Mário Lino O Progresso Vem Aí Parque Expo - CCDR-LVT

Mário Lino O Progresso Vem Aí Parque Expo - CCDR-LVT Mário Lino O Progresso Vem Aí Parque Expo - CCDR-LVT

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8Junho | 2008entrevistaMário LinoMinistro das Obras Públicas,Transportes e ComunicaçõesreportagemO Progresso Vem AíO Novo aeroporto de LisboaterritóriosParque ExpoUm Novo Ciclo

8Junho | 2008entrevistaMário <strong>Lino</strong>Ministro das Obras Públicas,Transportes e ComunicaçõesreportagemO <strong>Progresso</strong> <strong>Vem</strong> AíO Novo aeroporto de Lisboaterritórios<strong>Parque</strong> <strong>Expo</strong>Um Novo Ciclo


índiceEditorialNovo Ciclo no Ordenamento do Território.................. 2António Fonseca FerreiraNotícias Breves........................................................................4OpiniãoFazer Cidade..............................................................................12Fernanda CâncioEntrevistaMário <strong>Lino</strong>................................................................................. 16Ana Sousa DiasReportagemO <strong>Progresso</strong> vem aí.............................................................. 26Carla AmaroTerritórios<strong>Parque</strong> <strong>Expo</strong>Um Novo Ciclo.........................................................................34Carla Maia de AlmeidaPatrimónioA Cidade Flutuante.............................................................40Carla Maia de AlmeidaAcontecimentoUma passagem e muito mais........................................ 46Carla AmaroDestaqueUma Obra do Povo................................................................50Pedro Almeida VieiraRoteiroO arco-íris culinário lisboeta...........................................56David Lopes RamosAgenda Cultural.................................................................60


OPlano Regional de Ordenamento do Territóriopara a região do Oeste e Vale do Tejo (PROT-OVT),para além de definir as opções estratégicas dedesenvolvimento e o modelo territorial em queassenta, pretende abrir novas pistas e soluçõespara o planeamento territorial. Ao propor um novo modelo para asua própria gestão – monitorização, avaliação e aplicação participadas– o PROT-OVT visa contribuir – ainda que experimentalmentee assumindo os riscos que isso comporta, – para que seultrapassem os impasses criados por um regime jurídico dos instrumentosde gestão territorial (RJIGT) claramente «fora do seutempo», ultrapassado pelas realidades económicas, sociais e devalores civilizacionais. Ou seja: o sistema de planeamento territorial– na sua normativa e, particularmente, no que respeita à culturade aplicação -, está desadequado das realidades territoriaisque é suposto regular. Portanto, é ineficaz.O sistema de planeamento territorial em vigor – fundado na Leide Bases (Lei nº 48/98) e respectivos diplomas regulamentadores- é, ainda e claramente – tributário do funcionalismo plasmadona Carta de Atenas dos anos 30 do século passado. Vivia-se, então,na Europa avançada, o apogeu da industrialização e da eramoderna, tempos em que as sociedades se apresentavam maishomogéneas, com ritmos de mudança lentos e previsíveis, e umaforte intervenção providencialista e regulamentadora do Estado.Os tempos mudaram, muito, desde então. «Hoje, as transformaçõeseconómicas, geopolíticas, culturais, tecnológicas e dos modosde vida ganham ritmos e formas que nem as mais visionáriaspercepções se atreveriam a prever há 20 anos (….) As mudançasatingem os sistemas e as formas de produção, de distribuição ede consumo. Reflectem-se na organização do trabalho, dos temposlivres, nos relacionamentos sociais e familiares e nos valores,aspirações e comportamentos individuais e colectivos assimtransformando os modos de vida, as formas de uso e apropriaçãodo espaço público e privado e as estruturas espaciais, funcionaise vivenciais das cidades, das aldeias e do território»Excessivamente padronizado, o planeamento urbanístico funcionalistajá não responde às solicitações culturais, sociais e às oportunidadeseconómicas, e não se adequa à diversidade das iniciativase das formas urbanísticas.É preciso criar e praticar novas modalidades e instrumentos deplaneamento e gestão urbanística. Entretanto, enquanto tal nãoacontece recomenda-se uma gestão mais processual, participadae concertada do actual sistema de planeamento territorial.Os Planos Regionais de Ordenamento do Território (PROT), pelasua natureza mais estratégica, e com «Normas Orientadoras» emvez de regulamento jurídico, proporciona as condições apropriadaspara uma gestão mais aberta, flexível e participada. Ou seja:uma aplicação pragmática, seguramente, mais eficaz.É esta a inovação que se propõe para a gestão do PROT-OVT.Para garantir maior adaptabilidade e eficácia do PROT-OVT propõe-seum novo modelo de governação através da Estrutura deMonitorização, Avaliação e Gestão, em permanente concertaçãoentre as administrações central e local, os agentes associativos,económicos, sociais e culturais de âmbito regional.Nas atribuições desta estrutura estão a recolha, tratamento edivulgação da informação sobre a evolução do território OVT; aanálise de eventuais desvios e a consequente adopção de medidasque os corrijam; proceder à interpretação de dúvidas e à revisãode preceitos e soluções, sempre na observância do enquadramentolegal; e a dinamização das relações entre a comunidade eas instituições regionais, locais e a administração central.Esta Estrutura de governação integra três órgãos:A Comissão de Acompanhamento, que reunirá duas vezes porano, constituída com base na Comissão Mista de Coordenação(CMC), que acompanhou a elaboração do PROT, presidida pelaDGOTDU, de natureza consultiva, com as atribuições de apreciare aprovar os programas e relatórios da estrutura de monitorizaçãoe gestão; a emissão de pareceres e recomendações específicase a apreciação das orientações e decisões da gestão.A Estrutura de Gestão, constituída por um Núcleo Base, integradopela <strong>CCDR</strong> <strong>LVT</strong> e pelas três Comunidades Urbanas/ Associações deMunicípios, e por Comissões Temáticas, de composição variável,que têm a competência de apreciar a evolução da execução doPROT e de propor medidas de optimização, preenchimento delacunas e de proceder a interpretações que clarifiquem normasde execução do Plano.Por fim, o Observatório, responsável pela informação relevantepara a avaliação das politicas de ordenamento do OVT. A esteórgão incumbe assegurar a recolha, tratamento e divulgação deinformação de carácter estatístico, técnico e científico relevantepara a elaboração dos Relatórios Periódicos e DocumentosIntercalares ou Específicos de avaliação e monitorização do territórioregional e das práticas de gestão territorial, e funcionará noseio da <strong>CCDR</strong> <strong>LVT</strong>, em estreita articulação com Observatório doOrdenamento do Território e do Urbanismo, de âmbito nacional,também em processo de criação.ESTRUTURA DE MONITORIZAÇÃO, AVALIAÇÃO E GESTÃO DO PROT OVTcomissão deacompanhamentoestruturade gestãodgotduentidades da cmc(eventualmente outras)núcleo base(<strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> + Com. Urb. /AS. municípios)comissões temáticas(Núcleo Base + Ent.Central e Regional)observatório do ovtComissãoTemáticado TurismoComissãoTemática dosTransportesComissãoTemáticado Território…ITPRT…IMTTREFERRAVE…DGOTDUICNBAPA……|


NOTÍCIAS BREVESDesenvolvimento Regional em Contexto de GlobalizaçãoRichard Florida pela primeira vez em PortugalDomingos MarquesDomingos MarquesRichard Florida, o economista norte-‐americano mentor do conceito das «cidadescriativas», esteve pela primeira vez emPortugal a convite da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> e da Ordemdos Economistas, naquela que foi a segundaconferência do ciclo «DesenvolvimentoRegional em Contexto de Globalização».Domingos MarquesNa conferência promovida a 17 de Abrilna Fundação Calouste Gulbenkian, Floridaexplicou porque é que as cidades que maisse desenvolvem são aquelas em que prevalecemtrês factores – Tolerância, Talentoe Tecnologia, os chamados «Três T’s» – edeixou algumas mensagens para Lisboa,integrada numa das dez mega-regiõescom maior índice de criatividade naEuropa, de acordo com os estudos queo economista e professor universitáriodesenvolveu nos últimos anos.Além de diversos estudos desenvolvidosnos Estados Unidos e de obras como«The Rise of the Creative Class» e «Who’sYour City?», lançado nos Estados Unidosem Março, Florida é co-autor, com IreneTinagli, do relatório «Europe in the CreativeAge», publicado em 2004.Neste relatório, Portugal aparece comoo último país da lista europeia no índice decriatividade. Apesar disto, Lisboa será umaexcepção, que deve ainda ser potenciada,defende Florida, pela valorização daquiloque é característico e que constitui aidentidade da região. |


PROT-OVTem discussão públicaO parecer final da Comissão Mista deCoordenação (CMC) sobre o PROT-OVT foiaprovado e assinado pelas entidadespresentes na 11.ª reunião plenária, quedecorreu no dia 20 de Maio em Salvaterrade Magos, no Centro de Interpretação eEducação Ambiental do Cais da Vala Real.Após dois anos de elaboração, com intensaparticipação dos actores regionais, foiaberta a fase de inquérito público ao PlanoRegional de Ordenamento do Território doOeste e Vale do Tejo, a 2 de Junho, durante oqual todas as entidades e cidadãos interessadosse poderão pronunciar. Realizaramseas sessões públicas sobre o PROT nosdias 4 e 5 de Junho, em Abrantes eBombarral, e está prevista uma outra paraa Chamusca, no dia 16 de Junho.O plano vai estar em discussão até.ao próximo dia 4 de Agosto. O documentoe mais informações sobre o PROT-OVT,assim como o formulário para contributose comentários, está disponível em:.http://consulta-protovt.inescporto.pt.O plano deverá ser entregue ao Governoem Setembro. Do PROT-OVT faz ainda parteum programa de execução que prevê uminvestimento total que ronda os 2,8 milmilhões de euros.A <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> propôs ainda a revisão expeditado Plano Regional de Ordenamento daÁrea Metropolitana de Lisboa (PROT-AML),face à alteração de localização do futuroaeroporto. A revisão foi aprovada no iníciode Maio, tendo o Governo dado um prazode nove meses para a sua conclusão.Open Days 2008Lisboa lidera rede da Economia MarítimaA economia marítima é o tema da candidaturade Lisboa e Vale do Tejo à próximaedição dos Open Days, o maior evento deregiões na União Europeia, a decorrer emBruxelas entre 6 e 9 de Outubro. A aprovaçãoda candidatura foi anunciada no início deAbril pelo Comité das Regiões e a ComissãoEuropeia.Organizados pela Comissão Europeia(DG REGIO) e pelo Comité das Regiões,os Open Days Semana Europeia dasRegiões contarão com a presença de 200regiões e cidades de toda a Europa e comcerca de 5500 participantes, de entre osquais, peritos e decisores em matéria depolíticas regionais, empresários e representantesdo sector financeiro.O conglomerado liderado por Lisboa e Valedo Tejo deste ano conta com a participaçãode 8 regiões costeiras europeias e portuárias:Andaluzia (ES), Sicília (IT), Canárias (ES),Zelândia (NL), Açores (PT), MacedóniaOriental e Trácia (GR), Ática (GR), Heraklion (GR).No âmbito dos Open Days 2008, estáprevista a realização de cerca de 120 sessõesem Bruxelas (workshops, semináriose debates), a presença de 120 expositoresno Café dos Investidores, bem como arealização de 200 eventos a nível local.Lisboa vai promover dois seminários emBruxelas, «Trends in Maritime TransportInnovation: How can the Regions takeadvantage?» e «Innovative MaritimeRegions: Which bets for tomorrow?», paraalém do evento local subordinado ao tema«A Região de Lisboa e Vale do Tejo e o Mar:Projectos de desenvolvimento».O tema da Economia Marítima é uma dasdimensões fulcrais do Livro Azul daComissão Europeia sobre a PolíticaMarítima Integrada, apresentado emOutubro de 2007. A formação de clustersmultissectoriais, a dinamização de clustersmarítimos inovadores, a melhoria daeficiência do transporte marítimo, apromoção do turismo costeiro e marítimo,o desenvolvimento de sistemas energéticosmarítimos inovadores e a governança nossectores marítimo e costeiro são algumasdas questões essenciais para o fomentoda competitividade e o desenvolvimentosustentável das regiões europeias.Projectos da mareconcluídosCaldas da RainhaPresidente da Ccdr-lvt recebe Medalha de OuroO evento final de apresentação dos cincosub-projectos da MARE – Operação QuadroRegional dedicada à mobilidade nas áreasmetropolitanas, vai decorrer na FeiraInternacional de Lisboa, no <strong>Parque</strong> dasNações, a 19 de Junho.Em divers0s workshops, debates e visitas,os participantes terão oportunidade deconhecer o que foi feito nas regiõesassociadas.O presidente da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>, António FonsecaFerreira, recebeu das mãos do presidenteda Câmara Municipal das Caldas da Rainha,Fernando Costa, a Medalha de Ouro deMérito Municipal, no âmbito das comemoraçõesdo Dia da Cidade, a 15 de Maio.O município decidiu atribuir esta medalha«por todo o apoio e pela colaboração que a<strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>, na pessoa do seu presidente,tem prestado ao concelho, nomeadamenteao nível dos fundos comunitários e nosprojectos que o município tem desenvolvido».Acaba de ser inaugurado o CentroCultural das Caldas da Rainha, um dosprojectos que tiveram o apoio do ProgramaOperacional Regional de Lisboa e Vale doTejo (ver notícia nesta edição). |


Objectivos Operacionais do QUAR meta ano n-1eficácia 50%OB 1 Ponderação de 30%Assegurar a conclusão Ind 1 Proposta de PROT-OVT Junho n/ada proposta paraForma Cálculo Concluída em Junhoconsulta pública doPROT-OVT em Junho Ponderação 100%OB 2 Ponderação de 25%Incrementar a Ind 2N.º de redes internacionais 5 3participação da.participadas<strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> em redesForma cálculo N.º de redes internacionaisinternacionaisparticipadasPeso 100%OB 3 Ponderação de 20%Concluir,Ind 3 Proposta de REN Dezembro n/aem Dezembro,Forma Cálculo Concluída em Dezembroa estrutura da RENa nível regional Ponderação 100%OB 4 Ponderação de 15%Assegurar oInd 4 Projectos iniciados 8 n/alançamento de 8Forma cálculo N.º de projectos iniciadosprojectos estratégicospara a Região Peso 100%OB 5 Ponderação de 10%Melhorar a rede Ind 5 Cobertura espacial 25 23de monitorizaçãoForma cálculo N.º de estaçõesda qualidade do arPeso 60%Ind 6N.º de parâmetros5.3 5.1poluentes medidosForma cálculo N.º médio parâmetros por estaçãoPeso 40%eficiência 30%OB 6 Ponderação de 50%Reduzir os passivos Ind 7ambientais da RegiãoForma cálculoN º de acções de remoção dedepósitos ilegais de sucataN.º de acções5 1Peso 100%OB 7 Ponderação de 30%IncrementarInd 8N.º de Presidências das 8 6o processo dedesconcentraçãodos serviçosComissões Mistas deCoordenação (CMC’s)asseguradas por técnicosdas sub-regionaisForma cálculo Presidências das CMC’s asseguradaspor técnicos das sub-regionaisPeso 50%Ind 9Rácio de Pessoal admitido 2/3 n/aem 2008 afecto aosserviços desconcentradosForma cálculo Admissões em 2008 (descontandoas substituições de saídas e o ST do PORL)afecto aos serviços desconcentrados/.Pessoal admitido (idênticas condições)Peso 50%OB 8 Ponderação de 20%Assegurar aelaboração de 90’%Forma cálculodos mandatos denotificaçãoreferentes aosProcessos de ContraOrdenaçãoinstaurados em 2007qualidade 20%Ind 10 Mandatos de notificação 90%Peso 100%OB 9 Ponderação de 50%Assegurar acesso Ind 11electrónico dosutentes à informaçãoForma cálculoprocessual respectiva(E-GOV)N.º de Mandatos de notificaçao.enviados em 2008/ PCO.instaurados em 2007Domínios comacessibilidade electrónicaN.º de domínios acessíveiselectronicamente3 n/aA monitorização do QUARMas, porque o que verdadeiramente importa é a execução,foi adoptada uma metodologia de monitorização mensalque permita aferir desvios e possibilite a atempada tomadade decisões.Relativamente a cada indicador, são recolhidas mensalmente,através de uma Ficha de «Reporte», três informações:• grau de concretização à data;• probabilidade estimada de concretização conforme planeado;• probabilidade estimada de superação da meta.A conjunção destas três informações e a evolução destes valorespara cada indicador e objectivo permite obter uma percepçãodo desempenho da instituição relativamente aos compromissosassumidos no âmbito do QUAR, alertando atempadamente paradificuldades verificadas a nível operacional.O «reporte» destas informações é feito sinteticamente, utilizandoum gráfico de 3 cores (semáforo) que indica o grau de desempenhoao nível de cada indicador, de cada objectivo e do QUARno seu conjunto permitindo, desta forma, à gestão de topoperceber, a cada momento, como está o «estado da arte» dosseus objectivos estratégicos e operacionais.O Plano de Actividades para 2008O Plano de Actividades encontra-se articulado com a Cartade Missão, a Agenda Estratégica e o Quadro de Avaliação.e Responsabilização.Trata-se de um documento que, de forma muito objectiva, é umreferencial claro para todos e permite que a organização actuede modo sintonizado e em consonância com os grandes objectivosestratégicos. Mais do que um enunciado de propósitos,constitui um compromisso estabelecido entre todos, norteadorda actividade da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> em 2008, e referência para a «contratualização»dos objectivos com os dirigentes e demais trabalhadores.A metodologia de elaboração do PA assentou na «gestão porobjectivos», associando sistematicamente o desempenho da<strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> a objectivos e resultados. Sempre com o maior envolvimentode todas as Unidades Orgânicas, o que implicou umamaior responsabilização aos diferentes níveis – desde o topo atéàs unidades de base - naquilo que se designa como «cascatade objectivos».Peso 100%OB 10 Ponderação de 50%Garantir aInd 12Guias de Depósito Setembro n/aimplementação dospagas por MBpagamentos dasForma cálculo Disponível em SetembroGuias de DepósitoComo factor de inovação, registe-se que o Plano de Actividadespor MBPeso 100%expressa, para cada um dos projectos enunciados, os seguintesobjectivos operacionais mais relevantes1. Assegurar a conclusão da proposta para consulta pública do PROT-OVT em Junho2. Incrementar a participação da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> em redes internacionais6. Reduzir os passivos ambientais da Regiãoelementos: equipa responsável pela sua concretização;Indicadores que permitem aferir o estado de execução (incluindodescrição e forma de cálculo) e as metas previstas.9. Assegurar acesso electrónico dos utentes à informação processual respectiva (E-GOV)10. Garantir a implementação dos pagamentos das Guias de Depósito por MB>|


