong> público específico, funcionam como algo próprio a ca<strong>da</strong> grupo, ser vindocomo uma espécie <strong>de</strong> refúgio. Um jornal romeno, por ex<strong>em</strong>plo, é específico para <strong>os</strong> ro -men<strong>os</strong> e mol<strong>da</strong>v<strong>os</strong>, não é para russ<strong>os</strong>, n<strong>em</strong> para brasileir<strong>os</strong>.No caso particular <strong>da</strong> associação <strong>de</strong> imigrantes Casa doBra sil, esta acredita que <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> estão mais pró -xi m<strong>os</strong> d<strong>os</strong> imigrantes por ser<strong>em</strong> mais personalizad<strong>os</strong>, maisdirec cio nad<strong>os</strong> e, por isso, p<strong>os</strong>su<strong>em</strong> um carácter distinto25 Ver, a este respeito, o artigo “France´sParallel Media Universe: Ethnic Media”, <strong>da</strong>Associação New America Media, disponívelno site: http://newamericamedia.org/news/view_article.html?article_id=869caclcd6bb366909blef69f834c8d7Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (51)


d<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação genera lis tas. Neste âmbito, o jornal Sabiá preten<strong>de</strong> fornecerao imigrante brasileiro informações sobre a sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, além <strong>de</strong> cumprir um papel fun -<strong>da</strong>mental <strong>de</strong> comunicação com a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira <strong>em</strong> Por tugal por ser um contactoconsoli<strong>da</strong>do com esta comuni <strong>da</strong><strong>de</strong>. Além disso tentar fazer com que o imigrante se sintamen<strong>os</strong> só, pois há alguém que “fala” por ele.Sergiu Renita explica que <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> representam a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> d<strong>os</strong> imigrantes. Sendoelaborad<strong>os</strong> por imigrantes, indo directamente ao encontro <strong>de</strong>stes, através <strong>de</strong> traba lho <strong>de</strong>campo e <strong>de</strong> colaborações <strong>da</strong>s próprias comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> estão mais apt<strong>os</strong>para informar o imigrante sobre a sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. “Acreditam<strong>os</strong> que <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comu -nicação <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes são uma confirmação do que se lê/ouve/vê n<strong>os</strong>mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação generalistas, por ser<strong>em</strong> direccionad<strong>os</strong> essencialmente para <strong>os</strong>imigrantes.”Florin Constantin, re<strong>da</strong>ctor-chefe <strong>da</strong> sub-re<strong>da</strong>cção <strong>de</strong> Portugal do jornal romeno DiásporaRo maneasca, atesta que <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação étnic<strong>os</strong> “tentam ser um amigo d<strong>os</strong> imigrantes”,na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que a ‘lacuna’ <strong>em</strong> relação a este grupo, <strong>de</strong>ixa<strong>da</strong> pel<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong>comunicação generalistas, é preenchi<strong>da</strong> pel<strong>os</strong> media <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s minori tárias.Para o director <strong>da</strong> revista O Brasileirinho, Ricardo Castro, <strong>os</strong> imigrantes que a lê<strong>em</strong> i<strong>de</strong>n -ti ficam-se com ela porque “a linguag<strong>em</strong> é brasileira, <strong>os</strong> colaboradores são brasileir<strong>os</strong> e arevista é volta<strong>da</strong> para a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> d<strong>os</strong> brasileir<strong>os</strong>”.Ao longo <strong>da</strong> n<strong>os</strong>sa investigação, observam<strong>os</strong> que muit<strong>os</strong> brasileir<strong>os</strong> vão à Casa do Brasil<strong>em</strong> busca <strong>de</strong> jornais e revistas brasileir<strong>os</strong> que são ali distribuíd<strong>os</strong> gratuitamente. Pergun -tad<strong>os</strong> porque iam eles à associação com este intuito, a resp<strong>os</strong>ta foi unânime: “esses mei<strong>os</strong><strong>de</strong> comunicação n<strong>os</strong> diz<strong>em</strong> directamente respeito. Através <strong>de</strong>les, sentimo-n<strong>os</strong> representa -d<strong>os</strong> e, assim, men<strong>os</strong> sós aqui <strong>em</strong> Portugal”.Os media russ<strong>os</strong> actuam também como um elo entre as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s russófonas, porser<strong>em</strong> mei<strong>os</strong> que retratam, entre outras coisas, a vi<strong>da</strong> d<strong>os</strong> imigrantes russ<strong>os</strong>, na linguag<strong>em</strong>e na mentali<strong>da</strong><strong>de</strong> d<strong>os</strong> imigrantes. Ana Isabel, mo<strong>de</strong>radora do programa <strong>de</strong> rádio Tchas Ob(52) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


Vc<strong>em</strong>, explica que não há na<strong>da</strong> a ser feito contra o curso imigratório, “mas p<strong>os</strong>so com cer -te za contribuir para tornar men<strong>os</strong> pen<strong>os</strong>a a existência d<strong>os</strong> imigrantes <strong>de</strong> Leste que <strong>de</strong>ramà c<strong>os</strong>ta portuguesa. É isso que tento fazer, diariamente, entre as 21h00 e as 23h00, naRádio Nova Antena”.Informação como uma forma <strong>de</strong> integraçãoDe uma maneira geral, excepto <strong>os</strong> media mais voltad<strong>os</strong> para o entretenimento, as opi niõesd<strong>os</strong> consultad<strong>os</strong> indicaram que <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação étnic<strong>os</strong> têm por finali<strong>da</strong><strong>de</strong> contribuirpara a integração do imigrante na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> anfitriã através <strong>da</strong> informação.Tendo <strong>em</strong> conta que o termo “integração” é vasto e abrange várias vertentes, vale salien -tar o que se enten<strong>de</strong> por “integração”, neste caso. De acordo com <strong>os</strong> diferentes media étni -c<strong>os</strong>, integrar-se significa estar mais informado para sentir-se men<strong>os</strong> isolado, men<strong>os</strong> alheioà socie<strong>da</strong><strong>de</strong> anfitriã.Se <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong>, <strong>em</strong> geral, procuram este objectivo <strong>de</strong> integração, <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comu -nicação étnic<strong>os</strong> escrit<strong>os</strong> n<strong>os</strong> idiomas matern<strong>os</strong> <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes que repre -sentam p<strong>os</strong>su<strong>em</strong> um papel ain<strong>da</strong> mais importante neste contexto. Sergiu Renita explicaque s<strong>em</strong> “idioma não há integração”.É neste âmbito que, na sua gran<strong>de</strong> maioria, estes media cumpr<strong>em</strong> igualmente um papelpa recido ao <strong>de</strong> associações <strong>de</strong> imigrantes. Efectivamente, <strong>os</strong> imigrantes, além <strong>de</strong> usar<strong>em</strong><strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação como fonte <strong>de</strong> informação, utilizam também esses mei<strong>os</strong> comouma espécie <strong>de</strong> “serviço <strong>de</strong> apoio informativo”. Os media romen<strong>os</strong>, russ<strong>os</strong> e chinês, re ce -b<strong>em</strong> muitas cartas com perguntas, assim como muit<strong>os</strong> telefon<strong>em</strong>as. Os motiv<strong>os</strong> pel<strong>os</strong>quais <strong>os</strong> imigrantes procuram estes media são divers<strong>os</strong>, passando <strong>de</strong> uma informaçã<strong>os</strong>obre aulas <strong>de</strong> Português, notícias sobre legalização, e até como pedir aju<strong>da</strong> para explicaruma doença ao médico.Para <strong>os</strong> representantes d<strong>os</strong> jornais romen<strong>os</strong>, o acto <strong>de</strong> informar é essencial para qualquerOs Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (53)


pessoa, mas principalmente para qu<strong>em</strong> imigra, pois <strong>os</strong> imigrantes nor mal mente chegamao país anfitrião s<strong>em</strong> conheciment<strong>os</strong> prévi<strong>os</strong> d<strong>os</strong> seus direit<strong>os</strong> e <strong>de</strong>veres. Esses repre sen -tantes comentam que <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> são, assim, fun<strong>da</strong>mentais para informar o imigran -te sobre a sua condição e o seu quotidiano no país <strong>de</strong> acolhi mento. Se gundo eles, o imigranteromeno para uma simples r<strong>em</strong>essa <strong>de</strong> dinheiro, por ex<strong>em</strong>plo, mui tas vezes precisaser ensinado.Os representantes d<strong>os</strong> jornais romen<strong>os</strong> explicam que estes tentam <strong>da</strong>r o máximo <strong>de</strong> infor -ma ção p<strong>os</strong>sível a<strong>os</strong> imigrantes romen<strong>os</strong> e mol<strong>da</strong>v<strong>os</strong>: “Os n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> jornais serv<strong>em</strong> como veí -culo <strong>de</strong> comunicação e também como apoio ao imigrante. Receb<strong>em</strong><strong>os</strong> muitas cartas,muit<strong>os</strong> telefon<strong>em</strong>as, sobre <strong>os</strong> mais divers<strong>os</strong> assunt<strong>os</strong>. Tentam<strong>os</strong> estar informad<strong>os</strong> ao má -xi mo para po<strong>de</strong>r respon<strong>de</strong>r ao maior número p<strong>os</strong>sível <strong>de</strong> perguntas. Os imigrantes infor -mam-se através d<strong>os</strong> jornais. Os media étnic<strong>os</strong> são fun<strong>da</strong>mentais para a integração d<strong>os</strong>imi grantes, por fornecer<strong>em</strong> informações essenciais à vi<strong>da</strong> <strong>de</strong>stes, no país <strong>de</strong> acolhi mentoe, no n<strong>os</strong>so caso, ain<strong>da</strong> mais, por publicarm<strong>os</strong> as informações na língua materna d<strong>os</strong> imigrantes.”Para Irene Lei, re<strong>da</strong>ctora-chefe do jornal chinês Sino, o seu jornal cumpre um papel infor -mativo essencial, na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que a barreira cultural e linguística entre <strong>os</strong> imi granteschineses e a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> portuguesa é muito gran<strong>de</strong>. Assim, este jornal aju<strong>da</strong> a manter oimigrante men<strong>os</strong> isolado, por ser o único veículo <strong>de</strong> informação na língua chinesa <strong>em</strong>Portugal, através do qual <strong>os</strong> imigrantes se po<strong>de</strong>m informar.De facto, fiz<strong>em</strong><strong>os</strong> o teste <strong>de</strong> tentar “perceber” algo do jornal <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> chinesa e aexperiência revelou-n<strong>os</strong> a importância <strong>de</strong> se ter algo no n<strong>os</strong>so idioma quando estam<strong>os</strong>numa socie<strong>da</strong><strong>de</strong> completamente alheia à n<strong>os</strong>sa. O simples exercício <strong>de</strong> encontrar o nú -me ro <strong>de</strong> telefone do responsável do jornal levou-n<strong>os</strong> quase uma hora. D<strong>em</strong>o-n<strong>os</strong> contado quanto po<strong>de</strong> ser essencial para o b<strong>em</strong>-estar e uma mais rápi<strong>da</strong> a<strong>da</strong>ptação do imigrantena so cie<strong>da</strong><strong>de</strong> anfitriã um meio <strong>de</strong> comunicação que lhes diga directamente respeito. Seestar diante <strong>de</strong> um jornal e não conseguir perceber absolutamente na<strong>da</strong> já causa uma sen -sação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconforto, o que se dirá <strong>de</strong> alguém mergulhado por completo numa socie<strong>da</strong><strong>de</strong>estranha.(54) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


Esta é a principal razão que levou <strong>os</strong> directores do jornal Slovo a criar<strong>em</strong> um jornal étnico.Se gundo K<strong>os</strong>tantin Yakovlev, “o intuito do jornal foi criar algo <strong>em</strong> russo para a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>russófona, para aju<strong>da</strong>r esses imigrantes e tornar as suas vi<strong>da</strong>s mais con for táveis <strong>em</strong> Por -tugal. Assim, o objectivo do n<strong>os</strong>so jornal é aju<strong>da</strong>r <strong>os</strong> imigrantes a se integrar<strong>em</strong> na so cie -<strong>da</strong><strong>de</strong> portuguesa. Sendo o n<strong>os</strong>so jornal uma fonte <strong>de</strong> informação útil, facultando res p<strong>os</strong> -tas para questões jurídicas, questões práticas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>em</strong> Portugal, etc.”Dr.ª Galin<strong>da</strong>, colaboradora do jornal russo Maiak Portugalii, estima que é discutível usaro termo “integração” quando se trata <strong>de</strong> um jornal étnico, por ser um termo muito amplo.No entanto, concor<strong>da</strong> que <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> po<strong>de</strong>m “facilitar no processo <strong>de</strong> integração”:“Acom panhando as leis <strong>de</strong> imigração, mantendo as pessoas informa<strong>da</strong>s, fazendo comque <strong>os</strong> imigrantes sintam-se men<strong>os</strong> alhei<strong>os</strong> à socie<strong>da</strong><strong>de</strong> portuguesa e proporcionandouma ligação com a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação d<strong>os</strong> imigrantes cumpr<strong>em</strong>assim um papel importante como facilitador.”O programa <strong>de</strong> rádio <strong>em</strong> russo <strong>da</strong> Rádio Nova Antena é um gran<strong>de</strong> ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong>ste papelfa cilitador. Abor<strong>da</strong>ndo t<strong>em</strong>as sobre as mais diversas áreas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> do imigrante, no idio -ma <strong>de</strong>ste, o programa t<strong>em</strong> por objectivo ser um guia para <strong>os</strong> russófon<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal. AnaIsabel, a mo<strong>de</strong>radora do programa, “acha mesmo muito importante um programa comoeste, por aju<strong>da</strong>r o imigrante a situar-se melhor <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> portuguesa”. AnaIsabel explica que, se para <strong>os</strong> imigrantes lusófon<strong>os</strong> <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação <strong>da</strong>s suascomuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s já são importantes, para <strong>os</strong> russófon<strong>os</strong> estes são ain<strong>da</strong> mais. Muitas vezes,<strong>os</strong> imigrantes sent<strong>em</strong>-se perdid<strong>os</strong> por não falar<strong>em</strong> a mesma língua e é importante ter<strong>em</strong>um apoio no idioma <strong>de</strong>les.Os media <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira, <strong>em</strong>bora esta comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> não tenha o probl<strong>em</strong>a <strong>da</strong>bar reira <strong>da</strong> língua, não <strong>de</strong>ixam, no entanto, <strong>de</strong> contribuir para que o imigrante tenha asinf ormações que lhe diz<strong>em</strong> directamente respeito. Falando a “língua” do imigrante, <strong>os</strong>media têm como objectivo <strong>de</strong> criar uma ligação cultural com a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira, pro -porcionando informações específicas a essa comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Informações estas que, mes m<strong>os</strong>endo <strong>da</strong><strong>da</strong>s pel<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação generalistas, são “confirma<strong>da</strong>s” pel<strong>os</strong> mediabra sileir<strong>os</strong> por ser<strong>em</strong> consi<strong>de</strong>rad<strong>os</strong> mais críveis pela comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>.Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (55)


De facto, como já mencionado, o imigrante s<strong>em</strong>pre tenta buscar aquilo que lhe é mais útilno imediato. Muitas vezes, <strong>os</strong> media brasileir<strong>os</strong>, assim com <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong>, informamo que <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação generalistas não informam. O Sabiá, por ex<strong>em</strong>plo,procura estar s<strong>em</strong>pre a par <strong>da</strong>s leis <strong>de</strong> imigração para informar mais e melhor oimigrante.Os media étnic<strong>os</strong> procuram igualmente facultar uma melhor a<strong>da</strong>ptação do imigrante nasocie<strong>da</strong><strong>de</strong> anfitriã, através <strong>de</strong> informações úteis para o seu quotidiano. Assim, <strong>os</strong> di fe -rentes media p<strong>os</strong>su<strong>em</strong> uma parte direcciona<strong>da</strong> para anúnci<strong>os</strong>, classificad<strong>os</strong>, publici <strong>da</strong> <strong>de</strong>s,serviç<strong>os</strong>, enfim, uma panóplia <strong>de</strong> informações <strong>de</strong> utili<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong> interesse na vi<strong>da</strong> do imigrante<strong>em</strong> Portugal.Aproximação ao país e à cultura <strong>de</strong> orig<strong>em</strong>Os mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes funcionam como uma espécie<strong>de</strong> “ponte” entre Portugal e <strong>os</strong> países <strong>de</strong> orig<strong>em</strong>, através <strong>da</strong> difusão <strong>de</strong> informações sobreaconteciment<strong>os</strong> d<strong>os</strong> países <strong>de</strong> on<strong>de</strong> são oriund<strong>os</strong>. Como resume b<strong>em</strong> o director do jornalrusso Slovo: “nós queríam<strong>os</strong> criar um jornal interessante para to<strong>da</strong>s as pessoas. Por isso,t<strong>em</strong><strong>os</strong> informação <strong>de</strong> tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> lad<strong>os</strong> <strong>da</strong> n<strong>os</strong>sa vi<strong>da</strong>. T<strong>em</strong><strong>os</strong> uma parte <strong>da</strong>s notícias sobrea actuali<strong>da</strong><strong>de</strong> russa, ucraniana, d<strong>os</strong> países <strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> d<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> In<strong>de</strong>pen <strong>de</strong>ntes.”Os mei<strong>os</strong> russ<strong>os</strong>, romen<strong>os</strong> e chinês fornec<strong>em</strong> as programações d<strong>os</strong> canais via satélite <strong>de</strong>ca<strong>da</strong> um <strong>de</strong>sses países como outra maneira <strong>de</strong> aproximar <strong>os</strong> imigrantes a<strong>os</strong> seus países.Por outro lado, <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> tentam igualmente preservar a cultura <strong>de</strong> orig<strong>em</strong>. Assim,eles têm também por objectivo unir, juntar as pessoas, <strong>da</strong>r uma alternativa diferente à vi<strong>da</strong>quo tidiana do imigrante e <strong>de</strong>scansar culturalmente. Para <strong>os</strong> representantes d<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong>comunicação d<strong>os</strong> imigrantes, falar sobre a cultura <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> é fun<strong>da</strong>mental porque “é im -portante não per<strong>de</strong>r as raízes”.Para tal, <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> divulgam informações sobre <strong>os</strong> variad<strong>os</strong> aspect<strong>os</strong> <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>(56) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


quotidiana. Os jornais romen<strong>os</strong>, por ex<strong>em</strong>plo, c<strong>os</strong>tumam organizar event<strong>os</strong>, concert<strong>os</strong> <strong>de</strong>mú sica popular romena, promov<strong>em</strong> artistas imigrantes, tudo com o objectivo <strong>de</strong> unir <strong>os</strong>imi grantes romen<strong>os</strong> e mol<strong>da</strong>v<strong>os</strong>. Os <strong>de</strong>mais media segu<strong>em</strong> um pouco a mesma linha,divulgando notícias sobre <strong>os</strong> diferentes aconteciment<strong>os</strong> <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> que representam,sejam estes <strong>em</strong> Portugal ou no país <strong>de</strong> orig<strong>em</strong>, incentivando a cultura <strong>de</strong> orig<strong>em</strong>.Media étnico como meio <strong>de</strong> reivindicaçãoJaime Araújo, director do jornal Angola Magazine, explica que “um jornal étnico é um veí -culo e órgão motor que aglutina <strong>os</strong> imigrantes e põe o governo <strong>em</strong> alerta. Por isso acreditoque <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> são importantes porque <strong>os</strong> govern<strong>os</strong> precisam <strong>de</strong> algo que <strong>os</strong> incomo<strong>de</strong>”.A mesma opinião compartilha Isis Alves, ex-editora do jornal Sabiá, para qu<strong>em</strong> o principalobjectivo do jornal <strong>da</strong> Casa do Brasil (além <strong>de</strong> manter o imigrante informado) é informaras autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s brasileiras e portuguesas sobre a questão <strong>da</strong> imigração. Segundo Isis, umjornal t<strong>em</strong> um peso maior na hora <strong>de</strong> reivindicar, muito mais do que uma simples carta,ou até mesmo uma associação <strong>de</strong> imigrantes, pois <strong>os</strong> jornais circulam e têm <strong>em</strong> geral umgran<strong>de</strong> peso na opinião pública.Dra. Galin<strong>da</strong>, colaboradora do jornal russo Maiak Portugalii, elogia o trabalho <strong>de</strong> SergeiDamien, director-adjunto do mesmo jornal, por ser uma pessoa que se <strong>de</strong>dica por completoao imigrante. Assim, o seu jornal torna-se também num veículo <strong>de</strong> reivindicação e <strong>de</strong> luta<strong>em</strong> favor d<strong>os</strong> imigrantes: “O que n<strong>os</strong> motiva é saber que aju<strong>da</strong>m<strong>os</strong>. Através do jornal e <strong>da</strong>luta <strong>em</strong> prol d<strong>os</strong> imigrantes <strong>de</strong> Sergei Damien, estes sent<strong>em</strong>-se apoiad<strong>os</strong>. Se não sentirm<strong>os</strong>que o imigrante sente-se apoiado, não há por que continuarm<strong>os</strong> o trabalho.”Na prática, a importância <strong>de</strong>sses media é visível através <strong>de</strong> vári<strong>os</strong> ex<strong>em</strong>pl<strong>os</strong>. O simplesfacto <strong>de</strong>sses mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação acompanhar<strong>em</strong> as questões que diz<strong>em</strong> directamenteres peito ao imigrante e publicá-las n<strong>os</strong> media já é uma maneira <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar o imigrante maisinformado sobre seus direit<strong>os</strong> e <strong>de</strong>veres.Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (57)


