SAÚDE E IMIGRANTES - Observatório da Imigração - Acidi

SAÚDE E IMIGRANTES - Observatório da Imigração - Acidi SAÚDE E IMIGRANTES - Observatório da Imigração - Acidi

oi.acidi.gov.pt
from oi.acidi.gov.pt More from this publisher
12.07.2015 Views

SAÚDE E IMIGRANTES – As Representações e as Práticas sobre a Saúde e a Doença na Comunidade Cabo-Verdiana em LisboaAs práticas tradicionais embebem-se da percepção que o africano temdo seu mundo, da existência, das suas representações da alma, da suanoção de pessoa. Como já referimos ao abordarmos os factores de identidade,a língua, a música e os comportamentos constituem factores relevantesde identidade e cultura de um grupo. O património cultural de umgrupo étnico comporta os elementos culturais mais tradicionais (a gastronomia,a literatura, a música, a dança), mas também os rituais profanos ereligiosos que serão também reproduzidos em território de migração ereforçam a identidade étnica e a coesão do grupo (Gomes, 1999).É evidente que as características enunciadas, dificilmente serão encontradasna sua totalidade e na sua originalidade, no seio das comunidadesactuais em Cabo Verde e, mais raramente ainda, nas comunidades residentesem Portugal. Algumas das características são ainda visíveis nacomunidade que nos propusemos estudar, enquanto que outras foram-sediluindo numa aproximação às características locais, de cariz urbano, dasociedade de acolhimento.CAPITULO II – A IMIGRAÇÃO RECENTE EM PORTUGALAs migrações de pessoas e povos não são só de hoje, mas são de sempre.De forma progressiva ocorreu o crescente aumento da mobilidade humana,sobretudo no que toca às migrações internacionais. Por outro lado, a realidademigratória é cada vez mais volúvel e volátil (Miranda, 2002).O mundo conta actualmente, segundo a Organização Mundial dasMigrações (OIM), com cerca de 150 milhões de migrantes 27 , dos quaiscerca de 30 milhões de imigrantes estão em situação ilegal. A imigraçãolegal, apesar do que se afirma, constitui o principal meio demigração das pessoas. A imigração ilegal tem vindo, contudo, a crescer,constituindo actualmente um próspero negócio para as redes de tráficode seres humanos que operam por todo o mundo. Sendo difícil de quantificar,a única certeza que se tem é que o seu número não pára deaumentar.As causas da emigração são quase sempre as mesmas: a fuga à pobreza,desemprego, destruição do meio ambiente, guerra, violência, perseguiçãopolítica ou religiosa. Neste campo, não é, por vezes, fácil distinguir a fronteiraentre o imigrante e o refugiado, embora as Nações Unidas estabe-27. OIM, «OIM: Respostas e medidas no âmbito da saúde – Vários os esforços para conjugara prevenção e a terapia» OIM, sem data.Bárbara Bäckström57

SAÚDE E IMIGRANTES – As Representações e as Práticas sobre a Saúde e a Doença na Comunidade Cabo-Verdiana em Lisboaleçam critérios bastante rígidos para a determinação do estatuto de refugiado.Ambos fogem a uma situação intolerável que os obriga a deixar aterra onde nasceram. Imigra-se para aproveitar oportunidades deemprego que são oferecidas nalguns países que carecem de mão-de--obra. O actual e progressivo envelhecimento das populações dos paíseseconomicamente mais desenvolvidos, implica um contínuo recurso àmão-de-obra estrangeira.1. A IMPORTÂNCIA DAS COMUNIDADES IMIGRANTES EM PORTUGAL«Uma história da imigração em Portugal será necessariamente truncadaquanto a épocas passadas, das quais apenas restaram marcas qualitativas,sem bases para quantificar» (Rocha-Trindade, 2001). Antes doperíodo que atravessamos e no qual Portugal se tornou num ponto dechegada, outros períodos existiram, em que outras comunidades tiveramPortugal como destino. A presença de diferentes grupos étnicos no nossoterritório é anterior à era cristã (Miranda, 2002).A história de Portugal não tem sido feita só de emigrantes e residentesmas também e muito, de imigrantes. Frequentemente vieram para o país,a pedido do próprio Estado, para desenvolverem aqui actividades inovadorasde que o país carecia, outras vezes para suprirem a mão-de-obraque nele escasseava. No período dos descobrimentos (séculos XV-XVI),Lisboa fervilhava de estrangeiros e algo de semelhante ocorreu no séculoXVIII. Na primeira metade do século XX, em dois momentos, o paísrecebeu milhares de estrangeiros, tendo muitos fixado aqui residênciapermanente (ex. Calouste Gulbenkian) ou apenas temporária (ex. Ortega yGasset). O primeiro desses momentos foi nos anos trinta, durante aGuerra Civil de Espanha (1936-1939), e o segundo coincidiu com a 2.ªGuerra Mundial (1939-1945). Durante a década de cinquenta, o número deestrangeiros residentes, manteve-se estável, oscilando à volta dos 25 000indivíduos. Na sua maioria, residiam no país há muito tempo, ligados aimportantes actividades económicas, como o comércio do vinho do Porto,exploração mineira, etc. e outras (Rocha-Trindade, 2001).Em 1960, a maioria dos cerca de 30 mil estrangeiros residentes erameuropeus (67%) e brasileiros (22%), destacando-se entre os primeiros osespanhóis (40%). A abertura do país ao exterior (1959) e o desenvolvimentoeconómico a partir dos anos 60 traduziu-se num aumento dos imigrantesprofissionais, nomeadamente de alemães e ingleses (Esteves,1991).Bárbara Bäckström58