MetodologiaOrientações GovernoAGENDA ESTRATÉGICAcarta de missãoquarpaObjectivos Dirigentes IntermédiosObjectivos Restantes TrabalhadoresA Administração Pública tem sido tradicionalmente caracterizadapor aspectos negativos, na sua maioria relacionados com o fracoempenhamento dos seus trabalhadores, com a irracionalidadedos procedimentos, com a ineficaz e tardia resposta aos «clientes»,em suma, com a falta de qualidade dos serviços prestados.Mais grave – porque na maioria dos casos com razão – aindaé o facto de, à medida que foi crescendo, se ter enredado nassuas próprias teias de funcionamento, entrando num processode reprodução dos procedimentos de forma acrítica, acabandopor esquecer a verdadeira razão da sua existência: servir os cidadãos.No entanto, uma das razões para tal tem residido, precisamente,na inexistência de mecanismos de gestão organizacionaladequados, ou na pouca consideração que as lideranças hierárquicasatribuíam a este aspecto. A preocupação clássica temsido focalizada nos procedimentos administrativos, na adopçãode mecanismos de salvaguarda das responsabilidades individuais,na reprodução dos circuitos e modelos vigentes.A introdução da gestão por objectivos obriga a repensar todasas práticas, sendo claro estarmos perante um momento demudança de paradigma. Que tardava. E que deve ser encaradocom muita seriedade por parte de todos os que detém responsabilidadede gestão ao nível da Administração Pública.Se a aplicação destes instrumentos for eficaz, pautada porcritérios de justiça e de equidade, de verdadeira preocupaçãocom o serviço público, então a inevitável resistência às mudançasserá vencida, o modelo sairá credibilizado e a AdministraçãoPública tornar-se-á mais competitiva e, sobretudo, mais produtiva.Das rupturas agora em curso poderão surgir organizaçõesmodernas, dinâmicas, qualificadas, centradas no seu factordistintivo que é, em todas as circunstâncias, o cidadão «cliente».Mas tal só acontecerá se os principais actores da mudança –todos os trabalhadores – estiveram envolvidos, conscientes dopapel que lhes cabe nesta peça e da sua inserção no guião total,percebendo que o seu desempenho é crucial para o sucessodo produto final.CALDAS DA RAINHAMaior Centro Cultural do Oesteabre portasHá três décadas que o concelho não dispunha de uma grandesala de espectáculos. Com o CCC, passará a fazer parte doprincipal roteiro cultural do paísAs Caldas da Rainha fizeram uma entrada em força no roteirocultural do país com a inauguração do Centro Cultural e deCongressos no passado dia 15 de Maio, feriado municipal. Desde1977, data de encerramento do cine-teatro Pinheiro Chagas, que oconcelho não dispunha de uma grande sala de espectáculos.O centro multiusos integra um grande auditório com 660lugares, ajustável às necessidades de cada situação e apto aresponder a todo o tipo de espectáculos, incluindo produçõesnacionais e internacionais, bem como cimeiras, congressos,conferências e colóquios, assim como de uma sala de ensaiospara lhe dar apoio.Paula Cristina Cunha | Vice-Presidente da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>10 |


Fotografias gentilmente cedidas pela Câmara Municipal das Caldas da Rainha.A versatilidade deste auditório é caso único em Portugal, sendo oseu palco também um dos maiores do país. Num espaço contíguo,foi construída uma sala de ensaios com um palco dasmesmas dimensões, para permitir a preparação dos espectáculossem prejuízo da programação cultural.Os espectáculos de cariz mais intimista têm o seu lugar nopequeno auditório, com 150 lugares, havendo ainda um espaçode Café Concerto, especialmente adequado a tertúlias e lançamentoseditoriais.O centro cultural contempla ainda uma sala de exposições com230 metros quadrados, assim como um espaço multiusos compossibilidade de se configurar em quatro salas de trabalho, quepoderão ser utilizadas para reuniões, apoio a congressos, sessõesde formação, workshops e outras actividades.Com o objectivo de promover uma aproximação entre os espectáculose o público, foi instalado no mesmo edifício um serviçoeducativo, que organizará espectáculos, oficinas temáticas,workshops e acções de formação, seminários, visitas guiadas,projectos para escolas e festas temáticas, oferecendo ainda umserviço de baby-sitting cultural.Aproveitando a dinâmica que se prevê criar com a entrada emfuncionamento do novo centro cultural, ficará aqui tambéminstalado um Posto de Informações e Turismo, que prestaráinformações não só sobre a agenda cultural mas também sobreos locais de interesse a visitar no concelho e na região.O Centro Cultural e de Congressos está localizado nas proximidadesdo centro histórico e do Hospital Termal, assim como doMercado da Fruta. O projecto, orçado em cerca de 18 milhões deeuros, contou com o apoio da Administração Central, através deum contrato-programa, e com uma comparticipação comunitáriade 40 por cento, através do Programa Operacional Regionalde Lisboa e Vale do Tejo (POR<strong>LVT</strong>).| 11


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Opinião | Fernanda CâncioFotografia | CAFazer CidadeO que é uma cidade? A resposta a esta pergunta não é tão fácil nem simples como parece.Na verdade, definimos melhor as cidades pelo que não são que pelo que são. Não admirapois que «fazer cidade» seja, como conceito e acção, tão complicado.Vai-se à procura da definição e que se encontra?Um conjunto de critérios qualitativos e quantitativosnos quais ninguém se entende. Claro que há,sabemos, essa coisa de «passar de vila a cidade».Mas é uma decisão política, as mais das vezesbaseada em número de habitantes, que nada nos diz da configuraçãoe das características do aglomerado urbano em causa. «Fazercidade» não pode ser só juntar pessoas a viver num dado sítio atéfazer muitas – sendo que quantas depende do país em que seestá e, dentro de certos países, das idiossincrasias de cada provínciaou Estado. Há cidades com 200 habitantes, outras com 5 milhões.Há países onde há dois tipos de cidades, ou pelo menos de nomede cidade (em inglês, «town» e «city»), sem que esses dois tipos,que supostamente se dividem em pequena cidade – town –e grande cidade – city – se consigam distinguir com grande rigor.Aliás, o número de habitantes não poderia servir de referênciaprincipal, já que há zonas densamente urbanizadas e habitadasàs quais, sem qualquer hesitação, chamaremos subúrbio – ouseja, aquilo que vemos como «fora» do conceito de cidade (o prefixo«sub» traduz uma inferioridade e uma dependência em relaçãoà «orbis», a muralha que cerca a cidade). Subúrbio de ummodo geral descrito, nas disciplinas que lidam com estas realidades,da geografia à sociologia, passando pelo urbanismo e pelaarquitectura, como uma zona desqualificada, sem as característicasde «cidade consolidada».Nada ou pouco a ver com número de habitantes ou mesmo comhabitantes neste conceito de cidade, que passa por uma ideia desofisticação e de «camadas» – embora possa haver também cidadesinstantâneas, como Brasília. E se se associa a ideia de cidadea um conjunto daquilo a que vulgarmente se dá o nome de «equipamentos»,de escolas a hospitais, de comércio a lazer, poderemosno entanto ter «equipamentos» e mesmo assim não ter cidade.Qualquer coisa de sentimento, de quase indizível nisso de sercidade, de sentir cidade. Uma espécie de alma, uma batida qualquer,um ritmo. Aquilo que faz apaixonarmo-nos por uma cidadee não por outra, por uma zona de uma cidade e não por outra.Aquilo que faz os «centros» e as «baixas». É o quê? Praças e cafés?Mistura de pessoas? Lojas? Teatros e cinemas? Boa arquitectura,seja lá isso o que for? Ideias feitas, sobretudo?É engraçado. Uma pessoa chega à Amadora e à Buraca e a essessítios e não diz: «estou numa cidade». Ouve falar da Cova daMoura e não pensa que é uma cidade, nem sequer uma cidadezinha.Mas estas coisas nasceram como nascem as cidades, tal qual.Uma casa aqui e outra ali, depois mais uma e outra, redes de vizinhos,amigos e inimigos, aqui uma escola, ali um templo, um café,uma loja. Não lhes concedemos a dignidade de cidade, falamos de«aglomerado urbano», de «bairro». Um dia alguém decide pôr‐lhe,legal e formalmente, o cognome de cidade. Mas vamos lá e nãoconcordamos. Perguntamos: «cidade, isto?». Porque há uma compo-.nente estética na noção, uma espécie de dignidade, de polimento,de cachet. Cidade é o sítio onde as coisas acontecem, o lugar centralonde tudo converge. Os citadinos são sofisticados e cultos, emoposição aos suburbanos e aos provincianos. A cidade é o motorde tudo. É o sítio onde pessoas diferentes se encontram e trocamserviços e ideias, um entrelaçar de espaço público e privado.| 13


Afinal, as ideias fundadoras da cidade são a protecção, por umlado – as primeiras cidades tinham muros (os tais «orbi») e a proximidadede muita gente implicava capacidade acrescida de defesa– e a heterogeneidade, por outro – terá sido também a divisãode trabalho e a especialização progressiva que juntou as pessoas.A ideia de troca em paz, portanto. Mercado, comércio, diferentesartes e mesteres e a elaboração de uma sociedade complexa, comestruturas de poder e de deveres e direitos mútuos em que a nãoagressão é o mais importante. As cidades são, então, o princípioda civilização e da organização dos estados. O princípio de todasas fórmulas avançadas de comunicação e da generalidade dastecnologias. É nas cidades que nascem as escolas, a ciência, o teatro,a generalidade das artes. É o lugar das misturas e dos desafios,o confronto das diferenças, dos viajantes, das mundividências.As primeiras cidades mais importantes crescem junto a rios ouao mar ou na confluência de caminhos muito percorridos. Quantomais concorrida, percorrida e diversa for a cidade, mais importanteserá. A História dá-nos testemunho constante disso: os grandesmomentos das civilizações, os grandes avanços, ocorreram emcidades de culturas cruzadas – as cidades do multiculturalismoque hoje se parece ter descoberto como algo novo, «moderno»e – imagine-se – «perigoso». Como se o ideal da cidade e da convivênciahumana fosse a uniformidade, a rasura das diferenças.A 20 de Abril, aquando da inauguração dos três memoriais (umjudaico, um católico e um laico) do massacre lisboeta de judeusem 1506, o presidente da Câmara, António Costa, invocou FernãoLopes e a «cidade dos Descobrimentos», onde «havia mais estrangeirosque portugueses» e se vivia «em paz». Claro que convémnão esquecer que 1506 é plena época dos descobrimentos (a frotacomandada por Pedro Álvares Cabral havia acostado ao Brasil seisanos antes, o caminho marítimo para a Índia contava duas décadas)e que portanto os 2000 e 4000 «cristãos-novos» torturados,mortos e queimados de 19 a 21 de Abril foram-no nessa supostacidade de paz. A mesma onde séculos antes os «mouros» haviamsido passados a fio de espada e de onde saíam naus e caravelascheias de conquistadores de novos mundos para o rei e o seudeus, a mesma onde estava para chegar a boa da inquisição. Nãoexactamente um bom exemplo de convivência, antes a prova deque isso a que hoje se chama «multiculturalismo» não é umdesafio recém-descoberto, mas algo que está na génese das cidadesem geral e de Lisboa em particular. A terrível memória de 1506e a capacidade que houve para, quinhentos anos depois, a celebrar,serve também para mostrar que a essência de Lisboa, comoa de todas as cidades com ambição, é a mistura.Uma mistura que acolhe e protege e permite uma experiênciaúnica, de que o pavilhão de Israel da Bienal de Veneza de 2000oferecia uma definição possível: «um habitat humano que permiteque pessoas formem relações umas com as outras em diferentesníveis de intimidade, enquanto permanecem inteiramente anónimas.»A ideia de anonimato, pois: poder ser um entre os outros,sem estar sempre a tropeçar em família ou conhecidos. Só possívelnas grandes cidades, nisso a que chamamos metrópoles. Umaespécie de liberdade, então, e de multiplicação de oportunidadese de conexões. Numa grande cidade, podemos perder-nos de todaa gente que conhecemos mas podemos, ao mesmo tempo e pelamesma razão, conhecer muito mais pessoas. Receber muito mais14 |


estímulos. Saber mais, conhecer mais. Receber «mundo». Deve seresse um dos motivos, se não o principal motivo, pelo qual as cidadessão consideradas uma das mais espantosas e notáveis invençõesda humanidade, o lugar por excelência da criação e do pensamento.Deve ser por isso que ao caminhar nas ruas das mais antigas e impor-.tantes cidades do mundo sentimos uma espécie de enlevo, deexcitação, como se uma revelação qualquer nos esperasse. VictorHugo escreveu-o melhor: «Les villes sont des bibles de pierre. Celle-cin’a pas un dôme, pas un toit, pas un pavé qui n’ait quelque choseà dire dans le sens de l’alliance et de l’union, et qui ne donne uneleçon, un exemple ou un conseil. Que les peuples viennent dans ceprodigieux alphabet de monuments, de tombeaux et de trophéesépeler la paix et désapprendre la haine. (…) Le genre humain a deuxlivres, deux registres, deux testaments, la maçonnerie et l’imprimerie,la bible de pierre et la bible de papier.» («As cidades são bíblias depedra. Não há em cada cidade uma cúpula, um telhado, um pavimentoque não tenha algo a dizer em termos de aliança e deunião, que não dê uma lição, um exemplo ou um conselho. Quevenham os povos a este prodigioso alfabeto de monumentos,de túmulos e de troféus invocar a paz e desaprender o ódio. (…)o género humano tem dois livros, dois registos, dois testamentos,a construção e a imprensa, a bíblia de pedra e a bíblia de papel».)«Fazer cidade» só pode ser, pois, respeitar a ideia das misturas, deuma comunhão de diferenças. Debater e discutir e confrontar,mexer e miscigenar. Na arquitectura como nas ideias e nas culturase nas poses. A cidade é o lugar das avenidas e das praças – onde secircula e se conhecem os outros. Onde, como escreveu Hugo, se vaidesaprender o ódio.| 15


Mário <strong>Lino</strong>Ministro das Obras Públicas, Transportes e ComunicaçõesEntrevista | Ana Sousa DiasFotografia | CA16 |


É em plena fase de grandes decisões que o ministro Mário <strong>Lino</strong>, à beira de cumprir 68 anos,dá esta entrevista. Terminado em 1965 o curso de Engenharia Civil no Instituto SuperiorTécnico, em Lisboa, começou logo a trabalhar no Laboratório Nacional de Engenharia Civil– a que chama simplesmente «o Laboratório» – e fez simultaneamente o mestrado em Hidrologiae Gestão de Recursos Hídricos na Universidade do Colorado, nos Estados Unidos. Foi nessaárea que desenvolveu a maior parte do percurso profissional, com passagem pela presidênciado Grupo Águas de Portugal e pelo Conselho Nacional da Água. Foi professor universitário,em Portugal e em Moçambique, onde também exerceu funções de responsabilidade noPlaneamento. É titular do Ministério das Obras Públicas desde Março de 2005. No sintéticocurrículo oficial, pode ler-se que foi presidente da Associação de Estudantes do «Técnico»,activista sindical, e administrador de editoras como a Avante! e a Caminho.| 17


Ao fim de vários anos, finalmente há decisões sobre os projectosdo novo aeroporto e do comboio de alta velocidade,com a respectiva ponte sobre o Tejo.Dizer que só agora estão decididos é uma grande simplificação darealidade. Esses processos têm vários níveis de decisão. Começapor se decidir fazer um aeroporto, mas ainda há que decidir o sítio.Depois decide-se onde é o aeroporto, mas é preciso verificar quala melhor localização.Em relação ao aeroporto, tomámos muitas decisões para trás.O Governo tomou no dia 8 de Maio a decisão final sobre a localizaçãona carreira de tiro de Alcochete. Mas primeiro encomendámosao Laboratório [Nacional de Engenharia Civil – LNEC] um estudocomparativo das localizações na Ota e na carreira de tiro de Alcochete,onde foram analisadas seis hipóteses. Dessa comparaçãoA avaliação ambiental estratégica só incidiu sobre aquela quefoi a escolha final?Estudou-se o local que, do ponto de vista de um campo de aviação,tem melhores condições. Como acontece no caso da terceiratravessia do Tejo. Há sítios que podem ser muito bons para fazeruma ponte só que a ponte não faz falta nenhuma lá. Ninguémanda à procura do melhor sítio para fazer uma ponte apenas doponto de vista ambiental. Uma ponte faz-se – ou um aeroporto,um caminho-de-ferro, uma estrada – com objectivos, não é umaobra de arte para embelezar a cidade nem é uma obra paramelhorar o ambiente. No caso da terceira travessia do Tejo, o objectivoé assegurar o transporte da rede de alta velocidade na ligaçãoentre Lisboa e a fronteira, para depois seguir para Madrid. Alémdisso, também tem de suportar as linhas convencionais de caminho-resultou que, melhor do que a Ota – que ganhava em quase todosaspectos analisados – surgiam duas ou três localizações na carreirade tiro de Alcochete, principalmente uma delas. E essa foiadoptada como a mais competitiva face à Ota.O estudo comparativo foi feito do ponto de vista do que interessaa um campo de aviação. Mas foram estudados logo nessa fasealguns critérios de natureza ambiental, para garantir que naquelesítio não havia nada que tornasse impossível a construção doaeroporto. Depois mandámos fazer a avaliação ambiental estratégicae, analisado este documento, tomámos a decisão final.‐de-ferro. E ainda se pôs a questão de saber se, tendo ali a pontecom o caminho-de-ferro, se justificava ou não fazer uma componenterodoviária.Só posso comparar depois de ter estudado um ou mais sítios quesirvam estes objectivos – esses são os projectos que lanço à avaliaçãoambiental. Algumas pessoas dizem: então o Governo já decidiuantes da avaliação do impacto ambiental? Não podia fazer de outramaneira, tem de tomar uma decisão que depois fica condicionadapelo estudo de impacto ambiental do Ministério do Ambiente.De qualquer modo, o estudo feito anteriormente já mostrava que,do ponto de vista da legislação ambiental, nada impede construira travessia do Tejo naquele sítio. Pode ter impactos maiores oumenores, e é isso que é analisado depois. Não posso comparar, porexemplo, o corredor Chelas-Barreiro e o corredor Algés-Trafaria18 |


e avaliar ambientalmente qual é melhor. É um absurdo, porqueo comboio não passará no corredor Algés-Trafaria.Tem de comparar duas hipóteses em condições idênticas?A primeira coisa que fizemos foi saber se, do ponto de vista dosobjectivos de mobilidade, o corredor Chelas-Barreiro e o corredorBeato-Montijo eram adequados e se um deles era claramentemelhor do que o outro. E a conclusão foi que um era claramentemelhor do que o outro. Não faz sentido agora ambientalmente virdizer: um é muito bom para levar os comboios mas é pior ambientalmente,e o outro é muito melhor ambientalmente mas nãoserve para levar os comboios. Então não faço lá a ponte, porquea ponte é para transportar os comboios.Antes dos projectos de execução ainda há anteprojectos, concursosLisboa/Porto, há troços que já estão avaliados ambientalmente,estamos a preparar o caderno de encargos para lançar os concursos.E para a linha Porto/Vigo, estão a ultimar-se os estudos parapreparar os concursos. Porto/Vigo deve estar concluído em 2013,tal como a linha Lisboa até Caia, e Lisboa/Porto até 2015.Decisões como estas são tomadas pelo ministro das ObrasPúblicas ou pelo Governo no seu todo, uma vez que sãodecisões estratégicas?Essas decisões estratégicas são muitas delas resoluções do Conselhode Ministros. Mas primeiro é preciso ver também como é queo Governo, ou os governos em geral e este também, funcionam.O Primeiro-Ministro coordena a actividade do Governo, como lhecompete, os diferentes ministros conduzem os dossiers nas suasO estudo comparativo foi feito do ponto de vista do que interessa a umcampo de aviação. Mas foram estudados logo nessa fase alguns critériosde natureza ambiental, para garantir que naquele sítio não havia nadaque tornasse impossível a construção do aeroporto. Depois mandámos fazera avaliação ambiental estratégica e, analisado este documento, tomámosa decisão final.públicos, candidaturas, temos de tomar uma decisão sobre quemé o concessionário, enfim, há muitas decisões que se tomam aolongo deste processo. Depois há-de haver os projectos de execuçãoque têm de ser aprovados ou alterados.E a rede de alta velocidade?Nas linhas que estão agora em marcha – Lisboa/Madrid, Lisboa/Porto e Porto/Vigo – estamos em processos diferentes de decisão.O corredor que vai de Poceirão até à fronteira do Caia está analisadoambientalmente, espero lançar o concurso no início do mêsde Junho. Para o troço que vai desde a Gare do Oriente até aoPoceirão, cujo estudo de impacto ambiental é entregue no mês deMaio, espero lançar o concurso em Novembro deste ano. Na linhaáreas em coordenação com o Primeiro-Ministro, em coordenaçãointerministerial. Qualquer projecto de investimento tem na suaconcretização articulações com o Ministério do Ambiente, porexemplo, com o Ministério das Finanças porque há investimentopúblico envolvido, e outros ministérios. Mas as grandes decisõesestratégicas são tomadas no Conselho de Ministros. Evidentemente,são propostas pelo ministro responsável pela tutela, comosucedeu nestes projectos.A articulação com os outros ministérios tem sido fácil?Temos excelente relacionamento entre todos os ministros. Não possofalar de uma experiência pessoal, porque nunca estive noutrogoverno, mas pelo que tenho ouvido dizer nem sempre sucede assim.| 19