O programa <strong>de</strong> rádio <strong>da</strong> Ana Isabel divulgou <strong>de</strong> maneira intensiva a linha “SOS Imigrante” (linhatelefónica <strong>de</strong> apoio ao imigrante liga<strong>da</strong> ao ACIDI) fazendo com que milhares <strong>de</strong> imi grantesrussófon<strong>os</strong> tomass<strong>em</strong> conhecimento <strong>de</strong>ste serviço. As campanhas <strong>da</strong> or ga nização AmnistiaInternacional contra o racismo foram igualmente amplamente anun cia<strong>da</strong>s na Rádio Tropical.O jornal Sabiá, por ex<strong>em</strong>plo, divulgou <strong>de</strong> maneira exaustiva a chama<strong>da</strong> para a re gu la ri za -ção extraordinária <strong>de</strong> brasileir<strong>os</strong>, no âmbito do acordo bilateral entre Brasil e Portugal, dodia 11 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 2003, assim como publica também informações men<strong>os</strong> conheci<strong>da</strong>s<strong>da</strong> maioria e que muit<strong>os</strong> passam a ter conhecimento através do jornal. Um ex<strong>em</strong>plo dissoé um <strong>de</strong>spacho do Governo português que dá acesso a atendimento h<strong>os</strong>pitalar para <strong>os</strong>imi grantes indocumentad<strong>os</strong>. Muit<strong>os</strong> informam-se através <strong>de</strong>ste jornal e dirig<strong>em</strong>-se até àCasa do Brasil para obter<strong>em</strong> informações mais concretas sobre o assunto. Várias foram aspes soas que foram à Casa do Brasil, por ex<strong>em</strong>plo, reclamar por não ter<strong>em</strong> acesso aatendimento médico, saíram com o jornal Sabiá, on<strong>de</strong> constam infor mações sobre este<strong>de</strong>s pacho, e regressaram <strong>de</strong>pois à associação, para dizer<strong>em</strong> que tinham sido atendid<strong>os</strong>graças às informações obti<strong>da</strong>s no jornal.Dra. Galin<strong>da</strong> comenta que <strong>os</strong> responsáveis pel<strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> precisam <strong>de</strong> ter muita res pon -sabili<strong>da</strong><strong>de</strong> porque para <strong>os</strong> imigrantes o que está escrito n<strong>os</strong> jornais/revistas étnic<strong>os</strong>, ou que seouve nas rádi<strong>os</strong> <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s minoritárias, é consi<strong>de</strong>rado certo. Segundo ela, assim queuma notícia é divulga<strong>da</strong>, <strong>os</strong> imigrantes vão imediatamente à procura <strong>da</strong> sua confirmação.Alertando <strong>os</strong> imigrantes sobre <strong>os</strong> seus direit<strong>os</strong> e <strong>de</strong>veres, publicando notícias men<strong>os</strong> di -vulga<strong>da</strong>s, falando directamente a “linguag<strong>em</strong>” do imigrante, <strong>de</strong>nunciando as falhas d<strong>os</strong>ist<strong>em</strong>a, <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> esperam assim cumprir uma função <strong>de</strong> reivindicação d<strong>os</strong>direit<strong>os</strong> d<strong>os</strong> imigrantes.Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação como forma <strong>de</strong> divulgação do “<strong>em</strong>presarialismo étnico”Maria Lucin<strong>da</strong> Fonseca, no seu estudo “Imigrantes <strong>de</strong> Leste nas áreas rurais portuguesas:o caso do Alentejo Central”, revela que <strong>os</strong> imigrantes criam novas oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ne -(58) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


gó cio, promovendo o comércio internacional e o turismo, e contribuindo, directa e indirectamente,para a criação <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego, através do <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>dorismo étnico e do au -mento do consumo (2003).Outra função d<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação d<strong>os</strong> imigrantes é, então, a <strong>de</strong> contribuir para o<strong>de</strong> senvolvimento <strong>de</strong>ste “<strong>em</strong>preen<strong>de</strong>dorismo étnico”. Muit<strong>os</strong> d<strong>os</strong> anúnci<strong>os</strong> que constamn<strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> provêm d<strong>os</strong> divers<strong>os</strong> negóci<strong>os</strong> <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes. Assim,<strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> serv<strong>em</strong> como um veículo, através do qual <strong>os</strong> diferentes negóci<strong>os</strong> <strong>da</strong>scomuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s são divulgad<strong>os</strong>.Roberto Silveria, <strong>da</strong> Rádio Tropical, conta-n<strong>os</strong> que a rádio “é um bom meio através do qualas <strong>em</strong>presas brasileiras po<strong>de</strong>m fazer conhecer <strong>os</strong> seus produt<strong>os</strong> e negóci<strong>os</strong>”. Irene Lei, dojornal Sino, compartilha <strong>da</strong> opinião <strong>de</strong> Roberto afirmando que é através do jornal qu<strong>em</strong>uit<strong>os</strong> negóci<strong>os</strong> chineses chegam ao conhecimento <strong>da</strong> população chinesa. Esse canalparece funcionar tão b<strong>em</strong> que o jornal Sino p<strong>os</strong>sui um projecto ambici<strong>os</strong>o <strong>de</strong> criar umjornal <strong>em</strong> Português sobre a China, para que <strong>os</strong> portugueses fiqu<strong>em</strong> a par d<strong>os</strong> negóci<strong>os</strong>chineses, pois, segundo Irene, há muit<strong>os</strong> portugueses interessad<strong>os</strong> <strong>em</strong> negóci<strong>os</strong> chinesese <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação são uma boa forma <strong>de</strong> divulgá-l<strong>os</strong>.A revista O Brasileirinho traz s<strong>em</strong>pre muit<strong>os</strong> anúnci<strong>os</strong> <strong>de</strong> restaurantes, lojas, comérci<strong>os</strong>,enfim, <strong>de</strong> negóci<strong>os</strong> brasileir<strong>os</strong>. Da mesma forma proce<strong>de</strong> a revista Brasil.Os jornais russ<strong>os</strong>, excepto o Maiak Portugalii, utilizam esses s<strong>em</strong>anári<strong>os</strong> como meio <strong>de</strong> di -vul gação d<strong>os</strong> própri<strong>os</strong> negóci<strong>os</strong>. De facto, tanto o jornal Slovo quanto o Vr<strong>em</strong>echko sãoproprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas priva<strong>da</strong>s.Dessa maneira, <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> e <strong>os</strong> negóci<strong>os</strong> <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes comple -mentam-se através <strong>de</strong> trocas <strong>de</strong> favores: esses media precisam <strong>de</strong> anúnci<strong>os</strong> para po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>existir e circular, e <strong>os</strong> negóci<strong>os</strong> precisam <strong>de</strong> canais para tornar<strong>em</strong>-se conhecid<strong>os</strong> do público.Ou vice-versa: <strong>os</strong> media po<strong>de</strong>m servir <strong>de</strong> suporte <strong>de</strong> divulgação <strong>da</strong> própria <strong>em</strong>presaque <strong>os</strong> criou.Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (59)


EntretenimentoAlém <strong>da</strong>s outras funções já exp<strong>os</strong>tas, <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantescumpr<strong>em</strong> também uma função <strong>de</strong> entretenimento. Cert<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> estão voltad<strong>os</strong> es -pe cificamente para este objectivo, mas tod<strong>os</strong> procuram fornecer igualmente informaçõesmais leves, mais diverti<strong>da</strong>s.Os jornais russ<strong>os</strong> editam páginas com “brinca<strong>de</strong>iras”, poesias, notícias <strong>de</strong>sportivas, lite ra -tu ra russa ou <strong>de</strong> outr<strong>os</strong> países <strong>da</strong> ex-União Soviética. O programa <strong>de</strong> rádio <strong>em</strong> russo <strong>de</strong>Ana Isabel promove concurs<strong>os</strong>, palavras cruza<strong>da</strong>s, passat<strong>em</strong>p<strong>os</strong> ao vivo.Com excepção do jornal Sabiá, cuja linha editorial é volta<strong>da</strong> para as questões mais po lí ti -cas e jurídicas, <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> media <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira procuram divulgar informaçõesmais leves, escritas numa linguag<strong>em</strong> simples para “passar mensagens p<strong>os</strong>itivas para <strong>os</strong>brasileir<strong>os</strong> que viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> Portugal”. A Rádio Tropical, por ex<strong>em</strong>plo, <strong>de</strong>fine-se como “umarádio alegre, <strong>de</strong>scontraí<strong>da</strong>, para alegrar a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pessoas”. Segundo Roberto Silveira, “aTro pical é um bom meio <strong>de</strong> divulgação <strong>da</strong> cultura brasileira”.Os jornais romen<strong>os</strong>, além <strong>de</strong> promover<strong>em</strong> event<strong>os</strong> como já antes mencionado, reservamigualmente uma parte d<strong>os</strong> jornais às notícias mais leves, como jog<strong>os</strong>, horóscop<strong>os</strong>, notíciassobre artistas, música, <strong>de</strong>sporto, enfim, sobre entretenimento <strong>em</strong> geral.2.3 Breve estudo comparativo entre <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação d<strong>os</strong> imigrantes <strong>em</strong>Portugal e outr<strong>os</strong> países com tradição <strong>de</strong> imigraçãoOs mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong>senvolvid<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> imigrantes não são uma particulari<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>scomuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s que viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> Portugal. De facto, durante o n<strong>os</strong>so trabalho, pu<strong>de</strong>m<strong>os</strong> obser -var que, <strong>de</strong> uma maneira geral, n<strong>os</strong> países com tradição imigratória, <strong>os</strong> media étni c<strong>os</strong> sãoigual mente <strong>de</strong>senvolvid<strong>os</strong> pelas diferentes comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes <strong>de</strong>sses países.O Instituto Pan<strong>os</strong> explica que “entre <strong>os</strong> media do gran<strong>de</strong> público e <strong>os</strong> media t<strong>em</strong>átic<strong>os</strong> e/ou(60) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


associativ<strong>os</strong>, surg<strong>em</strong> na Europa nov<strong>os</strong> actores: <strong>os</strong> media <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> e oriund<strong>os</strong> <strong>da</strong>s migrações.Do Reino Unido à Itália, passando pela França ou ain<strong>da</strong> a Holan<strong>da</strong>, <strong>os</strong> media <strong>da</strong>div ersi<strong>da</strong><strong>de</strong> e oriund<strong>os</strong> <strong>da</strong>s migrações ocupam um lugar <strong>em</strong> expansão, mesmo se poucovisível. (...) Os centr<strong>os</strong> <strong>de</strong> interesse baseiam-se principalmente nas questões <strong>de</strong> ci <strong>da</strong><strong>da</strong>nia,<strong>de</strong> mistura cultural, <strong>de</strong> inserção, <strong>de</strong> integração e <strong>de</strong> luta contra as discri mi na ções n<strong>os</strong> paí -ses <strong>de</strong> acolhimento, por um lado, e, por outro lado, procuram também, atra vés d<strong>os</strong> media,proporcionar uma ligação entre <strong>os</strong> imigrantes e <strong>os</strong> países <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> 26 ”.A tradição do jornalismo realizado por e/imigrantes não é um fenómeno novo na história<strong>da</strong> e/imigração. N<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong>, o primeiro jornal étnico foi fun<strong>da</strong>do ain<strong>da</strong> <strong>em</strong> 1732,por Benjamin Franklin, editado <strong>em</strong> al<strong>em</strong>ão e intitulado Phila<strong>de</strong>lphische Zeitung 27 . No Ca -na dá, <strong>os</strong> primeir<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação étnic<strong>os</strong> foram criad<strong>os</strong> <strong>em</strong> 1850, pel<strong>os</strong> negr<strong>os</strong>ca nadian<strong>os</strong>. No Brasil, <strong>os</strong> primeir<strong>os</strong> jornais <strong>em</strong> língua al<strong>em</strong>ã começaram a circular pormea d<strong>os</strong> do século XIX, paralelamente à chega<strong>da</strong> <strong>de</strong> imigrantes al<strong>em</strong>ães ao país.O jornal Portugal P<strong>os</strong>t, iniciativa <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> portuguesa na Al<strong>em</strong>anha, atesta queforam fun<strong>da</strong>d<strong>os</strong> divers<strong>os</strong> jornais, após 1820, n<strong>os</strong> círcul<strong>os</strong> d<strong>os</strong> <strong>em</strong>igrad<strong>os</strong> polític<strong>os</strong> por tu -gue ses <strong>em</strong> França e <strong>em</strong> Inglaterra. Os habitantes portugueses d<strong>os</strong> territóri<strong>os</strong> ultramarin<strong>os</strong>elaboravam igualmente jornais para <strong>os</strong> seus compatriotas, nesses territóri<strong>os</strong>. De acordocom o Portugal P<strong>os</strong>t, <strong>em</strong> 1835, existiam cerca <strong>de</strong> 150 jornais n<strong>os</strong> territóri<strong>os</strong> ultramarin<strong>os</strong>por tu gueses (“70, na Índia portuguesa; 40, nas províncias <strong>da</strong> África portuguesa; 24, <strong>em</strong>Macau e nas p<strong>os</strong>sessões asiáticas <strong>da</strong> Grã-Bretanha, on<strong>de</strong> residiam famílias portuguesas”),com o primeiro jornal editado nas províncias do além-mar a ser a Gazeta <strong>de</strong> Goa, <strong>em</strong>1821.Isabelle Rigoni, no seu estudo “Ethnic Media, an alternative form of citizenship”, explicaque as minorias étnicas, através d<strong>os</strong> seus media, ten<strong>de</strong>m a envolver-se na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> anfitriãe a <strong>da</strong>r ex<strong>em</strong>pl<strong>os</strong> para a sua comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. De acordocom a investigadora, “a repre sen tação <strong>da</strong>s minorias na 26 Declaração tira<strong>da</strong> do site oficial doInstituto: www.pan<strong>os</strong>paris.orgesfera pú blica tornou-se uma <strong>da</strong>s condições mais im por -tan tes na construção <strong>de</strong> uma Europa harmoni<strong>os</strong>a. Nestecon texto, o uso <strong>da</strong>s novas tec no logias <strong>da</strong> informação e27 Tanaka, W., “Home of the first ethnicpaper, Phila<strong>de</strong>lphia has a world ofdiversity”, Phila<strong>de</strong>lphia inquiries,http://hellenicnews.com/print.html?newsid=4177&hang=USOs Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (61)


comunicação cumpre um papel pri mordial para as pessoas, es pe cial mente para as mi no -rias” (Rigoni, 2003).Através <strong>de</strong> uma breve análise entre <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> elaborad<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal e alguns<strong>de</strong>sses media <strong>de</strong>senvolvid<strong>os</strong> <strong>em</strong> outr<strong>os</strong> países com tradição imigratória, tentar<strong>em</strong><strong>os</strong> verquais são as s<strong>em</strong>elhanças e as diferenças entre <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong> -<strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes <strong>em</strong> Portugal e noutr<strong>os</strong> países.Media étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> outr<strong>os</strong> paísesDe um modo geral, po<strong>de</strong>-se dizer que on<strong>de</strong> há imigrantes, há mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> -sen volvid<strong>os</strong> por estes. A revista americana Colorlines, volta<strong>da</strong> para assunt<strong>os</strong> sobre raça epolítica, atesta que on<strong>de</strong> quer que haja comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes, certamente se encontramtambém jornais, rádi<strong>os</strong> ou programas <strong>de</strong> televisão <strong>de</strong>senvolvid<strong>os</strong> por essas comu ni -<strong>da</strong><strong>de</strong>s para <strong>os</strong> seus imigrantes (Hsu, 2002).No Canadá, por ex<strong>em</strong>plo, existe uma gran<strong>de</strong> tradição <strong>de</strong> media étnic<strong>os</strong>. De acordo com <strong>os</strong>ite canadiano “Media Awareness Network”, que trata <strong>de</strong> assunt<strong>os</strong> relativ<strong>os</strong> a<strong>os</strong> media,cir culam, hoje <strong>em</strong> dia, neste país, mais <strong>de</strong> 250 jornais étnic<strong>os</strong>, representando mais <strong>de</strong> 40culturas diferentes; há igualmente estações <strong>de</strong> rádio que promov<strong>em</strong> programas para vári<strong>os</strong>grup<strong>os</strong> étnic<strong>os</strong>; e as televisões étnicas p<strong>os</strong>su<strong>em</strong> também o seu espaço, com a primeira tel -evisão multicultural cria<strong>da</strong> <strong>em</strong> 1979 28 .Os Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong>, país com forte tradição imigratória, conta também com um gran<strong>de</strong> nú -me ro <strong>de</strong> media étnic<strong>os</strong> no seu território. Segundo a In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt Press Association, só naárea me tropolitana <strong>de</strong> New York, exist<strong>em</strong> uma média <strong>de</strong> 270 jornais e revistas étnic<strong>os</strong>. Deacordo com a New Califórnia Media, uma associação que reúne mais <strong>de</strong> 400 tip<strong>os</strong> <strong>de</strong>media étni c<strong>os</strong>, estes mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação alcançam 84% d<strong>os</strong> três maiores grup<strong>os</strong> mi -no r itári<strong>os</strong> do Estado <strong>da</strong> Ca lifórnia: <strong>os</strong> latin<strong>os</strong>, <strong>os</strong> negr<strong>os</strong> e <strong>os</strong> asiátic<strong>os</strong>. Vári<strong>os</strong> são igual -men te <strong>os</strong> media audiovisuais <strong>de</strong>senvolvid<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> imigran -tes neste país, como a Univision Communications Inc., por28 Ver, a este respeito, o site:http://www.media-awareness.ca(62) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


