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Carta Aberta ao Ministro da Fazenda - Banco Central do Brasil

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Gráfico 2 - Evolução <strong>da</strong> taxa de câmbio (R$/US$)4,00003,80003,60003,40003,20003,00002,80002,60002,40002,20002,000001/10/200115/10/200129/10/200112/11/200126/11/200110/12/200124/12/200107/1/200221/1/200204/2/200218/2/200204/3/200218/3/200201/4/200215/4/200229/4/200213/5/200227/5/200210/6/200224/6/200208/7/200222/7/200205/8/200219/8/200202/9/200216/9/200230/9/200214/10/200228/10/200211/11/200225/11/200209/12/200223/12/200212. Destaca-se que a depreciação cambial observa<strong>da</strong> pode ser caracteriza<strong>da</strong> como umamu<strong>da</strong>nça de preços relativos, em oposição a um processo de espiral câmbio-inflação. Adepreciação <strong>do</strong> câmbio nominal, <strong>da</strong> ordem de 44%, foi significativamente superior à inflaçãomedi<strong>da</strong> pelo IPCA, 12,5%, resultan<strong>do</strong> em depreciação <strong>da</strong> taxa de câmbio real (veja Gráfico 3).Outra forma de verificar a mu<strong>da</strong>nça de preços relativos é comparar a evolução <strong>da</strong> inflação <strong>do</strong>sitens comercializáveis <strong>do</strong> IPCA, que representam 39% <strong>do</strong> índice e sofrem impacto mais direto <strong>da</strong>variação cambial, com a inflação <strong>do</strong>s itens não comercializáveis, cuja participação no IPCA é de33%. Em 2002, a inflação <strong>do</strong>s itens comercializáveis alcançou 14,9%, ante inflação de 7,4%registra<strong>da</strong> pelos itens não comercializáveis. A contraparti<strong>da</strong> dessa mu<strong>da</strong>nça de preços relativosfoi o forte ajuste observa<strong>do</strong> na balança comercial, necessário em face <strong>da</strong> redução <strong>do</strong>s fluxos decapitais <strong>ao</strong> longo de 2002.


contribuíram com 1,85 ponto percentual para a inflação, uma vez deduzi<strong>do</strong> o efeito <strong>do</strong> repassecambial e <strong>da</strong> inércia <strong>da</strong> inflação em 2001.16. Em função <strong>da</strong> crise de confiança na economia brasileira, as expectativas deinflação excederam à meta e contribuíram com 1,65 p.p. para a inflação de 2002. 2 A partir demea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> ano, as expectativas superaram o limite superior <strong>do</strong> intervalo de tolerância e, desdesetembro, observou-se forte deterioração, tanto para 2002 quanto para 2003, como estáevidencia<strong>do</strong> no Gráfico 5.Gráfico 5 - Expectativas de Inflação <strong>do</strong> Merca<strong>do</strong>14,0012,0010,008,006,0020024,0020032,000,0002/01/200216/01/200230/01/200213/02/200227/02/200213/03/200227/03/200210/04/200224/04/200208/05/200222/05/200205/06/200219/06/200203/07/200217/07/200231/07/200214/08/200228/08/200211/09/200225/09/200209/10/200223/10/200206/11/200220/11/200204/12/200218/12/200201/01/200317. A inércia inflacionária her<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>do</strong> ano de 2001 contribuiu com 0,9 pontopercentual para o IPCA de 2002. A inflação <strong>do</strong>s preços livres excluin<strong>do</strong> o repasse cambial, ainércia her<strong>da</strong><strong>da</strong> de 2001 e o impacto <strong>da</strong>s expectativas de inflação acima <strong>da</strong> meta respondeu com2,3 pontos percentuais para o IPCA de 2002.18. De mo<strong>do</strong> a avaliar-se a importância <strong>da</strong> depreciação cambial, <strong>da</strong> deterioração <strong>da</strong>sexpectativas de inflação e <strong>do</strong> reajuste <strong>do</strong>s preços administra<strong>do</strong>s por contrato e monitora<strong>do</strong>s sobrea inflação em 2002, foram realiza<strong>da</strong>s simulações para estimar qual teria si<strong>do</strong> seu valor caso: (i)não tivesse ocorri<strong>do</strong> depreciação cambial; (ii) a inflação <strong>do</strong>s preços administra<strong>do</strong>s por contrato emonitora<strong>do</strong>s tivesse apresenta<strong>do</strong> a mesma evolução <strong>do</strong>s preços livres; e (iii) as expectativas paraa inflação tivessem permaneci<strong>do</strong> no centro <strong>da</strong> meta.de dezembro de 2002 de 4,19%), gasolina (4,41%), telefone fixo (3,04%), ônibus urbano (4,58%), plano de saúde(2,49%), água e esgoto (1,61%) e gás de bujão (1,68%).2 O cálculo leva em conta somente a parte <strong>da</strong>s expectativas de inflação que excedeu a meta.