Assistimos no passado a situações caricatas com alguns governosem que o que se passa em Conselho de Ministros vem cá para forae sabe-se o que se passou, ou pelo menos são apresentadas versõesdo que se teria passado. Nunca viu isso no seio deste Governo.Por outro lado, há uma grande coordenação do Primeiro-Ministro.O Ministério do Ambiente tem também o Ordenamento doTerritório, que obviamente cruza com o seu. Quem coordena?Talvez porque sempre trabalhei na área dos recursos hídricos,do abastecimento de água, do saneamento, da hidrologia, doambiente em geral, tenho muita sensibilidade para as questõesambientais e portanto o meu relacionamento com o ministro doAmbiente é fácil. Tenho uma grande preocupação em que os projectossejam ambientalmente sustentáveis e tenho uma excelenterelação com o ministro do Ambiente.Por que é que alteraram o modelo?Não é um problema só português. Mesmo fora da União Europeia,o financiamento da rede rodoviária preocupa vários países.Em Portugal, havia uma instituição que passou por várias fases,foi instituto, direcção-geral, empresa pública. As decisões de investimentoeram tomadas ano a ano, no âmbito do orçamentode investimentos do Estado. A Estradas de Portugal [EP] cumpriaas decisões mas tinha dificuldade em assentar a gestão nummodelo empresarial, numa perspectiva de médio ou longo prazo.As coisas faziam-se conforme havia disponibilidade do Orçamentoe não conforme se o País tinha necessidade delas.A Estradas de Portugal passou a sociedade anónima, ficou maisindependente do Estado. A administração passou a assumir responsabilidadese compromissos e a prestar contas por aquilo que faz.O Estado deixou de avalizar os empréstimos a que a EP tem deO Ministério não é só do Ambiente, é também do Ordenamentodo Território e do Desenvolvimento Regional.Certo. Estávamos a falar na rede de alta velocidade e na terceiratravessia do Tejo, que está contemplada no Plano Regional de Ordenamentodo Território da Área Metropolitana de Lisboa [PROTAML].Essa articulação é fácil. Dou-lhe outro exemplo de matérias complexasque exigem um grande trabalho entre dois ministérios– o novo modelo de gestão e financiamento da rede rodoviária.Foi desenvolvido pelo meu Ministério e pelo Ministério das Finanças,foi complexo porque nós mudámos completamente o paradigmada gestão e financiamento.recorrer. A empresa é pública, é certo, mas – como muitas outrasempresas públicas – tem um contrato de concessão. O contratotem um prazo e um conjunto de obrigações, e a empresa é remuneradapelo serviço que presta. Se o serviço está a ser bem cumprido,a EP tem direito a uma remuneração. Se não, é penalizadapelo Estado. Além de ter esse contrato, a EP tem um modelo económicoe financeiro de desenvolvimento. É o Estado que decide quaissão as infra-estruturas que devem avançar, em cada ano ou numplano mais do que anual. O documento de base a concretizaré o Plano Rodoviário Nacional, aprovado em 2000 no Parlamento.A EP tem um plano de receitas e de despesas, equilibrado nomédio e no longo prazo. Estamos na fase de concretizar o PlanoRodoviário, portanto há que fazer investimento, e a EP tem de procuraras fontes de financiamento porque o PIDDAC, o Orçamento de20 |


Estado, deixa de lhe dar dinheiro. Depois, o investimento decai,porque as obras estão feitas, e vai tendo as receitas da exploraçãodessas infra-estruturas, isto é, as portagens.Isso significa que não haverá mais SCUTs?Não estamos a aplicar o modelo SCUT tal como foi lançado. Nessemodelo, o Estado assumia com o construtor e operador da estradaa responsabilidade de lhe pagar. Agora o Estado deixou de terqualquer responsabilidade nessa matéria, a EP é que assume essesriscos.Temos aqui, num horizonte do período da concessão, períodosmuito largos em que a EP vai ter receitas que lhe permitem absorver,pagar, os investimentos feitos anteriormente e manter-se umaempresa equilibrada. Este é o novo modelo que outros países têmdesenvolvido ou têm procurado desenvolver modelos próximos.Se os objectivos não forem cumpridos, os administradores sãoresponsabilizados?São penalizados, não recebem. Se ficarem muito aquém, por razõesde manifesta incompetência ou desleixo, temos outro caso.Enquanto accionista, o Estado deve procurar escolher equipascom competência, com currículo, com experiência para gerir asempresas e eu estou muito satisfeito com as escolhas que temosfeito aqui no Ministério. Nós temos boas equipas de administraçãonas empresas que têm feito bom trabalho. Se for olharpara os resultados dos CTT, eles têm subido.Os resultados da TAP também, todos os portos deram lucro em2007, os cinco portos mais importantes, coisa que não me lembrose alguma vez sucedeu no passado. E isso resulta de haver boasequipas na gestão das empresas, uma gestão por objectivos, maispersonalizada, mais empresarial.Talvez porque sempre trabalhei na área dos recursos hídricos,do abastecimento de água, do saneamento, da hidrologia, do ambienteem geral, tenho muita sensibilidade para as questões ambientaise portanto o meu relacionamento com o ministro do Ambiente é fácil.Tenho uma grande preocupação em que os projectos sejam ambientalmentesustentáveis e tenho uma excelente relação com o ministro do Ambiente.É um problema geral. Nós resolvemo-lo de uma forma que nosparece mais transparente, sadia, equilibrada. Mesmo na remuneraçãodos administradores. Introduzimos a gestão por objectivos,a «contratualização» com a administração desses objectivos e oestabelecimento de um regime remuneratório com uma partefixa e uma parte variável, em que a parte variável depende de osresultados serem atingidos ou não e da aproximação.Está a aplicar esse regime a outras empresas?Estamos a introduzir a gestão por objectivos com remuneraçãofixa e variável progressivamente nas empresas e o meu objectivoé introduzir em todas. Neste momento já têm muitas delas, porexemplo a Estradas de Portugal e a TAP.Queria voltar à questão do aeroporto. O que vai acontecer coma Portela?Não sei. O presidente da Câmara Municipal de Lisboa lançou-meessa questão e eu transmiti-lhe logo o meu total acordo: estaé uma oportunidade para fazer algo muito bom para a cidade deLisboa. Um grande pulmão verde, uma área de espaço público degrande qualidade. Não vi ninguém defender a construção de edifíciosde habitação ou de escritórios. Estou totalmente de acordocom ele em podermos lançar um concurso de ideias, por exemplo.Há uma questão que não vai ser fácil dirimir, se quisermos seguiras vias legais e da justiça – a propriedade dos terrenos. São decisõestomadas nos anos 50, numa altura em que o ministro dasObras Públicas e o presidente da Câmara eram a mesma pessoa,| 21


num regime que não se pautava muito pela clareza, pela transparênciae pelo rigor na documentação.Para ir para o novo aeroporto haverá um shuttle vindo de Lisboa.E para quem vem de outro lado, como é?A decisão foi de Duarte Pacheco?Foi. O Ministério das Obras Públicas e o Governo não têm a intençãode fazer algo que não mereça o apoio e o entusiasmo da Câmara.Para nós é muito simples, independentemente de os terrenosserem todos nossos ou metade nossos ou 25 por cento nossos.Ainda assim, a linha de Metro vai para o Aeroporto da Portela?Não pode ficar desfasada?O Metro vai para lá, claro. Não vai ficar desfasado porque tem ligaçãocom Olivais, Chelas, Encarnação. E o que se fizer na Portelaé para ser utilizado pelos lisboetas e pelos portugueses em geral.A linha de alta velocidade passa suficientemente próximo paraser fácil aproveitar essa estrutura para sobre ela poderem tambémcircular os comboios que vão directamente para o aeroporto.Mas evidentemente não faz sentido condicionar o trajecto dalinha Lisboa-Madrid, que vai movimentar qualquer coisa comoseis milhões de passageiros por ano, para servir uma linha paraum aeroporto que vai ser usada por muitíssimo menos passageiros.Quem vem do norte, por exemplo, pode sair na Gare Orientee apanhar o shuttle mas alguns comboios, em função da procura,podem seguir directamente para o aeroporto. A rede tem de ficarpreparada para se ajustar à procura.O Ministério das Obras Públicas e o Governo não têm a intenção de fazer algoque não mereça o apoio e o entusiasmo da Câmara. Para nós é muito simples,independentemente de os terrenos serem todos nossos ou metade nossosou 25 por cento nossos.A grande estação da rede de Alta Velocidade em Lisboa seráa Gare Oriente. Passa a chamar-se Central, como já foi publicado?Não sei ainda. É uma estação muito importante onde se vão cruzarvários modos de transportes – Metropolitano, rede de alta velocidade,rede convencional, autocarros, táxis. Transportes que não sóservem a Área Metropolitana de Lisboa como vão para diferentespontos do País e para o estrangeiro. Também permite ter umainterconexão com o novo aeroporto. Estamos a pensar que a Garedo Oriente possa funcionar como uma espécie de pré check-in.Os passageiros poderão fazer logo ali o check-in, largar as malase apanhar o comboio directo para o aeroporto.O seu Ministério tem estes grandes projectos, o aeroporto,a rede de alta velocidade, a nova travessia do Tejo, o PlanoRodoviário Nacional, todos eles interligados. Mas tem outrasresponsabilidades, como a Televisão Digital Terrestre, o PortugalLogístico, as «auto-estradas» do mar, o Código de Contratose ainda a «e-escola», que parece ter um peso menor.Mas é um programa muito importante e envolve vários ministérios.Essencialmente, as Obras Públicas, a Educação e o Trabalho. Da Educação,porque o e-escola foi desenvolvido para permitir a generalizaçãoda utilização do computador e da Internet através da ligaçãoem banda larga a alunos e professores. Esse programa tambémse aplica às pessoas do programa Novas Oportunidades, e daío Ministério do Trabalho. Fomos buscar dinheiro para financiar22 |


os compromissos que os operadores assumiram perante o Estado,aquando da atribuição das licenças dos telefones móveis. Os operadorespropuseram dar contrapartidas no apoio ao desenvolvimentoda sociedade de informação, em montantes mais ou menosdefinidos. Passados vários anos, fizemos um acordo para materializaros tais compromissos no financiamento deste programa. Negociámostambém com os fornecedores de equipamento condiçõesvantajosas para chegar ao maior número de beneficiários possível.E quanto a televisões – a Digital Terrestre [TDT] e a atribuiçãodo 5º canal?Recebemos duas propostas para a infra-estrutura e distribuiçãopara a TDT e o resultado deste concurso será conhecido no últimotrimestre de 2008. No final do ano, deverá ser lançado o concursopara o quinto canal.O seu Ministério tem estado debaixo de fogo, por aquiloque faz e não faz e também por aquilo que o ministro diz.Como convive com isso?Tenho bem consciência de que muitas vezes parece que é cómodonão fazer nada, ter muitas ideias que não se ponham em práticae depois deixar que outros venham…Foi isso que aconteceu com anteriores ministros da sua área?Não sei se aconteceu, sei é que há projectos que tive de pegar– e há outros que ainda vou pegar – que se arrastavam há muitosanos. Há quantos anos estavam por fechar o Eixo Norte-Sul e aCRIL? Podia deixar aquilo mais uns anos… Há quantos anos searrasta a questão do aeroporto? Há quantos anos o GovernoDurão Barroso combinou com a Espanha que a linha Lisboa-Está uma manifestação de trabalhadores dos CTT à portado Ministério. Acontece todos os dias?Acontece às vezes. O Ministério das Obras Públicas, Transportese Comunicações tutela 25 empresas: Carris, Metro de Lisboa, Metrodo Porto, as administrações portuárias, a CP, a Refer, a Fertagus,enfim, um conjunto muito grande de empresas de um sector quetem muitos trabalhadores. Há relações laborais com as empresasque são complexas e muitas vezes dão origem a situações em queos trabalhadores entendem recorrer à greve. É natural. Mas nãotem havido muitas greves no Ministério dos Transportes.‐Madrid estava pronta em 2010? Mas depois não deixou nadapreparado. Agora temos um compromisso para 2013. Vamos terem 2010 a linha de alta velocidade na nossa fronteira, vem.de Espanha, de França, do interior da Europa, por aí fora e chegaali à fronteira e fica parada à espera …Isto é uma incúria inacreditável, devia envergonhar-nos. Ao nívelde primeiro-ministro combinou-se com o primeiro-ministrode Espanha que íamos fazer a linha e eles também. Não estamosa brincar, estamos a tratar de acordos ao nível mais alto entre doispaíses.| 23


Houve sucessivos governos que duraram pouco. Não tiverama estabilidade que este Governo tem, com mais tempo emaioria absoluta.É verdade, eu concordo com isso. Acho que a estabilidade é muitoimportante. O País precisa de ter governos estáveis, independentementeda cor política. Os eleitores que decidam. Olhe para a estabilidadeque tem havido nos governos de Espanha, de vários partidosque se têm mantido, um mandato, dois mandatos, os ministrospoucas vezes mudam. Nós aqui em Portugal temos tido umaestabilidade reduzida. Mesmo no período em que Cavaco Silva foiprimeiro-ministro, houve muitas mudanças de ministros. E se forver qual é o prazo médio de um ministro das Obras Públicas, porexemplo, é muito curto. Eu devo ser, neste momento, desde o 25de Abril, o terceiro ou quarto ministro com mais tempo. E aindanem sequer acabei o mandato, é uma coisa inacreditável.muito empenho e ele sabe que não precisa de dar pré-aviso nemprazo, se quiser que eu saia. Os lugares – o meu e o de todos osoutros ministros – estão totalmente à disposição do senhorPrimeiro‐Ministro. Tenho uma grande calma sobre essa matéria.Procuro fazer o meu melhor e ele é que tem de apreciar, pelo trabalhoque é feito, se estou a corresponder à expectativa que tinhaquando me convidou. Nunca recebi qualquer sinal de que não eraassim.Garanto-lhe que não tenho insónias, não tenho pesadelos, durmobem, como bem, faço a minha vida normalmente… bem, isso naverdade não faço porque a minha vida está muito constrangida.Trabalha sete dias por semana?Sim, é muito raro o fim-de-semana em que eu não estou cá pelomenos no sábado, e muitas vezes sábado e domingo. Tenho muitasDo que eu gostava mesmo era que o aeroporto já tivesse sido inauguradoe eu pudesse pensar noutras coisas. O que me aflige é estarmos atrasadosnestes projectos. O meu raciocínio não é: ainda bem que está tudo atrasadoporque sou eu que vou inaugurar… É um pensamento que não me ocorreria.Dorme descansado?Para mim, o importante é a consciência que eu próprio tenho doque estou a fazer. Se não me sentisse com vontade, entusiasmadocom o trabalho, se sentisse que tinha dificuldades insuperáveis,eu próprio o dizia ao primeiro-ministro. Não é o caso. Será uma auto-‐estima elevada, não sei, mas enfim. Uma pessoa vai ganhandoexperiência. Depois, é fundamental saber a opinião do senhor.Primeiro-Ministro.coisas para fazer, aproveito os feriados para pôr as coisas emordem. Acho que as pessoas nestas funções têm de estar preparadaspara isso, porque não vejo que de outra forma a sociedadepudesse funcionar. E também acho muito bem que os ministrostenham de ir ao Parlamento prestar contas, e explicar à comunicaçãosocial, tem de ser assim.E não tem queixas da forma como tem sido tratado pelacomunicação social?Nunca aconteceu ele pôr em dúvida a confiança em si?Que me tivesse transmitido, não. Eu não fui candidato a estelugar, não me ofereci, não pedi para vir, aceitei o convite comClaro que às vezes uma pessoa não gosta. Uma coisa é um comentador,um jornalista ter uma apreciação, tem todo o direito de a ter.Outra coisa é dizer coisas que não correspondem absolutamentenada à verdade. E isso muitas vezes sucede, nós desmentimos,24 |


insistimos, mas é muito difícil que as coisas sejam repostas. Comoisso sucede tantas vezes, já não tem efeito, as pessoas não ligam.O que responde às críticas de que o Governo tem a obsessãodo cimento?É absurdo. Numa rede ferroviária de alta velocidade, onde estáo cimento? E no aeroporto? E nas estradas? Numa ponte há cimentose não for de ferro, como a 25 de Abril. Essa história da obsessãodo betão é, usando uma expressão daquelas que eu gosto de usar,uma conversa da treta. Se há projecto de elevada tecnologia,é o projecto da alta velocidade. Já andou num comboio de altavelocidade? Eu já andei, junto ao maquinista. O maquinista estáa olhar, o comboio faz tudo sozinho, aquilo é altíssima tecnologia.O que é que sente um ministro que está a preparar uma sériede grandes projectos que serão inaugurados quando ele nãoestiver lá?Do que eu gostava mesmo era que o aeroporto já tivesse sidoinaugurado e eu pudesse pensar noutras coisas. O que me afligeé estarmos atrasados nestes projectos. O meu raciocínio não é:ainda bem que está tudo atrasado porque sou eu que vou inaugurar…É um pensamento que não me ocorreria. O meu dramaé estarmos tão atrasados na construção do aeroporto e na construçãoda alta velocidade. Eu faço o meu trabalho, quando chegarao fim do meu mandato hão-de vir outros ministros, de umGoverno do Partido Socialista ou de outro partido. Eu tambéminaugurei obras que não comecei, é evidente. Cada Governo inauguraobras que outros começaram, começa obras que vai inaugurar,começa obras que outros vão inaugurar. Eu adjudiquei obras queVai haver incorporação de know-how português?Espero que haja, porque temos muitas empresas de tecnologiaa trabalhar nessas matérias. E vai haver também estrangeiros,certamente.São concursos de elevada tecnologia, não tem nada a ver combetão ou com cimento. O aeroporto tem umas construções, a gare,mas já viu o que é uma central de controlo do aeroporto com tudoo que anda à volta do funcionamento dos aviões, da manutenção?foram lançadas no tempo de Guterres, foi o que aconteceu na concessãoda auto-estrada do Douro Litoral. Foi a concurso e levouquase cinco anos a adjudicarSimplificámos muito os procedimentos, aproveitámos a experiênciaanterior. Por exemplo, lancei o concurso da auto-estradado Centro e oito meses depois já está adjudicada – em vez de quatroanos e meio, foram oito meses.Lembro-me de que quando cheguei ao Governo o grande objectivoera passarmos esse prazo para dois anos, como os espanhóis. Estamosa fazer isso em oito meses, esse é o compromisso que tenho como senhor Primeiro-Ministro.| 25


