12.07.2015 Views

Filosofia do esporte, ética e Educação Física, fair play - Atlas do ...

Filosofia do esporte, ética e Educação Física, fair play - Atlas do ...

Filosofia do esporte, ética e Educação Física, fair play - Atlas do ...

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>Filosofia</strong> <strong>do</strong> <strong>esporte</strong>, <strong>ética</strong> e <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong>, <strong>fair</strong> <strong>play</strong>ANDRÉ CODEA, HERON BERESFORD, LAMARTINE DACOSTA E ALBERTO REPPOLDPhilosophy of sport, ethics and physical education, <strong>fair</strong> <strong>play</strong>Sports philosophy refers internationally to the conceptual analysisand to the questioning of sports practices and areas related tothem (games, physical exercises, dance, physical education,biosciences, etc), examining major themes on ethics, epistemology,metaphysics, theory of values and aesthetics, involving the use ofthe body as either physical or institutional activity. Sports philosophynot only deals with insights of various fields of philosophy, butabove all it generates comprehensive interpretations of sports inthemselves (ICSSPE, Vade Mecum, 2000). For the appreciation ofthis branch of knowledge and reflection in its development in Brazil,this chapter initially describes the tradition of ethics associatedwith the practice of physical exercises, which arrived with Jesuitpriests in 1549. This influence lasted for 200 years in the nationaleducational system. At the end of the 18 th century, physicaleducation, still rudimentary in Brazil, started to be understood asbelonging to the hygienist medical area, but it kept its traditionlinked to morals values, tendency that survived until the end of the19th century. The very first book on physical education and sportsrelated to philosophy was published in Brazil in 1941. The conceptspresented in that work were close to the ones used andinternationally followed today. Few and occasional Brazilianinitiatives in sports philosophy began to appear in the 1940s. Thissituation was only altered in the late 1990s, when the academicproduction in this area became varied and regular. The sportsphilosophy themes that prevailed in Brazil between the 1940 and2000 were: ethics in physical education and meaning of sports inAncient Greece (1940s); philosophical principles of sports (1970s);epistemology (1980s); body culture, aesthetics, principles, moraldevelopment, ethics, <strong>fair</strong> <strong>play</strong> and values (1990s); and ethics,epistemology and philosophy of science (2000s). In 2003, the IISeminário de Ética em <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong> (2nd Seminar on Ethics inPhysical Education) took place in Foz de Iguaçu-PR, southern Brazil,with more than 100 participants and 21 papers presented.Definições e origens A filosofia <strong>do</strong> <strong>esporte</strong> refere-se à analiseconceptual e à interrogação das práticas esportivas e áreas a elasrelacionadas (jogos, exercícios físicos, dança, <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong>,biociências etc), examinan<strong>do</strong>-se temas substantivos de <strong>ética</strong>,epistemologia, metafísica, axiologia e est<strong>ética</strong>, envolven<strong>do</strong> o uso<strong>do</strong> corpo como atividade humana ou institucional. A filosofia <strong>do</strong><strong>esporte</strong> não somente lida com insights de vários campos da filosofia,mas sobretu<strong>do</strong> gera interpretações compreensivas <strong>do</strong> <strong>esporte</strong> emsi mesmo. Do ponto de vista de méto<strong>do</strong> de investigação, a filosofia<strong>do</strong> <strong>esporte</strong> é aparentada com a história como também se orientapor argumentação, interrogação e diálogo de mo<strong>do</strong> sistemático,quer por meio de análise – ou crítica -, ou síntese, isto é, de formaespeculativa. A questão mais geral encontrada neste ramo dafilosofia, concerne à natureza e aos propósitos <strong>do</strong> <strong>esporte</strong> e áreascongêneres (McNamee, 2004; ICSSPE Vade Mecum, 2000). Asraízes da filosofia <strong>do</strong> <strong>esporte</strong> se confundem com a própria origemda filosofia desde que Platão em sua obra seminal “A República”identificou a ginástica e a música (as artes em geral) como basesda educação. No Brasil, como nos demais países de culturaocidental, o ponto de partida para estu<strong>do</strong>s filosóficos envolven<strong>do</strong>atividades físicas apoiou-se na Antiga Grécia e na <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong>,sen<strong>do</strong> Inezil Penna Marinho (RJ) o pioneiro neste ramo deconhecimento em livro de 1941. Embora, a filosofia da <strong>Educação</strong><strong>Física</strong> e <strong>do</strong> <strong>esporte</strong> tenha ti<strong>do</strong> no Brasil poucas adesões entreacadêmicos, houve tendências <strong>do</strong>minantes desde Penna Marinho asaber: <strong>ética</strong> na <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong> e senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>esporte</strong> na GréciaAntiga (década de 1940); fundamentos filosóficos <strong>do</strong> <strong>esporte</strong>(década de 1970); filosofia da <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong> stricto sensu eepistemologia (década de 1980); cultura corporal, est<strong>ética</strong>,fundamentos, desenvolvimento