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Tanques-rede em Açudes Particulares - Projeto Pacu

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Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 20071


<strong>Tanques</strong>-<strong>rede</strong> <strong>em</strong> açudes particulares:oportunidade e atenções especiaisMuitos proprietários rurais e <strong>em</strong>presas agroflorestais investiramconsiderável capital na construção de açudes paraprover água para irrigação, consumo animal, combate aincêndios e recreação. O retorno destes investimentos geralmente éd<strong>em</strong>orado e, <strong>em</strong> muitos casos, pode até mesmo n<strong>em</strong> ocorrer. Destaforma, uma atividade capaz de agregar receitas adicionais, comoa criação de peixes <strong>em</strong> tanques-<strong>rede</strong>, pode otimizar o uso destesaçudes e reduzir o t<strong>em</strong>po de retorno do capital investido.Grande parte das propriedades rurais no Brasil dispõe de açudese muitos deles apresentam condições adequadas para a produçãode peixes <strong>em</strong> tanques-<strong>rede</strong>. Esta atividade não consome água e nãoimplica <strong>em</strong> desmatamento ou degradação do entorno do açude. Alémdo mais, quando se implanta o cultivo de peixes <strong>em</strong> tanques-<strong>rede</strong>nestes açudes, o <strong>em</strong>preendedor acaba adotando medidas mais rigorosasde conservação do solo na bacia de captação e no entorno doaçude, minimizando o transporte de partículas sólidas que pod<strong>em</strong>acelerar o assoreamento do açude e prejudicar a qualidade da águae o des<strong>em</strong>penho dos peixes. Assim, a piscicultura <strong>em</strong> tanques-<strong>rede</strong>é plenamente compatível com a maioria das outras formas de usodos açudes rurais.O investimento necessário para iniciar o cultivo de peixes <strong>em</strong>tanques-<strong>rede</strong> aproveitando açudes já existentes é muito menor quandocomparado à implantação de pisciculturas <strong>em</strong> tanques escavados(viveiros). Além disso, também não exige a ocupação de novas áreasda propriedade, tampouco compete com outras atividades pelo usoda água. Outra grande vantag<strong>em</strong> a ser considerada no uso de açudesparticulares para a piscicultura <strong>em</strong> tanques-<strong>rede</strong> é a maior facilidadede licenciamento ambiental do <strong>em</strong>preendimento, comparado à obtençãode outorga de uso da água e autorização para implantaçãoe operação de cultivos <strong>em</strong> tanques-<strong>rede</strong> <strong>em</strong> águas públicas.Por: Fernando Kubitza, Ph. D.Acqua Imag<strong>em</strong> Serviços Ltda.fernando@acquaimag<strong>em</strong>.com.brPor estes motivos, e também pela grande possibilidade deobter bons retornos financeiros com a piscicultura, muitos <strong>em</strong>preendedoresjá investiram, e outros tantos têm avaliado com atençãoa oportunidade de investir no cultivo de peixes <strong>em</strong> tanques-<strong>rede</strong>,tanto <strong>em</strong> açudes próprios ou arrendados de terceiros.14 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2007


Uma boa avaliação da oportunidade do investimentoApesar do grande potencial de aproveitamento dos açudes particulares paraa piscicultura <strong>em</strong> tanques-<strong>rede</strong>, antes de decidir pelo investimento o <strong>em</strong>preendedordeve dedicar especial atenção ao planejamento do negócio. Cinco pontos fundamentaisdev<strong>em</strong> ser considerados antes de entrar no negócio:• A definição da capacidade de produção dos açudes disponíveis;• A identificação das espécies com potencial de cultivo e mercado;• O levantamento dos possíveis mercados e preços de venda;• A análise da viabilidade econômica da implantação do <strong>em</strong>preendimento;• A capacidade de formar uma equipe de produção competente.A capacidade de produção dos açudes - açudes de vários tamanhos pod<strong>em</strong> abrigartanques-<strong>rede</strong> para a engorda de peixes. Uma única propriedade pode dispor de umgrande número de açudes. O mais adequado é concentrar o <strong>em</strong>preendimento <strong>em</strong> poucosaçudes