o progressovem aíReportagem | Carla AmaroFotografia | Guto Ferreira26 |


A decisão foi anunciada em Janeiro, com base no parecer técnico do LNEC: o Campo de Tirode Alcochete apresenta condições «globalmente mais favoráveis» à construção do novoaeroporto internacional de Lisboa. O Oeste sentiu-se lesado e está agora a negociar como Governo medidas de compensação, entre as quais a modernização da linha férrea. A Suldo Tejo, o contentamento é geral. É que apesar das fragilidades ambientais da região, existea expectativa de que a cidade aeroportuária vai criar negócio e emprego. Depois da Ota,onde a desolação ainda se sente, a reportagem da <strong>LVT</strong> também esteve em Canha e ouviu apopulação sobre o que de bom e de mau o aeroporto vai trazer à vila e à região.Écom a indiferença de um encolher de ombros queÂngelo Barata Pereira pensa na saída dos aviõesda Portela. Se para este ex-bombeiro do aeroportoa necessidade de um novo aeródromo está associada«ao receio de colisão com as casas», não é razão queo convença uma vez que reside no bairro dos Olivais há 43 anose «nunca houve acidentes». E duvida que o barulho perturbeos habitantes do seu bairro ou mesmo da Lisboa próxima da Portela:«O movimento constante dos aviões já nos habituou ao ruído.Já nem os ouço». «Barulho estrondoso era quando eu estava nacamarata dos bombeiros; fui para lá em 1967, bem no meio daspistas, e mesmo assim os ouvidos adaptaram-se».Não é o barulho, não é o risco de acidentes – ou pelo menos nãoé a razão prioritária – que levou à decisão de construir um novoaeroporto (NAL). A Portela esgotou a sua capacidade e já não consegueresponder às necessidades do país. «Se vão levar o aeroportopara outro lado, o que vão fazer daquilo?». Ainda é uma incógnita,mas o presidente da autarquia, António Borges, já manifestouo desejo de aí surgir um parque de lazer. Uma ideia que pareceacolher simpatias, também do próprio presidente da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>(Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboae Vale do Tejo). António Fonseca Ferreira gostaria que alguns dos500 hectares da Portela fossem convertidos num «grande parqueurbano puro», embora não descarte a utilidade de naquele espaçose instalarem também infra-estruturas para desenvolvimento deactividades industriais, empresariais e eventualmente de logística.Fonseca Ferreira acredita que mais um novo espaço verde de envergaduracomparável a Monsanto, embora este seja florestal, seria«um investimento, mais do que justificável, necessário, pela populaçãoque tem à volta: Portela, Olivais, Alto do Lumiar, Alvalade...».A evidência de que o pais precisa de um novo aeroporto, internacional,criou na região do Oeste expectativas, quer nos investidores,quer na população local. Durante nove anos tudo indicava queseria na Ota. Tudo que a partir de 1999 se pensou para a regiãoestava naturalmente condicionado à grande obra. Mas contrariamenteao que já estava «aceite» na cabeça dos portugueses, foidecidida outra localização, nunca antes considerada: o Campode Tiro de Alcochete (CTA). De recordar que já há 40 anos ou quaseque são realizadas análises técnicas sobre possíveis localizações.O processo teve início em 1969, com a criação do Gabinete doNovo Aeroporto de Lisboa, que num relatório de 1972 indicoucomo possíveis localizações quatro zonas situadas na MargemSul do Tejo (Fonte da Telha, Montijo, Porto Alto e Rio Frio) e umaquinta zona (Lisboa-Portela de Sacavém), esta, considerada pelamesma entidade como inconveniente por «se encontrar praticamentedentro da cidade e não se vislumbrar qualquer hipótese deexpansão». A Ota surgiu posteriormente, depois de estudos realizadosentre 1978 e 1982, a pedido da ANA – Aeroportos de Portugal,apresentando-se desde logo e até há poucos meses como «a maisviável na Margem Norte do Tejo». Ainda houve quem pensasse namanutenção da Portela através da sua «possível expansão ou dasua utilização em simultâneo com outro aeroporto na zona deLisboa», mas esta possibilidade foi posta de parte depois de estudosde reavaliação realizados por consultores nacionais e internacionaisemitirem pareceres negativos, nomeadamente do pontode vista comercial e de custos. A Ota continuava como a opçãomais viável... até que a Confederação da Indústria Portuguesa(CIP) apresentou ao Governo um novo estudo de AvaliaçãoAmbiental de Localizações Alternativas para o Novo Aeroporto deLisboa, sob a coordenação do Instituto do Ambiente e Desenvolvimento.Pela primeira vez em todo o processo, a zona do Campode Tiro de Alcochete é considerada. O Governo aceitou «uma apreciaçãomais aprofundada, de forma a comprovar a sua viabilidadee, se tal se confirmasse, a compará-la, do ponto de vista técnico,com a opção anteriormente tomada», Ota. A missão ficou a cargodo LNEC (Laboratório Nacional de Engenharia Civil) que, depois de| 27


Em Canha festejou-se a decisão de construir o aeroporto na Margem Sul. A vila será das mais afectadas, para o melhor e para o pior.considerar sete Factores Críticos para a Decisão, emitiu um parecer«globalmente favorável» a Alcochete. O Governo recuou então nadecisão, levando em linha de conta a opinão dos técnicos. A decisãofoi anunciada ao país no dia 10 de Janeiro. Enquanto em Alcochetese estouravam foguetes, na Ota a notícia não agradou.«O aeroporto ficava melhor aqui»fora dos 1810 hectares definidos para a implantação do aeroportona Ota, sente-se «penalizado, tal como os restantes proprietários»e por isso defende «medidas que compensem os prejuízos causados».António Varela espera também poder agora avançar com osprojectos «pendentes», entre os quais, áreas comerciais (retailse utlets), centros de distribuição logística, um lote para 34 moradiase um empreendimento turístico com golfe e hotelaria.A desolação ainda permanece no coração dos otenses. «Um baldede água fria» não se digere em cinco meses. Sentado num bancoestrategicamente colocado num ponto da rua para «apanharuma nesga de sol», Arsénio Costa lamenta a decisão de «levaro aeroporto para o outro lado». Que «ficava melhor aqui», que iria«bulir a terra» e trazer «mais movimento». O desejo de assistirà fase inicial das obras começou a despertar quando a Ota se tornou«a alternativa mais viável» para a Margem Norte do Tejo. Um desejoque nem a idade consegue abalar: «Tenho 85 anos e sei que não íaestar cá quando o aeroporto estivesse pronto. Mas a mim o queimporta é o desenvolvimento da região. Isto está tudo muitoparado. Se a menina vier cá à noite nem um cão ou um gato vê».Não foi só a população local que criou expectativas com a localizaçãona Ota. Com o recuo do Governo ficaram afectados algunsproprietários de terrenos, sobretudo em Alenquer e Azambuja,por os seus terrenos estarem sujeitos a medidas restritivas queproibiam a construção. Um dos maiores proprietários de terrenosna zona de influência da Ota é António Varela, presidente do GrupoTiner, ligado à construção civil, à promoção imobiliária e a outrasáreas de actividade. Este empresário, cujos terrenos estão localizadosÉ de resto por se sentirem prejudicados que os treze municípiosdo Oeste estão a reclamar medidas de compensação. Arsénio Costae um vizinho que se juntou ao amigo para se aquecer ao sol, achambem a exigência dos autarcas, porque «o que nos fizeram não sefaz a ninguém». Em cima da mesa de negociações entre a Associaçãode Municípios do Oeste e o Governo – que pelo próprioPrimeiro-Ministro José Sócrates assumiu que «o Estado tem agorauma responsabilidade em relação à região do Oeste»–, através doMinistério das Obras Públicas, está a revisão dos planos de investimentosfuturos que englobavam a construção do aeroporto naOta e ajustá-los a um novo programa, de carácter multidisciplinar.Para o sector do turismo, as medidas de compensação poderãoresultar numa mais valia, mas o presidente da Região do Turismodo Oeste, António Carneiro, não deixa de fazer uma advertência:«Espero que as compensações não sejam só para Alenquer e seestendam aos outros municípios da região». Embora as negociaçõesestejam a decorrer e não se preveja um prazo para o seu desfecho,sabe-se que assente está a modernização da via férrea do Oeste.O presidente da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> adianta que «estão a ser contempladostambém investimentos da região, entre os quais, a aceleração da28 |


Fernando Boina Pereira, José Manuel Botas, João Ferreira da Silva e Tomás dos Santos Ferreira. «O aeroporto vai ser bom, é para ver se dá aumento aqui à terra, que isto está muito parado.»construção do Hospital Oeste Norte, o IC-11 (troço Arruda/TorresVedras, provavelmente), a realização das obras do Plano de Ordenamentoda Orla Costeira (POOC), que consiste na modernizaçãodos apoios de praia...». Alguns destes investimentos, «necessáriospara a região do Oeste», já estão, aliás, englobados no estratégicoPlano Regional de Ordenamento do Território do Oeste e Vale doTejo (PROT OVT) e que com as negociações poderão estar concluídosquatro anos antes do prazo inicialmente previsto (de entre 2013e 2015 passa para entre 2009 e 2013). A não concretização de projectoscomo o IC-11, a rede hospitalar, a rede escolar e a linha ferroviáriado Oeste já tinha sido criticada pela Federação Regional doOeste, cujo presidente, José Manuel Custódio, não tardou a manifestaro «sentimento de desalento e até de traição» pela decisãodo Governo face ao parecer do LNEC do ponto de vista financeiro:«Não sabemos onde está o diferencial de tantos milhões de eurosde que se fala». José Manuel Custódio referia-se às contas vindasa público na comunicação social que apontam para uma vantagemdo Campo de Tiro de Alcochete em relação à Ota, expressa na«menor exigência de investimento total (Ota: 5.192,2 milhõesde euros; Campo de Tiro de Alcochete: 4.926,6 milhões de euros;a preços de 2007)» e na «existência de um valor actualizado líquido(VAL) diferencial positivo (VAL Ota: 1.655,28 milhões de euros; VALAlcochete: 1.986,4 milhões de euros; VAL diferencial entre Ota eAlcochete: – 331,1 milhões de euros)».O descontentamento no Oeste é grande, mas para o economistaAugusto Mateus, um dos consultores do LNEC responsáveis pelaanálise macroeconómica e de competitividade e dos factoresassociados ao sistema aeroportuário e ao ordenamento do território,«não é o local do aeroporto que determina se o aeroportoé útil para o Oeste, é a sua competitividade e a sua capacidade deatrair turistas, de favorecer as importações e as exportações quea região necessita». O especialista diz que em vez de protestar,o Oeste devia estar optimista por ter ganho «uma capacidade redobradade negociar com a administração central um conjunto deinvestimentos absolutamente determinantes para a estratégiaque foi definida» no Plano estratégico para a região.O sol que iluminava um bocado da rua onde Arsénio se aquecejá baixou, atrás do casario. «Começa a ficar frio, vou entrar antesque os pés me arrefeçam. Isto de ter 85 anos não são só vantagens(risos). Sabe o que me entristece também? Desde que se sabe queo aeroporto já não vai ser aqui nunca mais veio cá ninguém, nemjornalistas». Pega no banco de madeira numa mão, na outrasegura a bengala e a custo sobre os três degraus de sua casa». Nocafé em frente, os ânimos sugerem o que na Ota ainda se sentepor o aeroporto ir para Alcochete. José Joaquim Mateus, propriétário,e Margarida Carvalho, cliente, não têm palavras diferentespara descrever o que consideram ter sido uma «surpresa desagradável»:«Ainda estamos muito zangados com isto tudo. Para ocomércio um aeroporto aqui ía ser bom», diz José Margaridasente «saudades do movimento que havia na base aérea» masmais forte é o sentimento de «injustiça», «porque muita gente foiprejudicada nas casas, que nem uma garagem podia construir».«Ainda por cima também já nos tiraram o TGV», acrescenta umoutro cliente que não se quer identificar. O aeroporto não vai serconstruído no CTA, mas quanto à alta velocidade, nada indica quehaverá alterações. Segundo Ana Melo Leitão, do departamento de| 29


Na Ota, a população ainda está ressentida por lhes terem tirado o aeroporto.José Carlos, produtor de avestruzes e de carne bovina em agricultura biológicanão espera benefícios nem desvantagens para o negócio da pecuária.comunicação da RAVE, a empresa que está a estudar a rede dealta velocidade, «todos os estudos feitos até agora apontam paraa ligação pelo Norte. Não há nenhuma alteração do traçado.O traçado vai manter-se como inicialmente previsto.»«Dizem Alcochete, mas não fica em Alcochete»Pela ponte Vasco da Gama e percorrendo até ao fim a estradada Touca, uma via camarária em alcatrão a precisar de arranjo,chega-se em pouco mais de 45 minutos a Canha, uma vila maisantiga do que o concelho que a integra, Montijo. Essa antiguidadeé reclamada até à exaustão no discurso dos habitantes, paraquem o aeroporto deveria ter um nome alusivo ao território quemais hectares vai ter de ocupação do aeoporto. E apesar do Campode Tiro de Alcochete ficar, geograficamente, não em Alcochetemas nos concelhos de Benavente e do Montijo, nenhum canhenseutilizaria um dos nomes para baptizar o novo aeroporto internacional.E um nome com a palavra Montijo então nem pensar, «queaquilo dantes era zona galega». O ressentimento é porque a populaçãonão aceita o abandono e o desprezo a que a vila que «já foiconcelho» foi votada. «No Montijo pode-se fazer tudo, aqui não sepode fazer nada», lamenta Fernando Boina Pereira, 80 anos, sentado,com dois amigos, no banco da paragem de autocarros.O transporte passou e o trio continuou no mesmo lugar. Chove,mas a ideia desta «reunião» não é abrigarem-se da chuva. Háuma praça em frente com bancos de jardim: «Gostamos mais deestar aqui porque é mais protegido. Ali faz muito vento, e agoracom a chuva também não se podia..», justifica-se José Manuel, 71anos, para de seguida satisfazer a curiosidade: «Os senhores não sãode cá. Vieram por causa do aeroporto? É fácil, uma pessoa comcaneta e folhas e outra com uma máquina fotográfica, não é difícilde adivinhar. Outros andaram aí também, mas foi logo a seguirao Governo dar a notícia». «Se ficamos contentes?» – fala JoãoFerreira da Silva, 85 anos – «Pois então não havíamos de ficar?O aeroporto vai trazer o progresso à terra, que isto aqui estámuito isolado». E de novo a memória de um passado «glorioso»:«Canha tem mais de 800 anos, ja teve câmara muncipal e nessaaltura o Montijo não era nada, não tinha nada». João Silva retomao discurso: «Vai trazer emprego, vai ser muito bom, para ver se osnovos ficam por cá». É Fernando que completa: «Como não encontramtrabalho aqui, vão para o Montijo ou para Alcochete e acabampor comprar casa lá. Isto agora e só velharada, como nós (risos).»Falta rigor à observação de Fernando. Entre uma populaçãode dois mil habitantes, os jovens não perfazem a metade, mas hámuitos que resistem aos apelos de fora e encontram motivaçõesem Canha. O empresário José Carlos, com formação em engenhariade produção animal, é exemplo disso. Tem 35 anos, é casado e comtrês filhas pequenas (a quarta vem a caminho). Proprietário daHerdade do Moinho Novo, onde produz carne biológica de bovino,vive há 11 anos em Canha. Quando saiu de Lisboa e comprou umaárea de 58 hectares nas proximidades da vila tinha um sonho,que, na altura, achava ser «a galinha os ovos de ouro»: criar avestruzes,«mas estava enganado, não era a galinha dos ovos de ouro».Ainda hoje cria avestruzes (800 por ano), mas para o mercadoespanhol; em Portugal a carne não convenceu os consumidores,30 |


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Celestina RamosAna Sofia (27 anos) com uma vizinhaapesar de muito saborosa, nutritiva e de baixo valor calórico.Quanto à construção do aeroporto, José Carlos não pensa queexercerá interferências no seu negócio no sector da pecuária,nem positivas nem negativas. «Só em termos turísticos é que mepoderá beneficiar, já que também tenho a funcionar na Herdade,desde 2004, um hotel para cães».para as fragilidades do ponto de vista ambiental, defendendo queo desenvolvimento não pode ser conseguido a troco da destruiçãodo ambiente e do desordenamento do território. No entanto, temesperança que o bom-senso e a sensibilidade impere na revisãodo Plano para se evitar «asneiras contra o ordenamento e oambiente, como acabou por acontecer na Portela».Outro exemplo é Ana sofia, 27 anos. Vive na vila e aqui decidiuconstruir casa própria. Completou o curso de Gestão de Distribuiçãoe de Logística em Lisboa e em vez de ficar na capital, ondesupostamente poderia ter mais oportunidades, ou de regressarao Montijo, sua terra natal, veio para Canha e actualmente trabalhano Lar da Misericórdia. Ana tem uma bebé e é na escola de Canhaque gostaria que a filha estudasse. Reconhece que os jovens nãoabundam por cá, no entanto «não é caso para dizer que aqui sóficaram os velhos; há pessoas novas que trabalham fora porquenão encontram aqui emprego, mas vivem cá». E com as aleraçõesno PDM (Plano Director Municipal) inerentes à construção do aeroporto,a política «irá mudar e certamente atrair novos residentes.As hortas que há para aí é por estarem em áreas agrícolas, ondenão se pode construir, mas com o aeroporto já não faz sentido»manter esses terrenos como RAN (Reserva Agrícola Nacional).A fragilidade ambientalO presidente da Junta de Freguesia de Canha, Armando Piteira,no cargo há três anos, confirma a necessidade de haver alteraçõesno PDM «para o desenvolvimento da terra» mas chama a atençãoO mesmo alerta foi feito pela presidente da Câmara Municipaldo Montijo. Embora satisfeita pela construção do aeroporto namargem Sul do Tejo, como de resto a Associação de Municípios daRegião de Setúbal, porque é uma obra «que coloca ao concelhonovas oportunidades e novos desafios», Maria Amélia Antunesreconhece que uma obra desta envergadura também «traz preocupaçõesà região», na medida em que «além de investimento,pode pôr em causa os valores ambientais». Para a autarca, deveráter-se «em consideração o aquífero subterrâneo da Península deSetúbal e a protecção do Estuário do Tejo». A ressalva para osaspectos ambientais está, de resto, bem expressa no parecer doLNEC, segundo o qual Alcochete apresenta desvantagens em relaçãoà Ota em três critérios: «Conservação da natureza e biodiversidade»,«Sistemas de transportes terrestres e acessibilidades», e«Ordenamento do território»; e vantagens em quatro: «Segurança,eficiência e capacidade das operações do tráfego aéreo», «Sustentabilidadedos recursos naturais e riscos», «Compatibilidadee desenvolvimento económico e social», e «Avaliação financeira».Em relação à componente ambiental, o LNEC recomenda algumasmedidas: «instalar no local um sistema automático adequadopara observações atmosféricas», assim como «monitorizar local-32 |


mente os movimentos de aves», elaborar planos para «proteger aqualidade das águas subterrâneas», «seleccionar uma orientaçãodas pistas que minimize as interferências com os movimentosde aves» (reduzindo os riscos de colisão), e «criar áreas alternativasde alimentação de aves aquáticas».Sobre os benefícios, Maria Amélia Antunes diz que além de atrairinvestimento, o novo aeroporto «vai permitir dotar o concelho deacessibilidades importantes e trazer emprego.» Para uma regiãomuito afectada pelo desemprego, a perspectiva de criação denovos postos de trabalho é bastante animadora. Segundo dadosreferentes a 2001 do Instituto do Emprego e Formação Profissional,o concelho do Montijo apresentava uma taxa de desemprego naordem dos 8,6%. Quanto aos restantes, as estatísticas não sãomais positivas: Alcochete – 7,3%, Almada- 8,4%, Barreiro – 9,5%, Moita– 10,7% Palmela – 7,9%, Seixal – 8,5%, Sesimbra – 8,3%, Setúbal – 9,8%.A construção do aeroporto no CTA, segundo o cenário traçado peloLNEC, poderá fomentar a criação de 29 mil a 65.500 postos de trabalho,altura em que a nova «cidade aeroportuária» estará a funcionarem pleno. Um conceito que o presidente da <strong>CCDR</strong> <strong>LVT</strong> consideraimportante desmistificar para não dar azo a enganos. AntónioFonseca Ferreira, defensor de «uma polinucleação», esclarece queuma cidade aeroportuária «é uma plataforma logística que acolheas actividades e os serviços que apoiam directamente as funçõesaeroportuárias e possam, além disso, gerar actividades industriais,de logística... Acho que durante o debate em torno do aeroportose criou uma espécie de mito, parecia que íamos criar uma grandee nova cidade na margem sul. Não é nada disso».Relançamento do arco ribeirinho sulAlém da criação de oportunidades, «favoráveis à economia da regiãoe do país», através da criação de emprego e de novas actividadese serviços, a plataforma logística do aeroporto poderá representaro «empurrão» de que precisa o arco ribeirinho sul composto pelaQuimiparque, Siderurgia e Margueira. «São áreas que estão emstand by há muito tempo, ficaram inactivas e agora com o aeroportoestão naturalmente expectantes».Relativamente a intervenções que possam resultar num ordenamentodesastroso na Margem Sul do Tejo, Fonseca Ferreira falade «tolerância zero»: «É preciso nuclear o povoamento e as actividadesindustriais, empresariais e de logística em torno do aeroportoe dos aglomerados já existentes, e alargar e reforçar aszonas de protecção ambiental». Para o presidente da <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong>,«se se fizer isto, estarão acauteladas as questões do ordenamentodo território».Alheia a questões tão complexas, mas «feliz» porque «o progressovem aí», Celestina Ramos, 74 anos, rega as flores que plantou emcanteiros junto à estrada da Touca, de acesso a Canha. Se da imagemse pode tirar uma moral, seria a de que por mais expectativasque se criem com a grande obra, a vida em Canha segue rotineirae devagar, que o «futuro», esse, acontece só em 2017.| 33