ex<strong>em</strong>plo, um canal <strong>de</strong> televisão organizado pel<strong>os</strong> latino-amer i ca n<strong>os</strong> e que já é o quintomaior canal <strong>de</strong> televisão d<strong>os</strong> Esta d<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong> 29 .No Brasil, vári<strong>os</strong> são igualmente <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> senvolvid<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> imigran -tes. As três principais comu ni <strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes no país ela boram <strong>os</strong> seus própri<strong>os</strong> mei<strong>os</strong><strong>de</strong> comunicação. O jornal Nippo-Brasil, por ex<strong>em</strong>plo, é vol tado para a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>japonesa, também disponível na In ternet e <strong>em</strong> versão bilingue. O jornal Brasil P<strong>os</strong>t é<strong>de</strong>senvolvido por m<strong>em</strong>br<strong>os</strong> <strong>da</strong> comu ni<strong>da</strong><strong>de</strong> al<strong>em</strong>ã e é <strong>de</strong>finido como “Bra silianischeWochenzeitung in Deutscher Sprache” (“O s<strong>em</strong>anário brasileiro <strong>em</strong> língua al<strong>em</strong>ã”). Acomuni<strong>da</strong><strong>de</strong> italiana p<strong>os</strong>sui também seus media, como o portal online “Comu ni <strong>da</strong><strong>de</strong>Italiana no Brasil”, o jornal online “Ecco!” ou ain<strong>da</strong> o jornal Communità Italiana, comartig<strong>os</strong> <strong>em</strong> italiano e <strong>em</strong> português.Na Al<strong>em</strong>anha, país com o maior número <strong>de</strong> imigrantes <strong>da</strong> União Europeia, comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<strong>de</strong> imigrantes vê<strong>em</strong>-se igualmente representa<strong>da</strong>s através d<strong>os</strong> diferentes media étnic<strong>os</strong>.A comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> turca, por ex<strong>em</strong>plo, conta com o Dogan Media Group, que celebrou, <strong>em</strong>2006, <strong>de</strong>z an<strong>os</strong> <strong>de</strong> antena. O jornal Portugal P<strong>os</strong>t está, há 13 an<strong>os</strong>, “ao serviço <strong>da</strong> comu -ni<strong>da</strong><strong>de</strong> portuguesa na Al<strong>em</strong>anha”. A Rádio On<strong>da</strong> Tropical, a revista Brazine, o portal online“Viver na Al<strong>em</strong>anha”, são alguns ex<strong>em</strong>pl<strong>os</strong> <strong>de</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação voltad<strong>os</strong> para acomuni<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira <strong>da</strong> Al<strong>em</strong>anha.Na França, a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> d<strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> não é diferente d<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> países. Actualmente,estima-se que 25 por cento <strong>da</strong>s estações locais <strong>de</strong> rádio na área metropolitana <strong>de</strong> Parissão <strong>de</strong> categoria étnica. Em Nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2006, foi lançado o primeiro canal <strong>de</strong> televisão<strong>de</strong> língua portuguesa (CLP TV), <strong>de</strong>dicado às comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s lusófonas na França. Exist<strong>em</strong>igualmente portais online, <strong>de</strong>dicad<strong>os</strong> a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes, como o portal “Eko-<strong>da</strong>frik.net” que se <strong>de</strong>fine como “L´information <strong>de</strong>s noirs africains <strong>de</strong> France”.Na Holan<strong>da</strong>, encontram<strong>os</strong> também mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong>senvolvid<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> imigran tes.The Dutch Muslim Broadcasting Network t<strong>em</strong> um programa s<strong>em</strong>anal <strong>de</strong> uma hora e trêshoras <strong>de</strong> informação radiofónica por s<strong>em</strong>ana dirigid<strong>os</strong> àcomu ni<strong>da</strong><strong>de</strong> muçulmana <strong>da</strong> Ho lan<strong>da</strong>. The Dutch Hindu29 Ver, a este respeito, o site:www.canergie.orgOs Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (63)


Broad casting Network informa a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> holan<strong>de</strong>sa sobre a cu l tura e a religião hindu.Voltado para as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s turca, marroquina e do Suriname, existe a Multicultural Te le -vision Netherlands, que produz programas locais sobre essas comu ni <strong>da</strong><strong>de</strong>s. O jornal Pa pa -gaio fornece informações a<strong>os</strong> brasileir<strong>os</strong>, na sua língua mater na, assim como o jornal Letras<strong>da</strong>s Ilhas, a<strong>os</strong> cabo-verdian<strong>os</strong>, editado <strong>em</strong> Português e Holandês para facilitar a leitura a<strong>os</strong><strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> cabo-verdian<strong>os</strong> nascid<strong>os</strong> na Ho lan <strong>da</strong>.Evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente, <strong>os</strong> países acima mencionad<strong>os</strong> não são <strong>os</strong> únic<strong>os</strong> on<strong>de</strong> <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong>estão presentes. Na Espanha, por ex<strong>em</strong>plo, po<strong>de</strong>-se igualmente encontrar mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> co mu -nicação <strong>de</strong>senvolvid<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> imigrantes. Há vári<strong>os</strong> jornais <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> chinesa quecirculam pelo país (como o s<strong>em</strong>anário Qiao Sheng Bao, que significa La Voz China), assimcomo jornais romen<strong>os</strong> (Roman in Lume, por ex<strong>em</strong>plo) para citar apenas dois ex<strong>em</strong>pl<strong>os</strong>.No Reino Unido, sites <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> chinesa estão disponíveis <strong>em</strong> versão bilingue (o“Chinese Channel” é um ex<strong>em</strong>plo), a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira elabora também seus mei<strong>os</strong>étnic<strong>os</strong> (como a revista mensal Ler<strong>os</strong>, consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> a “Bíblia para brasileir<strong>os</strong> no ReinoUnido”); igualmente representa<strong>da</strong> é a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> portuguesa com iniciativas como a re -vista mensal Vi<strong>da</strong> Nova, por ex<strong>em</strong>plo. Tão longe quanto o Japão encontram<strong>os</strong> ex<strong>em</strong>pl<strong>os</strong><strong>de</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong>senvolvid<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> imigrantes. Portais, revistas, jornais, programas <strong>de</strong> rádio eaté <strong>de</strong> televisão são produzid<strong>os</strong> por e para a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira no Japão.Fontes <strong>de</strong> informaçãoDe uma maneira geral, <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação d<strong>os</strong> imigrantes segu<strong>em</strong> a mesma linhaedi torial que <strong>em</strong> Portugal. Baseando-se <strong>em</strong> agências <strong>de</strong> notícias, sites <strong>da</strong> Internet, trabalho<strong>de</strong> campo e aju<strong>da</strong> <strong>da</strong> própria comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, esses media tentam fornecer a<strong>os</strong> imigrantesinformações sobre a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>les no país anfitrião, b<strong>em</strong> como aproximar o imigrante dopaís <strong>de</strong> orig<strong>em</strong>, através <strong>de</strong> informações, imagens, músicas.(64) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


Funções d<strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong>Fazendo uma comparação entre <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal e <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação<strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes <strong>de</strong> outr<strong>os</strong> países i<strong>de</strong>ntificad<strong>os</strong> ao longo do n<strong>os</strong>so trabalho,pu<strong>de</strong>m<strong>os</strong> observar que <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> cumpr<strong>em</strong>, mais ou men<strong>os</strong>, as mesmas fun ções:além <strong>de</strong> servir o imigrante com informações úteis e <strong>de</strong> interesse à sua condição nasocie<strong>da</strong><strong>de</strong> anfitriã, esses mei<strong>os</strong> preten<strong>de</strong>m também servir <strong>de</strong> ponte entre as comuni<strong>da</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> imigrantes <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> país <strong>de</strong> acolhimento e <strong>os</strong> seus respectiv<strong>os</strong> países <strong>de</strong> orig<strong>em</strong>.No intuito <strong>de</strong> fornecer um melhor acesso a<strong>os</strong> imigrantes, a gran<strong>de</strong> maioria <strong>de</strong>sse mediaétnic<strong>os</strong>, tanto <strong>em</strong> Portugal como <strong>em</strong> outr<strong>os</strong> países, é editado na língua materna <strong>da</strong> co mu -ni <strong>da</strong><strong>de</strong> imigrante que o meio representa.Ponte entre <strong>os</strong> países <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> e <strong>de</strong> acolhimentoA “Carnegie Corporation of New York” explica que “the reach – and influence – of the ethnicmedia in the United States continues to grow. Assimilitation, acculturation, citizenshipand news from home are only some of the subjects that ethnic media outlets present tomillions of eager rea<strong>de</strong>rs in dozens of different languages every <strong>da</strong>y” (Askt, 2003).O portal online italiano “Ecco!” foi criado no Brasil, <strong>em</strong> 1997, por um grupo <strong>de</strong> jovens <strong>de</strong>s -ce n<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> italian<strong>os</strong>, com o objectivo <strong>de</strong> “m<strong>os</strong>trar ao mundo as aventuras, paixões, rea -li zações e lutas que homens, mulheres e crianças <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>ram ao <strong>de</strong>ixar o seu país, aItália, e fazer do Brasil sua pátria, seu futuro, sua América” 30 . Hoje <strong>em</strong> dia, o “Ecco!” pro -porciona lazer, entretenimento, informação e cultura sobre o Brasil e Itália e constitui umd<strong>os</strong> principais veícul<strong>os</strong> <strong>de</strong> informação na Internet sobre o papel fun<strong>da</strong>mental que o imigrante italiano t<strong>em</strong> na formação do povo brasileiro, “rea vi vando na m<strong>em</strong>ória <strong>de</strong> tod<strong>os</strong> <strong>os</strong>entimento <strong>de</strong> amor que n<strong>os</strong> une: ‘La bella Itália’ 31 ”.O jornal português na Al<strong>em</strong>anha, Portugal P<strong>os</strong>t, estima que<strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> cumpr<strong>em</strong> uma função social extr<strong>em</strong>a-30 “Qu<strong>em</strong> Som<strong>os</strong>”, Ecco!, A Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>Italiana Online, www.ecco.com.br/home/qu<strong>em</strong>_som<strong>os</strong>.asp31 Ibi<strong>de</strong>m.Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (65)


mente importante. Esse jornal espera servir <strong>de</strong> “pólo congrega dor” <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> ao servir<strong>de</strong> “ponte” entre o país <strong>de</strong> orig<strong>em</strong>, através <strong>de</strong> informações rel aciona<strong>da</strong>s a este, e a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>al<strong>em</strong>ã 32 .O grupo turco Dogan Media, instalado na Al<strong>em</strong>anha há mais <strong>de</strong> <strong>de</strong>z an<strong>os</strong>, é consi<strong>de</strong>radoum meio importante <strong>de</strong> divulgação <strong>de</strong> valores turc<strong>os</strong> na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> al<strong>em</strong>ã e na aproxima -ção entre as culturas turca e al<strong>em</strong>ã (Sen, 2006).Em Portugal, a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> d<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes nãoé diferente. Como vim<strong>os</strong> anteriormente, neste estudo, <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal cumpr<strong>em</strong>igualmente uma função <strong>de</strong> aproximação entre a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> e a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>anfitriã.Media étnic<strong>os</strong> como meio <strong>de</strong> aproximação com a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> acolhedoraDe acordo com o Turkish Daily News, que pretence ao grupo turco Dogan Media, acimacitado, “Turkish media is an important political and economic factor of German society,which inclu<strong>de</strong>s 3.5 million Turks. (...) German institutions and especially government institutionsmonitor the Turkish media and make efforts to utilize it to communicate withGerman Turks” (Sen, 2006).O jornal Portugal P<strong>os</strong>t, além <strong>da</strong> função acima referi<strong>da</strong>, espera igualmente cumprir um papel<strong>de</strong> “formador” para <strong>os</strong> imigrantes portugueses na Al<strong>em</strong>anha. Segundo o jornal, muit<strong>os</strong>d<strong>os</strong> portugueses que chegam à Al<strong>em</strong>anha não dominam o al<strong>em</strong>ão e usam esse meio<strong>de</strong> comunicação como uma maneira <strong>de</strong> estar a par d<strong>os</strong> seus direit<strong>os</strong> e <strong>de</strong>veres <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>so cie<strong>da</strong><strong>de</strong> al<strong>em</strong>ã 33 .32 Portugal P<strong>os</strong>t, “13 an<strong>os</strong> ao serviço <strong>da</strong>Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> Portuguesa na Al<strong>em</strong>anha”,www. Portugalp<strong>os</strong>t.<strong>de</strong>/ Qu<strong>em</strong>_som<strong>os</strong>/qu<strong>em</strong>_som<strong>os</strong>.html33 Ibi<strong>de</strong>m, nota n.º 31.A mesma função esperam cumprir <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong>Portugal. O jornal Slovo, por ex<strong>em</strong> plo, explica que “a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>e utili<strong>da</strong><strong>de</strong> para a criação <strong>de</strong> tal jornal surgiu docrescente fluxo <strong>de</strong> imigrantes <strong>da</strong>s antigas repúblicas <strong>da</strong>(66) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


União Soviética. Muit<strong>os</strong> chegam ao país s<strong>em</strong> conhecimento prévio do idioma e recorr<strong>em</strong>ao jornal Slovo para obter<strong>em</strong> informação sobre Portugal e sobre <strong>os</strong> seus direit<strong>os</strong> e <strong>de</strong>veresna socie<strong>da</strong><strong>de</strong> portuguesa 34 ”.Corroborando a afirmação acima cita<strong>da</strong>, o portal <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira <strong>em</strong> Portugal,“Tupiniquim.org”, t<strong>em</strong> por intuito respon<strong>de</strong>r à maior quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> dúvi<strong>da</strong>s p<strong>os</strong>síveis comas próprias experiências d<strong>os</strong> usuári<strong>os</strong>. Segundo o i<strong>de</strong>alizador <strong>de</strong>ste portal, “é uma i<strong>de</strong>iab<strong>em</strong> simples que consiste <strong>em</strong> ter um espaço para um dia respon<strong>de</strong>r a uma dúvi<strong>da</strong>, nooutro, esclarecer as <strong>de</strong>mais. Um dia espero uma maior participação <strong>de</strong> tod<strong>os</strong>, que p<strong>os</strong> -sam contribuir com seus conheciment<strong>os</strong>, experiências e o caminho <strong>da</strong>s pedras. E, qu<strong>em</strong>sabe, um dia o n<strong>os</strong>so Portal se torne tipo um guia para <strong>os</strong> imi grantes brasileir<strong>os</strong> <strong>em</strong> Por -tugal e para <strong>os</strong> futur<strong>os</strong> imigran tes. As informações têm <strong>de</strong> ser partilha<strong>da</strong>s. Som<strong>os</strong> con traa exclusão <strong>da</strong> informação, vam<strong>os</strong> repassá-la” 35 .Dar voz a qu<strong>em</strong> não t<strong>em</strong>Segundo a Associação New America Media, o ex-presi<strong>de</strong>nte francês, Jacques Chirac, la -men tou que <strong>os</strong> media franceses não reflectiss<strong>em</strong> as diferentes reali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>mográficas <strong>da</strong>França. No entanto, para suprir esse vazio, exist<strong>em</strong> <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> que dão voz às mi -norias <strong>da</strong> nação francesa e aju<strong>da</strong>m-nas a saír<strong>em</strong> <strong>da</strong>s sombras (Morse, 2005).O Angola Magazine, <strong>da</strong> Associação Casa <strong>de</strong> Angola <strong>em</strong> Portugal, compartilha <strong>da</strong> visãoacima menciona<strong>da</strong>. Para este jornal, <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> cumpr<strong>em</strong> a função <strong>de</strong> “<strong>da</strong>r voz aqu<strong>em</strong> a não t<strong>em</strong>”. Uma visão pareci<strong>da</strong> é ti<strong>da</strong> pel<strong>os</strong> jornais romen<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal, Actua -litatea Romaneasca e Diáspora Romaneasca, e o russo Maiak Portugalii, para <strong>os</strong> quais <strong>os</strong>media étnic<strong>os</strong> cumpr<strong>em</strong> a função <strong>de</strong> aju<strong>da</strong> a<strong>os</strong> imigrantes, estando <strong>em</strong> contacto directocom estes e relatando fact<strong>os</strong> <strong>da</strong>s suas vi<strong>da</strong>s.N<strong>os</strong> finais <strong>de</strong> 2006, começou a ser <strong>em</strong>itido, <strong>de</strong> Paris paraa Europa, um canal <strong>de</strong> televisão <strong>em</strong> língua portuguesa(CPL TV) <strong>de</strong>dicado às comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s lusófonas. Este canal34 Comunicado fornecido pelo jornal Slovo.35 Declarações <strong>da</strong><strong>da</strong>s por Vladmir, ofun<strong>da</strong>dor do portal “Tupiniquim.org”.Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (67)


foi ela borado a partir <strong>da</strong> i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que <strong>os</strong> <strong>em</strong>igrantes não se sent<strong>em</strong> totalmente representad<strong>os</strong>através d<strong>os</strong> canais generalistas, justificando a criação <strong>de</strong> um novo canal como“projecto <strong>da</strong> lusofonia para a lusofonia”. Tendo como público-alvo principal <strong>os</strong> jovens luso<strong>de</strong>scen <strong>de</strong>ntes, a CPL TV preten<strong>de</strong> que este seja um meio <strong>de</strong> aproximar <strong>os</strong> mais jovens aPortugal e <strong>de</strong> manter viva a língua portuguesa.Para o jornal Sabiá, editado pela Associação Casa do Brasil <strong>de</strong> Lisboa, <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comu -nicação d<strong>os</strong> imigrantes cumpr<strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as funções acima referi<strong>da</strong>s, com o acréscimo <strong>de</strong>“servir<strong>em</strong> igualmente como meio <strong>de</strong> reivindicação d<strong>os</strong> direit<strong>os</strong> d<strong>os</strong> imigrantes”.EntretenimentoOs media que cumpr<strong>em</strong> uma função men<strong>os</strong> “social” e mais volta<strong>da</strong> para o “entreteni-mento” faz<strong>em</strong> igualmente parte <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> d<strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong>, tanto <strong>em</strong> Portugal comon<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> países.Assim como encontram<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal revistas como O Brasileirinho, Brasil e o jornalrusso Vr<strong>em</strong>echko, encontram<strong>os</strong> também este tipo <strong>de</strong> media noutr<strong>os</strong> países. Em Lon dres,por ex<strong>em</strong>plo, a revista mensal brasileira Ler<strong>os</strong>, que preten<strong>de</strong> fornecer a<strong>os</strong> leitores infor -mações sobre a vi<strong>da</strong> cultural <strong>em</strong> Londres, foi consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> “a must for brazilians and loversof all things brazilian” pela Time Out London Magazine. O jornal Correio <strong>da</strong> Ve ne zue la,uma iniciativa <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> portuguesa nesse país, é outro ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong>media, cuja linha editorial é especialmente volta<strong>da</strong> para o <strong>de</strong>sporto e a cultura, e faz<strong>em</strong>questão <strong>de</strong> não abor<strong>da</strong>r t<strong>em</strong>as polític<strong>os</strong> no jornal.Dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>sAssim como <strong>em</strong> Portugal, a principal dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> d<strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong>, <strong>em</strong> outr<strong>os</strong> países, éa financeira, <strong>em</strong>bora <strong>em</strong> cert<strong>os</strong> países, como Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong>, Canadá, Reino Unido, <strong>os</strong>mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação tenham mais garanti<strong>da</strong> a sua existência, pois neles há mais incen -(68) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


