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O AQUÁRIO VASCO DA GAMA – UM PATRIMÓNIO ... - Academia

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O AQUÁRIO <strong>VASCO</strong> <strong>DA</strong> <strong>GAMA</strong> – <strong>UM</strong> PATRIMÓNIOCULTURAL, CIENTÍFICO E MUSEOLÓGICOComunicação apresentada pelaDra. Elsa Maria Soares de AndradeSantos, em 13 de Novembro1 – As origens do Aquário Vasco da Gama1.1 – As Comemorações do quarto centenário da viagem de Vasco daGama à ÍndiaO Aquário Vasco da Gama é uma instituição cultural e científica daMarinha, cujo património importa estudar, preservar e repensar, no sentidode um melhor aproveitamento deste organismo centenário.Foi fundado no dia 20 de Maio de 1898, contando com a presença de altasindividualidades, nacionais e estrangeiras que, à hora marcada, estavamprontas para receber a família real.A sua fundação insere-se no contexto das Comemorações do QuartoCentenário da chegada de Vasco da Gama à Índia.O Diário do Governo de 16 de Maio de 1894, assinado pelo rei D. Carlos,pelo primeiro-ministro Hintze Ribeiro e pelos restantes ministros, veiotornar público um decreto que aprovava a nomeação de uma comissão comvista à organização das Comemorações do Quarto Centenário da chegada1


O AQUÁRIO <strong>VASCO</strong> <strong>DA</strong> <strong>GAMA</strong>Depois de nomeada a comissão, esta tratou de apresentar o seu programa,junto do rei D. Carlos e do seu governo. O mesmo foi publicado a 2 deAbril de 1897 e incluía uma variedade de festividades e eventos, de âmbitonacional e internacional. Entre estes, destaca-se a emissão de sériesmonetárias, selos e cartas postais, uma edição comemorativa dos Lusíadas,um hino nacional da celebração, exposições variadas, concursos, cortejosalegóricos, uma mostra naval no Tejo, romarias, touradas, uma feira-francae algumas companhias de navegação e ferroviárias reduziram os seuspreços para facilitar a deslocação à cidade do maior número possível devisitantes.A cidade de Lisboa preparou-se para receber o evento, mandando limparas suas ruas, tendo mesmo sofrido modificações, com a construção denovos cais de embarque, restauro de edifícios como o Mosteiro dosJerónimos e a construção de outros, como o Palácio do Centenário parasede da Sociedade de Geografia de Lisboa.Será neste grande contexto de “jubileu nacional consagrado à memória dosnavegadores portugueses que primeiro descobriram as terras e mares daAfrica, Asia, America e Oceania” 3 que será decidida a fundação de “umaquario marítimo e fluvial com os respectivos anexos, que será deconstrução e exposição permanente e que, finda a celebração e exposiçãoVasco da Gama, ficará sendo propriedade do Estado confiada àadministração e exploração da Sociedade de Geographia com o acordotechnico da Commissão de Pescarias, nos termos a regular. (…) O aquarioficará sendo o monumento permanente da celebração nacional e à suaentrada principal será erigido um padrão semelhante aos colocados pelosantigos navegadores portuguezes nas terras por eles descobertas” 4 .Compreende-se, a partir daqui, o ambiente de festividade e grandiosidadeem que o Aquário Vasco da Gama foi inaugurado.No entanto, a construção de um aquário, um edifício ligado ao mar, pareceà partida fugir um pouco à natureza das comemorações, em que seprocurava enaltecer, não os oceanos, mas Vasco da Gama e, através dele,os outros navegadores portugueses.Além disso, no programa inicial das comemorações, existia a intenção deconstruir um edifício monumental, do género dos “Palácios de Cristal”,dedicado à memória dos navegadores portugueses, projeto que não foiconcretizado.Se quisermos traçar os objetivos que estiveram por trás da fundação destainstituição de interesse nacional, teremos também que, impreterivelmente,3 Celebração Nacional do Quarto Centenário do Descobrimento marítimo da Índia:programa geral, artº 1, Lisboa, s.n,18974 Ibidem, artº 83


os ligar à figura do rei D. Carlos e à importância que este assumiu, desde oseu início, na história do aquário.1.2 – As origens do Aquário Vasco da Gama e o rei D. CarlosO rei D. Carlos a bordo do seu iate AméliaD. Carlos I (1863-1908), filho de D. Luís e Maria de Saboia, começou areinar em 1889, numa época de grandes convulsões sociais.Por toda a Europa assistia-se a mudanças políticas – a Monarquia tendia aceder lugar à República.Neste panorama europeu de “fin-de-siécle”, Carlos de Bragança era ummonarca aberto aos novos ventos da ciência, nomeadamente das ciênciasnaturais. Distinguiu-se como ornitologista e ictiólogo. Mas será aOceanografia que se demarcará como a sua grande paixão, sabendoaproveitar o contexto da época em que viveu.No século XIX, registou-se um crescente interesse pelo estudo do mar,principalmente nos E.U.A e nos países industrializados da Europa.Devido ao desenvolvimento tecnológico, operado na área da Oceanografia,foi possível, em 1872, a realização da expedição inglesa “Challenger”, ummarco importante na história desta ciência. A informação aí recolhida foiestudada por especialistas de diversas áreas, entre 1880 e 1885. Outrasexpedições se seguiram: a do navio “Travailleur”, dirigido pelo naturalista4