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Territórios | Carla Maia de AlmeidaFotografia | <strong>Parque</strong> <strong>Expo</strong>PARQUE EXPOUm Novo CicloHá dez anos, nascia uma novacidade a oriente do centro de Lisboa.Uma área de 330 hectares, sociale ambientalmente degradada,transformou-se num territórioordenado onde coexistemhabitação, serviços, comércio,cultura e lazer. Não é um lugarperfeito, mas é ainda o preferidode milhares de pessoas à procurade qualidade de vida ou dasbenesses de um passeio junto ao rio.O presidente do Conselhode Administração da <strong>Parque</strong> <strong>Expo</strong>,Rolando Borges Martins, fala dosnovos rumos da empresa e do quevai ser feito para assinalar os dezanos da <strong>Expo</strong>’98.Quais são as marcas mais relevantes da sua presidênciana administração da <strong>Parque</strong> <strong>Expo</strong>, nestes três anos?O relevante neste mandato que terminou foi a redefinição da missãoda empresa. Depois de alguma hesitação e indefinição quanto aofuturo, após a realização da EXPO’98 e da sua grande concentraçãono projecto do <strong>Parque</strong> das Nações, a empresa precisou de encontraruma nova orientação e uma nova área de intervenção. Foi sobretudonisso que nos concentrámos. A missão para esta empresaestá agora clara: passa pela intervenção em territórios nacionaise internacionais. Retirámos aquela dimensão específica do <strong>Parque</strong>das Nações e passámos a ter leituras de territórios que não só este,fazendo-o na perspectiva do ordenamento e só nessa perspectiva.Centramo-nos no pensar o território na sua dimensão sustentável,numa lógica de olhar público. Outros irão a seguir fazer o planeamentoe o desenho urbano e, posteriormente, o seu desenvolvimentoe exploração imobiliária.Para essa redefinição serviu a experiência acumuladano projecto de reconversão urbana desta zona de Lisboa…Sem dúvida. Um dos principais activos que nos facilitou esta redefiniçãoda missão foi a experiência acumulada e a expertise queaqui existe do território que soubemos transformar. Passámosagora a fazê-lo noutros territórios e no primeiro ciclo de vida,ou seja, no seu conceito de ordenamento mais geral, introduzindoas várias dimensões de sustentabilidade que a esse territórioé preciso atribuir: as dimensões de coesão social, valorizaçãoambiental e actividade económica que têm de estar subjacentes.Pode dar alguns exemplos concretos?Um exemplo destas funções que têm a ver com a nova missãoé o programa Polis do Litoral. Trata-se de um programa nacionalde reposição, muitas vezes, da legalidade na costa portuguesa.É um programa de intervenção pública, combinando o poder centralcom o poder local. Uma área onde também estamos particularmente| 35


activos é na intervenção dos tecidos urbanos degradados ou anecessitar de revitalização. Há casos concretos e já conhecidos,como a intervenção na frente ribeirinha da baixa pombalina.Há um projecto de requalificação da zona de Belém/Ajuda e, parauma fase posterior, uma intervenção em Pedrouços/Dafundo.Na margem sul, nesta lógica da cidade das duas margens, os poten-.ciais territórios da Quimiparque e da Siderurgia são territóriospúblicos, expectantes no que é preciso resolver dos passivos ambientaisque têm e das oportunidades de crescimento integrado.Essa nova missão reflectiu-se também na internacionalizaçãoda empresa…Há um projecto muito importante, ganho em concurso internacional,que é o plano director da cidade de Argel, mas a nossa dimensãointernacional serve, sobretudo, como abertura de portas para asfases subsequentes. Nós fazemos o ordenamento, a seguir vêm osprojectistas, os arquitectos, os engenheiros, as empresas de construção...Estando na primeira fase mais facilmente podemossugerir o abrir de portas para outras empresas portuguesas, e étambém isso que justifica que uma empresa pública nacionalesteja a fazer projectos no estrangeiro.E em matéria de ambiente, já se fez tudo o que podia ser feitona zona do <strong>Parque</strong> das Nações?Este projecto foi, há 10 ou 15 anos, particularmente inovador nessedomínio. Uma intervenção neste tipo de território, hoje, não sepensaria sem as preocupações ambientais que nós tivemos naaltura. O projecto era ambicioso, mas era um projecto integradoe isso permitiu fazê-lo «de A a Z». Em termos ambientais, o programafoi todo cumprido. Estamos hoje numa fase posterior, a damonitorização ambiental, que mantemos religiosamente nas suasdiversas componentes – o ruído, o ar, a água – para que tenhamosaqui a medição e a evolução dos parâmetros relevantes… E atépara a posterior entrega às câmaras, quando assim acontecer,na sociedade de gestão urbana tripartida. As câmaras de Lisboae de Loures têm hoje politicamente as condições e a vontadede o fazer, por isso a seu tempo avançarão, ainda este ano, creio.Que mudanças é que esse modelo tripartido irá trazer?É mais um passo para a co-responsabilização das autarquias nadefinição dos modelos de gestão… Tudo faremos, e as câmarasconcordam com certeza, para que o utente – seja o morador,.o visitante ou o trabalhador – não sinta qualquer mudança. O queé importante é que a qualidade do serviço se mantenha, independentementeda estrutura que está por trás a assegurá-la. E queterá uma administração rotativa entre os três accionistas: a <strong>Parque</strong><strong>Expo</strong>, a Câmara de Lisboa e a Câmara de Loures.Avaliando agora os projectos de imobiliário e urbanização,acha que foi conseguido o equilíbrio entre a habitação e outroselementos constitutivos de um território – o lazer, o comércio,a mobilidade, etc? Uma das críticas mais comuns é a de quehouve um crescimento excessivo, há habitação a mais…Se formos ao princípio fundador deste projecto vemos que, desdea primeira hora, foi definido como objectivo para este territórioa criação de uma nova centralidade. Falou-se, entre 1993 e 1998,da necessidade de Lisboa ter um novo pólo, activo e atractivo, queconstituísse uma massa crítica de desenvolvimento da cidade.Esse foi o princípio e é bom ter presente que estas novas centralidadesse fazem com densidade. Portanto, os planos de urbanização,primeiro, e os planos de pormenor, a seguir, criaram essa densidade– e o que temos hoje é o resultado desses planos. Insistonisto, porque às vezes é dito, incorrectamente, que se tem aumentadoa densidade. Não tem. Está rigorosamente de acordo comaquilo que estava previsto nos planos.Isso não significa que haja, de facto, esse equilíbrio.Agora vamos aos tipos de ocupação que aqui temos. Temos umazona central: as empresas que estão em torno da Gare do Oriente36 |


Depois de alguma hesitação e indefinição quanto ao futuro, após a realizaçãoda <strong>Expo</strong>’98 e da sua grande concentração no projecto do <strong>Parque</strong> das Nações,a empresa precisou de encontrar uma nova orientação e uma nova áreade intervenção. Foi sobretudo nisso que nos concentrámos. A missão paraesta empresa está agora clara: passa pela intervenção em territóriosnacionais e internacionais. Retirámos aquela dimensão específica do<strong>Parque</strong> das Nações e passámos a ter leituras de territórios que não só este,fazendo-o na perspectiva do ordenamento e só nessa perspectiva.e aqui no eixo da Avenida D. João ii, o pólo de negócios. Depois,a relação com o rio foi inovadora face ao resto da cidade, em termosdo desenho urbano que aqui apareceu. Tratou de consideraro rio como um elemento a integrar no próprio desenho. Tem ospólos habitacionais, um a sul e outro a norte da zona central, comescalas de bairro. Por fim, há todo um projecto de espaços verdes,um projecto de paisagismo que é transversal ao plano de urbanização,hoje reconhecido e estabilizado. Quarenta por cento do territórioé ocupado por espaços verdes. Não é comum em Portugal,em Lisboa e mesmo lá fora.Portanto, rejeita as críticas…Não, não rejeito as críticas. Uma reserva que tenho em relaçãoa este projecto, digo-a já: é a sua ainda ténue capacidade de contaminaros territórios envolventes. Os limites são ainda muitovisíveis, nomeadamente na frente ribeirinha que liga a SantaApolónia, onde há ainda muito a fazer. Há, claramente, umaentrada para o <strong>Parque</strong> das Nações, enquanto a ideia era que issofosse ultrapassado. Será, um dia… Agora, eu acho que estamosperante um dos espaços mais vivos e animados da cidade de Lisboa,ao longo das diferentes horas do dia e das diferentes funções.Temos habitação relevante, temos actividade económica muitointensa, temos lazer, temos cultura, temos diversão… E temos,de longe, o equipamento cultural mais visitado da cidade, o Oceanáriode Lisboa. Não estando sequer no eixo prioritário doturista, conseguimos atraí-lo até aqui.Mas essa animação vem de fora para dentro. E ainda há zonassobreocupadas a coexistir com zonas semidesérticas, tanto nosbairros da zona envolvente como em certas áreas do antigorecinto da EXPO 98. Ou seja, parece que esta nova cidade aindanão encontrou a desejada coesão social.Concordo parcialmente consigo. É verdade que esta cidade foifeita muito rapidamente. O tempo é uma das varáveis da construçãode uma cidade e, aqui, essa variável foi muito acelerada.A questão da consolidação social estará ainda por fazer. Contudo,temos o lado inverso disso, que é o nível de satisfação dos residentes.Temos dois dados positivos quanto à apreciação dos residentes:um é a rapidez com que a procura foi feita, outro é que há poucagente a sair daqui, depois de vir para cá morar. Não é uma zona detransição para outros destinos. É um espaço que, não sendo muitogrande, combina várias funções: zona de negócios, zona residencial,zona de lazer de frente ribeirinha… Claro que, para uma cidadeque se desenvolveu a um ritmo acelerado, há aqui duas ou trêscoisas por resolver, ainda, coisas que não terão corrido tão bem.A questão da marina é uma delas.Já falaremos da marina. Mas ainda em relação à habitação,e pegando no problema que salientou antes – a ausência decontaminação com os territórios envolventes –, não lhe pareceque isso também acontece porque não houve a preocupaçãode tornar este espaço mais interclassista? Se há aqui fronteirasnítidas, não é também porque este é um espaço para uma elite?Elite, parece-me excessivo; é mais certo falar de um perfil de ummorador da classe média ou média-alta. De facto, as sociedadessão feitas para todas as classes e aqui não as temos todas a residir.Temo-las a usufruir do espaço, isso sim. Este é um espaço completamenteinterclassista e intergeracional, no que é a sua dimensãolúdica. Na dimensão residencial, efectivamente, não é. Mas a <strong>Parque</strong><strong>Expo</strong> não fez o desenvolvimento imobiliário, permitiu que os investidoresprivados o fizessem e eles, naturalmente, procuraramo que mais lhes interessava.Falando agora da herança da EXPO 98. Houve espaçose equipamentos que provaram a sua viabilidade e versatilidade,mas outros não correram tão bem. O caso da Gare do Oriente,sem ser o tal «apeadeiro de luxo» que se prognosticava,não corresponde bem às necessidades dos utentes…É preciso distinguir a arquitectura do espaço e a função urbana.A Gare do Oriente cumpre, hoje, a sua função urbana: ser a grande| 37


Uma área onde também estamosparticularmente activos é naintervenção dos tecidos urbanosdegradados ou a necessitar derevitalização. Há casos concretos e jáconhecidos, como a intervenção nafrente ribeirinha da baixa pombalina.estação de Lisboa, ligando metro, comboios, etc. E terá agora a suasegunda vida com a estação do TGV. Quanto aos níveis de confortodesejado, é conhecida alguma crítica ao desenho da estação,nomeadamente na sua exposição ao vento e à chuva, mas essaé outra questão.E a Torre Vasco da Gama e o Pavilhão de Portugal, não têm tidoum aproveitamento aquém das expectativas?A Torre Vasco da Gama, um edifício icónico, é um equipamentopúblico que foi concessionado pela anterior administração paraa construção de um hotel. O que se vê lá hoje é o arranque daparte de baixo. Houve atrasos grandes na aprovação do projectona Câmara de Lisboa, mas agora está a avançar e em 2010 deveráestar pronto. E aí reabrirá o restaurante. Quanto ao Pavilhão dePortugal, é um espaço prometido à Câmara de Lisboa. Sei queestão neste momento a desenvolver, internamente, programas deocupação do edifício, sempre na lógica de equipamento culturalou público. Penso que tentarão combinar a solução de uma áreaexpositiva permanente com a possibilidade de acolher eventosou programação variável. Mas é um compromisso da <strong>Parque</strong> <strong>Expo</strong>vender aquele espaço à câmara e é só por isso que se mantémcom ocupações precárias. O ano passado, no primeiro trimestre,tivemos uma exposição do programa Polis, no segundo trimestreacolhemos a Trienal de Arquitectura e no segundo semestre foiocupado pela presidência portuguesa da União Europeia, emcomplemento com o Pavilhão Atlântico.Em compensação, a situação da marina está finalmenteresolvida. Foi um dos investimentos deste mandato?Foi. Acabámos por ter de adquirir a sociedade aos credores, a cempor cento, e estamos neste momento em obras. Entendemos quea imagem daquele território estava particularmente degradadae danificada e que ninguém acreditaria numa solução concessionada,agora. O que fizemos foi adquirir a sociedade, tratarmosdas obras, e, depois de demonstrarmos que o espaço é viável,fazermos nós a concessão. Vamos fazer a alteração da obra dabacia sul; basicamente, fechar a bacia e colocar comportas quepermitirão a entrada e a saída dos barcos, mas apenas e só nessasituação. Fora isso, estará fechada, para evitar o assoreamento. Vaiser redesenhada para acolher 800 embarcações e as obras terminarãono Verão do próximo ano. Em paralelo, trabalharemos nareabilitação e recuperação do antigo edifício Nau, porque só fazsentido que retome a actividade quando a marina começar a ganharvida. Só nesse momento faremos a concessão da actividade náutica.A bacia norte, onde estão os antigos restaurantes flutuantes,que serão desmantelados, ficará para já como um espelho deágua.Estão a realizar-se intervenções nos jardins do <strong>Parque</strong> da Águae Garcia de Orta. Fazem parte das acções para assinalar os dezanos da <strong>Expo</strong> 98?Estes jardins requerem muita intervenção. Primeiro, porque têmespécies muito frágeis; depois, porque a utilização é grande e nãoé necessariamente respeitosa. Mas estas intervenções não têm aver com os dez anos da EXPO, são intervenções regulares que sefazem todos os anos... Outra foi repintarmos o mobiliário urbano.Então o que vai ser feito para celebrar os dez anos da <strong>Expo</strong>?Vamos ter três linhas de intervenção, num conjunto de actividadese de eventos que, de algum modo, celebram o passado, o presentee o futuro. Vamos ter uma exposição de cartoons feitos entre 1993e 1998, tudo o que foi aparecendo nos jornais e que retratou aopinião pública; vamos ter espectáculos e vamos ter outra vertenterelacionada com o Oceanário e os oceanos. Não devemos esquecerque 1998 foi o Ano Internacional dos Oceanos. Dez anos depois,como é que estamos e como é que podemos estar no futuro? Porúltimo, a nova missão justifica falarmos um bocadinho sobre o queé reinventar territórios e, por isso, vamos fazer um grande ciclode conferências, aberto a toda a gente, sobre cidades, urbanismoe ordenamento.38 |


Depois do forte investimento na <strong>Expo</strong>’98e no <strong>Parque</strong> das Nações, a <strong>Parque</strong> <strong>Expo</strong>está agora particularmente vocacionadapara a concepção e gestão de intervençõesurbanas e ambientais noutros territórios.Com uma carteira de clientes que vãodo sector público ao privado, a empresaafirma-se como prestadora de serviçosespecializados, sob o lema «reinventaro território». Eis alguns dos projectos emcurso na região de Lisboa e Vale do Tejo.AJUDA – BELÉMData final ou prevista: 2010O projecto assenta no estudo ou elaboração da proposta derequalificação e revitalização do espaço público na zona de Beléme Ajuda, bem como na requalificação de alguns equipamentosculturais e edifícios de relevo. Inclui a construção do novo Museudos Coches, a instalação do Picadeiro Real e a requalificação devários jardins, praças e vias da zona intervencionada.FRENTE RIBEIRINHA DA BAIXA POMBALINAData final ou prevista: 2010A ideia é dinamizar a vida económica, social e cultural desta zonade Lisboa, reforçando a complementaridade entre Praça doComércio e a frente ribeirinha, e o conjunto da baixa pombalina(Baixa-Chiado). Investir-se-á na identidade do «lugar» e na suaqualidade «cénica», contribuindo para uma nova apropriação dorio Tejo pelos portugueses.PROGRAMA POLIS DA COSTA DE CAPARICAData final ou prevista: 2010Pretende-se a valorização e requalificação ambiental e urbana deuma área de 650 hectares que inclui terrenos do domínio públicoe privado. A construção de parques, a requalificação das frentesmarítimas, a criação de novos percursos pedonais e de cicloviasfazem parte dos objectivos, como meios de dinamização de actividadesturísticas, culturais, desportivas e outras que possam contribuirpara o desenvolvimento económico e social desta zona.PARQUE DE SACAVÉMData final ou prevista: não temRequalificação do antigo parque industrial de Sacavém e de umazona de sapal adjacente ao rio Tejo, na zona ribeirinha do concelhode Loures, somando uma área de 36 hectares. Os objectivos passampela funcionalização do parque para outros usos, como habitação,comércio e lazer, no prolongamento do <strong>Parque</strong> das Nações.PEDROUÇOS – DAFUNDOData final ou prevista: 2010Pretende-se a reconversão e requalificação urbanística de 47 hectares(mais 7 hectares de doca), delimitados a poente pela praiado Dafundo e a nascente pela zona adjacente à Torre de Belém.Um território vasto que se quer dotado de equipamentos para afruição pública, apresentando-se como uma «porta atlântica dacapital do país», quer pela relação com o rio e o oceano, quer pelaproximidade ao conjunto monumental da Torre de Belém/Jerónimose Centro Cultural de Belém.MARGUEIRAData final ou prevista: não temA <strong>Parque</strong> <strong>Expo</strong> tem a seu cargo a assessoria técnica nos domíniosdo território e do urbanismo. Faz-se a apreciação e acompanhamentodo processo de elaboração do Plano de Urbanização deAlmada Nascente (em curso), abrangendo a reconversão dos antigosestaleiros da Lisnave. A área de intervenção compreende 75hectares.SIDERURGIA NACIONAL/QUIMIPARQUEData final ou prevista: não temOperação de reconversão, revitalização e requalificação ambientale urbana, numa óptica de desenvolvimento sustentável, dosterrenos ocupados pela antiga Siderurgia Nacional e pela Quimiparque,nos concelhos do Seixal e Barreiro.| 39