ti v<strong>os</strong> para este tipo <strong>de</strong> media. De facto, po<strong>de</strong> ler-se, no estudo From Ethnic Media toGlobal Media: Transnational Communication Networks Among Diasporic Communities,que <strong>os</strong> govern<strong>os</strong> <strong>de</strong> países como o Canadá, o Reino Unido e <strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong>, têm reconhecidoo potencial <strong>de</strong>sse sector (<strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong>) <strong>em</strong> vári<strong>os</strong> níveis <strong>da</strong> economia nacionale têm-lhe provi<strong>de</strong>nciado apoi<strong>os</strong> (Karim, 1998).Em Itália, <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> beneficiam igualmente <strong>de</strong> alguns apoi<strong>os</strong> financeir<strong>os</strong>. A casaedi tora Stranieri, por ex<strong>em</strong>plo, p<strong>os</strong>sui 15 publicações, no âmbito d<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comu -nicação étnic<strong>os</strong>, assim como um Web site com informações úteis para <strong>os</strong> imigrantes(Povoledo, 2006).Principal diferençaA gran<strong>de</strong> diferença, entre esses países e Portugal, resi<strong>de</strong> justamente na falta <strong>de</strong> apoio fi -nan ceiro que <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> enfrentam. N<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> países acima referid<strong>os</strong> (Estad<strong>os</strong>Unid<strong>os</strong>, Canadá, Reino Unido), por ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong>presas <strong>de</strong> son<strong>da</strong>gens pesquisam es -pecificamente este tipo <strong>de</strong> media e as suas respectivas audiências. O mesmo ain<strong>da</strong> nãoacontece <strong>em</strong> Portugal.Os media étnic<strong>os</strong> i<strong>de</strong>ntificad<strong>os</strong> por nós <strong>em</strong> Portugal queixam-se <strong>de</strong>sta falta <strong>de</strong> apoio e al -guns representantes <strong>de</strong>sses mei<strong>os</strong> falam inclusive <strong>de</strong> “discriminação estatística”. De facto,a Marktest, <strong>em</strong>presa especializa<strong>da</strong>, <strong>em</strong> Portugal, <strong>em</strong> estud<strong>os</strong> <strong>de</strong> son<strong>da</strong>gens e audiênciad<strong>os</strong> media, entre outras matérias, não contabiliza <strong>os</strong> imigrantes como público consumidornas suas pesquisas (a não ser que estes resi<strong>da</strong>m <strong>em</strong> Portugal há pelo men<strong>os</strong> três an<strong>os</strong>),n<strong>em</strong> realizam estud<strong>os</strong> específic<strong>os</strong> sobre <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> e suas audiências (except<strong>os</strong>e houver um pedido exclusivo para este tipo <strong>de</strong> estudo). Ora, as <strong>em</strong>presas <strong>de</strong> publici<strong>da</strong><strong>de</strong>,na maioria <strong>da</strong>s vezes, baseiam-se n<strong>os</strong> estud<strong>os</strong> <strong>de</strong> audimetria para po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>anunciar (ou não) num certo tipo <strong>de</strong> media. Como não há <strong>da</strong>d<strong>os</strong> específic<strong>os</strong> sobre o públicoimigrante, a gran<strong>de</strong> maioria <strong>da</strong>s <strong>em</strong>presas publicitárias receiam anunciar n<strong>os</strong> mediaétnic<strong>os</strong>.Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (69)


O Quadro 5, através <strong>da</strong>s s<strong>em</strong>elhanças e diferenças entre <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação étnic<strong>os</strong><strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> russófona <strong>em</strong> Portugal e no Canadá, um ex<strong>em</strong>plo entre vári<strong>os</strong> outr<strong>os</strong>, resu -me e compl<strong>em</strong>enta o n<strong>os</strong>so estudo comparativo.QUADRO 5S<strong>em</strong>elhanças e diferenças entre media étnic<strong>os</strong>, <strong>em</strong> Portugal e no CanadáRessalva: Constatando a importância d<strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> para as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imi gran -tes que <strong>os</strong> representam, várias iniciativas <strong>de</strong> organizações para apoiar estes mei<strong>os</strong> têmsido toma<strong>da</strong>s. Como já referido neste trabalho, n<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong>, por ex<strong>em</strong>plo, exis te aNew America Media, que engloba cerca <strong>de</strong> 400 mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação étnic<strong>os</strong>. NaEuropa, encontram<strong>os</strong> ex<strong>em</strong>pl<strong>os</strong> como Migrant Media, no Reino Unido; Mira Media, naHo lan<strong>da</strong>; o Instituto Pan<strong>os</strong> e a re<strong>de</strong> europeia Online/More Colour in the Media.Esta última <strong>de</strong>senvolveu o já muito comentado “Manifesto Europeu para apoiar e sublinhara importância d<strong>os</strong> Media <strong>de</strong> Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s Minoritárias”. Este manifesto foi criado por(70) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


uma re<strong>de</strong> europeia comp<strong>os</strong>ta por representantes <strong>de</strong> media étnic<strong>os</strong>. Segundo a antigacoor<strong>de</strong>nadora para Portugal <strong>de</strong>sta re<strong>de</strong> europeia, Maria João Tabor<strong>da</strong>, o Manifesto baseia--se no princípio <strong>da</strong> “inclusão <strong>da</strong> plurali<strong>da</strong><strong>de</strong> na comunicação”. Consi<strong>de</strong>rando <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong>comunicação <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s comunitárias, um “media contrapo<strong>de</strong>r”, o Mani festo <strong>de</strong> -fen<strong>de</strong> o direito básico <strong>de</strong> comunicação para tod<strong>os</strong> e a <strong>de</strong>mocratização <strong>de</strong>sse direito <strong>de</strong>ntro<strong>da</strong>s tecnologias mo<strong>de</strong>rnas, assim como a inclusão <strong>de</strong>sses media nas regras d<strong>os</strong> mei<strong>os</strong><strong>de</strong> comunicação generalistas <strong>da</strong> União Europeia.Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (71)


(72) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


PARTE IIICONSIDERAÇÕES FINAISOs Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (73)


(74) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


Consciente <strong>da</strong> importância do acto <strong>de</strong> informar, o Centro Nacional <strong>de</strong> Apoio ao Imigrante(CNAI), <strong>em</strong> Portugal, edita, a partir <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 2007, o boletim quinzenal O Jornal doCNAI – com o objectivo <strong>de</strong> servir o imigrante e tornar mais simples o cumprimento <strong>da</strong>ssuas obrigações enquanto ci<strong>da</strong>dão imigrante. Assim, esse jornal, segundo Rui Marques,Alto Comissário para Imigração e Minorias Étnicas, na altura, procura “fazer chegar ao imigranteinfor mações sobre aspect<strong>os</strong> prátic<strong>os</strong> <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> do imigrante e tornar a sua vi<strong>da</strong> maisfácil”. E ex plica: “ninguém po<strong>de</strong> exercer <strong>os</strong> seus direit<strong>os</strong>, n<strong>em</strong> cumprir <strong>os</strong> seus <strong>de</strong>veres,se não es ti ver <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente informado.”A Organização Internacional para as Migrações (OIM) acredita que há várias maneiras <strong>de</strong>potencializar o fenómeno migratório, entre as quais po<strong>de</strong>m<strong>os</strong> realçar “um melhor conhe -ci mento <strong>da</strong> legislação”, beneficiando o Estado acolhedor assim como <strong>os</strong> imigrantes, e anecessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> “explorar e <strong>de</strong>stacar o potencial <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong>s diásporas” 36 .É, nesse âmbito, que <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> são importantes para as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigran -tes. Elaborad<strong>os</strong> essencialmente por e para <strong>os</strong> imigrantes, falando a linguag<strong>em</strong> <strong>de</strong>stes,abor <strong>da</strong>ndo t<strong>em</strong>as que lhes diz<strong>em</strong> directamente respeito, <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> p<strong>os</strong>su<strong>em</strong> nã<strong>os</strong>o mente uma credibili<strong>da</strong><strong>de</strong> maior, para este grupo, do que <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação g e -ne ralistas, mas ain<strong>da</strong> gozam <strong>de</strong> um acesso privilegiado.Como vim<strong>os</strong>, esses media cumpr<strong>em</strong> funções essenciais para <strong>os</strong> imigrantes tais comofornecer informações úteis e fun<strong>da</strong>mentais para as suas vi<strong>da</strong>s, com foco <strong>em</strong> informaçõessobre legislação, alguns procuram cumprir uma papel reivindicativo, muit<strong>os</strong> colaborampara uma maior visibili<strong>da</strong><strong>de</strong> d<strong>os</strong> negóci<strong>os</strong> <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, po<strong>de</strong>ndo, <strong>de</strong>ssa maneira,servir <strong>de</strong> veículo facilitador para justamente “explorar e <strong>de</strong>stacar o potencial <strong>de</strong>senvolvi -mento <strong>da</strong>s diásporas”.O estudo From Ethnic Media to Global Media: Trans na tio nal Communication NetworksAmong Diasporic Commu ni ties revela que “the role of ethnic media in global communicationflows is steadily growing in importance. Sociologistsand communication scholars have viewed ethnic media asserving what may appear to be two contradictory purp<strong>os</strong>es36 OIM, Mensagens chave e parecerespara o Diálogo <strong>de</strong> Alto Nível sobreMigração Internacional e Desenvolvimento,Abril 2006.Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (75)


– to contribute to ethnic cohesion and cultural maintenance as well to help m<strong>em</strong>bers ofminorities integrate into the larger society (…). We need autonomous ethnic minority mediawhich can speak for, and to, their own community; ethnic minority media which cangenerate a dialogue between ethnic minority communities; and between these and domi -nant ethnic community audiences” (Krim, 1998).No entanto, se, no geral, <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> cumpr<strong>em</strong> funções consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s im por tantes paraas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes, sab<strong>em</strong><strong>os</strong> que n<strong>em</strong> tod<strong>os</strong> têm <strong>os</strong> mesm<strong>os</strong> objec tiv<strong>os</strong>. Algunscumpr<strong>em</strong> uma função “social” clara e são elaborad<strong>os</strong> especificamente com o objectivo <strong>de</strong>apoio e auxílio ao imigrante. Outr<strong>os</strong>, no entanto, não preten<strong>de</strong>m servir <strong>de</strong> meio <strong>de</strong> apoio eassum<strong>em</strong> as funções <strong>de</strong> entretenimento e <strong>de</strong> divulgação <strong>da</strong> cultura <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>.A pergunta, então, justifica-se: <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação étnic<strong>os</strong> contribu<strong>em</strong> no acesso àin formação e a<strong>da</strong>ptação d<strong>os</strong> imigrantes, po<strong>de</strong>ndo também aju<strong>da</strong>r no processo <strong>de</strong> inte gra -ção, ou, pelo contrário, fecham a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> imigrante sobre ela mesma, diminuindo asp<strong>os</strong>sibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> integração e a<strong>da</strong>ptação?Importa analisar esta questão que n<strong>os</strong> parece relevante para uma melhor compreensão don<strong>os</strong>so objecto <strong>de</strong> estudo.Antes <strong>de</strong> n<strong>os</strong> <strong>de</strong>bruçar sobre a pergunta propriamente dita, porém, far<strong>em</strong><strong>os</strong> uma breve dis -cussão acerca d<strong>os</strong> term<strong>os</strong> “integração” e “capital social”, muito utilizad<strong>os</strong> nas CiênciasSociais e <strong>de</strong> fun<strong>da</strong>mental relevância no contexto do n<strong>os</strong>so estudo e para uma melhorresp<strong>os</strong>ta à n<strong>os</strong>sa pergunta.O que se enten<strong>de</strong> por integração?Do Latim, integrare, integrar significa “tornar ou tornar-se parte <strong>de</strong> um todo, <strong>de</strong> um grupo,<strong>de</strong> um conjunto já exis ten te”. Enten<strong>de</strong>-se igualmente por integrar, “misturar ou misturar--se com outras pessoas, gru p<strong>os</strong> …, participando na vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>” 37 .37 Aca<strong>de</strong>mia <strong>da</strong>s Ciências <strong>de</strong> Lisboa eFun<strong>da</strong>ção Calouste Gulbenkian (2001),Dicionário <strong>da</strong> Língua PortuguesaCont<strong>em</strong>porânea, Editorial Verbo.Por extensão, o conceito <strong>de</strong> “integração” é a “acção ou(76) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


esultado <strong>de</strong> integrar ou <strong>de</strong> se inte grar”, como também “o processo <strong>de</strong> incluir ou <strong>de</strong> se incluirnum todo, <strong>de</strong> fazer parte ou <strong>de</strong> se incorporar”. Por analogia, o significado <strong>da</strong>do pelaSociologia à palavra “inte gração” consiste na “participação <strong>de</strong> um grupo social minoritáriono funcionamento <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> que se encontra inserido, mantendo, no entanto, assuas características culturais” 38 .Dentro do contexto que n<strong>os</strong> interessa, talvez o melhor significado para o conceito <strong>de</strong> “inte-gra ção” seja o fornecido pelo Dicionário Houaiss <strong>da</strong> Língua Portuguesa. Dentro <strong>da</strong>s várias<strong>de</strong>finições prop<strong>os</strong>tas para este termo, encontram<strong>os</strong> também a variável “racial” que cor -respon<strong>de</strong> à “política que t<strong>em</strong> por fim integrar, numa <strong>da</strong><strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, as minorias raciais”.Fazendo uma leitura d<strong>os</strong> term<strong>os</strong> acima citad<strong>os</strong> e transpondo-<strong>os</strong> à variável que n<strong>os</strong> interessa,se, entre outr<strong>os</strong> aspect<strong>os</strong>, o acto <strong>de</strong> integrar significa “o processo <strong>de</strong> incluir ou <strong>de</strong>se incluir num todo”, por extensão, po<strong>de</strong>m<strong>os</strong> dizer que <strong>os</strong> mo<strong>de</strong>l<strong>os</strong> <strong>de</strong> integração d<strong>os</strong> imigrantespreten<strong>de</strong>m encontrar maneiras que p<strong>os</strong>sibilit<strong>em</strong> a inclusão d<strong>os</strong> imigrantes nasocie<strong>da</strong><strong>de</strong> acolhedora.Vári<strong>os</strong> são <strong>os</strong> mo<strong>de</strong>l<strong>os</strong> <strong>de</strong> integração d<strong>os</strong> imigrantes adoptad<strong>os</strong> pelas diversas socie<strong>da</strong><strong>de</strong>sanfitriãs. Estes vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o mo<strong>de</strong>lo assimilacionista, ou o fam<strong>os</strong>o melting pot americano,que pressupõe, como seu nome indica, que o imigrante seja assimilado, ou aculturado,quase que por completo na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> receptora, até o extr<strong>em</strong>o op<strong>os</strong>to, sendo estes <strong>os</strong>mo<strong>de</strong>l<strong>os</strong> multiculturalista, pluralista – ou interculturalista. Estes últim<strong>os</strong> favorec<strong>em</strong> as di -fe renças culturais <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> grupo, ca<strong>da</strong> um po<strong>de</strong>ndo manter <strong>os</strong> seus traç<strong>os</strong> culturais <strong>de</strong>orig<strong>em</strong> e acreditam que o conjunto d<strong>os</strong> diferentes grup<strong>os</strong> compõe a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> como umtodo. O favorecimento <strong>da</strong>s diferenças, segundo esses mo<strong>de</strong>l<strong>os</strong>, não põe <strong>em</strong> causa, porém,a integração d<strong>os</strong> diferentes grup<strong>os</strong> com a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> autóctone.Existe ain<strong>da</strong>, por op<strong>os</strong>ição a estes mo<strong>de</strong>l<strong>os</strong> acima citad<strong>os</strong>, o mo<strong>de</strong>lo segregacionista, oudi ferencialista, que exclui a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> interacção com a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> acolhimento. Este mo -<strong>de</strong>lo anula quase por completo a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> integração, já que esta pressupõe a inclusão <strong>de</strong>um grupo <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um outro grupo.38 Ibi<strong>de</strong>m, nota n.º 36.Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (77)


A maneira como o imigrante é visto pela socie<strong>da</strong><strong>de</strong> acolhedora e as políticas <strong>de</strong> integraçãoque são impl<strong>em</strong>enta<strong>da</strong>s variam <strong>em</strong> função do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> integração que ca<strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>adopta. Evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente, na prática, esses mo<strong>de</strong>l<strong>os</strong> não são estátic<strong>os</strong> e mu<strong>da</strong>m <strong>de</strong> acordocom o contexto político, económico, <strong>de</strong>mográfico, no qual a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> está inseri<strong>da</strong>.No que diz respeito a Portugal, Rui Marques, o ex-Alto Comissário para a Imigração e Diá -logo Intercultural <strong>de</strong> fen <strong>de</strong> a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> interculturali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Para ele, “mais do que fomentara cultura, <strong>os</strong> c<strong>os</strong> tumes <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s estrangeiras, é importante criar laç<strong>os</strong> com <strong>os</strong>imi grantes, compreendê-l<strong>os</strong>, interagir e tolerar a diversi<strong>da</strong><strong>de</strong>” (Público, 2006: 3).No âmbito específico do n<strong>os</strong>so estudo, <strong>de</strong> acordo com <strong>os</strong> diferentes media étnic<strong>os</strong>, en -ten<strong>de</strong>-se por “integração” estar mais informado para sentir-se men<strong>os</strong> isolado, men<strong>os</strong> alheioà socie<strong>da</strong><strong>de</strong> anfitriã. Integrar-se significaria po<strong>de</strong>r participar mais <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> acolhedoras<strong>em</strong>, no entanto, per<strong>de</strong>r as suas características <strong>de</strong> orig<strong>em</strong>. Nas leituras técnica e social járealiza<strong>da</strong>s neste estudo vim<strong>os</strong> que <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong>, além <strong>de</strong> informar<strong>em</strong> sobre Portugale as notícias consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s úteis para o imigrante na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> acolhedora, reserva igual -mente espaç<strong>os</strong> para notícias relaciona<strong>da</strong>s com as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> orig<strong>em</strong>, pois, comodiz<strong>em</strong> <strong>os</strong> representantes d<strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong>, “é importante não per<strong>de</strong>r as raízes”.O “capital social” como ferramenta <strong>de</strong> integraçãoCa<strong>da</strong> vez mais, o termo “capital social” v<strong>em</strong> sendo utilizado e analisado, nas CiênciasSociais, como uma forma <strong>de</strong> coesão social que proporciona o <strong>de</strong>senvolvimento e está di -rectamente relacionado com as ligações entre indivídu<strong>os</strong>, organizações e o nível go ver na -men tal ou institucional.39 De acordo com o Dicionário Houaiss <strong>da</strong>Língua Portuguesa, a palavra “capital”, nasua vertente económica, significa “todo ob<strong>em</strong> económico aplicável à produção” ou“to<strong>da</strong> a riqueza capaz <strong>de</strong> produzir ren<strong>da</strong>” ouain<strong>da</strong> “bens disponíveis, património,riqueza”.Assim como o capital 39 , <strong>em</strong> term<strong>os</strong> económic<strong>os</strong>, está re -lacionado com o <strong>de</strong>senvolvimento eco nó mico, o “capitalsocial” é uma ferramenta explicativa <strong>de</strong> como as re<strong>de</strong>s so -ciais e o relacio na mento entre indi ví du<strong>os</strong> e grup<strong>os</strong> po<strong>de</strong>migualmente aju<strong>da</strong>r no <strong>de</strong>sen vo l vi men to humano.(78) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