O AQUÁRIO <strong>VASCO</strong> <strong>DA</strong> <strong>GAMA</strong>Mune Edwards, ao longo da costa portuguesa; e a do vapor “Lidador”,viagem organizada pelo capitão-tenente Vicente de Moura Coutinho deAlmeida d`Eça, vogal e por Albert Girard, naturalista.A 1 de setembro de 1896, o rei D. Carlos irá também lançar-se na suaprimeira campanha oceanográfica, a bordo do seu iate Amélia II, assimbatizado em honra da rainha D. Amélia. O gosto pelo mar herdou-o do seupai, D. Luís, oficial da marinha e dos frequentes contactos com os oficiaisde marinha, ajudantes de seu pai. Deixou-se também impressionar pelaequipa notável de cientistas franceses do navio Travailleur, cujo trabalhode investigação já lera aos 16 anos de idade. No entanto, o seu grandeimpulsionador foi, sem dúvida, o então príncipe Alberto do Mónaco, umdos maiores oceanógrafos da época e seu amigo íntimo.D. Carlos preocupou-se em estudar os recursos marinhos vivos da costaportuguesa, tendo por objetivo maximizar o rendimento da indústria e docomércio da pesca. Esta era uma das atividades económicas maissignificativas do país, que atravessava uma crise política e financeira grave.Utilizou sempre uma metodologia sistemática e consistente, procurandodeixar bases de trabalho para o futuro, quer preservando de forma exemplaros animais marinhos que ia recolhendo, quer anotando e publicando todosos parâmetros oceanográficos que ia obtendo. Deste trabalho, seguidoincansavelmente ao longo de doze campanhas oceanográficas, resultaráuma rica coleção que, apesar do percurso tortuoso, chegou aos nossos dias.Valeu-lhe numerosos prémios, nacionais e internacionais.A primeira exposição do resultado dos seus trabalhos foi realizada em1897, na Escola Politécnica, no ano seguinte ao início das suas campanhas.No trabalho de apresentação da sua primeira campanha, o rei escreverá: “As numerosas investigações oceanográficas que as nações extrangeirastêem realizado n´estes últimos anos, com tão profícuos resultados, aimportância que esta ordem de estudos tem para a industria da pesca, umadas principaes do nosso paiz, e a excepcional variedade de condiçõesbathymetricas, que apresenta o mar que banha as nossas costas, sugeriramnosno anno findo a idéa de explorar scientificamente o nosso mar, e o dar aconhecer, por meio de um estudo regular, não só a fauna do nosso plan`altocontinental, mas também as dos abysmos que, exemplo quasi único naEuropa, se encontram em certos pontos, a poucas milhas da costa. Oprograma que nos impozemos é pois vasto, e só se conseguirá realizarn`uma serie de campanhas” 5 . Depreende-se daqui a importância que omonarca conferia ao seu projeto, inserindo-o num contexto mundial e anecessidade de o “dar a conhecer”.5 Yacht Amélia – Campanha Oceanográfica de 1896, Lisboa, Imprensa Nacional, 1897, p. 75


Aquando das Comemorações do Quarto Centenário da Viagem de Vasco daGama à Índia, o rei D. Carlos tinha já realizado mais duas campanhasoceanográficas no ano de 1897, a primeira nos meses de maio a setembro ea segunda em novembro.O projeto de um edifício como o Aquário Vasco da Gama, no contextofestivo das Comemorações, aparecerá ao rei como uma forma de alojar oseu já vasto espólio e de o tornar público.No dia da sua inauguração, o Diário de Notícias publicou o seguinte:“Como estava anunciado, inaugurou-se hontem o aquário Vasco da Gamaem Algés, e a exposição oceanográfica de el-rei, instalada na sala do museudo aquário” 6 . A história do Aquário Vasco da Gama nunca mais deixará deestar associada à figura de D. Carlos.1.3 – A construção do edifícioO Aquário Vasco da Gama foi construído em terrenos cedidos peloMinistério das Obras Públicas, na Alameda de Algés, junto ao Dafundo.A sua edificação foi entregue, pela Comissão Executiva do Centenário, aoscredenciados empreiteiros franceses Charles Vieillard e Fernand Toused.Charles Vieillard tinha vindo para Portugal com o seu pai, Louis Vieillard,contratado para trabalhar no Aqueduto das Águas Livres. Fernand Tousedera seu cunhado, casado com sua irmã Adéle e, desde cedo, colaboraramem diversos projetos juntos, tais como a velha ponte da Figueira da Foz e,mais tarde, a Central Tejo, onde atualmente está instalado o Museu daEletricidade.Os construtores do Aquário6 Diário de Notícias - I série, 21 de maio de 18986


O AQUÁRIO <strong>VASCO</strong> <strong>DA</strong> <strong>GAMA</strong>Como fiscal da obra, foi nomeado o engenheiro António Teixeira Júdice.A orientação técnica ficou a cargo de uma outra figura importante, AlbertGirard. Nasceu em Nova Iorque, filho de uma família de origem belga, masveio para Portugal ainda criança.Licenciou-se em engenharia mas a sua principal paixão era a HistóriaNatural. A sua escolha para a orientação técnica do Aquário Vasco daGama prova, mais uma vez, a ligação do rei D. Carlos a este edifício.Desde logo a indicação do seu nome para fazer parte dos responsáveis pelaconstrução do Aquário Vasco da Gama não parece ter sido inocente, já quefoi feita pela <strong>Academia</strong> das Ciências, da qual o rei D. Carlos fazia parte.Terá sido desde muito cedo que se estabelece uma empatia entre AlbertGirard e o monarca, chegando mesmo a ser mestre dos seus filhos. Foinomeado membro da Comissão de Pescas e começou a trabalhar ao serviçodo rei. Tornou-se o seu conselheiro científico, acompanhava-o nas suasinvestigações no mar, estudava o material recolhido, organizava as coleçõese preparava os resultados para publicação. Acresce ainda a organização dasexposições do monarca, quer em Portugal como no estrangeiro. Mais tarde,tornar-se-á o curador das coleções reais, no Palácio das Necessidades.O edifício orçou em cerca de 60 contos de réis e a sua construção foirápida, não demorando mais de oito meses.Após a sua entrega à Comissão do Centenário, foi realizada a vistoria, acargo do engenheiro Belchior José Machado, mandatado pela Comissão eLuiz Strauss, representante dos empreiteiros.O edifício, segundo foi elogiado, fora construído com uma rapidezirrepreensível, correspondendo a tudo o que fora planeado.1. 4 – A inauguração do Aquário Vasco da GamaNo dia 20 de Maio de 1898, pela uma e meia da tarde, o rei D. Carlos chegaao Aquário Vasco da Gama. Esperavam-no altas individualidades,nacionais e estrangeiras, entre as quais, a rainha D. Maria Pia, o infante D.Afonso, Ministro da Marinha, membros do corpo diplomático,representantes da Comissão do centenário, O Coronel Duval Telles,Ministro da Bélgica e esposa, o Duque de Loulé, o Coronel Barruncho,adido da Bélgica, o conde de Paço de Arcos e família e o presidente evereadores da Câmara Municipal de Oeiras.Às duas e um quarto da tarde a família real retirou-se. O Aquário Vasco daGama e a exposição que albergava estavam oficialmente inaugurados.Da exposição que o rei ali organizou faziam parte 1000 espécies e 15000exemplares novos e por classificar. A decoração da sala era simples e7