de maior porte do que pulverizar os tanques-<strong>rede</strong> <strong>em</strong> um grande númerode açudes pequenos. Isso facilita a rotina da produção (alimentações, classificaçõese transferência de peixes) e diminui a necessidade de duplicar investimentos <strong>em</strong>infraestrutura e equipamentos (plataformas de manejo, barcos para a alimentação,estradas de bom acesso, poitas, iluminação para inibir roubos, entre outros). Tambémfica mais fácil prover vigilância para impedir roubos.Escolhidos os açudes de melhor potencial, o <strong>em</strong>preendedor deve ter a realdimensão do que é possível produzir, dadas as limitações de área e renovação deágua <strong>em</strong> cada um deles. Ou seja, precisa ter uma idéia da capacidade de produçãodos açudes, s<strong>em</strong> que haja comprometimento da qualidade da água para o própriocultivo e para outros usos a que ela se destina. Para isso deve procurar auxílio depessoas experientes no assunto. Invariavelmente, os proprietários, geralmente leigosna atividade, acreditam que o sist<strong>em</strong>a comporta uma produção muito superior ao queé possível e rapidamente experimentam probl<strong>em</strong>as de qualidade de água.A área do açude e seu potencial de renovação de água são fatores importantesque determinam a biomassa segura, a capacidade de produção anual e o nívelde alimentação seguro para se atingir esta produção. Na Tabela 1 são apresentadasrecomendações quanto à capacidade de produção de peixes <strong>em</strong> tanques-<strong>rede</strong> <strong>em</strong> pequenosaçudes, respeitando uma taxa de alimentação compatível com a manutençãode adequados níveis de oxigênio dissolvido na água.Tabela 1. Sugestão básica de capacidade de produção para início de implantação do cultivo detanques-<strong>rede</strong> <strong>em</strong> açudes rurais, de acordo com os dados gerados com a planilha do livro “Cultivo dePeixe <strong>em</strong> <strong>Tanques</strong>-Rede” (Ono e Kubitza 2003).Geralmente o regime de renovaçãode água nos açudes não mantémuma regularidade ao longo do ano. Hámaior renovação na época das chuvase menor na estiag<strong>em</strong>. Assim, paradeterminar a biomassa segura a sersustentada no açude, possibilitandoo planejamento inicial da produção,o <strong>em</strong>preendedor deve considerar operíodo de menor renovação de água.Implantado o projeto, com base nacondição de qualidade de água apósatingida a biomassa segura inicialmenteproposta, o <strong>em</strong>preendedorpoderá avaliar se há possibilidade deaumentar, ou mesmo se deve diminuir,a intensidade de produção no açude.Ex<strong>em</strong>plo de aplicação da Tabela 1 -um açude de 4 hectares com renovaçãopróxima de zero, pode sustentar umabiomassa instantânea de 8 toneladasde peixes (4ha x 2t/ha) e uma cargadiária de ração entre 80 e 120kg (4hax 20kg/ha/dia a 4ha x 30kg/ha/dia).A produção anual esperada deve ficarentre 20 e 28 toneladas (4ha x 5t/ha/ano a 4ha x 7t/ha/ano);Outro ex<strong>em</strong>plo - um açude de 15hectares com renovação de 5 a 10%ao dia pode sustentar uma biomassainstantânea de 45 toneladas (15ha x3t/ha) e uma carga diária de raçãoentre 600 e 750kg (15ha x 40kg/ha/dia a 15ha x 50kg/ha/dia). A produçãoanual esperada deve ficar entre 120 e150 toneladas (15ha x 8t/ha/ano a 15hax 10t/ha/ano).O produtor deve assegurar umnível de oxigênio de pelo menos 3a 4mg/l pela manhã no interior dostanques-<strong>rede</strong>, de forma a manter umadequado des<strong>em</strong>penho dos peixes. Níveisde oxigênio abaixo de 2mg/l, alémde prejudicar o des<strong>em</strong>penho (crescimentoe conversão alimentar), pod<strong>em</strong>deixar os peixes mais susceptíveis aomanuseio e doenças, aumentando amortalidade no cultivo. Para evitarprobl<strong>em</strong>as com o oxigênio dissolvidoé fundamental não exceder os limitesseguros de alimentação. Tais limitessão excedidos quando o produtor instalamais tanques-<strong>rede</strong> do que o açudeé capaz de suportar, ultrapassando a<strong>Tanques</strong>-<strong>rede</strong>Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 200715