O termo “capital social” foi primeiramente introduzido nas Ciências Sociais por James Co -l<strong>em</strong>an, <strong>em</strong> 1988, i<strong>de</strong>ntificando-o com a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s pessoas trabalhar<strong>em</strong> <strong>em</strong> gru p<strong>os</strong>,com base num conjunto <strong>de</strong> normas e valores compartid<strong>os</strong> 40 .P<strong>os</strong>teriormente, o termo foi <strong>de</strong>senvolvido por Robert Putman que relaciona o “capital so -cial” com a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> “comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>”, sendo esta <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> <strong>em</strong> term<strong>os</strong> <strong>de</strong> pessoas próximasgeo graficamente, mas também culturalmente, e sendo vista como uma quali<strong>da</strong><strong>de</strong> dogrupo social. Assim, a confiança presente n<strong>os</strong> divers<strong>os</strong> actores sociais, o conjunto <strong>de</strong> re -la ções ou laç<strong>os</strong> entre <strong>os</strong> indivídu<strong>os</strong>, o grau <strong>de</strong> associabili<strong>da</strong><strong>de</strong> entre <strong>os</strong> m<strong>em</strong>br<strong>os</strong> <strong>de</strong> umgrupo, permitiria um maior <strong>de</strong>senvolvimento por parte d<strong>os</strong> indivídu<strong>os</strong> <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminadogrupo 41 .O Banco Mundial <strong>de</strong>fine igualmente o termo <strong>da</strong> seguinte maneira: “o conjunto <strong>de</strong> normase víncul<strong>os</strong> que permit<strong>em</strong> a acção social colectiva. O ‘capital social’ refere-se às normas ere <strong>de</strong>s que permit<strong>em</strong> a acção colectiva.” Segundo o Banco Mundial, ca<strong>da</strong> vez mais torna--se evi<strong>de</strong>nte que a coesão social, ou o “capital social”, é um instrumento fun<strong>da</strong>mental paraamenizar a pobreza e promover um <strong>de</strong>senvolvimento humano e económico 42 .Robert Putman distingue dois tip<strong>os</strong> <strong>de</strong> “capital social”: o conjunto <strong>de</strong> relações ou laç<strong>os</strong> entre<strong>os</strong> indivídu<strong>os</strong> po<strong>de</strong> ser forte ou fraco (a que ele chama, <strong>em</strong> inglês, “bonding and brid -ging social capital”). Um primeiro tipo <strong>de</strong> relações, “bonding”, <strong>de</strong>fine-se por liga çõesfortes, no seio <strong>de</strong> uma mesma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Nesse sentindo, esse tipo <strong>de</strong> “capital social”reforçaria as ligações <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma mesma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, diminuindo o contacto fora <strong>de</strong>la.Ao contrário, as relações do tipo “bridging”, p<strong>os</strong>su<strong>em</strong> uma i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> “ponte”, ou seja, as li -gações no seio <strong>da</strong> mesma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> são fracas, permi tindo uma espécie <strong>de</strong> relaçãohorizontal entre m<strong>em</strong>br<strong>os</strong> e pessoas <strong>de</strong> diferentes grup<strong>os</strong>,ampliando assim as re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> contact<strong>os</strong> para além do grupo<strong>de</strong> pertença.Outr<strong>os</strong> estudi<strong>os</strong><strong>os</strong> estabelec<strong>em</strong> igualmente a existência <strong>de</strong>laç<strong>os</strong> <strong>de</strong> união (intitulado <strong>em</strong> inglês <strong>de</strong> “linking social ca pi -tal”), entre <strong>os</strong> m<strong>em</strong>br<strong>os</strong> <strong>de</strong> uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e o mundo ex-40 Ver, a este respeito: Col<strong>em</strong>an, J.(1988), “Social Capital in the Creation ofHuman Capital”, in American Journal ofSociology, p. 94.41 Ver, a este propósito: Putman, R.(1993), Making <strong>de</strong>mocracy work. Civictraditions in mo<strong>de</strong>rn Italy, Princeton:University Press.42 Ver site do Banco Mundial:www.worldbank.org/socialcapitalOs Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (79)


terior a ela. Este terceiro tipo <strong>de</strong> “capital social” cria conexões que po<strong>de</strong>m facilitar o con tac -to entre diferentes re<strong>de</strong>s com distintas p<strong>os</strong>ições na estrutura social (Cohen e Prussak, 2001).Olhando para o lado organizacional <strong>da</strong> probl<strong>em</strong>ática, po<strong>de</strong> dizer-se que o “bonding socialcapital” está relacionado com a p<strong>os</strong>sibili<strong>da</strong><strong>de</strong> que <strong>os</strong> indivídu<strong>os</strong> p<strong>os</strong>su<strong>em</strong> <strong>de</strong> se associar<strong>em</strong>e <strong>de</strong> se relacionar<strong>em</strong> colectivamente. O “bridging social capital” concerne à capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>in divídu<strong>os</strong> e organizações <strong>de</strong> se relacionar<strong>em</strong> com outr<strong>os</strong> indivídu<strong>os</strong> e outras organizaçõespara a realização <strong>de</strong> objectiv<strong>os</strong> comuns. Já o “linking social capital” refere-se ao trabalhoconjunto <strong>de</strong> indivídu<strong>os</strong> e organizações frente a<strong>os</strong> organism<strong>os</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, o governo e asinstituições.Já vim<strong>os</strong> no n<strong>os</strong>so estudo que as re<strong>de</strong>s sociais são um factor explicativo d<strong>os</strong> flux<strong>os</strong> migra -tó ri<strong>os</strong>. N<strong>os</strong> últim<strong>os</strong> an<strong>os</strong>, porém, estudi<strong>os</strong><strong>os</strong> tentam analisar também a p<strong>os</strong>sibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> in -tegração d<strong>os</strong> imigrantes através <strong>da</strong>s re<strong>de</strong>s sociais e do “capital social”. Vári<strong>os</strong> foram <strong>os</strong>estud<strong>os</strong> realizad<strong>os</strong> nesse sentido 43 . Segundo António Mateo, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Zara goza,as próprias re<strong>de</strong>s são <strong>em</strong> si um el<strong>em</strong>ento fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> integração <strong>de</strong> pessoas imi gran -tes. De acordo com este autor, “cabe <strong>de</strong>stacar a importância d<strong>os</strong> contact<strong>os</strong> <strong>da</strong>s pessoas comamig<strong>os</strong> e parentes e (…) como estas re<strong>de</strong>s estão facilitando <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a pla nificação <strong>da</strong> via -g<strong>em</strong>, a chega<strong>da</strong>, o apoio <strong>em</strong>ocional, a habitação, a inclusão, o <strong>em</strong>prego. (…) É muito sig -nificativo ver como o contacto com re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> familiares e amig<strong>os</strong> é um d<strong>os</strong> motivadoresprincipais tanto para adoptar a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> migrar, como <strong>em</strong> segui<strong>da</strong> é tam bém um d<strong>os</strong>principais recurs<strong>os</strong> e apoi<strong>os</strong> para facilitar a inserção e a integração” (Mateo, 2005: 196).43 A este respeito, ver: Mateo, A. (2005),Las re<strong>de</strong>s sociales y el capital social comouna herramienta importante para laintegración <strong>de</strong> l<strong>os</strong> inmigrantes, Universi<strong>da</strong>d<strong>de</strong> Zaragoza, Facultad <strong>de</strong> CienciasHumanas y <strong>de</strong> la Educación, pp. 185-204;Martinez J., Garcia V., New Latino Farmersin the Midwest: the case of SouthwestMighicant, Michigan State University; Faist,Th. (2000), The volume and dynamic ofinternational migration and transnationalsocial space, Oxford: Claredon Press.Como anteriormente referido neste trabalho, autores e or ga -ni zações acreditam que as próprias comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes,através <strong>da</strong>s suas dinâmicas associativas, cumpr<strong>em</strong>um papel importante no âmbito <strong>da</strong> integração econtribu<strong>em</strong> para interpelar o Estado na apli ca ção <strong>de</strong>políticas mais inclusivas.Nesta or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias, po<strong>de</strong>-se dizer que <strong>os</strong> mediaétnic<strong>os</strong>, como uma <strong>da</strong>s ferramentas <strong>de</strong> interacção <strong>de</strong>ssas(80) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


e<strong>de</strong>s sociais <strong>de</strong> imigrantes, faz<strong>em</strong> parte do “capital social” <strong>da</strong>s di fe ren tes comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s,ain<strong>da</strong> que alguns, talvez, <strong>de</strong> maneira mínima.Em segui<strong>da</strong>, tentar<strong>em</strong><strong>os</strong> ver até que ponto <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> cumpr<strong>em</strong> um papel <strong>de</strong> laço“forte” (“bonding”) ou “fraco” (“bridging”), no seio <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> que representa e <strong>de</strong> qu<strong>em</strong>aneira esses media aju<strong>da</strong>riam – ou não – no processo <strong>de</strong> integração (ou pelo men<strong>os</strong>a<strong>da</strong>ptação) d<strong>os</strong> imigrantes <strong>em</strong> Portugal.Media étnic<strong>os</strong> como meio <strong>de</strong> abertura ou <strong>de</strong> fechamento <strong>da</strong>s diferentescomuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes?Por uma preocupação <strong>de</strong> clareza, repetim<strong>os</strong> a pergunta que <strong>de</strong>u orig<strong>em</strong> a essa parte don<strong>os</strong>so estudo: – Os mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação étnic<strong>os</strong> aju<strong>da</strong>m no acesso à informação ea<strong>da</strong>ptação d<strong>os</strong> imigrantes, po<strong>de</strong>ndo também aju<strong>da</strong>r no processo <strong>de</strong> integração, ou, pelocon trário, fecham a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> imigrante sobre ela mesma diminuindo as p<strong>os</strong> si bil i -<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> integração e a<strong>da</strong>ptação?Ao longo do n<strong>os</strong>so trabalho, <strong>de</strong>paramo-n<strong>os</strong> com o mesmo tipo <strong>de</strong> pergunta por parte <strong>de</strong>es tudi<strong>os</strong><strong>os</strong>. Isabelle Rigoni, no seu estudo Ethnic Media, an Alternative Form of Citi zen -ship, ressalta esta ambigui<strong>da</strong><strong>de</strong> e coloca a seguinte questão: “are these media <strong>em</strong>poweringthe migrants while offering th<strong>em</strong> a platform for <strong>de</strong>bates as well as forming a lobby atthe political level? Or, on the contrary, are they maintaining th<strong>em</strong> stubbornly in a parti -cularist logic?” (Rigoni, 2003).Num artigo <strong>da</strong> Canergie Reporter, intitulado “New Americans – Fresh off the presses” –po<strong>de</strong>-se ler que o autor t<strong>em</strong> o mesmo tipo <strong>de</strong> dúvi<strong>da</strong>s: “Do these papers and broadcastersbuild citizens? Do they promote assimilitation? Or do these new media act to sustain ethnicand linguistic segregation?” (Akst, 2003).De uma forma sintética, po<strong>de</strong>ríam<strong>os</strong> dizer que, na sua gran<strong>de</strong> maioria, <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong>, aomesmo t<strong>em</strong>po que preten<strong>de</strong>m promover integração, po<strong>de</strong>m também criar uma espécie <strong>de</strong> se-Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (81)


gregação étnica e linguística. No entanto, se n<strong>os</strong> aprofun<strong>da</strong>rm<strong>os</strong> mais sobre a probl <strong>em</strong>ática,v<strong>em</strong><strong>os</strong> que uma resp<strong>os</strong>ta clara e concisa à n<strong>os</strong>sa pergunta é muito difícil <strong>de</strong> se obter.Efectivamente, <strong>de</strong> acordo com o que constatam<strong>os</strong> durante o n<strong>os</strong>so estudo, nenhuma <strong>da</strong>sduas perguntas p<strong>os</strong>sui resp<strong>os</strong>tas directas. Primeiramente, só é p<strong>os</strong>sível falar <strong>em</strong> term<strong>os</strong> <strong>de</strong>“i ntegração” se souberm<strong>os</strong>, <strong>de</strong> facto, que mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> integração preten<strong>de</strong>m<strong>os</strong> utilizar. Damesma forma, não é p<strong>os</strong>sível <strong>de</strong>finir um único tipo <strong>de</strong> “capital social” para esses media.Como ver<strong>em</strong><strong>os</strong>, <strong>de</strong> uma maneira geral, <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> encaixam-se <strong>de</strong>ntro d<strong>os</strong> dois tip<strong>os</strong><strong>de</strong> “capital social”, <strong>de</strong>finid<strong>os</strong> por Robert Putman.Pelo que observam<strong>os</strong> ao longo <strong>da</strong> n<strong>os</strong>sa investigação, <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> cumpr<strong>em</strong> diversasfunções ao mesmo t<strong>em</strong>po. É ver<strong>da</strong><strong>de</strong> que alguns têm por função principal informar o imigrantesobre <strong>os</strong> seus direit<strong>os</strong> e <strong>de</strong>veres, servindo assim <strong>de</strong> meio <strong>de</strong> apoio ao imigrante.Outr<strong>os</strong>, por outro lado, têm um objectivo mais voltado para a divulgação <strong>da</strong> cultura <strong>da</strong>comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> que representa.No entanto, excepto uma ou duas excepções (o jornal Sabiá, por ex.), tanto um tipo <strong>de</strong>media quanto o outro acabam por cumprir as duas funções acima cita<strong>da</strong>s, ain<strong>da</strong> que umaseja mais acentua<strong>da</strong> que a outra.Antes <strong>de</strong> mais, po<strong>de</strong>ríam<strong>os</strong> questionar se o facto <strong>de</strong> alguns jornais estar<strong>em</strong> escrit<strong>os</strong> n<strong>os</strong>idio mas matern<strong>os</strong> d<strong>os</strong> imigrantes não impediria a interacção com a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> acolhedora.Por outro lado, esses media cumpr<strong>em</strong> uma função <strong>de</strong> auxílio ao imigrante, favorecendoinformações úteis à vi<strong>da</strong> do imigrante num idioma que estes p<strong>os</strong>sam compreen<strong>de</strong>r. Assim,pelo men<strong>os</strong> a parti<strong>da</strong>, esses media cumpririam uma função clara <strong>de</strong> interacção permitindoque o imigrante se sinta men<strong>os</strong> “perdido” na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> receptora, ain<strong>da</strong> que essa aju<strong>da</strong>venha <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> própria comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> imigrante (“bonding social capital”). A<strong>de</strong> mais,muit<strong>os</strong> <strong>de</strong>sses media incentivam o aprendizado <strong>da</strong> língua portuguesa. Os jornais ro me n<strong>os</strong>,por ex<strong>em</strong>plo, publicam anúnci<strong>os</strong> <strong>de</strong> escolas <strong>de</strong> línguas, tiram dúvi<strong>da</strong>s sobre cert<strong>os</strong> term<strong>os</strong>e encorajam o imigrante a apren<strong>de</strong>r o português (“bridging social capital”).Como vim<strong>os</strong>, <strong>os</strong> diferentes media traz<strong>em</strong> notícias relaciona<strong>da</strong>s com o imigrante, <strong>da</strong> so cie -(82) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


<strong>da</strong><strong>de</strong> portuguesa, assim como notícias volta<strong>da</strong>s para a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> imigrante que ca<strong>da</strong>media representa. Desta forma, <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação étnic<strong>os</strong> criam uma es pé cie <strong>de</strong>“ponte” entre a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> envio e a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> receptora (“bonding” e “bridging socialcapital”).Um ex<strong>em</strong>plo claro disso é a secção <strong>de</strong> “classificad<strong>os</strong>” e “anúnci<strong>os</strong>” d<strong>os</strong> diferentes media.Na sua gran<strong>de</strong> maioria, estes mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação publicam anúnci<strong>os</strong> e contact<strong>os</strong> sobreinstituições importantes para o imigrante <strong>em</strong> Portugal, como o Centro Nacional <strong>de</strong> Apoioao Imigrante, en<strong>de</strong>reç<strong>os</strong> e númer<strong>os</strong> <strong>de</strong> telefones <strong>de</strong> Consulad<strong>os</strong> e Embaixa<strong>da</strong>s d<strong>os</strong> di fe -rentes países, assim como casas, apartament<strong>os</strong> para alugar, anúnci<strong>os</strong> <strong>de</strong> <strong>em</strong>preg<strong>os</strong>, etc.Ao mesmo t<strong>em</strong>po, esses media traz<strong>em</strong> também a programação via satélite d<strong>os</strong> canais <strong>de</strong>te levisão <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> orig<strong>em</strong>, assim como classificad<strong>os</strong> sobre negóci<strong>os</strong> <strong>da</strong>s dife ren -tes comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s e anúnci<strong>os</strong> <strong>de</strong> event<strong>os</strong> <strong>de</strong>stas.O jornal Sino, por ex<strong>em</strong>plo, publica muitas vezes anúnci<strong>os</strong> <strong>de</strong> <strong>em</strong>preg<strong>os</strong> <strong>de</strong>ntro d<strong>os</strong> ne gó -ci<strong>os</strong> <strong>da</strong> própria comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. A priori, tal iniciativa dá-n<strong>os</strong> uma i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> “segrega ção”. Noentanto, <strong>em</strong>bora no seio <strong>da</strong> mesma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, o facto <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r trabalhar talvez faciliteno processo <strong>de</strong> a<strong>da</strong>ptação. Além <strong>de</strong> ser uma maneira <strong>de</strong> dinamizar o “<strong>em</strong>preen<strong>de</strong>dorismoétnico”.Os media étnic<strong>os</strong> que cumpr<strong>em</strong> uma função <strong>de</strong> “reivindicação d<strong>os</strong> direit<strong>os</strong> d<strong>os</strong> imigran -tes” (jornais Sabiá, Angola Magazine e Maiak Portugalii), além <strong>de</strong> <strong>da</strong>r<strong>em</strong> “voz” a essas mi -norias (“bridging social capital”) ain<strong>da</strong> serv<strong>em</strong> <strong>de</strong> “ponte” entre <strong>os</strong> imigrantes e <strong>os</strong> or ga -nism<strong>os</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão (“linking social capital”).Nenhum meio é absolutamente estático. Os mei<strong>os</strong> que cumpr<strong>em</strong> uma função mais clara<strong>de</strong> entretenimento e divulgação <strong>da</strong> cultura <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, po<strong>de</strong>m igualmente servir <strong>de</strong>in teracção entre a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> imigrantes e a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> receptora. Roberto Silveira explicaque muit<strong>os</strong> portugueses que ouv<strong>em</strong> a Rádio Tropical ligam para obter mais infor ma -ções sobre event<strong>os</strong> e produt<strong>os</strong> brasileir<strong>os</strong>. Dessa maneira, esse media, <strong>em</strong>bora voltadopara o entretenimento, cumpriria assim igualmente um papel <strong>de</strong> integração, ou no mínimo<strong>de</strong> interacção, entre ambas as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s.Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (83)