19. Assim, caso a taxa de câmbio tivesse permaneci<strong>do</strong> no patamar de R$2,55,observa<strong>do</strong> no quarto trimestre de 2001, ou seja, admitin<strong>do</strong>-se depreciação zero e manten<strong>do</strong> ainflação <strong>do</strong>s administra<strong>do</strong>s nos 15,3% ocorri<strong>do</strong>s, a inflação medi<strong>da</strong> pelo IPCA teria si<strong>do</strong> de8,9%, 3,6 p.p. abaixo <strong>do</strong> valor ocorri<strong>do</strong>. Se, além <strong>da</strong> ausência de depreciação cambial, a inflação<strong>do</strong>s preços administra<strong>do</strong>s por contrato e monitora<strong>do</strong>s tivesse si<strong>do</strong> igual à <strong>do</strong>s preços livres, avariação <strong>do</strong> IPCA em 2002 teria si<strong>do</strong> de 5,98%. Se, além de neutraliza<strong>do</strong>s os efeitos <strong>do</strong> câmbio e<strong>do</strong>s preços administra<strong>do</strong>s por contrato e monitora<strong>do</strong>s, as expectativas de merca<strong>do</strong> para a inflaçãotivessem permaneci<strong>do</strong> no centro <strong>da</strong> meta, a inflação em 2002 medi<strong>da</strong> pelo IPCA alcançaria4,3%, valor confortavelmente dentro <strong>do</strong> intervalo de tolerância e 8,2 p.p. abaixo <strong>da</strong> inflaçãoocorri<strong>da</strong>.Tabela 1 - Inflação em 2002(%)Inflação ocorri<strong>da</strong> (IPCA) 12,53excluin<strong>do</strong> o repasse cambial 8,92excluin<strong>do</strong> preços administra<strong>do</strong>s 5,98excluin<strong>do</strong> impacto expectativas 4,30Atuação <strong>do</strong> <strong>Banco</strong> <strong>Central</strong> em 200220. Ao longo de 2002, as decisões de política monetária foram basea<strong>da</strong>s nacomparação entre as projeções de inflação e a meta ajusta<strong>da</strong>.21. Nas reuniões de fevereiro e de março <strong>do</strong> Copom, diante de uma conjunturaeconômica favorável, caracteriza<strong>da</strong> pela estabili<strong>da</strong>de <strong>do</strong> câmbio em patamar em torno de R$2,40e pela projeção <strong>da</strong> inflação para 2002 em linha com a meta ajusta<strong>da</strong>, o Copom promoveu duasreduções, de 0,25 p.p. ca<strong>da</strong>, na meta para a taxa Selic, que passou a 18,5% a.a. a partir de março.Nova redução <strong>da</strong> meta para a taxa Selic ocorreu em julho, quan<strong>do</strong> passou a 18% a.a. Naquel<strong>ao</strong>casião, a projeção <strong>da</strong> inflação para 2002 estava um pouco acima <strong>da</strong> meta ajusta<strong>da</strong>, mas ain<strong>da</strong>dentro <strong>do</strong> intervalo de tolerância estabeleci<strong>do</strong> pelo CMN. Contu<strong>do</strong>, devi<strong>do</strong> às defasagensexistentes no mecanismo de transmissão <strong>da</strong> política monetária, era necessário calibrar a políticamonetária visan<strong>do</strong> também a inflação em 2003, cujas projeções encontravam-se, então,significativamente abaixo <strong>da</strong> meta. Outro fator relevante quan<strong>do</strong> <strong>da</strong> decisão <strong>do</strong> Copom foi arevisão <strong>da</strong> meta para 2003, de 3,25% para 4,0%, defini<strong>da</strong> pelo CMN em junho.22. Em agosto e setembro, o Copom decidiu manter a meta para a taxa Selic em 18%a.a., uma vez que as projeções para a inflação de 2003 estavam em linha com a meta ajusta<strong>da</strong>. Ocenário básico delinea<strong>do</strong> no Relatório de Inflação de setembro tinha como hipóteses taxa decâmbio em R$3,20, valor vigente às vésperas <strong>da</strong> reunião, e mediana <strong>da</strong>s