<strong>Tanques</strong>-<strong>rede</strong>biomassa segura. O produtor inexperientee que não t<strong>em</strong> controle sobre os parâmetrosde qualidade de água, s<strong>em</strong>pre tendea acreditar ser possível instalar uma novalinha de tanques-<strong>rede</strong>, pois é enganadopelo grande espaço ainda disponível noaçude. Este produtor acaba aprendendo,da maneira mais dura, que há um limite desustentação que deve ser respeitado.Espécies que pod<strong>em</strong> ser cultivadas<strong>em</strong> tanques-<strong>rede</strong> - Diversas espéciesde peixes pod<strong>em</strong> ser produzidas <strong>em</strong>tanques-<strong>rede</strong>. A tilápia, o pintado, ocatfish americano, a carpa comum, ospeixes redondos, o pirarucu, a jatuaranae a matrinxã são ex<strong>em</strong>plos de espéciescom bons resultados obtidos no cultivo<strong>em</strong> tanques-<strong>rede</strong>. As condições de mercado(preferências, d<strong>em</strong>anda e preço), adisponibilidade de alevinos, o custo deprodução, entre outras particularidades,dev<strong>em</strong> ser avaliadas pelo produtor antesde optar por uma outra espécie. A tilápia- dentre todas estas espécies, a tilápia éa melhor para qu<strong>em</strong> está debutando naatividade. O produtor não t<strong>em</strong> dificuldade<strong>em</strong> obter alevinos, o peixe é resistente aomanuseio mesmo quando envolve pessoalpouco experiente. E o mercado da tilápiaestá <strong>em</strong> plena ascensão. Por esses eoutros motivos a tilápia é hoje a espéci<strong>em</strong>ais cultivada <strong>em</strong> tanques-<strong>rede</strong> no país.O uso de tanques-<strong>rede</strong> é a opção maisacertada quando se pensa <strong>em</strong> produzirtilápias <strong>em</strong> açudes particulares. Geralmenteestes açudes são profundos, têmobstáculos ao arrasto das <strong>rede</strong>s (plantasaquáticas, troncos e galhos de árvores,etc) e não pod<strong>em</strong> ser drenados comfreqüência, seja por falta de estruturapara drenag<strong>em</strong> completa, seja pelo usoda água <strong>em</strong> outras atividades. Sob taiscondições, a despesca de tilápias soltasno açude é humanamente impossível. Noentanto, quando as tilápias são cultivadas<strong>em</strong> tanques-<strong>rede</strong>, a colheita é simples eeficiente. Apesar da relativa facilidade deprodução de tilápias nos tanques-<strong>rede</strong>,<strong>em</strong> algumas situações a grande ofertalocal pode tornar o valor de venda poucoatrativo diante do custo de produção entre1,90 e 2,20/kg hoje obtido com a tilápia<strong>em</strong> tanques-<strong>rede</strong>. Estes custos pod<strong>em</strong>variar <strong>em</strong> função da região do país, escalade produção e peso médio final do peixe"O uso de tanques<strong>rede</strong>é a opção maisacertada quando seproduz tilápias <strong>em</strong>açudes particulares.Geralmenteestes açudes sãoprofundos, têmobstáculos aoarrasto das <strong>rede</strong>se não pod<strong>em</strong> serdrenados comfreqüência, seja porfalta de estruturapara drenag<strong>em</strong>completa, ou pelouso da água <strong>em</strong>outras atividades.Sendo assim, adespesca de tilápiassoltas no açudeé humanamenteimpossível. Noentanto, quando ospeixes são cultivados<strong>em</strong> tanques-<strong>rede</strong>, acolheita é simples".produzido. Custos mais elevados pod<strong>em</strong>ocorrer se os cultivos for<strong>em</strong> prejudicadospelo mau planejamento, doenças, roubosou escapes de peixes. Os preços de vendada tilápia cultivada <strong>em</strong> tanques-<strong>rede</strong>variam entre R$ 2,50 e R$ 5,00/kg, <strong>em</strong>função da região, tamanho do peixe, estratégiade comercialização e mercado alvo.O pintado (surubim) - o cultivo destepeixe <strong>em</strong> tanques-<strong>rede</strong> v<strong>em</strong> <strong>em</strong>polgandoalguns produtores <strong>em</strong> São Paulo e MinasGerais. Devido ao seu alto valor de mercado,o pintado é uma interessante opçãoquando é preciso maximizar os lucros soblimitada disponibilidade de área, o quegeralmente ocorre <strong>em</strong> pequenos açudesparticulares. O pintado desfruta de grandeconceito e valor no mercado. No entanto,o produtor que optar por investir nocultivo do pintado, deve estar preparadopara mudanças