SAÚDE E IMIGRANTES - Observatório da Imigração - Acidi

SAÚDE E IMIGRANTES - Observatório da Imigração - Acidi SAÚDE E IMIGRANTES - Observatório da Imigração - Acidi

oi.acidi.gov.pt
from oi.acidi.gov.pt More from this publisher
12.07.2015 Views

SAÚDE E IMIGRANTES – As Representações e as Práticas sobre a Saúde e a Doença na Comunidade Cabo-Verdiana em Lisboapapel marcante na formação da mentalidade e identidade cultural dosseus naturais. Seguidamente, dedicamos uma parte deste trabalho à culturacabo-verdiana e à identidade cultural do povo cabo-verdiano, comofontes essenciais da sua forma de ser, de estar e de pensar, concluindocom algumas referências a aspectos culturais relacionados com a medicinae a saúde. Verifica-se numa fase recente da história verifica-se que aemigração é fundamental e constitui um factor estruturante da sociedadecabo-verdiana e da identidade nacional.Assim, num segundo momento, vamos situar a imigração cabo-verdianaem Portugal, primeiro no contexto geral da imigração recente dos diversosfluxos migratórios para este pais; seguidamente, centrando-nos apenasna comunidade cabo-verdiana, vamos proceder à sua caracterização.1. BREVE RESENHA HISTÓRICA DE CABO VERDEEnquanto país com uma privilegiada posição geográfica e uma importanteposição geoestratégica, encontrando-se, praticamente, no centro do mundo,entre o Norte e o Sul, o Ocidente e o Oriente, na rota das grandes linhas denavegação e de comércio, Cabo Verde serviu, durante muito tempo, de placagiratória e de entreposto de escravos trazidos da África e enviados depoispara a América do Sul, pelo que acabou por ser um importante laboratóriode língua e de aculturação 4 . Estes factores condicionaram as condições doseu povoamento e a sua vida económica, social e cultural.Também foi imprescindível e determinante, nesse processo, o contextogeosocial e histórico da seca, fome e abandono, que ditaram a necessidadede procura de melhores condições de vida noutras paragens. País deemigrantes, a população cabo-verdiana fora das ilhas é quase o dobro daresidente, mas, onde quer que estejam, os Cabo-Verdianos são facilmenteidentificados por comunicarem entre si na língua materna, pela sua culinária,baseada em pratos típicos, sobretudo os confeccionados com milhoe com feijão (catchupa, xerém, djagasida, cuscus, etc.) e pela religião,música e dança.O arquipélago de Cabo Verde é formado por dez ilhas e cinco ilhéus queperfazem uma superfície de apenas 4033 km 2 . Em contrapartida, dispõe de4. Sobre a história de Cabo Verde, veja-se Elisa Andrade, Cabo Verde: do seu achamento aindependência nacional. Breve resenha histórica, Cabo Verde, publicado no site www.ic.cve «Ciberkiosk», site da Universidade de Coimbra, 1998.Bárbara Bäckström31

SAÚDE E IMIGRANTES – As Representações e as Práticas sobre a Saúde e a Doença na Comunidade Cabo-Verdiana em Lisboaum espaço marítimo exclusivo que ultrapassa os 600 000 km 2 . Situa-se aolargo do Oceano Atlântico, a cerca de 455 km do promontório que lhe deu onome: Cabo Verde (Senegal). As ilhas e ilhéus formam dois agrupamentossegundo a sua posição em relação aos ventos dominantes do nordeste:As ilhas de Barlavento: Santo Antão (779 km 2 ), São Vicente (227 km 2 ), SantaLuzia (35 km 2 ), São Nicolau (343 km 2 ), Sal (216 km 2 ) e Boavista (620 km 2 ),e os ilhéus Branco (3 km 2 ) e Raso (7 km 2 ) e as ilhas de Sotavento: Maio(269 km 2 ), Santiago (991 km 2 ), Fogo (476 km 2 ) e Brava (64 km 2 ), e os ilhéusGrande (2 km 2 ), Luís Carneiro (0,22 km 2 ) e Cima (1,15 km 2 ).Localizado na zona subsaheliana, o arquipélago é caracterizado por condiçõesclimáticas de aridez e semi-aridez. Conta com duas estações: a daschuvas ou «das águas» (muito irregulares) – de Agosto a Outubro – e aestação seca, ou o «tempo das brisas», que vai de Dezembro a Junho. Osmeses de Julho e Novembro são considerados meses de transição.A penúria em água é uma constante. As secas são frequentes e no passado(até os finais dos anos 40), acarretavam frequentemente a fome quedizimava, por vezes, 10 a 30% dos seus habitantes.Admite-se, de modo geral, que as ilhas tenham sido encontradas pelosportugueses durante duas viagens sucessivas entre 1460 e 1462.A quase inexistência de uma população suficientemente importante e bemenraizada nas ilhas determinou a forma de povoamento que viria a seradoptada. Inicialmente, as autoridades portuguesas quiseram promoverum povoamento de tipo europeu, que falhou. Desde a primeira metadedo século XV, introduziu-se em Santiago, a primeira ilha a ser povoada, osistema de Morgadios e Capelas que viria a ser abolido em 1864.A segunda ilha a ser povoada, ainda antes do século XV, foi a ilha do Fogo.Passados cerca de 40 anos após o «descobrimento», apenas havia populaçãonestas duas ilhas. A ocupação das restantes foi precedida pela introduçãodo gado caprino. Por volta de 1490, são enviados pastores paraBoavista e Maio. A colonização prosseguiu com o povoamento das ilhas daBrava e de Santo Antão. A escassez de colonos europeus determinou anecessidade de se importarem escravos da «Costa da Guiné». No séculoXVII foi povoada a ilha de São Nicolau, onde a par dos elementos populacionaisjá mencionados, se lhes juntaram mestiços nascidos no arquipélago.As ilhas de São Vicente e Sal foram povoadas somente nos séculosXVIII e XIX, respectivamente. Cada uma das diferentes ilhas apresentacaracterísticas que lhe são peculiares.A ilha de Santiago, pela sua posição privilegiada, a meio caminho entre ostrês continentes e, para mais, em frente da dita Costa dos Escravos,Bárbara Bäckström32