expectativas para ainflação de 2003 em 5,20%. Com essas hipóteses, projetava-se inflação de 4,5% para 2003. Ocenário <strong>do</strong>méstico, entretanto, deteriorou-se substancialmente a partir <strong>do</strong>s últimos dias desetembro, com a taxa de câmbio atingin<strong>do</strong> R$3,90 <strong>ao</strong> final <strong>do</strong> mês. A permanência <strong>do</strong> câmbio emníveis deprecia<strong>do</strong>s e a publicação de indica<strong>do</strong>res preliminares de índices de preços projetan<strong>do</strong>aumento <strong>da</strong> inflação em outubro contaminaram as expectativas de inflação para 2003. Entre 16de setembro e 11 de outubro, a mediana <strong>da</strong>s expectativas para 2003 coleta<strong>da</strong>s pela Gerin elevou-


se de 5,20% para 5,85%. As projeções de inflação <strong>do</strong> Copom também aumentaram naqueleperío<strong>do</strong>, levan<strong>do</strong> o Comitê a realizar reunião extr<strong>ao</strong>rdinária, na qual se decidiu pelo aumento <strong>da</strong>meta para a taxa Selic em 300 p.b., situan<strong>do</strong>-a em 21% a.a.23. Nas reuniões de novembro e de dezembro, ten<strong>do</strong> por base o aumento <strong>da</strong>sprojeções e a forte deterioração <strong>da</strong>s expectativas de merca<strong>do</strong> para a inflação de 2003, quepassaram de 5,2% em setembro para quase 11% em dezembro, o Copom decidiu elevarnovamente a taxa de juros, inicialmente em 100 p.b. e, posteriormente, em mais 300 p.b., com ameta para a taxa Selic encerran<strong>do</strong> o ano em 25% a.a. Caso a meta para a taxa Selic não tivessesi<strong>do</strong> altera<strong>da</strong>, a taxa de juros real ex-ante teria caí<strong>do</strong>, o que facilitaria a propagação <strong>do</strong>s choquesde oferta e permitiria que aparecessem seus efeitos secundários na inflação. Deve-se destacarque, mesmo ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> observa<strong>do</strong>s reajustes positivos para a maioria <strong>do</strong>s itens que compõem oIPCA, a inflação observa<strong>da</strong> no último trimestre de 2002 pode ser mais bem caracteriza<strong>da</strong> comouma mu<strong>da</strong>nça de preços relativos entre bens comercializáveis e não comercializáveis. Dessaforma, a elevação <strong>da</strong> taxa de juros teve por objetivo inibir os reajustes de preços, contribuir paraa coordenação <strong>da</strong>s expectativas, impedir que a deterioração <strong>da</strong>s expectativas de inflação se autorealizassee evitar a propagação <strong>do</strong>s choques de oferta, inibin<strong>do</strong> o aumento generaliza<strong>do</strong> <strong>do</strong>spreços. Ressalta-se que os aumentos <strong>da</strong> meta para a taxa de juros no último trimestre de 2002tiveram como principal objetivo fazer com que as projeções para a inflação de 2003 retornassema uma trajetória compatível com as metas para a inflação. A Tabela 2 apresenta a meta para ataxa Selic defini<strong>da</strong> em ca<strong>da</strong> reunião <strong>do</strong> Copom <strong>ao</strong> longo de 2002.Tabela 2: Decisões <strong>do</strong> Copom em 2002REUNIÃOPERÍODO DE VIGÊNCIAMETA DATAXA SELICNº DATA DE A67ª 23.01.2002 24.01.2002 a 20.02.2002 1968ª 20.02.2002 21.02.2002 a 20.03.2002 18,7569ª 20.03.2002 21.03.2002 a 17.04.2002 18,570ª 17.04.2002 18.04.2002 a 22.05.2002 18,571ª 22.05.2002 23.05.2002 a 19.06.2002 18,572ª 19.06.2002 20.06.2002 a 17.07.2002 18,573ª 17.07.2002 18.07.2002 a 21.08.2002 1874ª 21.08.2002 22.08.2002 a 18.09.2002 1875ª 18.09.2002 19.09.2002 a 14.10.2002 1876ª (extr<strong>ao</strong>rdinária) 