na rotina do cultivo. Umadelas é a realização de alimentações duranteo período noturno, principalmentenos tanques-<strong>rede</strong> com juvenis, que não sealimentam b<strong>em</strong> durante o dia. Pintados d<strong>em</strong>aior porte (acima de 20-25cm) pod<strong>em</strong>ser habituados à alimentação <strong>em</strong> horáriosde baixa luminosidade (primeiras horasda manhã e ao final do dia). No entanto,ainda se alimentam melhor durante anoite. Mudar a rotina da produção pararealizar as alimentações noturnas t<strong>em</strong>suas vantagens <strong>em</strong> nosso país. A principaldelas é a inibição de roubos e vandalismos.Funcionários trabalhando são maiseficientes nisso do que um vigia dormindoa noite inteira. Além do mais, concentrandoo manejo da alimentação durantea noite, o período diurno fica reservadopara outras atividades de manejo (classificação,transferências, despescas, recolhimentode peixes mortos, ajustes nosanéis de alimentação, etc), s<strong>em</strong> que hajainterferências com a rotina de alimentação.O custo de produção do pintado <strong>em</strong>tanques-<strong>rede</strong> varia <strong>em</strong> função da escala deprodução, qualidade do alevino (eficiênciado treinamento alimentar e genética) epeso final do peixe produzido. Este custohoje gira entre R$ 4,30 a 5,80/kg, praticamenteo dobro do custo de produçãoda tilápia. Isso se deve principalmente aomaior custo dos alevinos e das rações nocultivo do pintado. Assim, o produtor queoptar pelo pintado deve estar preparadopara investir mais no custeio da produção.16 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2007


Apesar desse maior custo, os produtoresde pintado têm recebido R$ 8,00 a 10,00por quilo de peixe inteiro com a venda aintermediários (transportadores de peixesvivos, atacadistas e supermercados).Preços ainda melhores, entre R$ 10,00 e12,00/kg são obtidos com a venda diretaaos pesque pagues e ao consumidor final.Esta maior marg<strong>em</strong> de lucro possível como pintado resulta <strong>em</strong> retorno superior aoque pode ser obtido com a tilápia, tornandoatrativa até mesmo a implantação de<strong>em</strong>preendimentos de pequeno porte."O proprietário deuma piscicultura devese certificar de quecontará com suportetécnico inicial,tanto para planejara produção e asatividades rotineiras,como para capacitaros funcionáriose gerentes do<strong>em</strong>preendimento. Osucesso da produçãodepende, <strong>em</strong> grandeparte, do olharatento, da habilidadee do cuidado dosfuncionários, alémda capacidade deorganização de qu<strong>em</strong>gerencia o dia a diado cultivo".Uma avaliação dos canais de mercado -O pescado oriundo da piscicultura podeser comercializado de diversas formas:a) peixe vivo para pesca esportiva, parao mercado de peixe vivo ou mesmo paraentrega aos frigoríficos e algumas <strong>rede</strong>sde supermercado; b) peixe abatido paravenda direta ao consumidor final na fazendaou <strong>em</strong> feiras livres; ou para vendaa restaurantes ou a atacadistas (supermercados,frigoríficos, entre outros); c)produtos processados na propriedade,para vendas diretas ao consumidor final,a restaurantes ou a atacadistas. Quandoa escala de produção é relativamentepequena, os peixes acabam sendo vendidoslocalmente a preços compensadores,seja para consumidores no município oupesque-pagues locais. Em particular, avenda de peixes vivos diretamente aoconsumidor, apesar de exigir grande dedicaçãodo produtor, possibilita alcançaralta marg<strong>em</strong> de lucro e um mercado s<strong>em</strong>concorrente para os produtos da aqüicultura.Dos relatos que tenho ouvidode produtores <strong>em</strong> diversas regiões dopaís, todos que partiram para esta formade comercialização, principalmente noinício dos seus <strong>em</strong>preendimentos, ficaramimpressionados com o sucesso dessa modalidadede venda. Com uma produçãomaior, muitas vezes é necessário expandiro horizonte de comercialização. Isso podeexigir investimentos <strong>em</strong> infraestruturade transporte de peixe vivo ou mesmo ainstalação de uma pequena unidade debeneficiamento, geralmente com alvaráe licença para funcionamento no municípioexpedido pela