A Cidade FlutuanteCom o final da EXPO’98, o Pavilhão dos Oceanos desaparecia para dar lugar, 16 dias depois,ao Oceanário de Lisboa. Em breve se tornou uma das maiores atracções da cidade.Procurado por um público heterogéneo, com a mesma capacidade de fascinar criançase adultos, tornou a superar o ano passado a fasquia do milhão de visitantes. É um mundoà parte a que apetece voltar, muitas e muitas vezes.Património | Carla Maia de AlmeidaFotografia | Guto Ferreira40 |


Há uma cidade flutuante a oriente, mistura debarco ancorado e nave prodigiosa. Ali, não importaque língua falem, os humanos são sempreestrangeiros, visitantes temporários de um reinoque se deixa ver, mas não tocar. Esse reino –«habitação das formas espantosas», como diz o poema de Sophiade Mello Breyner – é composto por oito mil animais e plantas.No conjunto, são 500 espécies vindas de todos os oceanos, umapequena amostra da extraordinária biodiversidade do mundomarinho, onde se concentra a maior parte da vida na Terra.Situado entre os habitats do Pacífico, Índico, Atlântico e Antárctico,o aquário central é como a grande praça da cidade. Um passeiopúblico submerso por quase cinco milhões de litros de água, ondecirculam, sem necessidade de semáforos e sinais de trânsito,cerca de 100 espécies diferentes. Umas preferem estar perto dasuperfície; outras descem até ao limite dos sete metros de profundidadee vagueiam junto ao fundo arenoso, onde é frequenteentregarem-se a largos períodos de imobilidade. Umas nadamem cardume, formando nuvens prateadas de caudas e barbatanasem movimento perpétuo – são as cavalas, as salemas ou os xaréus.Outras, como as barracudas, cultivam hábitos solitários depois deatingirem determinado tamanho; e há tanto de assustadornaquele olhar fixo de navio torpedeiro como nos dentes afiadosque agarram o seu alvo, para um desafio frequentemente mortal.Barracudas e tubarões representam, na cidade flutuante, os mausda fita, «Os Sopranos» do Oceanário. Tubarão-corre-costa, tubarão-‐de-focinho-negro, tubarão-de-pontas-brancas-de-recife, tubarão-‐de-pontas-negras, tubarão-touro, tubarão-pata-roxa, tubarão-zebra…O fascínio que exercem sobre os visitantes é tremendo; não devehaver palavra mais pronunciada em tantas línguas como o nomedeste peixe ameaçado de extinção pelo seu predador maior – essemesmo que se multiplica em expressões de medo e espanto, masque só atrás das paredes com 30 centímetros de espessura é completamenteinofensivo.| 41


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Com mais fama do que proveito, o tubarão só come duas vezespor semana, enquanto no meio natural pode passar largos períodosde tempo sem ingerir nada. Compare-se com as lontras ou ospinguins, animais adorados pelo público, cuja voracidade exigeque sejam alimentados várias vezes ao dia… Se o tubarão mantémas mandíbulas abertas, aparentando devorar este mundo e outro,é apenas porque não as consegue fechar, tantos são os dentes queali se encavalitam. Ao longo de uma vida, entre 30 a 40 anos,chega a ter à volta de 20 mil dentes, que vão caindo e sendo substituídospor outros (foto pág. 45). É frequente serem recolhidos dofundo pelos mergulhadores do Oceanário, para depois se mostraremaos visitantes mais curiosos.Todas as cidades fantásticas têm os seus super-heróis. Se quiséssemosencontrar o guardião desta metrópole, onde há castelosde rochas no lugar de prédios e algas em vez de árvores, teríamosde eleger a gigantesca manta preta e branca – uma reencarnaçãode Batman, pairando vigilante sobre as ruas de Gotham City.A manta é uma das várias raias ocupantes do aquário central,a maior de todas e também a única desta espécie a viver actualmenteem cativeiro, em todo o mundo; o que se explica pelas dificuldadesimplicadas na sua manutenção, transporte e alimentação.Parentes próximos dos tubarões, as raias são peixes cartilaginososde corpo achatado e barbatanas peitorais muito desenvolvidas,que batem suavemente como asas de pássaro. Quem olha paraa raia gavião-do-mar não pode dizer com toda a certeza a quereino desejaria pertencer, se ao da água ou do ar.Mas se há um peixe que fascina mais os visitantes do que as raiase os tubarões, talvez seja o peixe-lua. Não é fácil atribuir-lhe umpapel nesta cidade imaginária – há nele qualquer coisa de animalpré-histórico, de nave couraçada e de criatura extraterrestre.Inclassificável, pelo menos à primeira vista, o peixe-lua é o maiordos peixes ósseos, podendo atingir três metros de comprimentoe pesar duas toneladas. Quando se aproxima das paredes de acrílico,as pessoas atropelam-se para melhor o ver, as câmaras disparamrepetidamente e todos os olhares seguem aquele estranhoflutuar que, de tão lento, só pode mesmo lembrar a Lua. De formasarredondadas, tons cinzentos, malhado, possui duas grandes barbatanassemelhantes a orelhas e uma boca esponjosa que abree fecha, parecendo estar sempre de perfil.Verdadeiramente bizarro, mas inofensivo, o peixe-lua veio do Algarve,tal como a manta; são, até ver, os maiores animais do aquário central.Um outro exemplar de manta, com cerca de 600 quilos, foi libertadono mar, já que os sete ou oito metros que iria atingir poderiampôr em causa o equilíbrio do habitat. Como conseguem conviveraqui espécies tão distintas, e por que é que os peixes grandesnão comem os pequenos?, pergunta-se, muitas vezes. Não hásegredos; apenas conhecimento, cuidado e atenção. Vigia-sea limpeza, a temperatura deve ser confortável para todos e a alimentaçãoé constante, escalonada a dias e horas diferentes. Ou seja:há uma distribuição justa e equitativa das riquezas. É por isso que,na cidade flutuante, os grandes não comem os pequenos. Simples.Antes de ser o Oceanário de Lisboa, chamou-se Pavilhão dos Oceanos.Projecto do norte-americano Peter Chermayeff, um dos gurusda arquitectura aplicada a estes equipamentos, o Pavilhão dosOceanos foi um dos edifícios mais emblemáticos da <strong>Expo</strong>’98e aquele que atraiu o maior número de visitantes, num ritmo| 43


valor desproporcional à algazarra que salta à vista. Os portuguesescontinuam a estar em maioria, seguidos dos espanhóis, inglesese brasileiros, à frente de uma série de nacionalidades minoritárias.Quanto aos oito mil animais e plantas, diz João Falcato,«são mais ou menos os mesmos da EXPO’98, só que estão maiores.O peixe-lua é uma das novas atracções.» Questionado sobrea evolução do Oceanário, agora que está consolidada a sua vocaçãode equipamento cultural, responde: «Um aquário é um poucocomo um jardim. Quando começa, tem um ar um pouco artificial,mas ao longo de dez anos conseguiu-se ter o ecossistema cadavez mais equilibrado e natural. A nível de exploração, tornou-seum equipamento bastante rentável, que se paga a si próprio.O futuro passará, creio eu, pela criação de novas instalações quenos permitirão ser mais flexíveis com as novidades. E pela renovaçãode algumas áreas da exposição principal.»Por ter começado a trabalhar aqui desde 1997 («a alimentaros peixes», recorda), depois de concluído o curso de Ciências doMeio Ambiente e de uma passagem pelo aquário de Génova,também da autoria do arquitecto Peter Chermayeff, João Falcatoestá longe de corresponder à imagem pré-concebida do administrador-tecnocrataque só compreende a linguagem dos números.«Tive aquários desde os cinco anos e foi uma sorte vir parar aqui.Conheço todos os animais, sei se estão bem ou mal… Gostariamuito de continuar a fazer certas coisas que fazia ao princípio,mas não posso porque tenho outras responsabilidades.» E detodo o Oceanário, o que prefere?, arriscamos perguntar. «O que eugosto mais é do conjunto. Mas a minha predilecção pessoal sãoos corais – provavelmente, o maior desafio em termos de manutençãoem cativeiro.»non-stop que atingiu as 30 mil pessoas por dia. «Tratava-se de umcircuito mais rápido que permitia esse fluxo. Hoje, o nosso picoé à volta das oito mil pessoas por dia.» João Falcato, biólogo e administrador-delegadodo Oceanário, afirma que os números da <strong>Expo</strong>não são repetíveis, mas salienta que após uma fase de quebranatural, a curva ascendente foi retomada a partir de 2002. Em2007 voltaram a superar a fasquia do milhão de visitantes, o quenão acontecia desde 1999. «O que claramente também tem vindoa evoluir», acrescenta, «é o nosso Programa de Educação.Começámos em 1999, com 16 mil participantes. O ano passadotivemos 46 mil.»O Programa de Educação do Oceanário dirige-se a todos os públicose instituições, com um conceito de animação adaptado a diferentesobjectivos e níveis pedagógicos. Desde o público pré-escolar atéàs famílias, passando pelas escolas, professores e educadores,e terminando nas visitas de grupo para os adultos, as actividadespropostas dão por nomes como «SOS Pinguins», «Monstros Marinhos»,«Biólogo por uma Hora» ou «CSI – A Ameaça Gelatinosa».Entre as mais populares junto das crianças está «Dormindo comos Tubarões», uma noite passada em sacos-cama, com vista parao movimento imparável do aquário central. É verdade que tantaadrenalina faz com que se durma pouco, mas isso não é o maisimportante, de resto.Contrariamente ao que se possa pensar, o público das escolasrepresenta apenas 17 por cento dos visitantes do Oceanário, umOs recifes de corais encontram-se no habitat do Índico Tropical,onde a temperatura da água ronda os 20 graus e a do ar um poucomais, criando ao visitante a ilusão de um Verão extemporâneo.Ao nível superior, foi construído um trilho pelo meio das árvorese plantas tropicais onde vivem mais de cem aves, quase sempreescondidas. No extremo oposto, separado por uma cortina devento, fica o habitat do Antárctico, cujos residentes são os pinguinse as andorinhas-do-mar. Aqui, o visitante sobe a gola docasaco ou guarda as mãos nos bolsos, quase instintivamente.Passará com certeza mais tempo no habitat seguinte, o PacíficoTemperado, distraído com as manobras de diversão do casal delontras, Eusébio e Amália. Desde a EXPO’98 que estes mamíferos– os únicos do Oceanário – são uma das grandes atracções dacasa. Passam a maior parte do dia ocupados em intermináveislavagens do pêlo e da comida, rebolando na água e mergulhandono fundo. O propósito é manter uma temperatura do corpo ideal,já que, ao esfregar e alisar o pêlo, vão estimular a produção de umóleo que os protege da água gelada. Refira-se, a propósito, quetoda a água do Oceanário é salgada artificialmente, seguindoprocessos de filtração mecânica, química e biológica. Todos osmeses se gastam mais de 16 toneladas de sal, vindas do MarVermelho para este efeito.Para além da sua vocação cultural, lúdica e educativa, o Oceanáriode Lisboa empenha-se também no que chama a componentede «missão», ou seja, na promoção do «conhecimento dos oceanos,sensibilizando os cidadãos em geral para o dever da conservaçãodo património natural, através da alteração dos seuscomportamentos.» Esta intenção traduz-se no envolvimento emvários projectos de natureza científica, no exterior (por exemplo,44 |


Cabo Verde), bem como na manutenção das espécies dentrodo aquário.Na zona de bastidores, os «berçários» das medusas ou dos ovos deraia e tubarão, junto com alguns exemplares recém-nascidos, sãoo lado visível de um trabalho que a maioria do público desconhece.A reprodução de certos animais em cativeiro – caso dos corais,um dos mais desafiantes – pode ser uma das formas de asseguraro seu futuro. Por enquanto, o visitante ainda pode ver aqui osespantosos dragões-marinhos, raros de avistar fora do seu habitatnatural; a anémona-vermelha-do-norte, que mais parece umainvenção do Chapeleiro Louco, personagem de Alice no País dasMaravilhas; o pequeno peixe-palhaço a que todos chamam Nemo;as estrelas-do-mar-girassol, que chegam a ter 50 braços; o polvo-‐gigante do Pacífico, tão inteligente que é capaz de abrir um frascocom comida e depois explicar aos outros como se faz; ou asmedusas-de-lua, criaturas etéreas constituídas por 95 por centode água. De volta aos versos de Sophia, espalhados pelas ruasda cidade flutuante, descobrimos o Fundo do Mar:«No fundo do mar há brancos pavores/ Onde as plantas são animais/E os animais são flores./ Mundo silencioso que não atinge/A agitação das ondas./ Abrem-se rindo conchas redondas,/Baloiça o cavalo-marinho./ Um polvo avança/ No desalinho/ Dosseus mil braços,/ Uma flor dança,/ Sem ruído vibram os espaços./Sobre a areia o tempo poisa/ Leve como um lenço./ Mas por maisbela que seja cada coisa/ Tem um monstro em si suspenso.»Oceanário de LisboaHorário de visitas: todos os dias, das 10h00 às 19h00Informações e reservas: 218 917 002/6www.oceanario.pt| 45


Uma passageme muito maisNada fica na mesma depois da construção de uma ponte, para o melhor ou para o pior.É que uma ponte não é só «uma passagem para a outra margem». Não é só uma formagenial de encurtar as distâncias entre populações separadas por um rio. Uma ponteprovoca inevitáveis transformações sociais, económicas e urbanísticas. Lisboae a Margem Sul são disso exemplo, depois da construção daquela que é consideradaa primeira travessia sobre o Tejo.Acontecimento | Carla AmaroFotografia | CA46 |


Uma ponte será apenas «uma passagem paraa outra margem», como cantam os Já Fumega?Mesmo que fosse apenas isso, já não se lhe podiatirar a importância. Mas nunca, em tempo algum,uma ponte foi meramente uma via para passarpara o outro lado do rio. A uma ponte, seja de que envergadurafor, está inevitavelmente associado o desenvolvimento, o crescimento,a mudança de uma região e até de um país, sobretudoquando a geografia o define como pequeno, como é o caso dePortugal.É um desejo velho o de aproximar as duas margens do Tejo.As duas margens em Lisboa, porque o Tejo é o maior rio da PenínsulaIbérica e seria errado pensar que em tantos quilómetrosde extensão nenhuma outra travessia foi antes construída.Os documentos mais antigos que se conhecem remetem essavontade, esse sonho, para os finais do século xix, fazendo referênciaa um engenheiro, de nome Miguel Pais, que em 1876 terápensado numa ligação entre Lisboa e o Montijo. Durante muitotempo não faltaram ideias, propostas, alguns projectos para encurtara distância entre Lisboa e o outro lado, mas nada com a forçaou a urgência necessária para a sua concretização enquanto vigorouo regime monárquico. Isso veio a acontecer nos finais do séculoseguinte, em 1966, com a inauguração da Ponte 25 de Abril, naaltura baptizada de Ponte Salazar.Até então, a única forma de deslocação de uma margem paraa outra era em barcos a motor. Ou pela ponte Marechal Carmona,que liga Vila Franca de Xira a Porto Alto, no concelho de Benavente.Na verdade, esta foi a primeira sobre o Tejo a ser construída naÁrea Metropolitana de Lisboa, 15 anos antes da que liga a capitala Almada. Demorou mil dias a ficar concluída. Foi consideradauma das maiores obras em Portugal no antigo regime. Antesde 1951, ano em que foi inaugurada, a travessia sobre o Tejo maispróxima de Lisboa era em Santarém. A passagem pela MarechalCarmona começou por ser taxada e actualmente é a única situadana grande Lisboa por onde se pode passar para o outro lado sempagar portagem.A concretização de uma ideia secularEmbora não tenha sido, como muitos pensam, a primeira sobreo Tejo, não há dúvida de que a construção da Ponte 25 de Abrilé um ponto positivo a favor do Estado Novo de Salazar, por tersido o motor do rápido desenvolvimento do distrito de Setúbal.Estava o país em guerra há já cinco anos, nas colónias, quandoa capital, em festa, aplaudia a conclusão da obra e assistia aocorte da fita pelo presidente do conselho. Foi a materialização deum sonho de décadas; Salazar tinha acabado de assumir o poderquando deu ordens para ser criada uma comissão com o objectivode avaliar a possibilidade de atravessamento do Tejo por ponte,em Lisboa. Uma iniciativa que apesar de inicialmente não ter tido| 47


Revista de Estudos Urbanos e Regionais, a decisão de construir a ponte«foi fundamentada nos seguintes objectivos: aliviar a pressãodemográfica, urbana e industrial da Margem Norte de Lisboa; aproveitara «disponibilidade» territorial da Margem Sul do Tejo;«especializar» a Península de Setúbal (a Sul) na indústria pesadae em actividades de turismo e lazer; transferir, para a Margem Sul,os afluxos demográficos incidentes sobre Lisboa, criando nessaMargem «aglomerados satélites com condições de vida própria»;e, finalmente, articular Lisboa com a Região Sul do Continente».pernas para andar, era já uma clara demonstração do interesse doantigo regime por uma travessia sobre o Tejo. Mas embora consideradacomo um «problema de importância nacional», foi ficando«na gaveta»... até que em 1953 o Ministério das Obras Públicasprocedeu à constituição de uma nova comissão para estudara viabilidade técnica e financeira de uma ponte que ligasse Lisboaa Almada. Desta vez, o assunto não ficou adiado, tendo sido abertoo concurso público para a adjudicação da obra seis anos depois.Logo à partida, antes mesmo da apresentação de projectos,.já estava definido pelo governo que a ponte deveria ter dois tabuleiros,um para a circulação de carros, outro para a de combóios(esta, porém, só viria a realizar-se muito tempo depois, apenasem 1999).A Ponte 25 de Abril surge numa época marcada por fenómenossociais e políticos graves. Além da guerra no Ultramar (de 1961a 1974), por cá aumentavam as saídas clandestinas do país parao exterior – em dez anos foram para França quase um milhão deportugueses; procuravam lá fora o que cá não encontravam:emprego e melhores condições de vida.Ao mesmo tempo, assistia-se a movimentos migratórios em massado interior para as periferias das grandes cidades, o que resultourapidamente na proliferação, quase como cogumelos, de construçõesclandestinas e de bairros de lata. Aliás, vários documentosda altura apontam as «pressões demográficas e urbanísticas»como um dos factores que levaram à decisão de construir a ponte.A «promoção do desenvolvimento económico» para «os territóriosda Península de Setúbal, Alentejo e Algarve» e o «relançamentoda implantação industrial na Margem Sul do Tejo» foramoutros factores tidos em consideração. Assim, e segundo um artigopublicado na edição de Julho de 1988 da Sociedade & Território –Objectivos, por sinal, cumpridos e que validam a conclusão: a ponte25 de Abril provocou «transformações urbanísticas, sócio-produtivase económico-territoriais». Em termos de ocupação demográfica,«a Península de Setúbal duplicou a sua população» em 20anos: a Área Metropolitana Norte registava 15,3% entre 1950 e 1960,17,1% entre 1960 e 1970; e 34,55 entre 1970 e 1981; a Área Metropolitanasul apresentava em iguais períodos 10,4%, 51,7% e 44%.Ou seja, o ritmo de crescimento demográfico sofreu uma inversão.Este fenómeno não foi a única consequência da construção daponte. Numa pesquisa realizada nos anos 80 precisamente paraanalisar as transformações sócio-urbanísticas e económico-territoriaisdecorrentes da Ponte 25 de Abril, financiada pelo entãoInstituto de Estudos para o Desenvolvimento (IED), e cujas conclusõesforam publicadas num texto de síntese na edição acimareferida da Sociedade & Território, outras alterações no territóriolhe são atribuídas, nomeadamente «os grandes desfasamentosentre a dinâmica de transformação dos usos do solo e as implantaçõesresidenciais e sócio-produticas», resultantes de uma situaçãode crescimento rápido e agravando-se com a abertura da ponteao tráfego automóvel. Assim, o mesmo estudo conclui que emmatéria de dinâmica do uso do solo na Área Metropolitana deLisboa, na Margem Sul e na Península de Setúbal «a construçãoda ponte provocou uma alteração no desenvolvimento urbanotradicional da Margem Sul», isto é, «do crescimento em manchade óleo polarizado nos núcleos ribeirinhos, passou-se a um crescimentoextensivo e mais disperso, em torno do sistema rodoviárioque assenta na ponte».Quanto à estruturação sócio-produtiva (outro critério de análiseconsiderado na mesma pesquisa), os investigadores verificaramque em termos do número de estabelecimentos, o crescimentoindustrial da Região de Lisboa, entre 1910 e 1970, «foi idêntico naMargem Norte e na Margem sul do Tejo». Porém, o número depostos de trabalho «cresceu muito mais fortemente na Penínsulade Setúbal – 18 vezes no referido período, contra 14 vezes na MargemNorte». Em pelo menos um aspecto a construção da ponte nãodesencadeou mudanças: no carácter atractivo e polarizador dacidade de Lisboa. Esse, segundo os autores da pesquisa, não sealterou. O fundamento da conclusão está no facto de «em 1984 seconcentrava na capital do país cerca de 59% do total do empregonos diversos sectores sócio-produtivos implantados na região deLisboa-Setúbal, contra apenas 17% do existente na respectiva subregiãosul».Em relação ao quarto e último critérios que serviram de base deestudo – mobilidade espacial e travessia do Tejo -, os autores destacamque a análise da componente fluxos de tráfego indica «umcrescimento regular e constante do uso do automóvel individual,em detrimento do transporte colectivo». Tendência que se mantémnos dias de hoje e que constitui um dos pontos a desfavor dequalquer ponte destinada à passagem por circulação automóvel.48 |