estava decorada com dois quadros a pastel, também da autoria do rei,representando os seus iates Amélia. O próprio rei guiou a exposição nosminutos iniciais.Uma das primeiras imagens do AquárioCompunham o edifício inaugural dois corpos solidários, reunidos num sópiso: um onde funcionavam os serviços de apoio: duas cisternas paradepósito de água salgada, casas dos motores e dos filtros interiores, sala deseleção das pescas, laboratórios, gabinetes do diretor e preparador,biblioteca, secretaria, arrecadação, sala de espera e lavabos; e outro com aparte que podia ser visitada pela público: sala de entrada (átrio), sala domuseu, sala de aquários de água doce (29) e uma galeria com aquários deágua salgada (21).2– A evolução do Aquário Vasco da Gama até aos nossos dias2.1 – A Administração da Marinha Portuguesa (1901-1909)O Aquário Vasco da Gama foi um dos primeiros aquários do mundo. Oprimeiro aquário público tinha surgido na Europa em 1853, em Inglaterra,na London Zoological Society, seguindo-se outro, um ano mais tarde, noZoological Gardens de Surrey, no mesmo país.Findas as Comemorações do Centenário, havia que entregar o AquárioVasco da Gama a quem lhe desse continuidade e se responsabilizasse pelasua manutenção. Um edifício tão importante, pioneiro no país e dosprimeiros na Europa e que albergava uma coleção de tão alto valor, nãopodia ser votado ao esquecimento.Desde 5 de dezembro de 1899, o Aquário passou a ser património doEstado que tinha como intenção entregar a sua administração à Sociedade8


O AQUÁRIO <strong>VASCO</strong> <strong>DA</strong> <strong>GAMA</strong>de Geografia. No entanto, esta exigia do Governo um subsídio anual parapagar as despesas relacionadas com a sua manutenção. Foram várias asdiligências feitas, ainda pela Comissão do Centenário, para que a atribuiçãodesse subsídio fosse conseguida.Em ofício de 29 de dezembro de 1898, a Comissão pediu ao Ministério dasObras púbicas a atribuição de um subsídio de 2 500$00 réis, em troca de50% da receita líquida.Num novo ofício de 30 de Agosto 1900, o pedido de subsídio foi reduzidopara 2 400$00, tendo sido atribuído 1200$00 para a aquisição e reparaçãode material e os restantes 1200$00 para o pagamento de pessoal e comprade material para uma estação de reprodução de peixes de água doce.No ofício de 14 de fevereiro de 1901, dirigido ao Ministério da Marinha, aComissão altera o valor do subsídio para 1500$00 réis anuais, caso oEstado se encarregasse das reparações do edifício e do pagamento do gaz eda água, assim como da aquisição de material e respetivas reparações. 7No entanto, a situação do Aquário continuava a degradar-se e nada eraresolvido em concreto. Nos anos de 1900 e 1901 são vários os ofíciosdirigidos ao Aquário que dão conta de atrasos no pagamento de faturas,nomeadamente do gás e eletricidade. Sem direção técnica, o Aquárioregistava ainda um atraso no pagamento dos funcionários e um estado dequase abandono, com as peças metálicas em contacto com a águainutilizadas ou gravemente deterioradas, por falta de conservação,conforme é referido pela Comissão num inventário que elaborou e foipublicado em portaria de 20 de fevereiro de 1901.Será nesta mesma portaria que é publicado que o Aquário passaria, a partirdessa data, a ser administrado pela Marinha Portuguesa.Não havendo técnico com formação académica suficiente para assumir ocargo de diretor, foi decidido pelo Ministério da Marinha e Ultramarnomear diretor Armando da Fonseca Costa da Silva que, apesar de ser umamante das ciências naturais, era jornalista, não tendo formação técnicapara o cargo que ia exercer.Armando Silva herdou um Aquário num estado muito degradado. Disso selamentará no seu relatório elaborado em 1901, por ordem do Ministro daMarinha e Ultramar, na sequência do ofício de 22 de Março: “O abandonoe o desleixo, juntos com a falta de uma direcção técnica, que se entregavainteiramente nas mãos de um pessoal sem a menor preparação, por poucoque não inutilizaram de todo aquelle estabelecimento, que custou mais de7 SILVA, Armando, O Aquário Vasco da Gama - Relatório apresentado a sua Exª oMinistro da Marinha e Ultramar sobre o Estado d`Este Estabelecimento e a suaReorganização, Lisboa, Imprensa Nacional, 1901, p. 6 e 79