vigilância sanitária eprefeitura local. Isso possibilita ampliar oleque de produtos ofertados (peixe evisceradoe filés frescos e congelados), contribuindopara o aumento nas vendasdiretas. Quando estes investimentosnão são possíveis, o produtor passa adepender de transportadores de peixesvivos ou de outros intermediários/atacadistas para escoar parte ou todaa sua produção.Análise preliminar da viabilidadeeconômica - Antes de decidir pelaimplantação, é fundamental realizaruma análise da viabilidade econômicado <strong>em</strong>preendimento, de forma a prevero potencial de retorno ao capitalinvestido sob diferentes cenários, principalmentevariando as condições depreço de venda, volume de produçãoanual e preços dos principais insumosde produção (geralmente a ração e osalevinos). Para realizar esta análiseé preciso ter uma idéia do tamanhodo investimento (<strong>em</strong> tanques-<strong>rede</strong>,equipamentos, infra-estrutura de suportee d<strong>em</strong>ais des<strong>em</strong>bolsos que serãonecessários para a implantação do<strong>em</strong>preendimento). Também é precisoprever o montante das despesas operacionais(ração, mão de obra, alevinos,insumos diversos, manutenção dasinstalações e equipamentos) e ter umaprevisão das receitas (descontadas asdespesas e impostos sobre as vendas).As receitas são geralmente estimadascom base nos preços de venda queforam aferidos <strong>em</strong> diversos canaisde mercado, como o pesque-pague, omercado local (peixe vivo ou abatido)e os atacadistas.Capacidade para formar a equipede produção - A maior dificuldadepara a operação de uma pisciculturaé a relativa dificuldade de encontrarfuncionários familiarizados com o manejoenvolvido na produção de peixes.Assim, o proprietário deve se certificarde que contará com suporte técnicoinicial, tanto para planejar a produçãoe as atividades rotineiras, como paracapacitar os funcionários e gerentes do<strong>em</strong>preendimento. O sucesso da produçãodepende, <strong>em</strong> grande parte, do olharatento, da habilidade e do cuidado dosfuncionários, além da capacidade deorganização de qu<strong>em</strong> gerencia o diaa dia do cultivo. Muitos proprietários<strong>Tanques</strong>-<strong>rede</strong>Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 200717


<strong>Tanques</strong>-<strong>rede</strong>interessados no cultivo de peixes <strong>em</strong> tanques-<strong>rede</strong> acabamoptando por fazer experimentações, colocando muitasvezes gente inexperiente e s<strong>em</strong> suporte para conduzir asatividades de rotina, que geralmente acabam sendo executadasnas brechas entre as atividades principais que estesfuncionários des<strong>em</strong>penham na fazenda.Onde posicionar os tanques-<strong>rede</strong>?Decidir onde posicionar os tanques-<strong>rede</strong> <strong>em</strong> um açudenão é uma tarefa muito simples. Os produtores quase s<strong>em</strong>pre colocamos tanques-<strong>rede</strong> nos locais mais fundos, <strong>em</strong> geral próximoà barrag<strong>em</strong>. Diversos motivos induz<strong>em</strong> a isso: o principal, e hálógica nisso, é acreditar que quanto mais distantes os tanques<strong>rede</strong>ficar<strong>em</strong> dos resíduos orgânicos do fundo, menor o risco deprobl<strong>em</strong>as com a qualidade da água no interior dos tanques-<strong>rede</strong>e menor o risco de doenças e infestações por parasitos. O segundomotivo, pelo fato de poder contar com um acesso mais fácilàs estruturas, visto que o topo da barrag<strong>em</strong> geralmente ofereceboas condições de tráfego de veículos, facilitando a chegada dosinsumos e a saída dos peixes. O terceiro motivo é o fato de que,posicionando os tanques-<strong>rede</strong> no local mais fundo, dificilmentehaverá necessidade de deslocá-los quando ocorre um abaixamentono nível do reservatório, o que pode ocorrer <strong>em</strong> açudesusados para irrigação durante os meses de estiag<strong>em</strong>.Mas a decisão de onde posicionar os tanques-<strong>rede</strong>n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre pode ser tomada com base <strong>em</strong> intuição, impulsoou comodidade. O produtor deve estar ciente