14.10.2002 15.10.2002 a 23.10.2002 2177ª 23.10.2002 24.10.2002 a 20.11.2002 2178ª 20.11.2002 21.11.2002 a 18.12.2002 2279ª 18.12.2002 19.12.2002 a 22.01.2003 2524. Ao avaliar a condução <strong>da</strong> política monetária em 2002, devem ser leva<strong>do</strong>s emconsideração três fatores importantes. Em primeiro lugar, a trajetória <strong>da</strong> taxa de câmbio, <strong>do</strong>spreços administra<strong>do</strong>s por contrato e monitora<strong>do</strong>s e <strong>da</strong>s expectativas de inflação ocorri<strong>da</strong> em 2002foi bastante diferente <strong>da</strong>quela prevista no início <strong>do</strong> ano. O Relatório de Inflação de dezembro de2001 apresentava a expectativa de que a taxa de câmbio se estabilizaria em um patamar deR$2,36 em 2002, (ante média de R$2,93 efetivamente verifica<strong>da</strong> em 2002), e projetava-seinflação <strong>do</strong>s preços administra<strong>do</strong>s por contrato e monitora<strong>do</strong>s em 5,3%, ante 15,3% efetivamenteocorri<strong>do</strong>s. Com base nessas hipóteses, apresentava previsão para inflação de 3,7% em 2002.Naquela ocasião, as informações coleta<strong>da</strong>s pela Gerin em 31 de dezembro de 2001, indicavam


que a mediana <strong>da</strong>s expectativas <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> para a inflação de 2002 era de 4,8%, e o dólarencerraria o ano em R$2,60.25. Em segun<strong>do</strong> lugar, e relaciona<strong>do</strong> com o exposto acima, o choque ocorri<strong>do</strong> noquarto trimestre foi muito maior <strong>do</strong> que o espera<strong>do</strong>. No final de setembro, tanto o <strong>Banco</strong> <strong>Central</strong>como o merca<strong>do</strong> antecipavam inflação <strong>da</strong> ordem de 1,3% para aquele trimestre, cerca de 5,3 p.p.abaixo <strong>do</strong> efetivamente ocorri<strong>do</strong>.26. Em terceiro lugar, a atuação <strong>da</strong> política monetária foi capaz de controlar asexpectativas de inflação na maior parte <strong>do</strong> ano. O Gráfico 6 mostra, desde 2000, as expectativasde inflação 12 meses à frente e a respectiva meta de inflação, calcula<strong>da</strong> como média pondera<strong>da</strong><strong>da</strong>s metas pré-estabeleci<strong>da</strong>s para o final de ca<strong>da</strong> ano calendário. Como se vê, somente no últimotrimestre de 2002, com o agravamento <strong>da</strong> crise de confiança, a mediana <strong>da</strong>s expectativas <strong>do</strong>merca<strong>do</strong> ficou acima <strong>do</strong> intervalo de tolerância. Essa deterioração <strong>da</strong>s expectativas ensejou osaumentos <strong>da</strong> taxa de juros no último trimestre <strong>do</strong> ano, que permitirão que as expectativasretornem para níveis compatíveis com a meta para a inflação.Gráfico 6: Expectativas de Inflação e Meta de Inflação 12 Meses à Frente 2000:01-2002:12(%a.a.)12,010,08,0% p.a.6,04,02,00,0jan/00mar/00mai/00jul/00set/00nov/00jan/01mar/01mai/01jul/01set/01nov/01jan/02mar/02mai/02jul/02set/02nov/02Meta <strong>Central</strong> Limite Superior Limite Inferior Expectativa de Inflação27. O <strong>Banco</strong> <strong>Central</strong> calibra a política monetária com base na avaliação <strong>da</strong> tendênciafutura <strong>da</strong> inflação. Para tanto, utiliza as melhores informações disponíveis, tanto quantitativas,processa<strong>da</strong>s através de modelos estruturais, simulações e outras medi<strong>da</strong>s estatísticas, quantoqualitativas e desagrega<strong>da</strong>s, que exigem uma avaliação mais subjetiva. Quan<strong>do</strong> as