60 contos de réis e que de tão vantajoso proveito pode e deve ser para opaís” 8 .São várias as questões levantadas por Armando da Silva no seu relatório.Entre estas, refere que a falta de assistência aos aquários de água doce esalgada deteriorava os materiais e obrigava a limitar o número de espéciesem exposição; o engenho para captação da água estava em mau estado; osistema de renovação da água era deficiente; a população exposta noAquário é “bastante escassa e pouco interessante” 9 , o que atribuí há nãoexistência de um barco próprio do aquário para a sua captura e dosinstrumentos indispensáveis a esta atividade. Refere ainda que a bibliotecaestava sem mobiliário pois a Sociedade de Geografia havia levado tudo oque lá existia visto pertencer-lhe e, imagine-se, com apenas dois livros.Importa referir que, por esta altura, a coleção oceanográfica do rei D.Carlos fora transferida para o Palácio das Necessidades, onde aguardava aconstrução de um Museu Oceanográfico.Apesar das dificuldades e do estado em que encontrou o Aquário, Armandoda Silva concluiu no seu relatório que este edifício merecia ser preservado ealvo de melhoramentos pois via nele diversas vantagens para a “sciencia eeconomia nacional. Além da conservação nos seus tanques dos animaisvivos, fáceis de observar assim em todas as phases do seudesenvolvimento, e prontos para as dissecções e estudos anatómicos, comopara servirem ás demonstrações dos professores de zoologia, a exemplo doque sucede nos Aquarios estrangeiros, muitos outros trabalhos podem edevem ali realizar-se: observações de oceanografia estática e dynamica;experiencias de cultura das aguas salobras; preparação de exemplares pelosmodernos methodos de Napoles, augmentando d`esse feitio as collecçõesde animaes inferiores dos nossos museus; systematica da nossa faunamarítima; trabalhos de zoologia aplicada, compreendendo o exame daalimentação dos Peixes comestíveis, a determinação do seu estado dematuridade sexual, a observação dos ovos fluctuantes e alevinos (…) 10Apesar destas dificuldades, o Aquário conseguiu manter-se e continuou aser procurado por uma população de visitantes que só aí podia observarcertos espécimes. Só entre 1901 e 1909, o Aquário registou 102 671entradas.Em 1903, o Aquário conhecerá o seu primeiro regulamento, elaborado peloseu diretor, com 54 artigos, divididos em XII capítulos. Para além dosaspetos de cariz burocráticos e organizacionais, Armando Silva procuroutambém aí realçar que a importância da instituição ia muito para além do8 Ibidem, p. 19 Ibidem, p. 2510 Ibidem, p. 69 e 7010


O AQUÁRIO <strong>VASCO</strong> <strong>DA</strong> <strong>GAMA</strong>seu aspeto museológico. Logo no artigo 1º, refere que os resultados dasinvestigações científicas e dos trabalhos executados no Aquário passariam aser publicados mensalmente na revista “Archivos do Aquario Vasco daGama”. Menciona ainda que o “Aquario facultara também os seuslaboratórios a qualquer naturalista, nacional ou estrangeiro, que nellesdeseje empreender qualquer trabalho de sciencia pura ou aplicada(…). 11Apesar dos esforços de Armando da Silva, um despacho do dia 26 denovembro de 1906 do Ministro da Marinha, deu início a um processo desindicância aos serviços do Aquário. Encarregue do mesmo ficou o 2ºtenente da Armada, António Pedro de Andrade Rodrigues. A análisedetalhada dos aspetos que são mandados supervisionar, permite-nosconcluir que o principal visado era o diretor.Este processo levará Armando da Silva a ser exonerado do seu cargo, a 21de agosto de 1907. Será nomeado para desempenhar interinamente aquelelugar, Francisco Machado Vieira, também jornalista.Por essa altura o estado do Aquário tendia a degradar-se cada vez mais. Acomprová-lo estava o relatório exaustivo, mandado fazer ao engenheiroAlbert Girard, que ficara pronto a 30 de janeiro de 1907 e que fazia orçar asdespesas com a reparação do Aquário em mais de 30 contos. Compreendeseentão que, no dia 4 de fevereiro, um despacho do Ministro e Secretáriodos Negócios da marinha e Ultramar desse conta da intenção de encerrar oAquário, até novas ordens, por considerar que “a verba a despender emreparações deve ser muito superior a 30000$00 de reis e conserva-lo comoestá é vergonhoso para o paiz e até offerece perigo para os visitantes,segundo a opinião do naturalista Girard” 12 .No dia 21 do mesmo mês, um novo ofício referia como distribuir asespécies existentes no aquário, devendo ficar a guardar o edifício o porteiroe o maquinista. É ainda referido que a Escola Politécnica e a Liga Navalseriam potenciais interessadas no Aquário, devendo, se possível, dar – seprioridade à primeira.A situação mantém-se complicada e por resolver durante muito tempo,sendo o diretor interino obrigado a apresentar relatórios mensais,mencionando que o Aquário estava a funcionar dentro da normalidade. Noentanto, as faturas e os ofícios provam exatamente o contrário. A quatro demaio de 1907, um ofício refere que ainda se esperava uma resposta da LigaNaval quanto a pretender esta ficar, de facto, com o Aquário. Menciona-semesmo a hipótese de contactar organismos, caso esta não aceite, como a11 SILVA, Armando da, Regulamento do Aquário Vasco da Gama, art. 1º, Lisboa, ArquivoGeral da Marinha, 18-07-190312 Ofício de 4 de fevereiro de 1907, Ministério da Marinha e Ultramar, Arquivo Geral daMarinha, Lisboa11


Câmara Municipal de Lisboa e a Sociedade de Propaganda “porque aoEstado não pode de modo algum convir tão oneroso encargo (…) 13 .Umas das instituições contactadas foi novamente a Sociedade de Geografia,através de um ofício, a 7 de março de 1908. A 16 de junho, a mesmamostra-se disponível a aceitar a proposta mas com condições tão elevadasque o Ministério da Marinha não pode aceitar. Entre estas estava aconcessão de um subsídio anual de 3 000$00 reis, para a manutenção doAquário.2.2 – A administração da Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais(1909-1919)A Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais tinha sido criadarecentemente, a 15 de abril de 1907, sendo o rei D. Carlos o seu presidentehonorário. O principal objetivo era angariar fundos para a criação de umaestação de Biologia Marítima, o que acabará por só ser conseguido 12 anosdepois.Inicialmente a sociedade escolheu para sua sede o forte de Albarquel, emSetúbal, mas rapidamente se interessou pelo Aquário, tendo o rei D. Carlosapoiado largamente essa ideia. O regicídio, a 1 de Fevereiro de 1908, veioatrasar as negociações.A 17 de julho de 1909, a Sociedade acabará por tomar posse da direção eadministração do Aquário, assinando um contrato por cinco anos, sendoque o despacho que o autoriza tem a data de 19 de junho de 1909.A direção era constituída por Mark Athias, secretário perpétuo, BettencourtFerreira, Celestino da Costa, Nicolau Bettencourt e Reis Martins,secretários e tesoureiros. Para diretor será nomeado Anthero Francisco deSeabra. No seu relatório, elaborado entre 1909-1910, compromete-se a“manter abertas ao publico as galerias de exposição do Aquario, com aspiscinas povoadas, a conservar em bom estado o edifício, machinismos,canalizações, etc, a fazer as reparações necessárias para a sua conservação ea realizar investigações scientificas relativas á fauna marítima e fluvial e ásindustrias piscícolas, promovendo ao mesmo tempo a divulgação deconhecimento sobre os referidos assumptos” 14 .A Sociedade devia administrar e manter o Aquário, prestando mensalmentecontas à Direção Geral da Marinha.13 Ofício de 4 de maio de 1907, Ibidem14 Sociedade Portuguesa de Sciencias Naturais, Aquario Vasco da Gama - Relatório de1909-1910, Lisboa, Typografia da livraria Ferin-Editora, 1910, p. 912