moral, <strong>ética</strong> - incluín<strong>do</strong> <strong>fair</strong> <strong>play</strong> -e valores (década de 1990); e <strong>ética</strong> e epistemologia (década de2000). Hoje, é plausível considerar o tema da <strong>ética</strong> como o fiocondutor da filosofia <strong>do</strong> <strong>esporte</strong> no Brasil. A <strong>ética</strong>, por sua vez,pode ser definida como a ciência da moral. É justamente através dealgum princípio ético (como o princípio ético <strong>do</strong> dever, de Kant) quese pode avaliar se o agir ou o comportamento de algum indivíduoou de um determina<strong>do</strong> grupo social deve ser considera<strong>do</strong> comomoral. A Moral é aquilo que uma determinada sociedade aceitacomo sen<strong>do</strong> certo, ou justo, num determina<strong>do</strong> espaço de tempo,acerca da conduta ou <strong>do</strong> comportamento social de seus integrantes.Esta expressão possui termos correlatos. O Fair Play — que nãopossui tradução exata para o português, sen<strong>do</strong> comumente referi<strong>do</strong>como “jogo limpo” (também são usadas as expressões correto,honesto, legal) ou “espírito esportivo” — corresponde a um preceitonormativo genérico de bom comportamento individual e coletivo, erespeito às regras das competições esportivas. No Brasil a primeirareferência sobre a Ética e a Moral associadas à prática de exercíciosfísicos surgiu com a chegada <strong>do</strong>s Jesuítas, em 1549. Comoreferencial básico, a Ratio Atque Instituto Studiorum, que em 1599sofreu alterações passan<strong>do</strong> a chamar-se Ratio Atque InstitutoStudiorum Societatis Jesu, foi o pressuposto basilar da educaçãojesuíta, cuja existência perdurou aproximadamente por 200 anos.A moral da Ratio consistia na idéia da construção de um Homembom a partir da harmonização de três postula<strong>do</strong>s básicos: anatureza, o hábito e a razão, que por sua vez contemplavam trêsmomentos da educação moral: a educação física, a educação <strong>do</strong>caráter e a educação intelectual. No caso da educação física, estaera executada à tarde, após os outros momentos, com a finalidadede liberar a tensão gerada por tal educação.1787 Publicação <strong>do</strong> “Trata<strong>do</strong> de <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong> e Moral <strong>do</strong>sMeninos de ambos os sexos traduzi<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Francês em linguagemPortuguesa pelo Bacharel Luiz Carlos Moniz Barreto” que, emborauma publicação portuguesa, foi divulga<strong>do</strong> no Brasil por sua situaçãocolonial. Possuía cinco de seus sete capítulos dedica<strong>do</strong>s à <strong>Educação</strong><strong>Física</strong> e moral <strong>do</strong>s meninos, <strong>do</strong> nascimento aos 20 anos. A partirdeste marco, houve várias obras similares de produção portuguesae brasileira crian<strong>do</strong> uma <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong> rudimentar e calcada emnexos de comportamento moral e de preceitos higienistas (ver“Positivismo na <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong> e Esporte” neste <strong>Atlas</strong>), quesobreviveu até o final <strong>do</strong> século XIX.1790 Publicação <strong>do</strong> “Trata<strong>do</strong> da <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong> <strong>do</strong>s Meninospara uso da Nação Portuguesa publica<strong>do</strong> por ordem da AcademiaRural das Ciências de Lisboa”, pelo Dr. Francisco de Melo Franco,brasileiro e agrega<strong>do</strong> à Universidade de Coimbra, em Portugal. Damesma forma que a publicação de 1787, o estu<strong>do</strong> chegou ao Brasil,e continha <strong>do</strong>ze capítulos, sen<strong>do</strong> o capítulo X dedica<strong>do</strong> ao exercício,e os capítulos VI e VII dedica<strong>do</strong>s à educação moral. Estava criada atradição e no ano seguinte, também em Portugal, publicou-se“Trata<strong>do</strong> de <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong> <strong>do</strong>s Meninos para uso da NaçãoPortuguesa por ordem da Academia Real das Ciências por FranciscoJosé de Almeida”Século XIX Em 1819, surge em Portugal e no Brasil uma novapublicação <strong>do</strong> Dr. Francisco de Melo Franco, “Elementos de Higieneou Ditames Teoréticos e Práticos para conservar a saúde e prolongara vida”, que apesar de ser um trabalho sobre higiene, possuía umcapítulo dedica<strong>do</strong> à influência <strong>do</strong> físico sobre o moral, e outro,dedica<strong>do</strong> à influência <strong>do</strong> moral sobre o físico. Em 1829, imprimeseno Brasil, na cidade de Recife-PE “Trata<strong>do</strong> de <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong>– Moral <strong>do</strong>s Meninos”, de autoria de Joaquim Jeronymo Serpa,dentro da tradição da educação moral e <strong>do</strong>s exercícios higienistas.Esta obra é possivelmente a primeira produção em <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong>impressa no Brasil (ver capítulo “Editoras de livros de <strong>esporte</strong>,<strong>Educação</strong> <strong>Física</strong> e lazer” neste <strong>Atlas</strong>). De qualquer mo<strong>do</strong>, a tradiçãoda postura moral em exercícios físicos estendeu-se no país aoâmbito da medicina ten<strong>do</strong> lugar a várias teses de médicos embusca de títulos <strong>do</strong>utorais sobre este tema. Em conjunto estasobras demarcam um