projeçõesindicam que a inflação está se distancian<strong>do</strong> acima <strong>da</strong> meta, o Copom avalia as causas <strong>do</strong>aumento <strong>da</strong>s projeções para definir a trajetória de convergência <strong>da</strong> inflação para a meta préestabeleci<strong>da</strong>,levan<strong>do</strong> em conta o custo <strong>do</strong> ajuste, em termos de produto e ren<strong>da</strong>, associa<strong>do</strong> àexistência <strong>da</strong> inércia inflacionária. Ou seja, o <strong>Banco</strong> <strong>Central</strong> não segue uma política de atingir a


meta para a inflação a qualquer custo; o <strong>Banco</strong> <strong>Central</strong> leva em consideração a natureza epersistência <strong>do</strong>s choques e os custos associa<strong>do</strong>s sobre o nível de ativi<strong>da</strong>de.28. Para tanto, o Copom trabalha com o conceito de meta ajusta<strong>da</strong>, onde, à metapreeestabeleci<strong>da</strong> pelo CMN, adicionam-se a inércia <strong>da</strong> inflação her<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>do</strong> ano anterior a seracomo<strong>da</strong><strong>da</strong> naquele ano e o efeito primário <strong>do</strong> choque <strong>do</strong>s preços administra<strong>do</strong>s por contrato emonitora<strong>do</strong>s. Ao perseguir a meta ajusta<strong>da</strong>, a política monetária segue a recomen<strong>da</strong>ção teórica ea prática de outros bancos centrais. Diante de choques de oferta, como a recente crise deconfiança e o aumento <strong>do</strong>s preços administra<strong>do</strong>s por contrato e monitora<strong>do</strong>s acima <strong>da</strong> inflação<strong>do</strong>s demais preços <strong>da</strong> economia, a política monetária deve ser guia<strong>da</strong> de mo<strong>do</strong> a acomo<strong>da</strong>r oimpacto direto <strong>do</strong>s choques sobre o nível de preços, mas combater seus efeitos secundários.Além disso, os impactos <strong>da</strong> inflação <strong>do</strong> ano anterior, via inércia, não devem necessariamente sercombati<strong>do</strong>s em um único ano calendário. Também basea<strong>do</strong> na melhor prática internacional eten<strong>do</strong> em vista a inflação ocorri<strong>da</strong> em 2001, o Copom entendeu que os efeitos inerciais deveriamser neutraliza<strong>do</strong>s em um prazo mais longo <strong>do</strong> que um ano.Providências e Prazos para a Convergência <strong>da</strong> Inflação para as Metas29. O objetivo <strong>da</strong> política monetária em 2003 é perseguir uma trajetória deconvergência para as metas defini<strong>da</strong>s anteriormente pelo Conselho Monetário Nacional erecentemente reafirma<strong>da</strong>s pelos ministros <strong>da</strong> área econômica (4% em 2003 e 3,75% em 2004,com tolerância de +/- 2,5 p.p.), levan<strong>do</strong>-se em conta que essa convergência não se <strong>da</strong>ráinstantaneamente. Nesse senti<strong>do</strong>, a política monetária é calibra<strong>da</strong> de forma a conduzir a inflaçãopara níveis compatíveis com as metas no médio prazo e evitar que a inflação se acomode numpatamar mais eleva<strong>do</strong>.30. Portanto, é prática comum entre os <strong>Banco</strong>s Centrais, quan<strong>do</strong> confronta<strong>do</strong>s comchoques de oferta de grande magnitude, diluir a convergência <strong>da</strong> inflação corrente às metas emum perío<strong>do</strong> mais longo, evitan<strong>do</strong>, assim, custos desnecessários para a economia. Tal foi o casoenfrenta<strong>do</strong> pelo <strong>Brasil</strong> no