O AQUÁRIO <strong>VASCO</strong> <strong>DA</strong> <strong>GAMA</strong>Durante este período, o Aquário sofreu obras de remodelação, com aconstrução de laboratórios, oficinas, arrecadações, novos tanques para acultura de espécies, indígenas e exóticas, vários terrários e uma lagoa paraviveiro de peixes e plantas de água doce. As companhias de gás eeletricidade reduziram os seus preços, perdoaram dívidas. A CâmaraMunicipal ofereceu plantas ornamentais, a Escola Politécnica, plantas deestufa. Foi ainda possível a construção de “um pequeno barquinho de ferroprovido de caixas d`ar, e algumas vasilhas” 15 .No seu relatório, Anthero de Seabra refere que grande parte das obrasforam realizadas com o auxílio dos próprios funcionários do Aquário.O Aquário vê o seu espaço ampliado, graças à cedência de terrenos pelaCâmara Municipal de Lisboa e, com um esforço conjunto dos Ministériosda Marinha e das Obras Públicas, construíram-se novas instalações para ainvestigação científica. O objetivo final foi sempre, após a sua recuperação,a sua transformação numa Estação Biológica.Em 1913, realizar-se-á no Aquário uma exposição marítima e fluvial, apropósito da Comemoração do terceiro aniversário da República. Nelacolaboraram a Comissão Central de Pescarias, o Museu Bocage, a EstaçãoAquícola do Rio Ave e o próprio Aquário que apresentou várias espécies,nacionais e exóticas, algumas já reproduzidas no Aquário. Daqui resultou aprimeira exposição permanente de animais conservados e naturalizados doMuseu, constituída em grande parte por material concedido pela ComissãoCentral de Pescarias.Foi nesse mesmo ano que se iniciou também a construção de um grandedepósito em cimento, chamado “Chateau d`eau”, nos terrenos das traseirasdo Aquário, destinado a acolher e filtrar as águas captadas no rio.Aviso 5 de Outubro15 Ibidem, p. 1513


Ainda em 1913, procurando incrementar as investigações científicas,regressam ao Yacht Amélia IV, rebatizado Aviso Cinco de Outubro, em1911, uma série de aparelhos destinados a investigações hidrográficas, quepertenciam ao Aquário.Entretanto, o contrato celebrado entre o Ministério da Marinha e aSociedade Portuguesa de Ciências Naturais estava a chegar ao fim. Estapretendia renová-lo mas com novas condições, tanto mais que atransformação do Aquário, numa Estação de Biologia Marítima, era cadavez mais uma certeza. Entendia que seria necessário que o Estado passassea fornecer subsídios à instituição e que a continuação da ligação àComissão de Pescarias só seria viável se a mesma custeasse os encargospois “os recursos próprios do Aquário mal chegavam para a suamanutenção como estabelecimento recreativo, menos ainda para custeio delaboratórios scientíficos” 16 . Além disso, não fazia sentido que, passando oAquário a ser uma Estação Biológica, continuasse a sua dependênciarelativamente ao Ministério da Marinha: “Estaria melhor no Ministério deInstrução, possivelmente ligada à Universidade, mantendo, embora, a suaautonomia”. 17Esta situação levantará uma querela entre a Sociedade e o Ministério daMarinha que não aceita ser desligado do Aquário. Este resolve não renovaro contrato à Sociedade e manda instalar no Aquário a Comissão Central dePescarias, entregando a administração ao presidente e secretário dessainstituição. Prepara ainda um projeto para o Aquário, dando continuidade àideia de instalação de uma Estação de Biologia, que seria administrada poruma comissão composta por dois delegados, um da Comissão de Pescarias,outro da Universidade de Lisboa. Para encarregado da Estação seriacontratado um naturalista. A Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais foiexcluída de qualquer ligação ao Aquário, só podendo utilizar as instalaçõespara eventuais estudos.Após várias negociações, a Sociedade Portuguesa de Ciências Naturaisconsegue finalmente, a 6 de maio de 1915, que lhe seja renovado o contratocom o Ministério da Marinha, por mais 5 anos. De acordo com este novocontrato, seria constituída uma Comissão Administrativa, presidida por umdelegado do Ministério da Marinha e composta por mais dois elementosnomeados pela referida Sociedade: um delegado da comissão e o diretor dafutura Estação de Biologia Marítima. A mesma seria responsável pelamanutenção e administração do Aquário, devendo prestar contas à DireçãoGeral da Marinha. Tomou posse a 31 de Maio de 1915 e Anthero de16 COSTA, A. Celestino da, Relatório do Aquário Vasco da Gama, apresentado à ComissãoOceanográfica, Lisboa, Livraria Ferin-Editora, 1918, p. 2517 Ibidem, p. 2514