perío<strong>do</strong> volta<strong>do</strong> para o aperfeiçoamento moral,contu<strong>do</strong> mais <strong>do</strong>utrinário <strong>do</strong> que filosófico, em face a que seapoiavam em nexos positivistas e de ordem jesuíta.Década de 1940 Após um perío<strong>do</strong> de pouco avanço na área,desde o início <strong>do</strong> século, são retomadas as publicações acerca <strong>do</strong>tema da <strong>ética</strong> na tradição primeva da <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong> brasileira,por iniciativa de Inezil Penna Marinho, então professor da antigaEscola Nacional de <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong> e Desportos-ENEFD, situadana cidade <strong>do</strong> Rio de Janeiro (hoje Escola de Educaçao <strong>Física</strong> daUFRJ). A obra de destaque desta fase foi o primeiro código de<strong>ética</strong> relaciona<strong>do</strong> à <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong>: “Obrigação <strong>do</strong>s professoresde educação física nos estabelecimentos de ensino secundário”,publicada em 1941. No ano seguinte publicou-se “A influência da<strong>Educação</strong> <strong>Física</strong> na formação e correção <strong>do</strong> caráter”, concilian<strong>do</strong>Penna Marinho – também forma<strong>do</strong> em Direito além de <strong>Educação</strong><strong>Física</strong> - com a tradição. Mas o mesmo autor inaugurou o debatefilosófico de <strong>esporte</strong> em 1945, ao publicar “Os clássicos e a educaçãofísica”, em que revivia o momento grego antigo buscan<strong>do</strong>-lhe osfundamentos da prática.Décadas de 1970 Este perío<strong>do</strong> foi em princípio fundacionistacomo se verifica pelo exame <strong>do</strong> livro “Fundamentos Filosóficos da<strong>Educação</strong> <strong>Física</strong>”, de Mauro S. Teixeira, de São Paulo-SP. Contu<strong>do</strong>,o impacto da obra foi mínimo por carência de interlocutores. MasInezil Penna Marinho ainda permanecia liga<strong>do</strong> aos temasfilosóficos, voltan<strong>do</strong>-se também para o fundacionismo como sepode verificar com a publicação em 1971 de “He<strong>do</strong>nismo (A<strong>Filosofia</strong> <strong>do</strong> Prazer) – De Platão e Aristóteles e Freud e Marcuse– Os Desportos como Fonte de Prazer”. No exterior, em 1972, foifundada a Philosophic Society for the Study of Sport-PSSS, quehoje se denomina International Association for the Philosophy ofSport-IAPS, e que desde 1974 serve de base ao Journal ofPhilosophy of Sport (ver site Human Kinetics) e promove umencontro annual (IAPS Annual Meetings).Década de 1980 Em 1983, publicação <strong>do</strong> Código de Ética <strong>do</strong>Educa<strong>do</strong>r Físico-Desportivo-Recreativo, por Jacinto Targa (1983),com base referenciada pelo autor como produção da AcademiaOlímpica Internacional, Grécia, emitida em Antiga Olímpia, no anode 1975. Além <strong>do</strong> apelo à tradição, Inezil Penna Marinho consolidaexplicitamente a área com a obra “Introdução ao estu<strong>do</strong> da filosofiada educação física e <strong>do</strong>s desportos” (Editora Horizonte, Brasília,1984). Esta década foi também marcada pela influência de ManuelSérgio, português, forma<strong>do</strong> em filosofia em seu país, que se fixouno Brasil, atuan<strong>do</strong> como professor na Escola de <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong> daUniversidade de Campinas-UNICAMP. Em sua nova função ManuelSérgio, levantou o debate da epistemologia a qual seria em suaopinião o horizonte de interrogação da <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong>, inclusivemodifican<strong>do</strong> seu status ao considerá-la ‘Ciência da MotricidadeHumana’ (Manuel Sérgio, 1988, p.18). Manuel Sérgio teve intensaparticipação acadêmica no Brasil – incluin<strong>do</strong> publicações várias – eestenden<strong>do</strong> o debate até o início da década seguinte, o que afinalfavoreceu o crescimento de atenções sobre as temáticas filosóficasdas atividades físicas. Em 1989, a Secretaria de <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong> eDesportos <strong>do</strong> Ministério de <strong>Educação</strong>-SEED, órgão <strong>do</strong> MEC, publica“Valores Humanos, Corpo e Prevenção”, livro coletivo no tema <strong>do</strong>sexercícios físicos para a saúde com a participação de seis autoresmédicos e <strong>do</strong>is <strong>do</strong>utores em filosofia: Lamartine DaCosta (RJ) eSilvino Santin (RS). Os autores de especialização filosóficadefiniram na introdução e em suas contribuições ao livro, asinterrogações da atividade física em geral dentro da molduraaxiológica humana, reforçan<strong>do</strong> assim indiretamente o papel dafilosofia <strong>do</strong> <strong>esporte</strong> como disciplina de fundamentos para as demaisrelacionadas às atividades físicas no ambiente acadêmico brasileiro.Década de 1990 Neste perío<strong>do</strong> a filosofia <strong>do</strong> <strong>esporte</strong> produzidano Brasil alcança finalmente regularidade e delimitação deabordagens, sain<strong>do</strong> <strong>do</strong> casuísmo e oscilações, em que pese oreduzi<strong>do</strong> número de especialistas e protagonistas diversos. Os temas<strong>do</strong>minantes da época foram cultura corporal, est<strong>ética</strong>, fundamentos,desenvolvimento moral, <strong>ética</strong>, <strong>fair</strong> <strong>play</strong> e valores. O destaque <strong>do</strong>perío<strong>do</strong> foi Silvino Santin da Universidade Federal de Santa Maria-UFSM, da cidade <strong>do</strong> mesmo nome no RS. Santin fez seu <strong>do</strong>utora<strong>do</strong>em filosofia na Universidade de Paris IV, Sorbonne (1971-1974), evoltan<strong>do</strong> ao Brasil, escreveu oito livros nos temas da corporeidade,<strong>ética</strong>, est<strong>ética</strong>, filosofia da ciência e axiologia abordan<strong>do</strong> questõesda <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong> e lazer, ao longo da década de 1990 e emboranão fosse forma<strong>do</strong> em <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong>. Além desta produção, Santinfez-se presente como convida<strong>do</strong> em diversos congressos e outrosDACOSTA, LAMARTINE (ORG.). A TLAS DO ESPORTE NO BRASIL. RIO DE JANEIRO: CONFEF, 2006 18. 89


eventos acadêmicos de <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong>, constituin<strong>do</strong> um efetivovetor da popularização da filosofia <strong>do</strong> <strong>esporte</strong> no Brasil, sem queusasse tal expressão mas a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong> posturas bem próximas asdefinições atuais <strong>do</strong> Vade Mecum-2000 <strong>do</strong> International Council ofSport Sciences and Physical Education-ICSSPE, expostas no início<strong>do</strong> presente capítulo. Em mea<strong>do</strong>s da década Santin transferiu-separa o mestra<strong>do</strong> em <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong> da UFRGS, onde se aposentoumas deu continuidade ao seu envolvimento com a filosofia <strong>do</strong><strong>esporte</strong>. Nesta mea<strong>do</strong>s da década, Antônio Roberto Rocha Santos(PE) recebe o título de Doutor em Ciências <strong>do</strong> Desporto pelaUniversidade <strong>do</strong> Porto, Portugal, defenden<strong>do</strong> tese sobre o <strong>fair</strong> <strong>play</strong>e a <strong>ética</strong> no <strong>esporte</strong>.1993 - 1994 Publicação <strong>do</strong> artigo ‘Avaliação <strong>do</strong> desenvolvimentomoral de a<strong>do</strong>lescentes em relação a dilemas morais da vida diáriae da prática esportiva’, por José Luis Lopes Vieira (Revista da<strong>Educação</strong> <strong>Física</strong> da Universidade Estadual de Maringá, v. 4, n. 1, p.34, 1993). Este trabalho sinalizou o aparecimento de pesquisas em<strong>ética</strong> nos <strong>esporte</strong>s por estudantes de mestra<strong>do</strong> e <strong>do</strong>utora<strong>do</strong>, bemcom por professores da graduação em suas contribuições paracongressos, descentralizan<strong>do</strong> o saber ainda concentra<strong>do</strong> em poucosexpoentes. No ano seguinte, Eduar<strong>do</strong> Montenegro, na UniversidadeGama Filho <strong>do</strong> RJ, defendeu sua dissertação de mestra<strong>do</strong> relativaa uma pesquisa de campo sob a denominação “<strong>Educação</strong> <strong>Física</strong> e odesenvolvimento moral <strong>do</strong> indivíduo numa perspectivaKohlberguiana”. Também em 1994, Maria da Graça Lisboa e RosaneMaria Batista Pereira, professoras da graduação em <strong>Educação</strong><strong>Física</strong> da Universidade Estadual <strong>do</strong> Rio de Janeiro-UERJ, publicamo livro “<strong>Filosofia</strong> da <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong>” (Edições EST, Porto Alegre),reforçan<strong>do</strong> assim a área de fundamentos das atividades físicas.1994 Lançamento <strong>do</strong> livro ‘A <strong>ética</strong> e a moral social através <strong>do</strong><strong>esporte</strong>’, de Heron Beresford, pela Editora Sprint (RJ), querepresentou um passo à frente na literatura sobre o tema no Brasilpois era produto não só <strong>do</strong> fazer acadêmico, como em Santin, mastambém representava uma linha de pesquisa em operação regulare de formação de outros pesquisa<strong>do</strong>res, em duas universidades <strong>do</strong>RJ – UERJ (graduação) e Universidade Castelo Branco-UCB(mestra<strong>do</strong>). Beresford era e permanece professor de <strong>Educação</strong><strong>Física</strong> com <strong>do</strong>utoramento em filosofia.1996 Retomada <strong>do</strong> debate epistemológico da <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong> pormeio de um número especial da revista ‘Motus Corporis’ da UGF,Programa de Pós Graduação Stricto Sensu em <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong>, reunin<strong>do</strong>os <strong>do</strong>utores Go Tani (USP), Mauro Betti (UNESP) e Hugo Lovisolo(UGF). Nesta fase, a preocupação situou-se mais em questionamentos<strong>do</strong> estatuto da <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong> como ciência autônoma, em oposiçãoaos posicionamentos de Manuel Sérgio. A conseqüência principaldesta disputa acadêmica foi a da criação de linhas de pesquisa emepistemologia da <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong> na Universidade Estadual de SP-UNESP, em Piracicaba-SP, e na UGF, no RJ.1997 Lançamento <strong>do</strong> texto de Pedro Ângelo Pagani, ‘A prescrição<strong>do</strong>s exercícios físicos e <strong>do</strong> Esporte no Brasil (1850-1920): cuida<strong>do</strong>scom o corpo, <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong> e formação moral’ (In Ferreira Neto,Amarílio (org). Pesquisa histórica em <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong> 2. Vitória,Ed. da