ano passa<strong>do</strong>.31. A trajetória de convergência é defini<strong>da</strong> com base nas metas ajusta<strong>da</strong>s para ospróximos anos, que consistem na soma de três componentes: i) a meta para a inflaçãopreestabeleci<strong>da</strong> pelo CMN; ii) os impactos inerciais <strong>da</strong> inflação <strong>do</strong> ano anterior; e iii) o efeitoprimário <strong>do</strong>s choques de preços administra<strong>do</strong>s por contrato e monitora<strong>do</strong>s. O efeito primáriocorresponde à parte <strong>da</strong> inflação <strong>do</strong>s administra<strong>do</strong>s por contrato e monitora<strong>do</strong>s que excede a meta,desconta<strong>da</strong> <strong>do</strong>s efeitos <strong>do</strong> câmbio e <strong>da</strong> inércia inflacionária. 3 A meta ajusta<strong>da</strong> poderá ser altera<strong>da</strong>,à medi<strong>da</strong> que ocorram novas estimativas para o efeito primário <strong>do</strong> choque <strong>do</strong>s preçosadministra<strong>do</strong>s por contrato e monitora<strong>do</strong>s. 432. A meta ajusta<strong>da</strong> para a inflação de 2003 é de 8,5%. O cálculo pressupõe que ainflação <strong>do</strong>s preços administra<strong>do</strong>s seja de 14% e que um terço <strong>da</strong> inércia seja combati<strong>do</strong> nesteano. Ao longo de 2002, o <strong>Banco</strong> <strong>Central</strong> buscou neutralizar metade <strong>da</strong> inércia her<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>do</strong> anoanterior. Entretanto, como a inflação de 2002 ficou 9,0 p.p. acima <strong>da</strong> meta, com a maiorcontribuição ocorren<strong>do</strong> no último trimestre <strong>do</strong> ano, o impacto estima<strong>do</strong> sobre a inflação de 20033 A meto<strong>do</strong>logia <strong>do</strong> cálculo <strong>da</strong> meta ajusta<strong>da</strong> foi apresenta<strong>da</strong> no Relatório de Inflação de junho de 2002 e na NotaTécnica <strong>do</strong> <strong>Banco</strong> <strong>Central</strong> nº 22.4 A estimativa <strong>do</strong>s efeitos inerciais <strong>da</strong> inflação de 2002 independe de novos cenários, uma vez que a inflação de2002 já ocorreu.


é de 4,2 p.p., valor eleva<strong>do</strong> e que justifica um combate mais gradual. Para 2004, a meta ajusta<strong>da</strong>de inflação é de 5,5%, utilizan<strong>do</strong> como hipóteses a inflação <strong>do</strong>s preços administra<strong>do</strong>s de 7,6%.Ten<strong>do</strong> em vista a magnitude <strong>do</strong> impacto inercial <strong>da</strong> inflação de 2002 e o efeito primário <strong>do</strong>choque <strong>do</strong>s preços administra<strong>do</strong>s por contrato e monitora<strong>do</strong>s, a meta ajusta<strong>da</strong> fica acima <strong>do</strong>limite superior de tolerância <strong>da</strong> meta pré-estabeleci<strong>da</strong> pelo CMN. A Tabela 3 mostra acomposição <strong>da</strong> meta ajusta<strong>da</strong> para a inflação de 2003 e 2004.Tabela 3 : Meta Ajusta<strong>da</strong> para a Inflação de 2003 e 2004Linha Item 2003 2004(a) Meta para a Inflação Decidi<strong>da</strong> pelo C.M.N. 4,0 3,75(b) Choque <strong>do</strong>s Preços Administra<strong>do</strong>s e Monitora<strong>do</strong>s 1 1,7 1,1(c) Inércia a Ser Combati<strong>da</strong> nos Anos Seguintes 2 2,8 0,6Inércia Her<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>do</strong> Ano Anterior (total) 4,2 1,0Sobre os Preços Administra<strong>do</strong>s 1,4 0,4Sobre os Preços Livres 2,8 0,6(d) Meta Ajusta<strong>da</strong> (= (a) + (b) + (c)) 