O AQUÁRIO <strong>VASCO</strong> <strong>DA</strong> <strong>GAMA</strong>Seabra, diretor do Aquário até à data, demitiu-se, descontente com ascondições. Sucedeu-lhe o Dr. Carlos Furtado que, pouco tempo depois,pediria também a demissão.Dr. Celestino da CostaApós quase um ano sem diretor, tendo o presidente da ComissãoAdministrativa assumido essas funções, tomará posse o professor AugustoCelestino da Costa. O Aquário encontrava-se novamente em péssimascondições financeiras.Um subsídio atribuído pelo Ministério da Marinha permitiu melhorar umpouco a situação. Em 1917, verificou-se a construção de um andar sobre afachada principal do edifício, onde surgirá uma grande sala, o “SalãoNobre”.2.3 – Aquário Vasco da Gama – Estação de Biologia Marítima (1919-1950)A 10 de maio de 1919, a Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais verá oseu sonho concretizado com a criação da Estação de Biologia Marítima. ODecreto-lei 5.615 concedeu autonomia científica e administrativa aoAquário, passando este a chamar-se Aquário Vasco da Gama – Estação deBiologia Marítima. À sua frente passou a ter um Conselho de administraçãoconstituído por um delegado do Ministério da Marinha e dois naturalistas,sendo um o seu diretor, o professor Celestino da Costa e o outro o seuassistente, o Dr. Alfredo Magalhães Ramalho. Foi ainda criada uma15


Comissão Oceanográfica, como órgão consultivo e auxiliar do conselho deadministração.Neste período, o Aquário é alvo de várias remodelações: os laboratóriosficam prontos, são construídos novos aquários e o andar de cima éconcluído, o que permite dotar o Aquário de uma sala de Museu.A biblioteca é remodelada e enriquecida com novas obras. Entre estas,destaca-se “Memórias das explorações oceanográficas”, oferecidas pelopróprio príncipe Alberto do Mónaco. O Aquário aumenta o seu número depublicações que são, inclusivamente, requisitadas a nível internacional.Dr. Alfredo Magalhães Ramalho16


O AQUÁRIO <strong>VASCO</strong> <strong>DA</strong> <strong>GAMA</strong>A 19 de Agosto de 1930, o diretor Alfredo Ramalho, num ofícioendereçado à Direção Geral da Marinha, refere-se ao grande incrementoque a atividade científica do Aquário estava a ter, não só nos “assuntos debiologia marítima (ictiologia, plâncton) como também, e nos últimos anosmais intensamente, na pesquisa no mar resultantes da cooperação íntima donavio de estudos de oceanografia e pescas “Albacora” e da participaçãomuito activa do seu actual comandante, em prol da Oceanografia 18 .Grande parte deste desenvolvimento deve-se, aliás, à dinâmica dessediretor, ligado ao Aquário desde 1915. O navio Aviso Cinco de Outubro ésubstituído, nas suas explorações hidrográficas, pelo Albacora, construídona Noruega e entregue à Estação de Biologia Marítima, em 1937.O próprio diretor se deslocou à Noruega para tratar do apetrechamentocientífico desse novo navio, aproveitando para frequentar em Bergen umcurso de oceanografia física, organizado pelo professor Helland Hansen.Sob a sua orientação, o Albacora, comandado pelo primeiro-tenenteLuciano Sena Dentinho, realizará todos os anos, até 1931, viagens deestudo entre o Continente, Madeira e ilhas Selvagens, Casablanca, Gibraltare Canárias, em cooperação com diversas instituições nacionais eestrangeiras.Alfredo Magalhães Ramalho conseguirá um reconhecimento pessoal queacabará por ter reflexos na Estação de Biologia Marítima. Viu o seu nomeser admitido em sociedades de renome como a <strong>Academia</strong> das Ciências deLisboa ou a internacional Zoological Society of London.Outro aspeto que contribuiu para o enriquecimento da parte museológica daEstação foi o regresso da coleção oceanográfica do rei D. Carlos e respetivabiblioteca. Após um período em que ficou guardada no Palácio dasNecessidades, em Fevereiro de 1910, foi entregue à Liga Naval Portuguesa,onde é inaugurada a “secção oceanográfica D. Carlos I”, no Palácio dosDuques de Palmela, no Calhariz. Aí ficará até 1929, data em que a coleçãoserá transferida para o Museu Castro Guimarães, onde foi exposta, sob aguarda da Câmara Municipal de Cascais. No início de 1930, a coleçãoacabará por ser encontrada pelo inspetor dos museus, Dr. José deFigueiredo, abandonada, por falta de instalações. Será esta a principal razãoque leva a Liga Naval a fazer doação da coleção, por escritura notarial, aoAquário Vasco da Gama. Num ofício de 15 de março de 1935, dirigido aoMinistro da Marinha, a Liga Naval refere, como motivo da sua decisão, “adificuldade de dar cumprimento ao legado do Senhor D. Manuel II –expondo ao público a coleção oceanográfica D. Carlos I e tratando daconservação dos exemplares que a compõem – e reconheceu que a entidade18 RAMALHO, Alfredo, Ofício nº 107 de 7 de julho de 1930, Arquivo Geral da Marinha,Lisboa17