UFES, 1997). Esta contribuição constituiu uma revisãohistórica da moral <strong>do</strong> <strong>esporte</strong> no Brasil, crian<strong>do</strong> bases para asinterpretações que se sucederam, incluin<strong>do</strong> este capítulo. Nesteano realizou-se a primeira edição <strong>do</strong> Fórum Olímpico no RJ,promovi<strong>do</strong> pela UGF com 40 participantes e 13 trabalhosapresenta<strong>do</strong>s (coordenação de Lamartine DaCosta). Este evento –originalmente lidera<strong>do</strong> pela Academia Olímpica Brasileira–AOB,órgão <strong>do</strong> COB - desde então tem incluí<strong>do</strong> trabalhos sobre <strong>ética</strong> e<strong>fair</strong> <strong>play</strong>, tornan<strong>do</strong>-se um <strong>do</strong>s sustentáculos da filosofia <strong>do</strong> <strong>esporte</strong>no país. Neste ano, Hugo Lovisolo, <strong>do</strong>utor em Antropologia Social,da UGF, publica pela Editora Sprint <strong>do</strong> RJ, ‘Est<strong>ética</strong>, Esporte eeducação <strong>Física</strong>’, amplian<strong>do</strong> a compreensão da filosofia <strong>do</strong> <strong>esporte</strong>por uma de suas principais vertentes de estu<strong>do</strong>.Guiraldell1999 Defesa de Dissertação de Mestra<strong>do</strong> ‘Fair Play, que FairPlay?! Doutrina, ou exercício da moral?’, por Fernan<strong>do</strong> Antônio <strong>do</strong>sSantos Portela, pelo Programa de Pós-Graduação em <strong>Educação</strong><strong>Física</strong> da Universidade Gama Filho, sen<strong>do</strong> orienta<strong>do</strong>r o Prof. Dr.Lamartine DaCosta. A este estu<strong>do</strong> se sucedeu o Grupo de Pesquisassobre Estu<strong>do</strong>s Olímpicos, no modelo CAPES-CNPq, o qual passoua incluir de mo<strong>do</strong> regular estu<strong>do</strong>s éticos e de <strong>fair</strong> <strong>play</strong>. O Grupo dePesquisas da UGF em temas olímpicos incorporou a experiência devínculos com a Academia Olímpica Internacional, na Grécia, ondeLamartine DaCosta atuava desde 1992 como conferencista eorienta<strong>do</strong>r de alunos de pós graduação (ver capítulo ‘Estu<strong>do</strong>sOlímpicos’ neste <strong>Atlas</strong>). Neste particular, a filosofia <strong>do</strong> <strong>esporte</strong> emversão brasileira ganhou mais um ponto de apoio, traduzi<strong>do</strong> porintercâmbio com o exterior.2000 Neste ano, Alberto Reppold (RS) defende sua tese de<strong>do</strong>utora<strong>do</strong> na Universidade de Leeds, Inglaterra, na área de filosofia<strong>do</strong> <strong>esporte</strong> e em abordagem epistemológica, sob denominação de“In Search of academic identity: physical education, sport scienceand the field of human movement studies”. Reppold era egresso daAcademia Olímpica Internacional, Grécia, e como tal por meio deintercâmbio foi admiti<strong>do</strong> em Leeds e ten<strong>do</strong> como orienta<strong>do</strong>r um<strong>do</strong>s nomes de destaque internacional em <strong>ética</strong> <strong>do</strong> <strong>esporte</strong>, JimParry (ver ‘Fontes’ abaixo). Neste ano, realiza-se o I Seminário deÉtica Profissional no RJ, na UCB, promovi<strong>do</strong> pelo Conselho Federalde <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong>-CONFEF (cria<strong>do</strong> em 1998 pela Lei 9696) que apartir daí passou a protagonizar o desenvolvimento da <strong>ética</strong> <strong>do</strong><strong>esporte</strong> no país. Durante o evento, três <strong>do</strong>utores especializa<strong>do</strong>s em<strong>ética</strong> e também forma<strong>do</strong>s em <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong> – Lamartine DaCosta(UGF), Antônio Roberto Rocha Santos (UFPE) e Heron Beresford(UCB) – produziram a primeira versão <strong>do</strong> código de <strong>ética</strong>profissional em <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong> a ser a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> pelo CONFEF.2000 Publicação <strong>do</strong> Código de Ética da <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong> peloConselho Federal de <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong>-CONFEF, por meio daResolução n° 25/2000.2001 Realização <strong>do</strong> XII Congresso Brasileiro de Ciências <strong>do</strong> Esporte,com o tema Sociedade, Ciência e Ética: Desafios para a <strong>Educação</strong><strong>Física</strong>, realiza<strong>do</strong> em Caxambú-MG, em outubro deste ano (vercapitulo correspondente ao CBCE neste <strong>Atlas</strong>).2002 Realização <strong>do</strong> Fórum Olímpico 2002, com vários temasdedica<strong>do</strong>s ao <strong>esporte</strong> olímpico, e em especial o tema <strong>Filosofia</strong> eOlimpismo, Ética Profissional, Violência, Doping e Fair Play nosEsportes, realiza<strong>do</strong> no Rio de Janeiro-RJ, em julho deste ano. Esteevento gerou seis livros, à época edita<strong>do</strong>s em CD-ROM.2003 Realização em Foz <strong>do</strong> Iguaçu-PR (janeiro), <strong>do</strong> II Semináriode Ética Profissional em <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong>, com cerca de cemparticipantes e 21 contribuições apresentadas.Situação Atual A filosofia <strong>do</strong> <strong>esporte</strong> no Brasil possui tradiçõespróprias e tem ti<strong>do</strong> poucas relações com exterior em seudesenvolvimento. Contu<strong>do</strong>, em 2004, foi publica<strong>do</strong> o livro “ÉticaProfissional