SAÚDE E <strong>IMIGRANTES</strong> – As Representações e as Práticas sobre a Saúde e a Doença na Comuni<strong>da</strong>de Cabo-Verdiana em Lisboapapel marcante na formação <strong>da</strong> mentali<strong>da</strong>de e identi<strong>da</strong>de cultural dosseus naturais. Segui<strong>da</strong>mente, dedicamos uma parte deste trabalho à culturacabo-verdiana e à identi<strong>da</strong>de cultural do povo cabo-verdiano, comofontes essenciais <strong>da</strong> sua forma de ser, de estar e de pensar, concluindocom algumas referências a aspectos culturais relacionados com a medicinae a saúde. Verifica-se numa fase recente <strong>da</strong> história verifica-se que aemigração é fun<strong>da</strong>mental e constitui um factor estruturante <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>decabo-verdiana e <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de nacional.Assim, num segundo momento, vamos situar a imigração cabo-verdianaem Portugal, primeiro no contexto geral <strong>da</strong> imigração recente dos diversosfluxos migratórios para este pais; segui<strong>da</strong>mente, centrando-nos apenasna comuni<strong>da</strong>de cabo-verdiana, vamos proceder à sua caracterização.1. BREVE RESENHA HISTÓRICA DE CABO VERDEEnquanto país com uma privilegia<strong>da</strong> posição geográfica e uma importanteposição geoestratégica, encontrando-se, praticamente, no centro do mundo,entre o Norte e o Sul, o Ocidente e o Oriente, na rota <strong>da</strong>s grandes linhas denavegação e de comércio, Cabo Verde serviu, durante muito tempo, de placagiratória e de entreposto de escravos trazidos <strong>da</strong> África e enviados depoispara a América do Sul, pelo que acabou por ser um importante laboratóriode língua e de aculturação 4 . Estes factores condicionaram as condições doseu povoamento e a sua vi<strong>da</strong> económica, social e cultural.Também foi imprescindível e determinante, nesse processo, o contextogeosocial e histórico <strong>da</strong> seca, fome e abandono, que ditaram a necessi<strong>da</strong>dede procura de melhores condições de vi<strong>da</strong> noutras paragens. País deemigrantes, a população cabo-verdiana fora <strong>da</strong>s ilhas é quase o dobro <strong>da</strong>residente, mas, onde quer que estejam, os Cabo-Verdianos são facilmenteidentificados por comunicarem entre si na língua materna, pela sua culinária,basea<strong>da</strong> em pratos típicos, sobretudo os confeccionados com milhoe com feijão (catchupa, xerém, djagasi<strong>da</strong>, cuscus, etc.) e pela religião,música e <strong>da</strong>nça.O arquipélago de Cabo Verde é formado por dez ilhas e cinco ilhéus queperfazem uma superfície de apenas 4033 km 2 . Em contraparti<strong>da</strong>, dispõe de4. Sobre a história de Cabo Verde, veja-se Elisa Andrade, Cabo Verde: do seu achamento aindependência nacional. Breve resenha histórica, Cabo Verde, publicado no site www.ic.cve «Ciberkiosk», site <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Coimbra, 1998.Bárbara Bäckström31

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!