8,5 5,5Obs: 1) Para o cálculo <strong>do</strong> choque retira-se o efeito <strong>da</strong> inércia e <strong>do</strong> câmbio sobre a inflação <strong>do</strong>s administra<strong>do</strong>se monitora<strong>do</strong>s.2) A inércia a ser combati<strong>da</strong> nos anos seguinte equivale a 2/3 <strong>da</strong> inércia her<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>do</strong> ano anterior.33. A decisão de perseguir uma trajetória de inflação com base nestas metas ajusta<strong>da</strong>sleva em conta que a política monetária será capaz de fazer com que a inflação convirja para ointervalo de tolerância <strong>da</strong> meta em <strong>do</strong>is anos. Outras trajetórias com que<strong>da</strong>s de inflação maisacentua<strong>da</strong>s implicam per<strong>da</strong>s expressivas <strong>do</strong> crescimento <strong>do</strong> produto. Simulações basea<strong>da</strong>s emum conjunto de hipóteses indicam que uma trajetória de convergência <strong>da</strong> inflação que alcançasseem 2003 o limite superior <strong>do</strong> intervalo de tolerância <strong>da</strong> meta, 6,5%, resultaria em uma que<strong>da</strong> <strong>do</strong>PIB de 1,6% (veja Tabela 4). Mais ain<strong>da</strong>, uma trajetória que alcance o centro <strong>da</strong> meta de 2003,4%, implicaria uma contração <strong>do</strong> PIB ain<strong>da</strong> maior, de 7,3%.Tabela 4 - Trajetória de convergência e crescimento <strong>do</strong> PIB em 2003Crescimento <strong>do</strong> PIBInflação em 2003em 20038,5% 2,8%6,5% -1,6%4,0% -7,3%34. Além <strong>do</strong> efeito sobre o produto, outras trajetórias de convergência de inflaçãopoderiam requerer um esforço desproporcional no primeiro ano, o que resultaria em umainflação em 2004 substancialmente inferior à meta estabeleci<strong>da</strong> para aquele ano.35. O Gráfico 7 mostra a inflação acumula<strong>da</strong> em 12 meses para uma trajetóriacompatível com as metas ajusta<strong>da</strong>s. Como pode ser visto, para se atingir as metas ajusta<strong>da</strong>s, a


inflação acumula<strong>da</strong> em 12 meses deverá permanecer em torno de 14% até o terceiro trimestre de2003. Esse patamar eleva<strong>do</strong> se justificaria, em primeiro lugar, porque a inflação anormalmenteeleva<strong>da</strong> ocorri<strong>da</strong> no último trimestre de 2002 estaria incorpora<strong>da</strong> <strong>ao</strong> cálculo <strong>da</strong> inflaçãoacumula<strong>da</strong>. Além disso, nos primeiros meses de 2003, a inflação <strong>do</strong>s preços livres deverá sofreros efeitos inerciais <strong>da</strong> inflação <strong>do</strong> ano anterior. Por fim, os reajustes <strong>da</strong>s tarifas de energiaelétrica e de serviços telefônicos, que se concentram em junho e julho, devem incorporar adepreciação cambial e a eleva<strong>da</strong> inflação medi<strong>da</strong> pelos IGPs durante o segun<strong>do</strong> semestre de2002. Com a dissipação desses efeitos e à medi<strong>da</strong> que sejam retira<strong>da</strong>s <strong>do</strong> cálculo as inflaçõeseleva<strong>da</strong>s de novembro e dezembro de 2002, a inflação acumula<strong>da</strong> em 12 meses deverá cairrapi<strong>da</strong>mente no último trimestre de 2003. A partir de 2004, a inflação deverá continuar em que<strong>da</strong>até atingir 5,5% em dezembro. A inflação menor em 2004 <strong>do</strong> que em 2003 deverá serconseqüência <strong>da</strong> melhoria <strong>da</strong>s expectativas, <strong>da</strong> inércia mais baixa her<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>do</strong> ano