em <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong>”, pela Editora Shape <strong>do</strong> RJ,conten<strong>do</strong> as contribuições <strong>do</strong> Seminário <strong>do</strong> ano anterior de Foz deIguaçu-PR (299 páginas). Estes trabalhos possivelmente refletemhoje direções de pesquisas e a ordem de grandeza da filosofia <strong>do</strong><strong>esporte</strong> no Brasil, uma vez que o evento cita<strong>do</strong> reuniu cerca de 100pessoas, incluin<strong>do</strong> nomes tradicionais – Santin, Beresford, DaCosta,Rocha Santos, Reppold – e os participantes <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is grupos depesquisa mais produtivos <strong>do</strong> país em <strong>ética</strong> em <strong>esporte</strong> e <strong>fair</strong> <strong>play</strong>(UCB/UERJ de Beresford e UGF de DaCosta). Neste conjuntoincluem-se também novos <strong>do</strong>utores forma<strong>do</strong>s no exterior e outrosespecialistas de adesão recente aos temas filosóficos de viesesesportivos no país. Nestas condições, há possibilidades de que estatemática filosófica já tenha uma massa crítica que lhe dê autosustentaçãoe incentive maiores relações com outros países além<strong>do</strong> que foi feito até o momento via Academia Olímpica Internacional-Grécia. Na graduação de <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong>, por exemplo, a <strong>ética</strong>como disciplina colocou-se em 14º. lugar entre outras 82 oferecidaspelas faculdades da área em levantamento de 1997 (amostra de25% <strong>do</strong> total de faculdades <strong>do</strong> país), segun<strong>do</strong> informa DaCosta(1999). Neste inventário cabe ainda relevar a área de epistemologiacuja sustentação tem si<strong>do</strong> sinalizada com o funcionamento regulardesde 2000 <strong>do</strong> Grupo de Trabalho Temático (GTT) <strong>do</strong> ColégioBrasileiro de Ciências <strong>do</strong> Esporte-CBCE, com a elaboração de“...estu<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s pressupostos teórico-filosóficos presentes nosdiferentes projetos de delimitação da <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong> como umpossível campo acadêmico/científico”. Tal iniciativa somada aos jámenciona<strong>do</strong>s Grupos de Pesquisa e disciplinas envolven<strong>do</strong> aepistemologia das atividades físicas em universidades brasileiras,sugere uma vertente adicional em crescimento e se sobrepon<strong>do</strong>aos estu<strong>do</strong>s éticos da tradição.Fontes McNamee, M. J. Philosophy of sport. Journal NursPhilosophy, vol. 5, no. 2, 2004, pp. 182 – 183; Osterhoudt, R. G.,Simon, B. & Volkwein, K., Philosophy of Sport. In ICSSPE VadeMecum – Directory of Sport Science, ICSSPE, Berlin, 2000, pp.107– 121; McNamee, M. J. & Parry, S.J., Ethics & Sport, Routledge,Lon<strong>do</strong>n, 2002; Sérgio, M. Para uma Epistemologia da MotricidadeHumana, Compêndium, Lisboa, 1988; SEED – MEC, ValoresHumanso, Corpo e Prevenção, Quintas, G. (ed), 1989; Santin, S.<strong>Educação</strong> <strong>Física</strong>, Ética, Est<strong>ética</strong> e Saúde. Edições EST, Porto Alegre,1995; DaCosta, L.P. Olympic Studies, Editora UGF, 2002; Beresford,H. A Ética e a Moral Social através <strong>do</strong> Esporte. Rio de Janeiro:Sprint, 1994; Coletânea de textos em estu<strong>do</strong>s olímpicos, EditoresMarcio Turini & Lamartine DaCosta. Rio de Janeiro, Editora GamaFilho, 2002: Constantino, Márcio Turini. A prática <strong>do</strong> Fair Play nocontexto da culturalidade: Análise de atividades de Fair Play emolimpíada escolar como reforço <strong>do</strong> desenvolvimento <strong>do</strong> espíritoesportivo, Rubio, K. et al. A Areté e o Fair Play na organização <strong>do</strong>Movimento Olímpico Contemporâneo, Belém, C. M., Valores <strong>do</strong> FairPlay nas aulas de <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong> e na prática esportiva <strong>do</strong>s alunosdas Escolas Agrotécnicas Federais; Marinho, I. P. História da <strong>Educação</strong><strong>Física</strong> no Brasil. São Paulo, Cia. Brasil, 1979; Marinho, I. P. Obrigação<strong>do</strong>s professores de educação física nos estabelecimentos de ensinosecundário. Boletim de <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong>, Rio de Janeiro.v.1, n.1,p.85-90, jun. 1941; Targa, J. Código de Ética <strong>do</strong> Educa<strong>do</strong>r Físico-Desportivo-Recreativo. <strong>Educação</strong> <strong>Física</strong> e Desportos, n. 4, p. 43, set1983; www.epistemologiaeducacaofisica.hpg.ig.com.br/; DaCosta,L.P. Formação Profissional em Ed. Fis. no Brasil. Editora Furbe,Blumenau, 1999.18.90 DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). A TLAS DO ESPORTE NO BRASIL. RIO DE JANEIRO: CONFEF, 2006