que melhor poderia fazê-lo, quer pelas suas instalações, quer pelaproficiência técnica dos seus dirigentes, era o Aquário Vasco da Gama.” 19 .O Aquário recupera, finalmente, a coleção do rei D. Carlos, que tinhadesempenhado um papel tão importante na sua fundação. Desde há algunsanos que pretendia tal sucedesse, ainda que sem sucesso. Assim o afirmouo seu diretor, o Dr. Alfredo Magalhães Ramalho, como resposta aoGovernador Civil de Lisboa, na sequência do pedido de indemnização porparte da Comissão Administrativa do Concelho de Cascais pelos gastosfeitos com a manutenção, beneficiação e transporte da coleção: “(…)quando se resolveu, por volta de 1916 ou 1917 a transformação dovestíbulo do edifício do aquário e a construção dum novo andar nesta parte,com o fim de tornar possível a ampliação do espaço destinado á exposiçãofutura de tudo o que pudesse interessar ao progresso da oceanografia emPortugal, já se contava muito especialmente (dada a decadência que nessaépoca a Liga Naval revelava) com a transferência em futuro mais ou menospróximo da colecção de D. Carlos I que desde 1910 estava confiada á LigaNaval, pois se pensava que o aquário era a única instituição no pais quenesse tempo se especializava nos estudos oceanográficos, e portanto estavanaturalmente indicada para a receber, conservar, estudar e utilizar.” 20 .Estas melhorias tornam o Aquário cada vez mais atrativo o que aumentasignificativamente o número de visitantes, melhorando as condiçõesfinanceiras do Aquário.A 20 de maio de 1943, a propósito do seu 45º aniversário, o museu doAquário Vasco da Gama reabre ao público, já com um papel de divulgaçãocientífica e pedagógica.No entanto, tempos difíceis voltam a vislumbrar-se no horizonte, com achegada dos anos 40.Entre maio e agosto de 1940, o Aquário sofrerá um dos seus mais durosgolpes ao ser amputado em cerca de 1/3 das suas instalações, na sequênciada construção da Estrada Marginal Lisboa-Cascais, considerada na época anossa primeira estrada de turismo. Em pouco tempo, foi necessárioencontrar novos locais para os laboratórios, biblioteca e novos tanques decultura. Todos os dias surgiam novos problemas para resolver.Além disso, adaptado ao Mar do Norte, o navio Albacora revelar-se-á um“mar de problemas”, o que levará o diretor da Estação a decidir-se por doáloà junta central das Casas dos Pescadores, em janeiro de 1949. Estasituação criar-lhe-á um conflito com o presidente do Conselho de19 Liga Naval Portuguesa, Ofício de 15 de Março de 1935, Arquivo Geral da Marinha,Lisboa20 RAMALHO, Alfredo Mendes de Magalhães, Aquário Vasco da Gama - Estação deBiologia Marítima, 23 de Setembro de 1935, Arquivo Nacional da Marinha, Lisboa18


O AQUÁRIO <strong>VASCO</strong> <strong>DA</strong> <strong>GAMA</strong>Administração, M. José Possante. Além disso, marcará um período deestagnação nas investigações científicas, coincidente com a saída dePortugal do Conselho Internacional para o Estudo do Mar (CIEM).Maqueta representando o edifício antes do corte 21Os anos da década de 40 são dos piores para a instituição, voltando a fazerseperigar a sua existência.Debatendo-se com problemas e critérios diferentes de administração, faltade espaço e, cada vez mais, financeiros, decide-se a mudança da Estação deBiologia para um novo local, um edifício do Ministério da Marinha situadono Cais do Sodré. Para lá foram transferidos os gabinetes do diretor einvestigador da Estação, a biblioteca, arrecadações (rés -do-chão); noprimeiro andar, uma sala funcionava como gabinete fotográfico e duasdependências para os naturalistas.A ideia de que a junção entre o Aquário Vasco da Gama e a Estação deBiologia Marítima não tinha sido proveitosa ganhava cada vez mais peso.O presidente do Conselho de Administração, Manuel José Possante,referindo-se à diferença de interesses das duas instituições, escreveu no seurelatório de 1949 que “A Estação (…) tem um interesse imediato para oshomens de ciência, para os naturalistas. O Aquário interessa a toda a gente,novos e velhos, homens e mulheres. Com um pouco de iniciativa e espíritoempreendedor qualquer pessoa é capaz de levar o Aquário a brilhantes21 A maquete encontra-se no Aquário Vasco da Gama e foi recentemente restaurada por umaequipa dirigida pela Dra. Joana Campelo, em colaboração com o Instituto dos Museus eConservação19


situações desde que, é claro, continuem a ser postos à sua disposição osadequados meios materiais e financeiros” 22 .O diretor Alfredo Magalhães Ramalho começa a ser apontado como um dosresponsáveis pela situação crítica a que o Aquário estava a chegar pois nãodemonstrava qualquer tipo de interesse pela parte lúdica e recreativa dainstituição, ainda que a sua competência científica fosse indiscutível.2.4 – A evolução do Aquário Vasco da Gama a partir dos anos 50A 5 de dezembro de 1950 é publicado o Decreto-Lei 38 079 que determinaa separação entre as duas entidades: Aquário e Estação de BiologiaMarítima.Nove meses mais tarde, em setembro de 1951, novo decreto, assinado peloentão Ministro da Marinha, o almirante Américo Tomás, dotará o Aquáriodas estruturas necessárias ao seu funcionamento, enquanto entidadeautónoma. O novo diretor, que acumularia o cargo com o de presidente doConselho administrativo, seria um oficial superior da Marinha Portuguesa,a quem caberia a função de zelar pela boa conservação dos materiais emanter o povoamento apropriado nos aquários e terrários. Do conselho deadministração fariam parte também um oficial de administração naval, nocargo de secretário-tesoureiro e um conservador.Como diretor foi nomeado o capitão-de-mar-e-guerra, José MonteiroGuimarães.Dado o estado de degradação em que a instituição se encontrava, foinecessário proceder a obras de recuperação e restauro das instalações.Vários novos aquários foram sendo construídos, iluminados agora com luzfluorescente: só em 1958, foram construídos 20 pequenos aquários para aexposição de invertebrados marinhos; em 1960, um para exibição de lontrasvivas e vários outros menores para pequenos peixes tropicais de águadoce. A partir de 1976, o edifício é ampliado, graças à oferta por parte daCâmara de Oeiras de uma faixa de terreno, o que possibilitou restaurar aárea de exposição do Museu, sendo reaberta ao público, em julho de 1980.O salão de entrada e o corredor de acesso aos aquários, forampavimentados em pedra mármore. Entre 1982 e 1992, novas transformaçõesocorreram com a construção de outros aquários.A partir dos anos sessenta, o Aquário atravessa um período de francaexpansão que não se ficou pela renovação das suas infraestruturas. A sua22 POSSANTE, Manuel José, Relatório do Presidente do Conselho de Administração doAquário Vasco da Gama – Estação de Biologia Marítima, 1949, p. 720