Po<strong>de</strong>-se também argumentar que promovendo a cultura <strong>de</strong> uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, organizandoevent<strong>os</strong>, exaltando <strong>os</strong> valores, evi<strong>de</strong>nciad<strong>os</strong> <strong>os</strong> probl<strong>em</strong>as, não somente esses mei<strong>os</strong> cumpr<strong>em</strong>um papel <strong>de</strong> interacção entre a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> imigrante e a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> local, masaju<strong>da</strong>m no b<strong>em</strong>-estar <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> imigrante, facilitando a sua a<strong>da</strong>ptação ao país paraon<strong>de</strong> <strong>em</strong>igra. Pois assim, <strong>os</strong> imigrantes sent<strong>em</strong>-se representad<strong>os</strong> e apoiad<strong>os</strong>.É natural que <strong>os</strong> imigrantes não queiram per<strong>de</strong>r as suas raízes, mesmo tendo <strong>de</strong> se a<strong>da</strong>p -tar e interagir com a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> para on<strong>de</strong> <strong>de</strong>cidiram <strong>em</strong>igrar. Assim, <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong>,para além <strong>de</strong> questões sócio-políticas, cumpr<strong>em</strong> um papel <strong>de</strong> “<strong>de</strong>scanso” cultural para <strong>os</strong>imigrantes, papel esse importante para que <strong>os</strong> imigrantes se sintam men<strong>os</strong> “isolad<strong>os</strong>”enquanto minorias.A existência <strong>de</strong> laç<strong>os</strong> fortes entre a mesma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> não significa <strong>de</strong> maneira sist<strong>em</strong>a -tica a falta <strong>de</strong> integração. No entanto, se essa falta realmente existe, esses laç<strong>os</strong> po<strong>de</strong>m,ao men<strong>os</strong>, servir para que a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> encontre uma maneira <strong>de</strong> prover às suasnecessi <strong>da</strong><strong>de</strong>s.Se retomarm<strong>os</strong> a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> “capital social” do Banco Mundial, v<strong>em</strong><strong>os</strong> que a existência<strong>de</strong>sses laç<strong>os</strong> fortes <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma mesma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, através <strong>da</strong> acção colectiva, po<strong>de</strong>contribuir para um melhor <strong>de</strong>senvolvimento humano. Os media étnic<strong>os</strong> serviriam assim<strong>de</strong> meio facilitador <strong>de</strong>sses laç<strong>os</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>.Volt<strong>em</strong>o-n<strong>os</strong> para <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> <strong>de</strong> Portugal por nós i<strong>de</strong>ntificad<strong>os</strong>. Retom<strong>em</strong><strong>os</strong> o n<strong>os</strong>soQuadro 4, transcrito a seguir. Como po<strong>de</strong>m<strong>os</strong> ver, com algumas excepções, a maioria d<strong>os</strong>mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação étnic<strong>os</strong> insere-se <strong>em</strong> mais <strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong> “capital social”.(84) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


QUADRO 4Principais funções d<strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong>, segundo <strong>os</strong> seus representantesOs Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (85)


Analis<strong>em</strong><strong>os</strong> brev<strong>em</strong>ente o quadro, através <strong>de</strong> alguns ex<strong>em</strong>pl<strong>os</strong>. O jornal Slovo t<strong>em</strong> porfunção apoiar o imigrante e tornar a sua vi<strong>da</strong> mais confortável <strong>em</strong> Portugal s<strong>em</strong>, no en -tan to, <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> exaltar <strong>os</strong> valores <strong>da</strong>s culturas <strong>de</strong> orig<strong>em</strong>. Para tal, esse jornal fornece informações no âmbito <strong>da</strong> legislação, por ex<strong>em</strong>plo, assim como publica notícias sobre areali<strong>da</strong><strong>de</strong> do imigrante <strong>em</strong> Portugal, auxilia o imigrante na sua secção <strong>de</strong> “cartas-perguntas”.Ao mesmo t<strong>em</strong>po, o jornal publica informações sobre <strong>os</strong> países <strong>da</strong> ex-União So -viética, informa sobre <strong>os</strong> negóci<strong>os</strong> <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> russófona, fornece a programação d<strong>os</strong>canais russ<strong>os</strong> via satélite.Desse modo, o jornal Slovo po<strong>de</strong> aju<strong>da</strong>r a fortalecer <strong>os</strong> laç<strong>os</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> própria comuni <strong>da</strong> -<strong>de</strong> russófona, assim como contribuir para uma melhor inserção do imigrante na socie <strong>da</strong> -<strong>de</strong> portuguesa.Já o jornal Vr<strong>em</strong>echko não preten<strong>de</strong> ser um suporte <strong>de</strong> auxílio ao imigrante e assume afunção <strong>de</strong> entretenimento. Ain<strong>da</strong> assim, algumas notícias po<strong>de</strong>m aju<strong>da</strong>r o imigrante a melhorse a<strong>da</strong>ptar, minimamente que seja. O jornal do dia 17 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 2007, por ex<strong>em</strong>plo,traz como notícia principal “As dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s d<strong>os</strong> casais na hora <strong>de</strong> imigrar”. Essa ma -té ria, através <strong>de</strong> algumas dicas, preten<strong>de</strong> “facilitar” <strong>os</strong> casais a superar<strong>em</strong> as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>sque po<strong>de</strong>rão enfrentar por ser<strong>em</strong> imigrantes.O jornal Sabiá esforça-se para servir <strong>de</strong> meio divulgador e reivindicativo d<strong>os</strong> direit<strong>os</strong> d<strong>os</strong>imi grantes. Juntamente com o portal “Tupiniquim.org” esses são <strong>os</strong> únic<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong>comu nicação <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira <strong>em</strong> Portugal, que cumpr<strong>em</strong> uma função pura e exclusiva<strong>de</strong> informar, para que o imigrante fique mais ciente d<strong>os</strong> seus direit<strong>os</strong> e obrigações.Os outr<strong>os</strong> media <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira prefer<strong>em</strong> servir <strong>de</strong> meio informativo d<strong>os</strong> as pec -t<strong>os</strong> relacionad<strong>os</strong> com a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira <strong>em</strong> Portugal, facilitando a aproxima ção doimigrante brasileiro à sua comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Contudo, esses media traz<strong>em</strong> também notícias re -laciona<strong>da</strong>s com a legislação, listas <strong>de</strong> contact<strong>os</strong> importantes para o imigrante, e divulgatambém notícias sobre Portugal.Como v<strong>em</strong><strong>os</strong>, a tentativa <strong>de</strong> se obter uma resp<strong>os</strong>ta clara e concisa a n<strong>os</strong>sa pergunta é bas -tante complexa. E explicam<strong>os</strong>: face à varie<strong>da</strong><strong>de</strong> d<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> e as diversas funções que cum-(86) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


pr<strong>em</strong>, não se po<strong>de</strong> generalizar, n<strong>em</strong> reduzir <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> a uma só categoria. Se unsnão promov<strong>em</strong> a “integração” <strong>de</strong> maneira mais afirma<strong>da</strong>, facilitam na aproximação àcomuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e na promulgação <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> cultural. Características estas que condi z<strong>em</strong>com o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> integração chamado “pluralismo cultural”, favorecido pelo Alto Comis -sariado para a Imigração e Diálogo Intercultural.Além do mais, como já mencionám<strong>os</strong>, para respon<strong>de</strong>r à n<strong>os</strong>sa pergunta, t<strong>em</strong><strong>os</strong> primeiro<strong>de</strong> saber que tipo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> integração se preten<strong>de</strong> obter. Se a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> receptoraadopta um mo<strong>de</strong>lo “assimilacionista” é evi<strong>de</strong>nte que aqueles media étnic<strong>os</strong> que ten<strong>de</strong>m aexaltar <strong>os</strong> valores culturais <strong>de</strong> uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, publicando informações no idioma ma -ter no do imigrante, serão consi<strong>de</strong>rad<strong>os</strong> como uma maneira <strong>de</strong> “segregar” a comuni <strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> imigrante, por não assimilá-la por completo na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> acolhedora. Mas, se ao contrário,a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> acolhimento favorece um mo<strong>de</strong>lo “pluralista” ou “multicultura lista”,<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes encaixam perfeitamente n<strong>os</strong>i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong>stes tip<strong>os</strong> <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>l<strong>os</strong>.Assim, uma resp<strong>os</strong>ta que consi<strong>de</strong>ram<strong>os</strong> mais próxima para as questões abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s seja a<strong>da</strong><strong>da</strong> pelo artigo <strong>da</strong> Canergie Repórter: “if anything, the new ethnic media are acceler a -ting the process of assimilation to a different national i<strong>de</strong>ntity altogether. By covering thelife of the home country or region, the papers often dissolve distinctions that had been activeback home, creating a broa<strong>de</strong>r soli<strong>da</strong>rity” (Akst, 2003).Mais do que entrar <strong>em</strong> <strong>de</strong>bates muit<strong>os</strong> vast<strong>os</strong> que não n<strong>os</strong> levam a nenhuma con clusãoobjectiva, a melhor maneira <strong>de</strong> resumir a importância d<strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> é, s<strong>em</strong> dú vi<strong>da</strong>,com a opinião <strong>da</strong>queles para qu<strong>em</strong> estes media são direccionad<strong>os</strong>. Ci ta m<strong>os</strong>, então, aquio comentário <strong>de</strong> uma ouvinte do programa <strong>de</strong> rádio <strong>em</strong> russo que <strong>de</strong>fine este pro gramacomo importante para <strong>os</strong> imigrantes “porque além <strong>de</strong> fornecer informações relevantespara a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> russófona, ain<strong>da</strong> <strong>de</strong>scansam<strong>os</strong> a alma ao ouvir algo que n<strong>os</strong> diz di -rec tamente respeito”. Esta ouvinte, uma imigrante do Uzbequistão, ligou para o pro grama,às 22h30, para pedir uma música que ela c<strong>os</strong>tumava ouvir no seu país <strong>de</strong> ori g<strong>em</strong>, poisjá era noite adianta<strong>da</strong>, estava a trabalhar, sentia-se cansa<strong>da</strong> e queria ouvir algo <strong>da</strong> suacultura para ajudá-la a relaxar um pouco.Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (87)


CONCLUSÃODurante uma conversa com o realizador do filme Lisboetas, Sérgio Tréfaut, este comentouque uma <strong>da</strong>s razões que o levou a realizar este filme foi a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> que, <strong>em</strong> Portugal,havia vári<strong>os</strong> jornais <strong>em</strong> idiomas estrangeir<strong>os</strong> que circulavam pelas bancas. SegundoSergio, esta constatação fez-lhe sentir que “algo <strong>de</strong> novo se estava a passar <strong>em</strong> Portugal”.Assim, pel<strong>os</strong> estud<strong>os</strong> realizad<strong>os</strong> e <strong>os</strong> resultad<strong>os</strong> discutid<strong>os</strong>, po<strong>de</strong>m<strong>os</strong> concluir que:A impressa escrita, no formato <strong>de</strong> s<strong>em</strong>anário, é o tipo <strong>de</strong> media mais utilizado, <strong>em</strong>bora al -gu mas re vistas mensais também circul<strong>em</strong>. Pouc<strong>os</strong> são <strong>os</strong> programas <strong>de</strong> rádio e não hánenhum meio televisivo <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes <strong>em</strong> Portugal.As comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s do Leste e a brasileira são as que mais <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> este tipo <strong>de</strong> media.A comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> africana é muito pouco representa<strong>da</strong>, com um único boletim publicado pelaassociação Casa <strong>de</strong> Angola.A principal dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> é a <strong>de</strong> conseguir manter <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong>vido ao ele -vado custo financeiro e a dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> encontrar mei<strong>os</strong> para subsidiá-l<strong>os</strong>. Na sua gran<strong>de</strong>maioria, <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> são custead<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> negóci<strong>os</strong> <strong>da</strong> própria comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> que representam.Os media étnic<strong>os</strong>, nas suas distintas formas e tecnologias, <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penham a important<strong>em</strong>issão <strong>de</strong> informar a<strong>os</strong> compatriotas sobre questões liga<strong>da</strong>s à imigração, sobre Portugal,além <strong>de</strong> mantê-l<strong>os</strong> ligad<strong>os</strong> à cultura <strong>de</strong> orig<strong>em</strong>, <strong>de</strong> entretê-l<strong>os</strong> e <strong>de</strong> amenizar, muitas vezes,o peso <strong>de</strong> estar longe <strong>de</strong> casa e <strong>de</strong> se sentir imigrante.Os mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação d<strong>os</strong> imigrantes fornec<strong>em</strong> igualmente um serviço relevante a<strong>os</strong>or ganism<strong>os</strong> públic<strong>os</strong> por instruir o imigrante sobre seus direit<strong>os</strong> e <strong>de</strong>veres po<strong>de</strong>ndo assimfacilitar o imigrante no processo <strong>de</strong> a<strong>da</strong>ptação à socie<strong>da</strong><strong>de</strong> acolhedora.(88) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


Outra função d<strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> é a <strong>de</strong> contribuir para o <strong>de</strong>senvolvimento d<strong>os</strong> negóci<strong>os</strong> eser viç<strong>os</strong> <strong>da</strong>s diferentes comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes.Os mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação elaborad<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> imigrantes não são uma particulari<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>Por tugal. Normalmente, esses mei<strong>os</strong> constitu<strong>em</strong> uma característica d<strong>os</strong> países on<strong>de</strong> a imigraçãoé um fenómeno relevante. Pelo que pu<strong>de</strong>m<strong>os</strong> observar durante n<strong>os</strong>so estudo, <strong>os</strong>media étnic<strong>os</strong>, on<strong>de</strong> quer que sejam <strong>de</strong>senvolvid<strong>os</strong>, cumpr<strong>em</strong>, no geral, o papel <strong>de</strong> infor -mar o imigrante sobre seus direit<strong>os</strong> e <strong>de</strong>veres, assim como serve <strong>de</strong> “ponte” entre o país<strong>de</strong> acolhimento e o país <strong>de</strong> orig<strong>em</strong>.Se, como diz Sérgio Tréfaut, imigrar representa uma ruptura um tanto dramática, cujoprocesso lento <strong>de</strong> cicatrização se torna necessário, até que o imigrante se sinta à vonta<strong>de</strong>no seu novo país, <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong>senvolvid<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> imigrantes <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pe -nham assim um papel importante <strong>de</strong> auxílio ao imigrante para que esse processo sejamen<strong>os</strong> dolor<strong>os</strong>o, ao ver-se representando e sentir que existe alguém que “fala” por ele.Estudi<strong>os</strong><strong>os</strong> <strong>de</strong>ste t<strong>em</strong>a concor<strong>da</strong>m que o sentimento <strong>de</strong> pertença é uma <strong>da</strong>s característicasprincipais d<strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> ou seria até mesmo sua “razão <strong>de</strong> ser” (Rigoni, 2003).Ressalva: sab<strong>em</strong><strong>os</strong> que existe s<strong>em</strong>pre o perigo <strong>de</strong> sobrestimar algo que n<strong>os</strong> parece impor -tante. É evi<strong>de</strong>nte que não se <strong>de</strong>ve sobrestimar a importância d<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicaçãoétnic<strong>os</strong>. Se esses <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penham funções relevantes para as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s que repre sen -tam, não são, no entanto, <strong>os</strong> únic<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> responsáveis pela a<strong>da</strong>ptação e/ou integraçãod<strong>os</strong> imi gran tes. Os media étnic<strong>os</strong> faz<strong>em</strong> parte <strong>da</strong>s múltiplas ferramentas do processo <strong>da</strong>dinâ mica organizacional <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes.Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (89)