anterior e <strong>da</strong>hipótese de ausência de depreciação cambial, que reduz a pressão sobre os preços livres e sobreos preços administra<strong>do</strong>s por contrato e monitora<strong>do</strong>s.Gráfico 7 : Inflação Acumula<strong>da</strong> em 12 Meses <strong>do</strong> IPCA16%1412108642Dez:8,5%Dez:5,5%0MarJunSetDezMarJunSetDezMarJunSetDez2002 2003 200436. O Gráfico 8 mostra a inflação acumula<strong>da</strong> <strong>do</strong>ze meses à frente 5 consistentes com amesma trajetória apresenta<strong>da</strong> no Gráfico 7. Como pode ser visto, a inflação <strong>do</strong>s preços livresacumula<strong>da</strong> 12 meses à frente situa-se dentro <strong>do</strong> intervalo de tolerância já no início de 2003 eaproxima-se <strong>da</strong> meta central no segun<strong>do</strong> semestre de 2004. Já o IPCA total converge para ointervalo de tolerância a partir <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> semestre de 2003 e, em de dezembro de 2004,apresenta valores anualiza<strong>do</strong>s em torno de 4,8%.5 Os valores <strong>do</strong> gráfico referentes à inflação de 12 meses à frente em 2004 foram obti<strong>do</strong>s anualizan<strong>do</strong> os resulta<strong>do</strong>sacumula<strong>do</strong>s até o final <strong>do</strong> ano.


Gráfico 8 : Inflação Livre e IPCA Acumula<strong>do</strong>s 12 Meses à Frente16.00 %14.0012.0010.008.006.004.002.000.00janeiro-02fevereiro-02março-02abril-02maio-02junho-02julho-02agosto-02setembro-02outubro-02novembro-02dezembro-02janeiro-03fevereiro-03março-03abril-03maio-03junho-03julho-03agosto-03setembro-03outubro-03novembro-03dezembro-03janeiro-04fevereiro-04março-04abril-04maio-04junho-04julho-04agosto-04setembro-04outubro-04novembro-04dezembro-04IPCA acumula<strong>do</strong> Livre acumula<strong>do</strong> Meta para Inflação Limite superior <strong>da</strong> meta Limite inferior <strong>da</strong> Meta37. Deve-se enfatizar que as projeções de inflação <strong>do</strong> <strong>Banco</strong> <strong>Central</strong> podem nãocoincidir, necessariamente, com a meta ajusta<strong>da</strong>. Essas projeções dependem de hipóteses eavaliações que podem se modificar <strong>ao</strong> longo <strong>do</strong> tempo. O <strong>Banco</strong> <strong>Central</strong> irá calibrar a políticamonetária para que a inflação projeta<strong>da</strong> convirja para a meta ajusta<strong>da</strong>.38. Em suma, o regime macroeconômico de metas para inflação, câmbio flutuante eresponsabili<strong>da</strong>de fiscal tem demonstra<strong>do</strong> ser capaz de absorver fortes choques sobre a economia.A eleva<strong>da</strong> depreciação cambial, a evolução <strong>do</strong>s preços administra<strong>do</strong>s por contrato e monitora<strong>do</strong>se a deterioração <strong>da</strong>s expectativas fizeram com que a inflação de 2002 atingisse 12,5% (<strong>do</strong>s quais,mais <strong>da</strong> metade ocorreu no último trimestre), valor bastante acima <strong>do</strong> intervalo superior <strong>da</strong> meta.A política monetária nos próximos <strong>do</strong>is anos será calibra<strong>da</strong> para que a inflação convirja para asmetas ajusta<strong>da</strong>s, de 8,5% em 2003 e de 5,5% em 2004. Dessa forma, o <strong>Banco</strong> <strong>Central</strong> perseguiráuma trajetória de inflação que leve a uma redução importante <strong>da</strong> inflação neste ano e atinja ointervalo de tolerância <strong>da</strong> meta em 2004.Respeitosamente,Henrique de Campos MeirellesPresidente

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