A philosophical approach to OlympismLAMARTINE DACOSTAIn “Olympic Studies”, 2002Amateur Athletic Foundation of Los Angeles (www.aafla.org/search/search.htm)Writing of the philosophical foundation of modern Olympism in1935, Pierre de Coubertin notes that “célébrer les JeuxOlympiques, c’est se reclamer de l’histoire” (1). Our times areclearly very different. All those sport academics who claim formore precise definitions of Olympism, surely have good groundsfor <strong>do</strong>ing so. But, only a few of them have been making use ofadequate historical accounts in order to support their arguments.There are some attempts to move beyond this epistemologicalchallenge. Hans Lenk aimed to relate Olympism to a socialphilosophy. Nobert Mueller takes another view since thisphilosophy should be educational. Jim Parry in turn proposes aphilosophical anthropology. Lamartine DaCosta forwards a“process philosophy” in the sense of an ongoing developmentof Coubertin’s traditional conception of “philosophy of life”embodied by the Olympic Charter. But are we right inunderstanding Olympism in an ought-to-be framework? Aren’twe simply applying intersecting viewpoints from differentdisciplines of knowledge to construct Olympism? Yet at thispoint it may rightly be retorted that the way in which we allhave stated the problem is misleading. Perhaps most of theefforts to define Olympism have been unhistorical in theirnature, that is, in observing its qualities in practicalcircunstances. And to solve an epistemological problem,historical standpoints are still one the best preferred optionamong philosophers. After all, history is often considered thelocus classicus of epistemology. Following my former suggestionthat Olympism is mostly a composition of narratives on Olympicethos created and celebrated by its adherents, let us in thelight of such assumption search the subject-matter of the actualOlympic past. Doing so, we aim to disclose core meanings ofOlympism in the overall historical process of the Olympic ideadevelopment. To begin, it is convenient to proceed to anotherpresupposition that experiences of Olympism involvecharacteristically tensions originated by oppositions whenshifting from a social or cultural situation to another.This initial hypothesis has as an argumentative ally the narrativeof Socrates’ judgement that lies in the foundational thinking ofwestern thought, including Olympism as far as Coubertin hadreshaped the Olympic idea from ancient Greek culture. Thusfar, in the famous judgment against Socrates in 399 B.C. areference was made to Olympic athletes that is still thoughtprovokingto contemporary observers. As Plato describes in hisApologia, Socrates appealed to his judges for the same treatmentmeted out by tradition to Olympic Games heroes, if fraternityin the polis was the point at issue rather than public accusations.The verdict has remained an important issue in moral discussionsever since. Socrates was condemned to death for allegedcorruption of youth, despite a life dedicated to making his fellowcitizens good and wise. In fact, the philosopher and forefatherof ethics suggested his own condemnation for the sake of theAthenian city-state, giving no alternative to the judges, whohad to obey the law when the accusations were acknowledgeas truthful. It was equally clear that the institution whichprovided justice should be preserved even when <strong>do</strong>ing wrong.This Socratic decision remains, for skeptics, an instance of ethicalrelativism, an ambivalence expressed and defined in anAristotelian epigram: “Fire burns both in Hellas and in Persia;but men’s ideas of right and wrong vary from place <strong>do</strong> place”. Itis no coincidence that Olympic athletes were referred to bySocrates when he called for recognition of his efforts to improvethe citizens’ social and political relations. In fact, by the 5thcentury BC the Olympic Games were a gathering of poets,musicians and sophists as well as athletes, all of them competing inpublic performances. This peculiar spirit of competition was incontradiction with the ideal of Socrates, in his search for the truth,as he proposes an exchange of arguments without winners or losers,in exact opposition to the sophist teaching. This contradictionexplains the skepticism and relativism with which Socrates wasinterpreted by Protagoras and Gorgias, eminent sophists of AncientGreece.By contrast, the far-reaching repercussions of Socratic conduct onwestern philosophy are due primarily to the fact that justice and<strong>fair</strong>ness are more easily recognized by their opposites. Socrates<strong>play</strong>ed on this in order to sacrifice himself as a moral lesson to thepolis. This historical hint has, eventually, been followed up by moderninstitutions which encourage ethical attitudes, including the OlympicMovement of our time. As a result, Olympism is primarily bound upin para<strong>do</strong>xical choices, namely how to curb corruption in sportscompetition and management and preserve sports organizations –usually the source or agents of misconduct – while pursuing purelyeducational and pedagogical goals (the so-called Kalos Kagathos).For their part, sports leaders today raise objections and questionsabout un<strong>fair</strong>ness in athletic behavior, without necessarily puttingforward any answers. The emphasis on the educational purposes ofOlympism can thus be seen as a source of the contradiction whichexists within sport, namely the attempt to keep institutions alivewhile pointing our their mistakes and defects. But if Socrates’ethical philosophy is fully taken for granted otherwise, his dramaticmoral attitudes imply a real impossibility of finding answers. Amongphilosophers this situation has then been called aporia, the Greekword of puzzlement, meaning the cognitive perplexity posed bystatements in opposition. This natural outcome eventually broughtout by interrogations seems furthermore to be at the heart of thepractical problems of present-days top sport. Coubertin himselfbecame “aporetic” when he began to criticize the misconduct ofsports practice shortly before his death in 1937.In this instance, the