RECOMENDAÇÕESNuma tentativa <strong>de</strong> contribuir para um melhor <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho e melhor aproveitamento d<strong>os</strong>media étnic<strong>os</strong>, sugerim<strong>os</strong> algumas recomen<strong>da</strong>ções que estimam<strong>os</strong> úteis:Recomen<strong>da</strong>ções <strong>de</strong> políticas públicas1) Media étnic<strong>os</strong> como suporte para uma informação mais rápi<strong>da</strong> e mais directaAdoptar as sugestões d<strong>os</strong> representantes d<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação para que <strong>os</strong> seusmedia sejam utilizad<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> organism<strong>os</strong> públic<strong>os</strong> na divulgação <strong>da</strong>s informações quediz<strong>em</strong> directamente respeito ao imigrante. Esse canal <strong>de</strong> comunicação directo com ascomuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes po<strong>de</strong>ria facilitar o acesso às informações.A opinião d<strong>os</strong> representantes d<strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong>, neste contexto, é praticamente unânime:“<strong>os</strong> órgã<strong>os</strong> públic<strong>os</strong> po<strong>de</strong>riam usar <strong>os</strong> n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> serviç<strong>os</strong> para divulgar as notícias relaciona -<strong>da</strong>s com a imigração.” Além <strong>da</strong> notícia chegar mais rápido e <strong>de</strong> uma maneira mais crível,para <strong>os</strong> imigrantes não lusófon<strong>os</strong> esta ain<strong>da</strong> estaria acessível no idioma materno d<strong>os</strong> imigrantes.Roberto Silveira, <strong>da</strong> Rádio Tropical, explica que a sua rádio é um bom canal para fazercom que as notícias chegu<strong>em</strong> mais rápido à comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira. Dra. Galin<strong>da</strong> acreditaque seria <strong>de</strong>sta maneira que <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> cumpririam uma ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira função <strong>de</strong> integração.Ana Isabel atesta que aqueles que serv<strong>em</strong> as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes conhec<strong>em</strong>melhor <strong>os</strong> imigrantes do que qualquer instituição pública e que a melhor forma<strong>de</strong> informar <strong>os</strong> imigrantes é através <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> <strong>os</strong> conhece e <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> fala a mesma língua.Segundo Ana Isabel, há dois an<strong>os</strong>, foi realiza<strong>da</strong> uma son<strong>da</strong>g<strong>em</strong> do público ouvinte do seuprograma e chegou-se à conclusão <strong>de</strong> que o seu programa era ouvido diariamente poruma média <strong>de</strong> 65 mil imigrantes russófon<strong>os</strong>. Um número bastante elevado que comprova(90) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


a importância <strong>de</strong>sses media para as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes e para que esses mei<strong>os</strong>sejam mais consi<strong>de</strong>rad<strong>os</strong> e utilizad<strong>os</strong> pelas instituições públicas.2) Apoio financeiro por parte <strong>da</strong>s Embaixa<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s respectivas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantese/ou através <strong>de</strong> organism<strong>os</strong> públic<strong>os</strong>A principal dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> para criar e manter um jornal, uma revista, ou até mesmo umarádio, é a dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> financeira. Assim sendo, muit<strong>os</strong> jornais aparec<strong>em</strong> e <strong>de</strong>saparec<strong>em</strong>,outr<strong>os</strong> não consegu<strong>em</strong> manter uma edição regular, e outr<strong>os</strong> ain<strong>da</strong> são editad<strong>os</strong> fora <strong>de</strong>Portugal por falta <strong>de</strong> verba.Certo <strong>da</strong> importância d<strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> para as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s que representam, SergeiDamien acredita na importância <strong>de</strong> prestar mais atenção nestes media e apoiá-l<strong>os</strong> <strong>de</strong> umamaneira mais efectiva. Segundo Dra. Galin<strong>da</strong>, “valeria a pena para <strong>os</strong> organism<strong>os</strong> públic<strong>os</strong><strong>de</strong> apoio à imigração apoiar financeiramente aqueles mei<strong>os</strong> que já estãoestabelecid<strong>os</strong> no país e que cumpr<strong>em</strong> uma função clara <strong>de</strong> aju<strong>da</strong> ao imigrante”.Os jornalistas d<strong>os</strong> órgã<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação romen<strong>os</strong> explicam que a quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> imigrantesromen<strong>os</strong> e mol<strong>da</strong>v<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal justifica que seja elaborado, neste país, umjornal específico para estas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s. No entanto, a falta <strong>de</strong> mei<strong>os</strong> financeir<strong>os</strong> impe<strong>de</strong>a concretização <strong>de</strong>sse sonho e, por esta razão, estes jornais são editad<strong>os</strong> noutr<strong>os</strong> países.A relevância <strong>de</strong>sses media é tal que o jornal Sabiá, por ex<strong>em</strong>plo, an<strong>da</strong> actualmente atentar promover uma festa para angariar fund<strong>os</strong> para o jornal. Como não há verba e nã<strong>os</strong>e consegu<strong>em</strong> patrocíni<strong>os</strong> com facili<strong>da</strong><strong>de</strong>, a maneira encontra<strong>da</strong> para que o jornal sejareeditado foi a <strong>de</strong> organizar um evento. A Casa do Brasil espera também criar <strong>em</strong> breveuma Rádio online, a ser exp<strong>os</strong>ta e ouvi<strong>da</strong> no site <strong>da</strong> própria associação, como meio <strong>de</strong>facilitar a comunicação com a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira e fornecer mais informações sobreesta mesma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>.Irene Lei comenta que, no início, o s<strong>em</strong>anário Sino era apenas um boletim que circulavaOs Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (91)


<strong>em</strong> formato “carta”, através <strong>de</strong> uma iniciativa do director do mesmo, Liang Zhan, e trêsoutr<strong>os</strong> amig<strong>os</strong>. Segundo Irene, <strong>os</strong> imigrantes g<strong>os</strong>taram tanto <strong>da</strong> iniciativa que alguns pas -sa ram a doar dinheiro para que o “jornal” progredisse. Tendo <strong>em</strong> conta as expectativas d<strong>os</strong>imigrantes, face à iniciativa <strong>de</strong> se ter um meio <strong>de</strong> comunicação próprio, <strong>os</strong> fun<strong>da</strong>do res doactual s<strong>em</strong>anário Sino resolveram <strong>de</strong>senvolver o boletim, o que foi p<strong>os</strong>sível através <strong>de</strong>parcerias e <strong>de</strong> anúnci<strong>os</strong> <strong>de</strong> negóci<strong>os</strong> <strong>da</strong> própria comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> chinesa.Tendo <strong>em</strong> vista as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s financeiras por parte d<strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> e as importantesfunções que estes cumpr<strong>em</strong> para as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes, um apoio financeiro porparte <strong>da</strong>s Embaixa<strong>da</strong>s serviria <strong>de</strong> suporte para que <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação étnic<strong>os</strong> pu -<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolver-se e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, esse apoio garantiria a manutenção <strong>de</strong> mei<strong>os</strong><strong>de</strong> comunicação relevantes para as diferentes comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes.Outra maneira <strong>de</strong> conseguir aju<strong>da</strong> financeira po<strong>de</strong>ria ser através <strong>de</strong> concurso público, porex<strong>em</strong>plo. Os mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação étnic<strong>os</strong> elaborariam project<strong>os</strong>, que seriam avaliad<strong>os</strong>e, no caso <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> consi<strong>de</strong>rad<strong>os</strong> relevantes, receberiam uma verba para garantir algunsfund<strong>os</strong> para o mantimento d<strong>os</strong> media. Um d<strong>os</strong> objectiv<strong>os</strong> do “Manifesto Europeu paraapoiar e sublinhar a importância d<strong>os</strong> Media <strong>de</strong> Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s Minoritárias” consistia jus -ta mente <strong>em</strong> pedir à Comissão Europeia e a<strong>os</strong> Govern<strong>os</strong> d<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> M<strong>em</strong>br<strong>os</strong> que crias -s<strong>em</strong> fund<strong>os</strong> especiais para este tipo <strong>de</strong> media.Recomen<strong>da</strong>ções para <strong>os</strong> agentes do mercado1) Apoio financeiroAvaliar a p<strong>os</strong>sibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> obter mais apoio financeiro, através <strong>de</strong> publici<strong>da</strong><strong>de</strong>, para que <strong>os</strong>veícul<strong>os</strong> d<strong>os</strong> media p<strong>os</strong>sam subsistir e cumprir as suas metas. Maneiras eficazes <strong>de</strong> di mi -nuir o receio d<strong>os</strong> anunciantes e garantir maior apoio financeiro a<strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> seriaressaltando a importância <strong>de</strong>sses media para as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes, enfati zandoo já relevante número <strong>de</strong> imigrantes <strong>em</strong> Portugal e tornando esses media mais conhecid<strong>os</strong>d<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> publicitári<strong>os</strong>.(92) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


Os anunciantes, talvez por <strong>de</strong>sinformação ou por falta <strong>de</strong> númer<strong>os</strong> estatístic<strong>os</strong> clar<strong>os</strong>, t<strong>em</strong><strong>em</strong>muitas vezes <strong>em</strong> anunciar nesses tip<strong>os</strong> <strong>de</strong> media por receio <strong>de</strong> <strong>os</strong> seus leito res/ouvintesser<strong>em</strong> <strong>em</strong> pequeno número. No entanto, a quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> relevante <strong>de</strong> imi grantes existentesactualmente <strong>em</strong> Portugal justifica que se preste uma maior atenção a este tipo <strong>de</strong> público.2) Portal d<strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> PortugalConsi<strong>de</strong>rando a importância d<strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong>, acreditam<strong>os</strong> que um portal on<strong>de</strong> estejamreagrupad<strong>os</strong> tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação d<strong>os</strong> imigrantes <strong>em</strong> Portugal po<strong>de</strong>ria contri -buir para um melhor <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho <strong>de</strong>stes mei<strong>os</strong>, por facilitar a troca <strong>de</strong> informação e atéaumentar o alcance <strong>de</strong>sses media para com as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes. Um tipo <strong>de</strong>portal s<strong>em</strong>elhante já existe no País, mas voltado para as associações <strong>de</strong> imigrantes. Defacto, o portal www.aimigrantes.org reúne online diversas associações <strong>de</strong> imigrantes, como intuito <strong>de</strong> “promover o acolhimento e integração d<strong>os</strong> imigrantes na vi<strong>da</strong> social e activae <strong>da</strong>r visibili<strong>da</strong><strong>de</strong> ao trabalho <strong>de</strong>senvolvido pelas associações <strong>de</strong> imigrantes”.O mesmo po<strong>de</strong>ria ser feito para <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong>, <strong>de</strong> maneira a <strong>da</strong>r igualmente maisvisibili<strong>da</strong><strong>de</strong> a esses media, permitindo um maior alcance <strong>de</strong>stes não apenas para <strong>os</strong> imigrantes,mas para a população como um todo, assim como para <strong>os</strong> órgã<strong>os</strong> públic<strong>os</strong>. Esteportal favoreceria uma interacção entre <strong>os</strong> diferentes responsáveis d<strong>os</strong> media, forne ceriauma maior visibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s diferentes comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s e reforçaria assim o papel jáimportante que <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação étnic<strong>os</strong> cumpr<strong>em</strong> no dia-a-dia d<strong>os</strong> imigrantes.Portais como o que aqui recomen<strong>da</strong>m<strong>os</strong> já exist<strong>em</strong>. O portal “Rio Vermelho”, por ex<strong>em</strong>plo,reúne alguns mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s brasileiras espalha<strong>da</strong>s mundofora. O portal <strong>de</strong>fine-se como “mídia para <strong>os</strong> ‘brazucas’ e estrangeir<strong>os</strong> vidrad<strong>os</strong> no Brasil”.Se gun do o que se po<strong>de</strong> ler no portal, “para aten<strong>de</strong>r à <strong>de</strong>man<strong>da</strong> <strong>de</strong> informações <strong>de</strong>2,5 milhões <strong>de</strong> brasileir<strong>os</strong> que viv<strong>em</strong> no exterior e estrangeir<strong>os</strong> ‘vidrad<strong>os</strong>’ no Brasil, hávári<strong>os</strong> jor nais, revistas e sites. O portal “Rio Vermelho” já t<strong>em</strong> link <strong>em</strong> muit<strong>os</strong> <strong>de</strong>ssessites. A mídia para <strong>os</strong> ‘brazucas’ é um “novo horizonte naComuni ca ção” 44 .44 Ver, a este respeito, o site www.portalriovermelho.com.br/sites.htmOs Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (93)


3) Media étnico como canal facilitador ao mercado <strong>de</strong> trabalhoUma boa maneira <strong>de</strong> potencializar <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> seria utilizando-<strong>os</strong> como suporte paraanúnci<strong>os</strong> <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego. Alguns <strong>de</strong>sses mei<strong>os</strong> já fornec<strong>em</strong> esse tipo <strong>de</strong> serviço, mas muit<strong>os</strong> d<strong>os</strong>anún ci<strong>os</strong> são <strong>de</strong> ofertas <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego <strong>de</strong>ntro d<strong>os</strong> negóci<strong>os</strong> <strong>da</strong> própria comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Di ver si fi -cando <strong>os</strong> anúnci<strong>os</strong>, o imigrante ficaria mais b<strong>em</strong> informado sobre a <strong>de</strong>man<strong>da</strong> do mercado, fa -cilitando o acesso ao mercado <strong>de</strong> trabalho. A<strong>de</strong>mais, essa seria também uma ma neira <strong>de</strong> pro -mover uma maior interacção entre a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> acolhimento e a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> imigrante.4) Promover concurs<strong>os</strong> para potencializar <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong>A promoção <strong>de</strong> concurs<strong>os</strong> para <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes,à luz do que já existe, no âmbito d<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação generalistas, po<strong>de</strong> favorecera potencialização d<strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong>.O ACIME, por ex<strong>em</strong>plo, já faz essa promoção com o seu concurso “Jornalismo para a Tole -rância”, voltado para trabalh<strong>os</strong> jornalístic<strong>os</strong> no âmbito <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> cultural.Acreditam<strong>os</strong> que concurs<strong>os</strong> s<strong>em</strong>elhantes, que incentiv<strong>em</strong> o jornalismo étnico, aju<strong>da</strong>rãoesses mei<strong>os</strong> a sentir<strong>em</strong>-se mais reconhecid<strong>os</strong>, além <strong>de</strong> lhes fornecer<strong>em</strong> financiamentopara a melhoria d<strong>os</strong> mesm<strong>os</strong>.Iniciativas como esta, que aqui propom<strong>os</strong>, já exist<strong>em</strong> <strong>em</strong> alguns países. N<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> Uni -d<strong>os</strong>, por ex<strong>em</strong>plo, a New Califórnia Media promove concurs<strong>os</strong> <strong>de</strong> reconhecimento do melhorjornalismo étnico impresso, <strong>em</strong> Internet, rádio e televisão, na Califórnia. Intitulado“Gran <strong>de</strong> reconhecimento para você e seu meio <strong>de</strong> comunicação”, esse concurso tenta pro -mo ver a diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> cultural no Estado <strong>da</strong> Califórnia, atra vés <strong>de</strong> incentiv<strong>os</strong> a<strong>os</strong> diferentestip<strong>os</strong> <strong>de</strong> jornalismo étnico 45 .45 Ver, a este respeito, o site: http://media.ncmonline.com/images/awards/awards_2005/2005awards_ spanish.pdf46 Ver, a este respeito, o sitehttp://www.olmcm.org/Na Holan<strong>da</strong>, o grupo Online/More Colour in the Media pro -move igualmente uma série <strong>de</strong> iniciativas no intuito <strong>de</strong> incentivaruma maior diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> cultural no âmbito do jor -na lismo na União Europeia, assim como promover oreco nhecimento d<strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> 46 .(94) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


ÚLTIMAS OBSERVAÇÕESPor fim, <strong>de</strong>vido à falta <strong>de</strong> estud<strong>os</strong> realizad<strong>os</strong> nesta área, esperam<strong>os</strong> que o n<strong>os</strong>so trabalh<strong>os</strong>eja um ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> para que outr<strong>os</strong> estud<strong>os</strong> se <strong>de</strong>senvolvam. Muito ain<strong>da</strong> resta porcom preen<strong>de</strong>r. Aqui, <strong>de</strong>ixam<strong>os</strong> algumas questões às quais não obtiv<strong>em</strong><strong>os</strong> resp<strong>os</strong>tas e quepo<strong>de</strong>rão ser resolvi<strong>da</strong>s com futur<strong>os</strong> project<strong>os</strong>.Como vim<strong>os</strong>, a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> africana é a men<strong>os</strong> representa<strong>da</strong> <strong>em</strong> term<strong>os</strong> <strong>de</strong> media étnic<strong>os</strong>.Será pelo facto <strong>da</strong> RTP p<strong>os</strong>suir um canal específico para <strong>os</strong> african<strong>os</strong>, a “RTP África”? Noentanto, se esse canal traz notícias do continente africano <strong>em</strong> geral, não entra pro pria men -te na categoria <strong>de</strong> “media étnico”, já que não é um canal <strong>de</strong>senvolvido pel<strong>os</strong> imi gran tes enão t<strong>em</strong> como função representar uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> imigrante específica.Ao dirigirmo-n<strong>os</strong> à Associação Cabo-verdiana, conversám<strong>os</strong> com o seu vice-presi<strong>de</strong>nte,que n<strong>os</strong> informou que esta lacuna (a falta <strong>de</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação étnic<strong>os</strong>, por parte<strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s africanas) <strong>de</strong>veria ser preenchi<strong>da</strong>. Segundo Mário Moreira, seria im por -tan te haver alguns mei<strong>os</strong> que divulgass<strong>em</strong> o “crioulo”, pois, além <strong>de</strong> importante para que<strong>os</strong> imigrantes cabo-verdian<strong>os</strong> não esqueçam <strong>da</strong> sua língua, ain<strong>da</strong> é uma maneira <strong>de</strong> <strong>os</strong>manter ligad<strong>os</strong> “à terra”.O probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> dinheiro também foi evocado para explicar a ausência <strong>de</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comu -ni cação <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s africanas <strong>em</strong> Portugal. Como vim<strong>os</strong>, muit<strong>os</strong> d<strong>os</strong> media étni c<strong>os</strong>são financiad<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> negóci<strong>os</strong> <strong>da</strong>s próprias comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, <strong>de</strong>vido à dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> encontraroutr<strong>os</strong> tip<strong>os</strong> <strong>de</strong> financiamento para <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação étnic<strong>os</strong>. Po<strong>de</strong>ría m<strong>os</strong>,então, in<strong>da</strong>gar se essa seria uma razão para a falta <strong>de</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação por parte<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> africana. No entanto, segundo <strong>os</strong> <strong>da</strong>d<strong>os</strong> doSEF, as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s ango la nas e cabo-verdianas, porex<strong>em</strong> plo, têm mais <strong>em</strong>presári<strong>os</strong> e pequen<strong>os</strong> patrões do queas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s do Leste 47 .A falta <strong>de</strong> media étnic<strong>os</strong> por parte <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s afri ca -47 Segundo o Relatório Estatístico do SEF<strong>de</strong> 2005, as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s angolana ecabo-verdiana contam com cerca <strong>de</strong> 1500e 1300 <strong>em</strong>presári<strong>os</strong> e pequen<strong>os</strong> patrões,respectivamente. As comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s do Lesteto<strong>da</strong>s juntas contam com cerca <strong>de</strong> 400<strong>em</strong>presári<strong>os</strong> e pequen<strong>os</strong> patrões. Ver, aeste respeito, o site do SEF: www.sef.ptOs Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (95)


nas explicar-se-ia, então, como avança Mário Moreira, <strong>de</strong> vido à falta <strong>de</strong> organização porparte <strong>de</strong>ssas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s? Outra hipótese também é p<strong>os</strong>sível: a falta <strong>de</strong>sses mei<strong>os</strong> seria<strong>de</strong>vido ao facto <strong>da</strong>s co mu ni <strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes african<strong>os</strong>, presentes <strong>em</strong> Portugal, pertencer<strong>em</strong>às antigas colónias portuguesas, pois que <strong>os</strong> primeir<strong>os</strong> imigrantes african<strong>os</strong>,aqui estabele cid<strong>os</strong>, gozavam <strong>de</strong> um regime especial por ser<strong>em</strong> ain<strong>da</strong>, na altura, con si <strong>de</strong> -ra d<strong>os</strong> portugue ses. Os flux<strong>os</strong> migra tóri<strong>os</strong> p<strong>os</strong>teriores terão sido já favorecid<strong>os</strong> pela exis -tência, <strong>em</strong> território português, <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s sociais (nomea<strong>da</strong>mente através <strong>de</strong> m<strong>em</strong>br<strong>os</strong> <strong>da</strong>família, aqui radicad<strong>os</strong>). Estas comu ni<strong>da</strong><strong>de</strong>s africanas, assim, talvez sintam uma menornecessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> informação e repre sentação, através <strong>de</strong> mei<strong>os</strong> que lhes digam exclusi va -mente respeito.Como vim<strong>os</strong>, <strong>em</strong> cert<strong>os</strong> países, como o Canadá e Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong>, <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comuni -cação d<strong>os</strong> imigrantes exist<strong>em</strong> <strong>em</strong> quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> massiva e alguns, como o canal <strong>de</strong> televisãoUnivision, chegam a fazer parte d<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> mais influentes <strong>de</strong>sses países. Esta reali<strong>da</strong><strong>de</strong>é b<strong>em</strong> diferente <strong>da</strong> portuguesa, on<strong>de</strong> <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> ain<strong>da</strong> são pouc<strong>os</strong> – se comparad<strong>os</strong>com esses países – e ain<strong>da</strong> não exerc<strong>em</strong> muita influência no mercado. Esta diferençaestará rel aciona<strong>da</strong>, por ex<strong>em</strong>plo, com a quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> imigrantes que exist<strong>em</strong> no Canadáe <strong>em</strong> Portugal? Ou a uma maior tradição imigratória por partes <strong>de</strong>sses países? Ou, ain<strong>da</strong>,terá a ver com uma maior p<strong>os</strong>sibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> financiamento encontra<strong>da</strong> nesses Estad<strong>os</strong>?Assim, a p<strong>os</strong> sibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>, nesses países, encontrar mais facilmente financiament<strong>os</strong> <strong>de</strong>ve--se à ma neira como <strong>os</strong> media étnic<strong>os</strong> são recebid<strong>os</strong> pela socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> acolhimento?Po<strong>de</strong>ríam<strong>os</strong> argumentar que um bom meio para fazer chegar as informações a<strong>os</strong> imigran -tes e às suas famílias, n<strong>os</strong> países <strong>de</strong> orig<strong>em</strong>, seria através <strong>de</strong> portais electrónic<strong>os</strong>. No en -tanto, <strong>em</strong> Portugal, o único meio electrónico elaborado pelas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantespor nós i<strong>de</strong>ntificado foi o portal <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira. Questionado sobre este assunto,Vladmir, o criador e administrador do portal, explicou que elaborar um portal leva muitot<strong>em</strong> po e dinheiro e que, assim sendo, não é fácil manter tal meio. Como tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> outr<strong>os</strong>mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação, Vladmir queixa-se <strong>de</strong> falta <strong>de</strong> apoio financeiro ou simplesmente <strong>de</strong>um suporte logístico qualquer. Por ex<strong>em</strong>plo, o ACIDI não t<strong>em</strong> o link do portal “Tupi ni quim”,como, tampouco, o administrador <strong>de</strong>ste portal recebeu resp<strong>os</strong>tas p<strong>os</strong>itivas <strong>em</strong> algumasassociações a que se dirigiu, com o intuito <strong>de</strong> propor espaço <strong>de</strong> colaboração no seu portal.(96) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