SAÚDE E <strong>IMIGRANTES</strong> – As Representações e as Práticas sobre a Saúde e a Doença na Comuni<strong>da</strong>de Cabo-Verdiana em Lisboaleçam critérios bastante rígidos para a determinação do estatuto de refugiado.Ambos fogem a uma situação intolerável que os obriga a deixar aterra onde nasceram. Imigra-se para aproveitar oportuni<strong>da</strong>des deemprego que são ofereci<strong>da</strong>s nalguns países que carecem de mão-de--obra. O actual e progressivo envelhecimento <strong>da</strong>s populações dos paíseseconomicamente mais desenvolvidos, implica um contínuo recurso àmão-de-obra estrangeira.1. A IMPORTÂNCIA DAS COMUNIDADES <strong>IMIGRANTES</strong> EM PORTUGAL«Uma história <strong>da</strong> imigração em Portugal será necessariamente trunca<strong>da</strong>quanto a épocas passa<strong>da</strong>s, <strong>da</strong>s quais apenas restaram marcas qualitativas,sem bases para quantificar» (Rocha-Trin<strong>da</strong>de, 2001). Antes doperíodo que atravessamos e no qual Portugal se tornou num ponto dechega<strong>da</strong>, outros períodos existiram, em que outras comuni<strong>da</strong>des tiveramPortugal como destino. A presença de diferentes grupos étnicos no nossoterritório é anterior à era cristã (Miran<strong>da</strong>, 2002).A história de Portugal não tem sido feita só de emigrantes e residentesmas também e muito, de imigrantes. Frequentemente vieram para o país,a pedido do próprio Estado, para desenvolverem aqui activi<strong>da</strong>des inovadorasde que o país carecia, outras vezes para suprirem a mão-de-obraque nele escasseava. No período dos descobrimentos (séculos XV-XVI),Lisboa fervilhava de estrangeiros e algo de semelhante ocorreu no séculoXVIII. Na primeira metade do século XX, em dois momentos, o paísrecebeu milhares de estrangeiros, tendo muitos fixado aqui residênciapermanente (ex. Calouste Gulbenkian) ou apenas temporária (ex. Ortega yGasset). O primeiro desses momentos foi nos anos trinta, durante aGuerra Civil de Espanha (1936-1939), e o segundo coincidiu com a 2.ªGuerra Mundial (1939-1945). Durante a déca<strong>da</strong> de cinquenta, o número deestrangeiros residentes, manteve-se estável, oscilando à volta dos 25 000indivíduos. Na sua maioria, residiam no país há muito tempo, ligados aimportantes activi<strong>da</strong>des económicas, como o comércio do vinho do Porto,exploração mineira, etc. e outras (Rocha-Trin<strong>da</strong>de, 2001).Em 1960, a maioria dos cerca de 30 mil estrangeiros residentes erameuropeus (67%) e brasileiros (22%), destacando-se entre os primeiros osespanhóis (40%). A abertura do país ao exterior (1959) e o desenvolvimentoeconómico a partir dos anos 60 traduziu-se num aumento dos imigrantesprofissionais, nomea<strong>da</strong>mente de alemães e ingleses (Esteves,1991).Bárbara Bäckström58

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!