ethical questioning of Olympism should notbe about choices, as usually stated, but about how to reconcileopposing attitudes. In other words, the supposed opposition willbecome real if Olympism decides to treat its difficulties in thecontext of a crisis, a choice similar to that of Socrates at hisjudgment. Conversely, however, assuming that sports conflictsare a natural risk, the Olympic Movement will be dealing withaporias, implying a constant exchange of arguments and solutions,as the early Socratic basic thinking suggested for those seeking avirtuous life in the polis. On the basis of these facts andspeculations, it is possible to contend that sport, in seeking aretê(excellence), is naturally aporetic. Paraphrasing AlasdairMacIntyre when he discusses excellence, sport involves rules aswell as achievements so far we cannot reach the latter withoutaccepting the former. Although this inter<strong>play</strong> justifies competition- de justus est disputandum -, individual’s achievements in sportusually put aside external authority. In short, according toMacIntyre, this apparent contradiction has to be understoodhistorically because “the sequences of development find theirpoint and purpose in a progress towards and beyond a variety oftypes and modes of excellence”(2).Then, skeptics of former times as well as many sports scientistsand philosophers of the present day apart, historical experienceshould be ahead of knowledge production, favoring an attitudewhich perceives sport in terms of its contradictions. Indeed, alongsideproposals for education, self-realization and cooperation based onmodern Olympic ideals unresolved conflicts have emergedpersistently over the years since the first Olympiad of moderntimes in 1896. Experience is therefore likely to reveal thatOlympic ethics lags behind the ongoing process of cultural,economic and political change in many societies. Of course,spectacle, professionalism, nationalism and sectarianism arefactors which have <strong>play</strong>ed a historical role in the weakening ofthe humanistic values of sport, but when facts are comparedwith updated interpretations of Olympism, an element ofincompatibility still remains. On the other hand, the reactionsof sports institutions and leaders have been characteristicallyreductionist and contingent, expressing the inside view of sport.For this ethicist, a dependable ethics for top sport should berelated to contextual factors so as to fit in with the plurality ofvalues on which today’s sports practice is based. In short, thegap in sports ethics is primarily due to the mistaken isolation oftop sports organizations - with the inclusion of IOC – from theexternal social environment. This solipsism is often criticizedby philosophers because it represents an attempt to avoidrefutations, a rationale of many religions and movementssupported by ethical codes or principles. Such isolation wasenvisaged by Coubertin, as reported by Juergen Moltmann in apast IOA session, where he defined Olympism as a modernreligion (religio athletae is an expression commonly found inthe writings of Pierre de Coubertin but in the sense of consciousand full dedication to sport) (3). Now, if Olympism is to be seenin the context of broad cultural relations its radical reliance onethical principles simply <strong>do</strong>es not make sense, given the socalled“moral crisis” of nowadays which levels <strong>do</strong>wn all socialconventions in any country or region. This argument is in itselfsufficient to confirm the applicability of the notion of aporia asa prima facie interpretation of top sport in general and of theOlympic Movement in particular, alongside their historical andphilosophical foundational approaches.Moreover, a comparison of sports with culture can shed light onthe aporetic meaning of sport both on the competition groundand in its management. As continually emphasized by analystsof current trends, the fragmentation of social relations, theprevalence of individualism and commercial attitudes, theincreasing <strong>do</strong>mination of the mass media and even thebreak<strong>do</strong>wn of values have given rise to insurmountable conflictsin cultural production of many kinds. Much of this new trendgenerates questions without answers, both in sports and invarious other spheres of culture. Again, rather than simplyarguing “for” or “against” supposed distortions of sport, debatesconcerning the development of Olympism should take thereconciliation of opposites as an introductory step, a<strong>do</strong>pting anaporetic line of reasoning. This choice is valid either inaddressing social or cultural interrogations of present times.For that, the old Greek philosophy is still helpful since theAristotelian tradition attempted to solve aporias by introducingthem initially into a higher totality as a means of reducing theirproblematic content.References (1) Coubertin, P., Les assises philosophiques del’ Olympism moderne. Le Sport Suisse, 7 août 1935, p.1. InMueller, N. (ed), Pierre de Coubertin - Textes Choisis, Tome II,Weidemann, Zurich, 1986, p. 439; (2) MacIntyre, A., After Virtue.University of Notre Dame Press, 1984, 189 – 190 (3) Moltmann,J., Olympism and Religion. International Olympic Academy,20th Session Report, Ancient Olympia, 1980, pp. 81- 88.DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). A TLAS DO ESPORTE NO BRASIL. RIO DE JANEIRO: CONFEF, 2006 18. 91

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!