muito superior ao da Vasco da Gama, com 60 mil veículos.Um ano depois de aberta à circulação, a Vasco da Gama era notícianos jornais por servir de «pista» a alguns «aceleras do volante»que aí atingiam a velocidade de 280 quilómetros por hora. Os 17,2quilómetros de extensão tornam-na a maior da Europa e a quartamaior do mundo. O comprimento e as 100 mil toneladas de açoe as 730 mil toneladas de betão fazem dela uma das grandesobras de engenharia civil do século xx.Não há bela sem senãoNão obstante o crescimento demográfico, económico, social e urbanístico,a ponte 25 de Abril – e, embora menos, a Vasco da Gama –é também responsável por uma importante parte do caos rodoviáriona cidade de Lisboa. O número de veículos que todos os diasentram na cidade de Lisboa – cerca de 915 mil, dos quais 700 milpelo Norte e 220 mil pela Margem Sul – é, aliás, uma das questõesque mais contestações levantam à construção da futura travessiaChelas/Barreiro, que muitos acreditam não irá resolver o congestionamentoda 25 de Abril. A Vasco da Gama pode ter aliviado umpouco a pressão rodoviária, mas também não resolveu, emborativesse colocado um ponto final na circulação de pesados emLisboa, tirando os camiões da cidade.Se a travessia da nova ponte, que deverá estar concluída em 2013,fosse apenas ferroviária, seriam menos as vozes de protesto. Coma decisão do Governo pela introdução do tabuleiro rodoviário,as previsões apontam para um aumento, até 2029, de 60% nonúmero diário de automóveis que hoje atravessam o rio, o que equivaleráa mais 130 mil carros por dia. E como agravante, o decréscimoacentuado da utilização dos transportes públicos. De acordocom um relatório da própria comissão independente que apoiouo Governo na decisão de juntar o tabuleiro rodoviário, a quota demercado do transporte público «passará de 27,2% (dado de 2007)para 22,9% em 2029» e o transporte individual irá subir dos actuais«72,8% para 77,1%».Dez anos, 210 milhões de carrosAquela que é conhecida como a segunda travessia sobre o Tejoem Lisboa foi inaugurada há dez anos. Nessa altura eram grandesas expectativas. Esperava-se que desviasse uma parte importantedo tráfego da 25 de Abril. Desviou algum, mas a verdade é que a 25de Abril continua a «rebentar pelas costuras» – segundo dados de2007 fornecidos pela Lusoponte, o tabuleiro rodoviário da 25 deAbril regista um movimento médio diário de 160 mil veículos,A decisão de a construir foi tomada pelo Governo de Cavaco Silva,que para o efeito criou o Gabinete da Travessia do Tejo em Lisboa(GATTEL). Na altura, chegou a falar-se na comunicação social dasrazões que terão levado Cavaco Silva a erguer outra ponte sobreo Tejo, tendo-se especulado que um dos motivos teria sido o episódioque ficou conhecido como «o buzinão na ponte» 25 de Abril.Quem não se lembra dos protestos contra o aumento de 50% nasportagens? Houve até quem atribuísse ao episódio a quedaestrondosa do Governo PSD nas eleições seguintes. Em declaraçõesrecentes ao Diário de Notícias, o ministro das Obras Públicasde então, Ferreira do Amaral, que foi quem decidiu a localizaçãoSacavém-Montijo e adjudicou a obra, reconheceu que o buzinão«foi, de longe, o maior problema que o projecto [da Vasco da Gama]teve de enfrentar e que obrigou o estado a compensar a concessionária»– de recordar que o Governo, perante os protestos,recuou no agravamento do preço das portagens (estava perto definalizar o segundo mandato) e viu-se obrigado a repor a perdade receitas das portagens na Ponte 25 de Abril.Na altura, o Governo prometeu um acompanhamento pormenorizadoda urbanização induzida pela ponte, tendo para isso criadoo Observatório da Nova Travessia do Tejo, no mesmo ano em quefoi inaugurada, em 1998. E em tempo real, procedeu à montagemde um sistema de monitorização dos licenciamentos nos concelhosservidos pela ponte. Nos anos seguintes chegaram a fazer-se estudossobre os efeitos da Vasco da Gama... até 2001, altura em quepor falta de recursos o Observatório encerrou as portas.No dia em que a Ponte Vasco da Gama completou dez anos,29 de Março, tinham-na utilizado 210 milhões de automóveis.Foi a obra mais emblemática dos anos 90 e estará sempre associadaà <strong>Expo</strong> 98 por ter sido aberta ao tráfego poucos meses antesda inauguração da exposição mundial.A verdadeira TTTÉ pouco falada a Ponte da Lezíria, mas na verdade, se se puser defora a Marechal Carmona, é esta a ponte que merece o rótulo deTTT (Terceira Travessia sobre o Tejo) e não a futura ponte Chelas/Barreiro (que neste caso seria a QTT, Quarta Travessia sobre o Tejo).Inaugurada no ano passado, a 8 de Julho de 2007, tem uma extensãode 12 quilómetros, ligando Benavente (A13) ao Carregado (A1)e à A10. O objectivo da obra era criar uma ligação entre o Norte,o Sul e Espanha, e o Ribatejo e a região Oeste e o Sul. A Ponte daLezíria veio assim colmatar uma lacuna nos acessos da envolventeexterior à área Metropolitana de Lisboa, funcionando como umaalternativa de acesso a Santo Estevão por auto-estrada (A1) e aomesmo tempo aliviar a pressão de tráfego automóvel na 25 deAbril e Vasco da Gama e nas EN 10 (recta do cabo entre Porto Altoe Vila Franca) e EN 118 (entre Porto Alto e Benavente).| 49


Destaque | Pedro Almeida VieiraFotografia | Pedro LoureiroUMA OBRA DO POVOSaciou centenas de milhares de bocas durante mais de dois séculos, assistiu incólumeao grande terramoto de 1755. Foi a primeira grande obra pública de Portugal e a principalresponsável pelo incremento urbano de Lisboa a partir da segunda metade do século XVIII.Hoje, o Aqueduto das Águas Livres é uma obra de arte, a merecer visita e protecção. E respeitopelo povo que o pagou, mesmo apesar do ouro e diamantes vindos do Brasil na épocade D. João V.Em 1747, João Frederico Ludovice olhava para a arcariado Aqueduto das Água Livres, que atravessa o vale deAlcântara, e alegrava-se pela morte de Custódio Vieira,que a projectara poucos anos antes. O arquitecto alemãoque concebeu o Convento de Mafra estavaescandalizado por Vieira ter tido «atrevimento para reduzir umaCorte tão principal da Europa a obra tão escusada e danosa, à vistade toda a qualidade de pessoas». As palavras de Ludovice tinhamum motivo: Custódio Vieira escolhera arcos góticos – uma heresiaarquitectónica na época do barroco – para fazer suplantar o fundovale e trazer, por fim, a água de Belas até Lisboa. Custódio Vieiranão fez isso por capricho nem ignorância: esta era a única formade fazer uma travessia de alvenaria, colada com azeite e pó de pedra,sobre o vazio ao longo de cerca de 900 metros. E o terramotode 1755 confirmou-o, mantendo-se intacto aos abalos.Hoje, este aqueduto é indiscutivelmente considerado um dos maisbelos do Mundo e a arcaria, tão criticada por Ludivice, é mesmoum dos ex-libris de Lisboa. Mas, à parte de ser agora apenas umaobra de arte – deixou a função de fornecer água a Lisboa no iníciodos anos 70 do século passado – e constituir o mais extensoMonumento Nacional de Portugal, o Aqueduto das Águas Livresdesempenhou um papel crucial no crescimento da cidade deLisboa a partir da segunda metade do século xviii. Pode dizer-seque, historicamente, foi mesmo o mais importante motor dedesenvolvimento da capital portuguesa.De facto, antes da construção deste aqueduto, Lisboa quase morriaà míngua de água. Estima-se mesmo que, para uma populaçãoque rondaria os 200 mil habitantes no início do século xviii, existiriauma disponibilidade média de um litro diário de água per capita.As únicas origens que então existiam circunscreviam‐se a escassospoços e a três chafarizes. Esta situação de escassez de águaera já crónica, pelo menos desde o século xvi. Aliás, a confusão,com brigas e mortes, em torno do Chafariz d’El Rei, a principal origemde água de então. Tanto assim que durante o reinado deD. João III saiu uma postura para distribuir as pessoas, segundoa sua qualidade, pelas seis bicas disponíveis, sob risco, dos faltosos,serem presos por três dias, pagarem uma multa elevada ou seremaçoitados com baraço e pregão.Ainda no século xvi, o humanista Francisco de Holanda tentouconvencer o jovem rei D. Sebastião a investir na construção de umaqueduto que trouxesse a água da fonte das Águas Livres, emBelas (Sintra) até Lisboa, aproveitando, aliás, o trajecto de umantigo aqueduto subterrâneo da época dos romanos. No entanto,apesar de alguns estudos, as obras não avançaram. Mesmo assim,devido aos previstos custos avultados desta obra, foi criado umimposto específico – o real da água – para suportar as obras futuras.Porém, quando em 1619 o rei D. Filipe III viajou de Madrid atéLisboa, chegando mesmo a visitar a fonte das Águas Livres, os 600mil cruzados que se haviam recolhido ao longo de décadas foramgastos em festejos em honra do soberano castelhano.| 51


Até ao início do século xviii, houve novas tentativas para avançarcom as obras, mas além de alguns embusteiros – que chegarama fugir com dinheiro –, tudo ficou em águas de bacalhau. Seria apenascom o reinado de D. João V que as promessas se concretizariam.No entanto, embora Portugal vivesse uma época dourada – devidoao ouro e diamantes descobertos na América do Sul – foi o povoque acabou por pagar toda a obra, através de um imposto quetaxava o vinho, o azeite e a carne.ele não se teria agora a arcaria do vale de Alcântara. Contudo,Custódio Vieira não veria a sua obra concluída, morrendo emmeados de 1745, ficando no seu lugar o arquitecto húngaro CarlosMardel – que, mais tarde, também participaria na reconstruçãoda baixa lisboeta após o terramoto. Em meados de 1748, a água,vinda de Belas, chegaria finalmente a Lisboa, a partir de um chafarizprovisório no Rato, no local onde se encontra o actual, juntoà Procuradoria-Geral da República.Mal crónico do país, as obras do aqueduto prolongaram-se pormais tempo do que se previa, em parte devido a desentendimentostécnicos. Inicialmente, as obras foram dirigidas por António Canevari,um arquitecto italiano que já construíra um pequeno aquedutona casa de campo do Patriarca de Lisboa, em Santo Antão do Tojal,actualmente ocupada pela Casa do Gaiato. Mas Canevari nãoacreditava que existisse água suficiente e terá mesmo cometidoalguns erros de projecto, tendo sido afastado por volta de 1734.Para o seu lugar surgiria um triunvirato lusitano: Manuel da Maia– que, mais tarde, seria o mentor da Baixa Pombalina –, Silva Pais– que fundaria, no Brasil, a cidade de Rio Grande do Sul e reabilitariao Aqueduto da Carioca – e Manuel Azevedo Fortes – consideradoo «pai» dos engenheiros portugueses. Mas esta nata daengenharia militar nacional não se entendeu. E pouco tempodepois, Manuel da Maia ficou à frente das obras do aqueduto.Porém, não por muito tempo. Em 1738, surpreendentemente,D. João V nomearia Custódio Vieira para liderar as obras. Foi esteengenheiro que escolheria a solução da travessia do aquedutopelo Vale de Alcântara, abandonando-se a ideia de Manuel daMaia em fazer essa travessia mais junto a Sete Rios. Ou seja, semNo entanto, depois desta fase, foi necessário construir todos os troçossubsidiários – que se estendem por 60 quilómetros –, os reservatórios(Mãe d’ Água das Amoreiras e Reservatório da Patriarcal,no subsolo do Príncipe Real), os canais de ligação e dezenas dechafarizes, tendo-se gasto mais 87 anos. Curiosamente, estevetambém previsto a construção de um troço do aqueduto em arcaria,para alimentar a Baixa, ao longo da actual Avenida da Liberdade.Perante tantos avanços e recuos, os custos totais atingiram verbasastronómicas para a época. De facto, estima-se que o custo globaldo Aqueduto das Águas Livres atingiu o equivalente a 13 toneladasde ouro, o que a preços actuais representaria cerca de 270 milhõesde euros. Isto para um caudal médio, em meados do século passado,de apenas 16 mil metros cúbicos diários, o que daria, em consumosactuais, para apenas 65 mil pessoas. No entanto, convém referirque o Aqueduto das Águas Livres constitui, sem dúvida, umaextraordinária obra de engenharia do século xviii – em sucessivostroços em arcaria e no subsolo –, num período em que aindase estava longe da Revolução Industrial. E, além disso, para aquelaépoca, foi o bastante para permitir a duplicação da população.lisboeta em menos de um século.52 |


No início do século xx, a arcaria do vale de Alcântara, os chafarizese a Mãe d’ Água das Amoreiras seriam classificados como MonumentoNacional, que se estenderia a toda a obra a partir de 2001.Contudo, ao longo dos últimos 100 anos têm-se sucedido algumasdestruições desta obra de arte. Nos 40 do século passado,vários troços e galerias subterrâneas do aqueduto foram destruídospara dar lugar ao dito progresso. Por exemplo, uma bela arcaria,junto à Avenida 24 de Julho, foi dinamitada para se construira Avenida Infante Santo, e outras rodovias levaram a demolições,nomeadamente para a construção do viaduto Duarte Pacheco.O arco que se encontra na Praça de Espanha é, por sua vez, a reconstituiçãode um arco do aqueduto que atravessava a Rua de SãoBento. Mais recentemente, a construção do parque de estacionamentodo Campo Mártires da Pátria afectou algumas galerias,estando também em risco outro troço subterrâneo por causa daconclusão da CRIL.Um museu sempre a correrEm 1920 foi criado o primeiro serviço destinado aos «trabalhos dedesenho, arquivo, biblioteca e museu» na Companhia das Águasde Lisboa, no qual deveriam ser apresentados diversos tipos debens relacionados com o abastecimento de água tais como canalizações,contadores e outros objectos. A Estação Elevatória a Vapordos Barbadinhos sofreu uma adaptação decorrente da sua desactivaçãoe foi destinada à instalação de serviços e do acervo já existente,tendo sido possível preservar as bombas e as máquinasa vapor. O Museu da Água inaugurou em 1987 com sede no núcleoinstalado na Estação dos Barbadinhos, onde actualmente se mantém,e com dois outros núcleos, o Aqueduto e a Mãe d’ Água dasAmoreiras. O Reservatório da Patriarcal tornou-se o seu terceironúcleo desde 1994.Num período em que não existia ainda água canalizada – quesomente se iniciou já com o século xix muito avançado –, os chafarizesforam também um grande factor para a especulação, poisa proximidade constituía uma vantagem óbvia. Possuir uma casaperto de um chafariz passou a valer ouro e as pressões da nobrezapara ficar com os sobejos – porque a água corria livremente –eram imensos. Antes mesmo de estarem construídos, a Câmarade Lisboa era inundada de pedidos para se ficar com essa parte deágua. Aliás, na fase final da sua vida, o Marquês de Pombal seriaacusado de ter desviado, ilegalmente, parte da água do Aquedutopara a sua quinta, na actual Rua do Século. Verdade ou mentira,certo é que tanto a sua casa como a do irmão Mendonça Furtado– que foi seu braço direito e vivia no edifício do actual Museude Arte Antiga, pertença do justiçado Duque de Aveiro – tinhamchafariz nas proximidades.Até 1867, o Aqueduto das Águas Livres foi a principal origemde água em Lisboa, mas com elevado crescimento populacionalobrigou ao reforço das origens. Primeiro, a partir de 1880, atravésdas nascentes do rio Alviela, a que se acrescentou em 1987 a albufeirade Castelo de Bode. Em 1973, o Aqueduto das Águas Livresterminaria definitivamente a sua função pública, em parte tambémpor problemas de contaminação. Assumiu então, em pleno,o seu merecido estatuto de obra de arte.O Aqueduto das Águas Livres é o património nuclear do Museuda Água, criado em 1987 pela EPAL, que inclui também o Reservatórioda Patriarcal e a Estação Elevatória dos Barbadinhos, próximode Santa Apolónia, que elevava a água vinda do aquedutode Alviela e que se desactivou em meados de 1920. Neste últimonúcleo encontra-se a sede do Museu, bem como o acervo documentale diversas exposições. Em 1994, durante o período em queLisboa foi capital europeia da cultura, o Reservatório da Patriarcal,sofreu profundas obras de reabilitação, a cargo do arquitectoVarandas Monteiro, que receberiam o Prémio Municipal Eugéniodos Santos. Tanto neste local como no Reservatório da Mãe d’ Águadas Amoreiras realizam-se frequentes exposições de artes plásticase eventos culturais e sociais, dinamizados pela sua directora de hámais de uma década, Margarida Ruas.Por outro lado, no período de Primavera e Verão, o Museu da Águapermite visitas ao passeio elevado da arcaria do vale de Alcântara– que tem uma vista de cortar o ar -, célebre por alegadamente tersido palco de vários homicídios perpetrados por Diogo Alves.Periodicamente, são também desenvolvidas actividades lúdicase pedagógicas diversas dirigidas ao público escolar e ao públicoem geral, das quais se destacam os programas: «A Rainha refresca-‐se – Na pista do Barroco», «Geo-Aqueduto», «Caminhos da Água»,«Da Patriarcal ao Chafariz do Vinho» e «Percurso Pedestre –Do Aqueduto ao Palácio Marquês da Fronteira». Mais informaçõesem http://museudaagua.epal.pt.54 |