Como já referido, não existe nenhum meio televisivo elaborado pel<strong>os</strong> imigrantes, <strong>em</strong> Por -tu gal. In<strong>da</strong>gad<strong>os</strong> sobre o porquê, <strong>os</strong> dois gran<strong>de</strong>s canais televisiv<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal, a SIC ea RTP, não forneceram resp<strong>os</strong>tas concretas à n<strong>os</strong>sa pergunta. A SIC explicou que existeum programa <strong>de</strong>stinado às comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s imigrantes <strong>em</strong> Portugal chamado Etnias. Se éver<strong>da</strong><strong>de</strong> que esse programa faz a divulgação <strong>de</strong> informações úteis para <strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong> quees colheram Portugal para viver, ele, no entanto, não entra no perfil d<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comu ni -ca ção estu<strong>da</strong>d<strong>os</strong> neste trabalho, por não ser um programa elaborado por uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>imigrante es pecífica. Segundo o Assistente <strong>de</strong> Relações Públicas, Bruno C<strong>os</strong>ta, existe ap<strong>os</strong>sibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> a SIC receber prop<strong>os</strong>tas <strong>de</strong> nov<strong>os</strong> programas para <strong>os</strong> seus canais, mas,actualmente, a Direcção <strong>de</strong> Programas <strong>da</strong> SIC não está a aceitar prop<strong>os</strong>tas externas nã<strong>os</strong>olicita<strong>da</strong>s.A RTP divulga igualmente programas voltad<strong>os</strong> para <strong>os</strong> imigrantes que resi<strong>de</strong>m <strong>em</strong> Port u -gal, como o programa Nós produzido pelo ACIDI, I.P., que é <strong>em</strong>itido na RTP2. Neste caso,como no <strong>da</strong> SIC, esses programas, mesmo abor<strong>da</strong>ndo o t<strong>em</strong>a <strong>da</strong> imigração numa óptica<strong>de</strong> informação, acolhi mento e integração, não são elaborad<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> imigrantes para <strong>os</strong> imigrantes.Tanto a SIC como a RTP não respon<strong>de</strong>ram quanto ao custo <strong>de</strong> se ter um programatelevisivo n<strong>os</strong> seus canais, facto que explicaria, talvez, a falta <strong>de</strong> mei<strong>os</strong> televisiv<strong>os</strong> porparte <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes <strong>em</strong> Portugal.Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (97)


(98) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


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TANAKA, W., Home of the first ethnic paper, Phila<strong>de</strong>lphia has a world of diversity, Phila <strong>de</strong>l phia In -quirer, http://hellenicnews.com/print.html?newsid=4177&lang=USEn<strong>de</strong>reç<strong>os</strong> electrónic<strong>os</strong> importantesAlto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural (ACIDI): www.acidi.gov.ptCentro <strong>de</strong> Estud<strong>os</strong> <strong>da</strong>s Minorias (CEMIN) <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fernando Pessoa: http://www. ufp.pt/page.php?intPageObjId=10289Instituto Nacional <strong>de</strong> Estatística (INE): www.ine.ptOrganização Internacional para as Migrações (OIM): www.oim.intServiç<strong>os</strong> <strong>de</strong> Estrangeir<strong>os</strong> e Fronteiras (SEF): www.sef.pt(104) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


ANEXO IGLOSSÁRIO DE TERMOS TÉCNICOSPor or<strong>de</strong>m alfabéticaComuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> migrantes: segundo a Organização Internacional para as Migrações(OIM), enten<strong>de</strong>-se por “comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> migrantes” as populações estabeleci<strong>da</strong>s no exterior (igualmente <strong>de</strong>signa<strong>da</strong>s <strong>de</strong> diásporas) e <strong>os</strong> migrantes t<strong>em</strong>porári<strong>os</strong>. A palavra“comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>” r<strong>em</strong>ete a uma dimensão colectiva, mas não pressupõe necessariamenteuma i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> homogénea <strong>de</strong>sta comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>.Emigração: “acto ou efeito <strong>de</strong> <strong>em</strong>igrar; acção <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar o país <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> para se fixar noutro,por motiv<strong>os</strong> <strong>de</strong> natureza económica, política, religi<strong>os</strong>a, ou outr<strong>os</strong>; saí<strong>da</strong> espontânea<strong>de</strong> um país (<strong>de</strong>finitiva ou não)”.Emigrante: “que ou qu<strong>em</strong> <strong>em</strong>igra; que <strong>de</strong>ixa o seu país para se estabelecer e residir noutro,por motiv<strong>os</strong> económic<strong>os</strong>, polític<strong>os</strong>, religi<strong>os</strong><strong>os</strong>, ou outr<strong>os</strong>; pessoa que <strong>de</strong>ixa o seupaís para se estabelecer noutro, geralmente <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> trabalho ou <strong>de</strong> melhores con -dições <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>”.Emigrar: do Latim <strong>em</strong>igrare, “<strong>em</strong>igrar” significa “<strong>de</strong>ixar o seu país para ir viver no estrangeiro;sair do seu país para ir viver noutro por certo t<strong>em</strong>po ou <strong>de</strong>finitivamente”.Fluxo migratório: do Latim fluxus, um “fluxo” é “um movimento contínuo <strong>de</strong> algo quesegue um curso”; já “migratório” é “relativo a migração; que realiza migração”. Por extensão,um “fluxo migratório” é <strong>de</strong>finido por “massa <strong>de</strong> pessoas ou coisas <strong>em</strong> <strong>de</strong>s lo -cação, <strong>em</strong> movimento”.Imigração: “acto ou efeito <strong>de</strong> imigrar; entra<strong>da</strong> <strong>de</strong> indivíduo ou grupo <strong>de</strong> indivíduo estrangeir<strong>os</strong><strong>em</strong> <strong>de</strong>terminado país, para trabalhar e/ou para fixar residência, permanen te -mente ou não”.Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (105)


Imigrante: “o que imigra ou que ou qu<strong>em</strong> se estabeleceu <strong>em</strong> país estrangeiro”.Imigrar: do Latim immigrare, “imigrar” significa, no seu sentido etimológico, “passar, pe -ne trar, entrar”. Num sentindo mais amplo, “imigrar” é o mesmo que “entrar num países tranho, para nele se estabelecer”.Informação: “acção ou resultado <strong>de</strong> informar ou informar-se”; “toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> consciência<strong>de</strong> um facto ignorado”; “aumentar <strong>os</strong> conheciment<strong>os</strong>, <strong>da</strong>ndo esclareciment<strong>os</strong>, informações”.Informar: do Latim informare,”informar” significa “<strong>da</strong>r forma a; <strong>da</strong>r conhecimento a; porao corrente; <strong>da</strong>r instrução a; <strong>da</strong>r força a; corroborar; apoiar”.Integração: “acção ou resultado <strong>de</strong> integrar ou <strong>de</strong> se integrar”, ou ain<strong>da</strong> “o processo <strong>de</strong>in cluir ou <strong>de</strong> se incluir num todo, <strong>de</strong> fazer parte ou <strong>de</strong> se incorporar”. A Sociologia <strong>de</strong> -fi ne a palavra “integração” como a “participação <strong>de</strong> um grupo social minoritário no fun -cionamento <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> que se encontra inserido, mantendo, no entanto, as suascaracterísticas culturais”.Integrar: do Latim integrare, “integrar” <strong>de</strong>fine-se por “tornar ou tornar-se parte <strong>de</strong> umtodo, <strong>de</strong> um grupo, <strong>de</strong> um conjunto já existente”.Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação étnic<strong>os</strong>: são <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong>senvolvid<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> imigrantespara <strong>os</strong> imigrantes. Igualmente chamad<strong>os</strong> neste estudo <strong>de</strong> “media étnic<strong>os</strong>” ouain<strong>da</strong> <strong>de</strong> “mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imigrantes”.Migração: “acto ou efeito <strong>de</strong> migrar; <strong>de</strong>slocação <strong>de</strong> populações <strong>de</strong> um país para outro”;“mo vimento <strong>de</strong> entra<strong>da</strong> (imigração) ou saí<strong>da</strong> (<strong>em</strong>igração) <strong>de</strong> indivíduo ou grupo <strong>de</strong> indivídu<strong>os</strong>,geralmente <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> melhores condições <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> (essa movimentaçãopo<strong>de</strong> ser entre países diferentes ou <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um mesmo país)”.Migrante: “que mu<strong>da</strong> <strong>de</strong> país; pessoa que mu<strong>da</strong> <strong>de</strong> um país para outro, para aí se es ta -belecer. Os migrantes divi<strong>de</strong>m-se <strong>em</strong> duas categorias: <strong>em</strong>igrantes e imigrantes”.(106) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


Migrar: do Latim migrare, “migrar” significa “mu<strong>da</strong>r periodicamente <strong>de</strong> lugar, região, país,etc.; <strong>de</strong>slocar-se, uma população, <strong>de</strong> uma região para outra ou <strong>de</strong> um país para outro,ge ralmente <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> trabalho”.Minoria étnica: a palavra “minoria”, do Latim minor, <strong>de</strong>fine-se por “ a parte men<strong>os</strong> nu -mer<strong>os</strong>a num conjunto <strong>de</strong> pessoas ou <strong>de</strong> coisas”; “étnico” é o “que se refere a um grupohu mano com uni<strong>da</strong><strong>de</strong> linguística e cultural, ou ain<strong>da</strong>, um grupo caracterizado por cul -tura específica, o <strong>de</strong>signativo <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> população”. Por analogia, a antropologiaenten<strong>de</strong> por “minoria étnica” um “subgrupo existente <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> que seconsi<strong>de</strong>ra e/ou é consi<strong>de</strong>rado diferente do grupo maior e/ou dominante, <strong>em</strong> razão <strong>de</strong>características étnicas, religi<strong>os</strong>as, ou <strong>de</strong> língua, c<strong>os</strong>tumes, nacionali<strong>da</strong><strong>de</strong>, etc., e que,por essa razão, não t<strong>em</strong> <strong>os</strong> mesm<strong>os</strong> direit<strong>os</strong> e/ou as mesmas oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s que ogrupo maioritário, ou é alvo <strong>de</strong> discriminação ou preconceito”.Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (107)


ANEXO IIDIFERENTES MEDIA DAS PRINCIPAIS COMUNIDADESDE IMIGRANTES EM PORTUGALComuni<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira– Sabiá: revista mensal– Brasileirinho: revista mensal– Brasil: revista mensal– Site “Tupiniquim”: site <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira <strong>em</strong> Portugal (www.tupiniquim.org)– Real: revista mensal edita<strong>da</strong> <strong>em</strong> Londres– Rádio TropicalComuni<strong>da</strong><strong>de</strong> romena– Actualitatea Romaneasca: s<strong>em</strong>anário editado na Roménia– Diáspora: jornal romeno editado <strong>em</strong> LondresComuni<strong>da</strong><strong>de</strong> russa– Maiak Portugalii: s<strong>em</strong>anário– Slovo: s<strong>em</strong>anário– Rádio Nova Antena: Programa diário Tchas Ob Vc<strong>em</strong>– Vr<strong>em</strong>echko: s<strong>em</strong>anário– Imigrante: s<strong>em</strong>anárioComuni<strong>da</strong><strong>de</strong> ucraniana– Boletim <strong>da</strong> Associação d<strong>os</strong> Ucranian<strong>os</strong> <strong>em</strong> PortugalComuni<strong>da</strong><strong>de</strong> chinesa– Sino: s<strong>em</strong>anário– Rádio: programa Janela <strong>da</strong> ChinaComuni<strong>da</strong><strong>de</strong> angolana– Angola Magazine: jornal mensal(108) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


ANEXO IIIDOCUMENTÁRIO FOTOGRÁFICO DOS MEDIA ÉTNICOSCOMUNIDADE BRASILEIRAJornal SABIÁRevista BRASILRevista O BRASILEIRINHOOs Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (109)


Revista REALRádio TROPICAL (95.3 FM)COMUNIDADE RUSSAS<strong>em</strong>anário SLOVO(110) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


S<strong>em</strong>anário VREMECHKOJornal MAIAK PORTUGALIIOs Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (111)


COMUNIDADE ANGOLANAANGOLA MAGAZINECOMUNIDADE ROMENAJornal DIASPORA ROMANEASCA(112) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


Jornal ACTUALITATEA ROMANEASCACOMUNIDADE CHINESAJornal SINOOs Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (113)


ANEXO IVGUIÃO PARA LEVANTAMENTO DE VEÍCULO DE COMUNICAÇÃO1 – IDENTIFICAÇÃONome do meio <strong>de</strong> comunicação: _____________________________________________Director/Editor: ___________________________________________________________2 – PERFILEscrito: ■ Jornal ■ Revista ■ Boletim ■ Circular ■ Site InternetFalado: ■ Rádio ■ Telefone ■ TelevisãoPeriodici<strong>da</strong><strong>de</strong>: ■ Diário ■ S<strong>em</strong>anal ■ Quinzenal ■ MensalTirag<strong>em</strong> impressa: _________ ; Publico ouvinte: __________ ; Espectadores: _________Tipo <strong>de</strong> público visado: ___________________________Data <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>ção: _____________________Forma <strong>de</strong> financiamento: ■ Assinatura ■ Ven<strong>da</strong> avulsa■ Anúncio ■ PatrocínioFontes <strong>de</strong> informação: __________________________________________________Edição: ■ própria■ contrata<strong>da</strong>(114) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


Distribuição: ■ própria ■ contrata<strong>da</strong>Observação:__________________________Serviç<strong>os</strong> prestad<strong>os</strong>/linha editorial: ■ comunicado ■ <strong>em</strong>prego ■ legislação■ notícias sobre Portugal ■ notícias sobre o país <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> ■ <strong>de</strong>sporto■ outr<strong>os</strong>, quais: _______________________________________________________Quant<strong>os</strong> trabalham na reportag<strong>em</strong>: ________ ; na produção: _______ ;na distribuição: _______; na parte comercial: ______Trabalho: ■ r<strong>em</strong>unerado ■ voluntário ■ parceria3 – ENTREVISTAPrimeiro Bloco: Verificar o público atingido (público-alvo) pelo veículo: hom<strong>em</strong>, mulher,jov<strong>em</strong>, adulto: _____________________________________________________________Segundo Bloco: Verificar as tendências, <strong>os</strong> tip<strong>os</strong> <strong>de</strong> informações prop<strong>os</strong>tas, <strong>os</strong>objectiv<strong>os</strong>, o porquê <strong>da</strong> criação <strong>de</strong> um jornal étnico: ______________________________Terceiro Bloco: Verificar a aceitação pela circulação, cartas à re<strong>da</strong>cção, citação na impren -sa, o alcance d<strong>os</strong> objectiv<strong>os</strong>, as principais dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s, número <strong>de</strong> leitores _______________________________________________________________________________________4 – COMENTÁRIOS E SUGESTÕES/RECOMENDAÇÕES DO ENTREVISTADOOs Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (115)


ANEXO VFICHAS TÉCNICAS DOS DIFERENTES MEDIA ETNICOS EM PORTUGAL:Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> angolana(116) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileiraOs Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (117)


(118) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (119)


Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> romena(120) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> russaOs Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (121)


(122) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> chinesaOs Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (123)


ANEXO VIGUIÃO PARA ENTREVISTA A MEMBROS DE COMUNIDADES DE IMIGRANTESSOBRE OS MEDIA ÉTNICOS(Observação: Por “media étnic<strong>os</strong>” enten<strong>de</strong>-se <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação (jornais, revistas, TV,progra mas <strong>de</strong> rádio, sites Internet) <strong>de</strong>senvolvid<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> imigrantes para <strong>os</strong> imigrantes1 – Está familiarizado com <strong>os</strong> “mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação” <strong>da</strong> sua comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>?■ Sim■ Não2 – Se respon<strong>de</strong>u “Sim”, por favor, indique quais <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> que conhece:____________________________________________________________________________________________________________________________________________________3 – Por que motivo(s) lê esses jornais/revistas:____________________________________________________________________________________________________________________________________________________4 – Sente-se representado através <strong>de</strong>sses mei<strong>os</strong>? Se “Sim”, porquê?■ Sim ■ Não ■ Em partePorquê? __________________________________________________________________(124) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


5 – Na sua opinião, acha que esses mei<strong>os</strong> cumpr<strong>em</strong> alguma função <strong>de</strong> interacção entre<strong>os</strong> imigrantes?■ Concordo ■ Discordo ■ Concordo <strong>em</strong> partePorquê? ___________________________________________________________________6 – Concor<strong>da</strong> com a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação d<strong>os</strong> imigrantes po<strong>de</strong>mcontribuir para uma maior integração d<strong>os</strong> imigrantes <strong>em</strong> Portugal?■ Concordo ■ Discordo ■ Concordo <strong>em</strong> partePorquê? ___________________________________________________________________7 – Acredita na importância <strong>de</strong>sses jornais/revistas para <strong>os</strong> imigrantes?■ Sim ■ Não ■ Em partePorquê? _____________________________________________________________________________________________________________________________________________8 – T<strong>em</strong> alguma sugestão/recomen<strong>da</strong>ção a <strong>da</strong>r sobre este assunto?______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (125)


(126) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal


Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal (127)


www.oi.acidi.gov.pt(128) Os Mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> Comunicação Étnic<strong>os</strong> <strong>em</strong> Portugal

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