O AQUÁRIO <strong>VASCO</strong> <strong>DA</strong> <strong>GAMA</strong>atividade de divulgação científica e pedagógica apresentou um crescimentonotável.Em 1979, o Aquário passará a poder contar com o Albacora II, umaembarcação construída no Arsenal do Alfeite, concebida para a manutençãoe transporte de exemplares vivos.Tornar-se-á possível a colaboração entre o Aquário e diversas entidades,entre as quais a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, com aqual foi estabelecido um protocolo; a participação na Feira das Indústrias,em 1960, em colaboração com uma empresa de congelação; e acolaboração com a comissão organizadora nas Comemorações doCentenário da Cidade de Setúbal, fornecendo e montando quatro aquárioscom espécies piscatórias daquela região.O número de visitantes não parará de crescer. Em 1953, o Aquário registará72 395 visitas e o bilhete de entrada era já 2$00, vinte vezes mais caro queem 1919 23 .Em 1964, o Aquário decide abrir as portas ao público nas noites de quintasfeirase sábados, de 15 de agosto a 30 de setembro. O êxito foi enorme.O seu diretor de então, José Augusto Parreira, continuará a apostar noalargamento das atividades científicas e pedagógicas. Entre as váriassugestões apresentadas estão as visitas de estudo guiadas, sessões decinema e novas parcerias, nomeadamente com a Fundação CalousteGulbenkian e o Ministério da Educação.Em 1968, o Aquário contará 179 806 visitantes 24 .O decreto-Lei 89/71 registará um novo progresso ao ligar o Aquário aoInstituto Hidrográfico. No mesmo ano, um novo decreto atribuirá,finalmente, ao Aquário, um caráter científico, a par do pedagógico e lúdico,sendo criados os serviços de Aquariologia e Museologia e o Gabinete deEducação e Divulgação. Um novo decreto, publicado em 1976, atribuirá aoAquário a função de investigação no domínio da criação, “ em cativeiro,das espécies marinhas e devendo contribuir para o estudo da cultura deorganismos da fauna e flora aquáticas” 25 .Os anos 80 continuaram a confirmar a importância crescente do Aquário.No ano de 1983 registou-se 229 201 visitas. Foram incentivados e apoiadosestudos no âmbito da Aquariologia e de vários projetos, como o doPID<strong>DA</strong>C – remodelação e ampliação do Museu. O Aquário continuou aparticipar em vários eventos, entre os quais, em 1986, a “Exponaquaterra”,realizada na Feira da Ascensão, em Alenquer, a convite da Associação23 CASEIRO, Carlos, A Casa Grande do Mar – Aquário Vasco da Gama – 1898-1998,Marinha Portuguesa, Estar, 1998, p. 10224 Ibidem, p. 10225 Ibidem, p. 10821


Portuguesa de Aquariófilos e a primeira reunião de Museus de HistóriaNatural da CEE, que teve lugar no Museu de História Natural, em Paris.Entre julho e agosto de 1984, o Aquário organizará a sua primeiraCampanha Oceanográfica, levada a cabo no Arquipélago da Madeira.Tendo em vista melhorar o seu lado pedagógico, tornando-o mais atrativo,o Aquário passará a realizar filmes e diapositivos sobre as diferentestemáticas expostas.Em 1985, a Sala de Malacologia é inaugurada. A biblioteca é acrescida deuma sala preparada para conservar a biblioteca e documentação daimportante e inestimável Coleção Oceanográfica do rei D. Carlos.Nos últimos anos, prosseguiram as obras de remodelação e modernizaçãodo Aquário. Em 2001, passou a estar dotado de uma cafetaria e de umauditório.Continuaram a ser desenvolvidos vários projetos de âmbito científico epedagógico. Destaca-se, essencialmente, as tentativas de modernização naparte dos aquários com a instalação de quiosques multimédia, quepermitem aos visitantes uma visita interativa no âmbito da BiologiaMarinha; e a introdução de dois “touch tank”, que recriam uma poçarochosa da Costa do Estoril e uma praia do Estuário do Sado. Foi tambémcriado um site do Aquário com informações detalhadas sobre o mesmo.Em 1998, a Expo 98 trouxe ao Aquário um poderoso rival: o Oceanário. Defacto, a partir daí, as visitas sofreram uma quebra, centrando-se agora nascerca de 55 000 entradas anuais.O Aquário continua a ser, no entanto, uma instituição com um valor muitopróprio e incomparável. Trata-se de uma entidade centenária que, à parte asua coleção própria e diversificada, alberga uma coleção de valorincalculável, a Coleção oceanográfica do rei D. Carlos. É um espaçofamiliar, constituído por aquários pequenos, que permitem um contactopróximo entre o visitante e as espécies em exposição, aspeto muitoimportante quando se trata de um público mais jovem e se pretende fazervaler o caráter pedagógico da visita.O Aquário Vasco da Gama resistiu a anos muitos conturbados que quasefizeram perigar a sua existência. Também hoje se devem continuar aenvidar esforços para mostrar e provar o valor desta instituição centenária.Voltando a citar o presidente do conselho de administração da antigaEstação de Biologia Marítima, Manuel José Possante, “com um pouco deiniciativa e espírito empreendedor qualquer pessoa é capaz de levar oAquário a brilhantes situações desde que, é claro, continuem a ser postos àsua disposição os adequados meios materiais e financeiros” 26 .26 POSSANTE, Manuel José, Relatório do Presidente do Conselho de Administração doAquário Vasco da Gama – Estação de Biologia Marítima, 1949, p. 722


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O AQUÁRIO <strong>VASCO</strong> <strong>DA</strong> <strong>GAMA</strong> Quarto Centenário da Expedição que descobriu a Índia: PlanoGeral da Celebração, ante-projecto apresentado à Comissãocentral executiva em sessão de 25 de Junho de 1894 pelo seusecretário Luciano Cordeiro, Lisboa, Typografia do Comércio dePortugal, 1894 SEABRA, A. Francisco de, Aquário Vasco da Gama – Relatório de1909-1910, Lisboa, Tip. da livraria Ferin-Editora, 1910. SILVA, Armando, O Aquário Vasco da Gama, Relatórioapresentado a sua ex.ª o Ministro da Marinha e Ultramar sobre oEstado D”este Estabelecimento e a sua reorganização, Lisboa,Imprensa Nacional, 190125

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