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O arco-írisculináriolisboetaRoteiro | David Lopes RamosFotografia | CA


Em Lisboa come-se de tudo. Do queé mesmo dela, que também há, e do queoutros trouxeram para dentro das suasmuralhas. Cidade-capital de um país quetem sido, ao longo dos séculos, pontode passagem e encontro de povos e deculturas diversas, não admira que se faleem arco-íris culinário lisboeta. É tambéminteressante verificar que, nessapaisagem gastronómica coloridae variada, tanto podemos falarde imigração (o que nos chega doestrangeiro), como de migração (o quechega a Lisboa de outras regiões do país).Antes de nos fixarmos no tema central desta digressãoa voo de pássaro sobre as cozinhas estrangeirasdisponíveis em Lisboa nos dias de hoje, lembremosque a nossa vocação para recebermos, no domínioculinário, contributos externos, tem raízes muitofundas e antigas. Ora atente-se no resumo resumido que Fialhode Almeida (1857-1911) faz sobre o tema num texto célebre acercado que é o «prato nacional» (em Os Gatos IV, Clássica Editora), noqual defende a tese de que «é sem dúvida alguma a cozinhaportuguesa, a mais requintada, a mais voluptuosa e a mais sápidacozinha do mundo, e a única grande concepção que tivemos,de carácter anónimo, digna de arcar coa das epopeias cíclicas dasraças aglutinativas e persistentes, como a hindu, a germânica,etc..». Escreveu Fialho de Almeida:«Verdade seja que tivemos mestres excelentes, herdando por exemplodo árabe a caçarola e a arte de fritar e refogar, o que foi muito,e que as descobertas não nos serviram só pra dar vazante ao espíritobatalhador e às más inclinações dos fidalgos fadistas que se arruinavamna metrópole, senão delas auferimos , com as especiariasdo Oriente, os picantes do Brasil, e a arte de doçar dos países gulosos,a Turquia e a Índia, e os sultanatos mouros da orla de África, subsídiosculinários, condutos, mimos, receitas, que muito cedo nos fizeramtomar a dianteira dos povos gastrónomos. Assim também nãohá povo que se gabe de tamanha porção de pratos nacionais.»| 57


Percebe-se, pela leitura de todo o texto que, no final do século xix,Fialho de Almeida rejeitava a adesão dos seus concidadãos aosfrancesismos culinários: «Actualmente entre nós a arte de cozinhare comer degrada-se, como tudo o mais, por falta de coesão nosgostos do público, e por culpa dos inovadores acéfalos, para quemas coisas nacionais não valem a mais reles ‘boutade’ anglo-gaulesa.Os pratos nacionais, tirante uma ou outra casa de província, poucas,onde ainda fielmente se observa a tradição gastronómica da antigavida, desaparecem das mesas, ou são deturpadas pela desatençãoe sardónica má-fé de toda a gente.»Se vivesse hoje, Fialho de Almeida manifestaria sentimentos contraditóriossobre o panorama culinário lisboeta. Um pormenoro satisfaria, na sua condição de alentejano natural de Vila de Frades.A culinária da sua região tornou-se na mais desejada das cozinhasregionais portuguesas e, em Lisboa, há pelo menos três restaurantesonde a podemos usufruir em plenitude: n’O Galito; no ZéVarunca; e no Charcutaria. Também há recomendáveis restaurantescom especialidades minhotas (o Solar dos Presuntos e o Verdede todos os países da América do Sul por onde passou o colonizadorespanhol. País de onde é originária a batata – a propósito este é oAno Internacional da Batata –, de que há mais 1000 variedadescomestíveis, não temos nenhum restaurante onde nos possamosdeliciar com as «patatas amarillas» peruanas. Em Madrid hávários. Mexicano, salvo uma ou outra casa cuja culinária é maisaparentada com a chamada «tex-mex» do que com a real, variadae esquisita cozinha do país de Diego Rivera ou Clemente Orozco,também não há. Vietnamita ainda não. Fiquemo-nos por aqui.Mar, entre outros), madeirenses (O Madeirense), açorianas (EspaçoAçores), beirãs (Horta dos Brunos), transmontanas e alentejanas(salsa & coentros). Claro que a lista poderia ser alargada, mas o quefica pretende apenas ilustrar a afirmação sobre a existência, nosdias de hoje, na cidade-capital, de restaurantes onde se podecomer bem e à portuguesa. Especialidades lisboetas, agora queo Muni, da rua dos Correiros, fechou, podemos ir por elas à Adegada Tia Matilde, ao Polícia, ao Pap’Açorda, à Travessa do Rio ou aO Poleiro, entre alguns outros, sendo certo que a oferta abrangetambém coisas de outras regiões.Nem gregos, nem árabes ou peruanosMas, passemos ao que nos chega do estrangeiro. Constatemos,antes do mais, que não há um restaurante grego em Lisboa, nembom, nem mau. Não há. Também não há um grande restaurantede comida árabe na nossa capital. O que há, desculpem-me osapreciadores, é muito básico. Se a alguém apetecer um «couscous»,uma «tajine», por exemplo, encontrará, mas nunca admiráveis.Também não temos nada de cozinha peruana, a mais interessanteHá, ainda há, restaurantes de galegos com especialidades da«terra nai», mas já houve muitos mais. Tiveram, até, nas primeirasdécadas do século xx, grande importância no sector da restauraçãolisboeta. Foi na cozinha de um restaurante galego, muito dapredilecção do escritor, caçador e boémio Bulhão Pato, que nasceua receita das amêijoas de que o autor de Paquita tanto gostava,o que levou o dono da casa a dar-lhes o seu nome. A popular meia-‐desfeita, de bacalhau e grão-de-bico cozidos, temperados comazeite, vinagre e «o jardim» (cebola, alho e salsa picadinhos, maisuma pitada de colorau), também terá sido criação de um taberneirogalego. E de Espanha, salvo uma ou outra casa onde nospodemos dedicar à nobre arte do «tapeo», não há mais nadadigno de menção.E de França? Da grande França da rica culinária regional e da altacozinha? Fialho de Almeida não acreditaria que, actualmente, emLisboa, onde a cozinha francesa já foi dominante (lembre-seO Aviz, evoque-se O Tavares Rico), quase não há nada representativo.Com uma ressalva. Acaba de abrir no Hotel Tivoli, da avenidada Liberdade, a francessíma Brasserie Flo, com ostras frescas, champanhee tudo. É um começo. E que começo! Será que os gaulesesestão de volta?Cozinhas italianas também há, embora predominem os da cozinha«fast food»: pizas e massas manhosas, coisas sem grande interesse.Mas há duas ou três casas onde se podem comer pizas decentes,como o Casanova (do Cais da Pedra, a Santa Apolónia) e o Lucca(da Travessa Henrique Cardoso); e outras onde podemos ficar comuma ideia dos caminhos da cozinha italiana contemporânea,58 |


sendo esse o caso dos restaurantes Casanostra (o pioneiro, noBairro Alto), Luca (Santa Marta) e Augusto Gemelli (São Bento).De África, como é natural, dado a capital portuguesa ser um pontode chegada e passagem de gente dos países de língua oficial portuguesa(Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Angolae Moçambique) também há restaurantes, embora muito frequentadospor naturais destes países. Embora os calulus, as cachupas,o frango à cafreal, entre muitos outros, façam parte da memóriagastronómica de muitos portugueses.Brasileiros há um ou outro. Um dos mais antigos é o Comidade Santo, por acaso de um português, que se rendeu aos encantosda feijoada de feijão preto, carne seca, linguiça, pé de porco, farofa,couve mineira, moqueca, bóbó de camarão, virado paulista… Curiosoainda ser de um português o melhor dos restaurantes representativosde uma das mais ricas cozinhas regionais do Brasil, a mineira;o restaurante é o Uai! Há outros, tendo recentemente aberto umRodízio de Minas, casa capaz de sentar mais de 100 pessoas, coisagrande. Mas o mais visto do Brasil em Lisboa são os restaurantesdedicados ao rodízio de carnes de vaca, mas também de frangoe porco, que se parecem, cada vez mais, salvo uma ou outra excepção,com lugares de enfardanço e «fast food».Um pouco diferentes dos rodízios brasileiros, mas pouco representativosda paixão que os do país das pampas dedicam ao churrascode carnes de bovino, são os restaurantes da Argentina. E, emalguns casos, a falta de qualidade das carnes que servem não lhespode ser imputada. As regras comunitárias, muito restritivasdesde o aparecimento das vacas loucas, impedem-os de importara excelente carne Argentina, sobretudo se tiver osso. Assim, ficaprejudicado um dos mais emblemáticos pedaços do churrascoargentino: «a tira de assado», um mimo.A invasão japonesaQuanto aos chineses, não só pela insensata acção da ASAE, poisantes dela a decadência já era notória, eles passam por um maubocado. Mas, dada a conhecida capacidade de adaptação dos.chineses a novas situações e culturas, nos últimos tempos temosassistido à mudança de muitos dos seus restaurantes para a culináriados japoneses, seus inimigos históricos. Antes, porém,de uns parágrafos sobre a invasão recente de Lisboa pela comidajaponesa, uma nota para assinalar a presença, cada vez maior,da rica e condimentada comida indiana, bem como alguma coisada igualmente aromática e delicada cozinha tailandesa e, domesmo espaço geográfico e carácter, da rústica cozinha do Nepal.Como nota curiosa, informe-se que o Restaurante Taste of Nepal,que, a exemplo de outros, sobretudo indianos, associam pratos de«fast food» italiano aos das suas cozinhas, ocupa o lugar que era,até há pouco tempo, do Restaurante Telheiro, que tinha décadasde vida, algumas delas muito afreguesadas, dedicadas à cozinharegional portuguesa.pouco mais. Apreciadores que, além de seduzidos pelo exotismoda cozinha nipónica, andam à procura dos alimentos mais sãose saudáveis, de reduzido poder proteico, servidos o mais próximoda Natureza possível. Ora, os peixes e mariscos crus, bem como oslegumes da mesma maneira são, nesse particular, do melhor que há.Não sendo baratos, sobretudo os melhores, como é o caso dos doisacima citados, os restaurantes japoneses, de decoração minimalista,a exemplo da composição dos pratos servidos nas suasmesas, também respondem a um fenómeno de moda. Tudo valoresa que é muito sensível a gente mais jovem. No seu vocabuláriovulgarizaram-se palavras como «sushi», «sashimi», «tempura»,«teppan yaki», «nigiri»,«hisomaki»,«urumaki»,«tataki»,«misoshi-ru», «wasabi» ou «saké», só para dar alguns exemplos.Quer dizer, Lisboa continua a ser, como um dia a descreveu o grandecronista Fernão Lopes, «grande cidade de muitas e desvairadasgentes». E, já agora, de «muitas e desvairadas» cozinhas. Uma cid-‐de-capital de coração, cabeça e estômago cosmopolitas. E assimé que está bem.Bem, mas o fenómeno mais fulgurante da realidade actual darestauração lisboeta é o dos restaurantes japoneses, nos quais,deve assinalar-se, se cozinha pouco. Em alguns deles, por exemploo Aya (a Sete Rios, nas chamadas Torres Gémeas) ou o Assuka (ruaSão Sebastião da Pedreira, este de um português) é melhor não irsem marcação prévia de mesa. Ao jantar quase nunca sobrammesas. A maioria dos clientes é gente com menos de 30 anos ou| 59


ARTEMREDENa sequência do investimento realizado em conjunto comas autarquias na construção, recuperação, modificaçãode cine‐teatros e outros equipamentos culturais congéneresdestinados à apresentação de espectáculos, maioritariamentefinanciado através dos fundos estruturais europeus,decidiu a <strong>CCDR</strong>-<strong>LVT</strong> – Comissão de Coordenaçãoe Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo promovera realização de um estudo que identificasse osmeios e instrumentos mais adequados à dinamização, qualificaçãoe criação de condições de sustentabilidade dessesequipamentos.A realização do referido estudo incluiu um trabalho deinventariação dos teatros e cine-teatros e de análise dasdinâmicas culturais da Região, bem como uma ampla discussãoe troca de ideias com as autarquias, ao nível, querdos seus responsáveis políticos, quer de responsáveis dosdepartamentos culturais ou dos próprios teatros. Este processoculminou com a proposta de criação de uma redeformal que integrasse os teatros e equipamentos culturaiscongéneres da região, entendida como a melhor soluçãopara dar resposta às necessidades de qualificação, assistênciatécnica e desenvolvimento que as autarquiassentem neste domínio. A criação da Rede foi consubstan-OFICINAOficina de Cinema de AnimaçãoOficina associada ao espectáculo Matinée,de António pedro + Ana Araújo + Fyodor KhitrukSábado, 28 junho | 10h00Cine-Teatro do Sobral de Monte Agraço, Sobral de Monte AgraçoSábado, 12 julho | 15h00Cine-Teatro São João, PalmelaSábado, 19 julho | 15h00Centro Cultural do Poceirão, PalmelaDuração: 3h | Lotação Máxima: 12 participantes ou 1 Turma | Faixa Etária: dos 8 aos 12 anosMonitor: Fernando Saraiva / Carla Correia / Isabel Cristina SemblanoNesta oficina vamos desenvolver algumas praticas de animação e explorar diversastécnicas. Perceber como se cria a ilusão do movimento. Experimentar a pixilação, odesenho animado, a pintura ou a plasticina, entre outros…Realizar experiências, desenvolver sequências de imagem e filmar os elementos criados.ciada através da constituição de uma associação culturalprivada sem fins lucrativos «Artemrede – Teatros Associados»,integrando, presentemente, o projecto 15 autarquias:Abrantes, Alcanena, Alcobaça, Almada, Almeirim, Barreiro,Cartaxo, Entroncamento, Moita, Montijo, Palmela, Santarém,Sintra, Sobral de Monte Agraço e Torres Vedras.60 |


Iuri AlbarranCRIANÇAS E JOVENSGoogueésDança e Música Para Bebés | Dançarte / Ária da MúsicaDomingo, 15 junho | 16h00 | 17h00Fórum Cultural José Manuel Figueiredo, MoitaDomingo, 13 julho | 15h00 | 16h30Fórum Cultural e Congressos das Caldas da Rainha, Caldas da RainhaDuração Espectáculo: 40min. s/ intervalo | Lotação Máxima: 15 bebés e respectivosacompanhantes | Público Alvo: Infantil [dos 0 aos 36 meses] | Género Artístico: Dança e MúsicaOs intérpretes – dois músicos, duas bailarinas e um outro elemento que estabelecea ligação de tudo – dividem o espaço com os bebés e os pais que os acompanham,criando situações de interacção. A acção será criada e estruturada entre a entrada nasala e a saída; todos os momentos são propostos com carinho: a entrada calma emágica, a preparação – pousar os sacos, calçar as pantufas, entrar no espaço jáiluminado e com som para reconhecimento e depois o espectáculo cheio de cor, luz,movimento e música, para mais tarde a saída ser doce e com muita ternura.A Fuga de Wang-fôJoana PupoDomingo, 1 junho | 16h00Auditório Municipal do Pinhal Novo, Palmela (Pinhal Novo)Domingo, 15 junho | 16h00Auditório Municipal Augusto Cabrita, BarreiroDuração Espectáculo: 40min. s/ intervalo | Lotação Máxima: 50 EspectadoresPúblico Alvo: Escolar + Familiar | Faixa Etária: m/6 anos | Género Artístico: TeatroO velho pintor Wang-fô e o seu discípulo Ling erravam pelo Reino dos Han. O pintor eraconhecido por ter o poder de dar vida às suas pinturas por um derradeiro toque de cor.Um dia são procurados por soldados, algemados e levados ao palácio imperial…| 61


Ângelo FernandesGrão de BicoTeatro O BandoSábado, 14 junho | 11h00Teatro-Cine de Torres Vedras, Torres VedrasSábado, 26 julho | 17h00Cine-Teatro São Pedro, AlcanenaAlex GozblauDuração Espectáculo: 50min. s/ intervalo | Lotação Máxima: 60 espectadoresPúblico Alvo: Infantil [dos 3 aos 7 anos] | Faixa Etária: m/3 anos | GéneroArtístico: TeatroSerá possível contar teatralmente as peripécias de uma aventura queintrigue meninos de três anos e homens e mulheres, mais novos e maisvelhos, com idêntica e saborosa cumplicidade?Baseado num conto de tradição oral, que nos revela inúmeras versões, estegrão de bico é recriado num ambiente intimista, no qual o multimédiaestabelece a ponte para lá do [in]visível, entre o espectador e a suaimaginação.LiteraturinhaTeatromoscaSegunda, 02 junho | 11h00Centro Cultural Gonçalves Sapinho, Externato Cooperativo daBeneditaDomingo, 08 junho | 16h00Fórum Cultural José Manuel Figueiredo, MoitaDuração Espectáculo: 40min. s/ intervalo | Lotação Máxima: 250espectadoresPúblico Alvo: Escolar + Familiar | Faixa Etária: m/6 anos | Género Artístico: LeituraEncenadaIniciar meninos e meninas na fruição estética dos clássicos da literaturainfanto‐juvenil, eis o móbil de «Literaturinha», o ciclo de leituras encenadas,sob direcção do teatromosca, que o Centro Cultural Olga Cadaval acolhe,mensalmente, desde Outubro de 2006. O dispositivo cénico de«Literaturinha» é elementar e portátil: dois actores/leitores, duas malas,objectos dentro. Cenário, som e luz: mínimos. Para todas, a sala favorita édespojada e intimista q.b.. O que conta: a estória.62 |


MÚSICAKumpania AlgazarraQuinta-feira, 12 junho | 22h00Praça Barão da Batalha, AbrantesQuinta-feira, 03 julho | 22h00Mosteiro de Alcobaça, AlcobaçaSábado, 05 julho | 21h30Cine-Teatro São Pedro, AlcanenaDuração Espectáculo: 85min. s/ intervalo | Lotação Máxima: Não aplicávelPúblico Alvo: Geral | Faixa Etária: m/6 anos | Género Artístico: Música do MundoUma animada viagem ao encontro de diferentes sonoridades que cruza influênciasda música folk de leste, árabe, afro com ska, polka, swing, entre outros. A originalidadena fusão, a energia das letras e as melodias vibrantes contribuem para o ambientefestivo que os Kumpania Algazarra levam ao palco. Um espectáculo contagiante!Quinteto Lusotango com BailarinosQuinteto LusotangoSexta-feira, 25 julho | 22h00Mosteiro de Alcobaça, AlcobaçaSábado, 26 julho | 21h30Auditório Fernando Lopes-Graça, AlmadaDuração Espectáculo: 70min. s/ intervalo | Lotação Máxima: Não aplicávelPúblico Alvo: Geral | Faixa Etária: m/3 anos | Género Artístico: Tango Argentino [Música + Dança]Fazendo-se acompanhar por uma cantora e um par de bailarinos Argentinos,o espectáculo do Quinteto Lusotango é sempre uma vivência inesquecívelna comunicação de sentimentos e auras únicas de alegria, entrega e esplendor.| 63


TEATROA Ronda Nocturnade Lars Norén | Teatro do BolhãoSexta-feira, 20 junho | 21h30Teatro-Cine de Torres Vedras, Torres VedrasSexta-feira, 04 julho | 21h45Teatro Sá da Bandeira, SantarémDuração Espectáculo: 195min. c/ intervalo | Lotação Máxima: Não AplicávelPúblico Alvo: Adulto | Faixa Etária: m/16 anos | Género Artístico: DramaEm A Ronda Nocturna, dois irmãos e as suas esposas «atacam-se» ferozmente,desvendando sem pudor as suas frustrações, os seus desejos e os seus medos dianteda urna que contém as cinzas da sua mãe. Um elenco de excepção assegura a estreiaem Portugal desta obra marcante do teatro contemporâneo.64 |


A Ronda Nocturna © Ana Pereira


Ministério do Ambiente,Ordenamento do Territórioe Desenvolvimento Regional

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