deque há um grande risco de se posicionar os tanques-<strong>rede</strong>nos locais mais profundos do açude, devido aos riscos d<strong>em</strong>istura ou desestratificação da coluna d’água (ver Figura1). Portanto, para definir onde os tanques-<strong>rede</strong> dev<strong>em</strong> serposicionados, diversos aspectos merec<strong>em</strong> ser considerados.O primeiro deles é a necessidade de assegurar um espaçomínimo de pelo menos 1,0m entre o fundo dos tanques<strong>rede</strong>e o fundo do açude. Assim, para tanques-<strong>rede</strong> com1,5m de altura útil, estamos falando <strong>em</strong> locais com 2,5mde profundidade. A maneira mais objetiva de selecionaro local (satisfeitas às exigências quanto à facilidade deacesso, investimento mínimo e segurança) é avaliar o perfilde oxigênio <strong>em</strong> profundidade nas áreas pré-selecionadas.Debaixo d’água muita coisa pode estar escondida. Áreascom grande quantidade de vegetação e/ou depósito d<strong>em</strong>aterial orgânico (turfas, por ex<strong>em</strong>plo) pod<strong>em</strong> ter ficadosubmersas com a formação do açude. Níveis baixos deoxigênio e concentrações elevadas de gás carbônico sãocaracterísticos nestes locais, podendo permanecer assimdurante muito t<strong>em</strong>po, muitas vezes anos, após o enchimentodo açude. Assim, a verificação dos níveis de oxigênio dasuperfície ao fundo pode confirmar se o local é adequadoou não. Locais adequados são aqueles <strong>em</strong> que o oxigêniose mantém acima de 3mg/l no ponto equivalente a 70% daprofundidade. Ex<strong>em</strong>plificando, <strong>em</strong> um local com profundidad<strong>em</strong>áxima de 5m, o oxigênio dissolvido a cerca de3,5m de profundidade (70% de 5,0m) deve ser, pelo menos,3mg/l. Isso diminui muito o risco de probl<strong>em</strong>as de mortede peixes se houver a mistura da água do açude.O risco dos tanques-<strong>rede</strong> nos locais mais profundosOs corpos d’água dos açudes apresentam estratificaçãofísica, causada por diferenças na densidade da água <strong>em</strong> funçãoda t<strong>em</strong>peratura nas diferentes camadas, conforme ilustrado naFigura 1b e 1c. Na superfície, <strong>em</strong> função da radiação solar, a águapermanece mais aquecida e com maior intensidade luminosa. Aintensidade de luz é reduzida com o aumento na profundidade e,assim, a água do fundo não é aquecida com a mesma intensidadeque a água da superfície. Quanto mais fria for a água (até 4 o C),maior será a sua densidade. Desta forma, a água mais fria seposiciona nos extratos mais profundos. Com isso ocorre a estratificaçãofísica do corpo d’água de um açude.Na camada mais superficial do açude, com radiação solarmais intensa, o fitoplâncton se desenvolve melhor. Através da fotossíntese,o fitoplâncton produz mais de 80% do oxigênio utilizado narespiração dos d<strong>em</strong>ais organismos aquáticos, inclusive os peixes nostanques-<strong>rede</strong>. Com o aumento na profundidade, a intensidade de luzdiminui, desacelerando a fotossíntese e reduzindo a produção de oxigênio.Isso resulta <strong>em</strong> uma redução progressiva no oxigênio dissolvido,desde a camada mais superficial até a mais profunda do açude.A uma profundidade próxima de 2,4 vezes a transparência da água(medida com o disco de Sechi) a taxa fotossintética se iguala à taxarespiratória, ou seja, todo o oxigênio produzido é consumido. Assim,<strong>em</strong> um açude com água de transparência ao redor de 1,00m, abaixode 2,40m não há excedente da produção de oxigênio e, a oxigenaçãodeste extrato mais profundo depende <strong>em</strong> grande parte da mistura desua água com a água do estrato superior, mais oxigenado.Adicionalmente, sobre os sedimentos dos açudes ocorre adeposição de material orgânico (plâncton sedimentado; fezes dospeixes; folhas, estercos animais e outros materiais transportados pelovento ou pela enxurrada; restos de plantas aquáticas; eventuais sobrasde alimento; fertilizantes orgânicos aplicados no açude; entre outros).Este material depositado nos sedimentos é rapidamente reciclado noslocais mais rasos do açude (Zona 1). Neste estrato há grande disponibilidadede oxigênio, pH adequado e t<strong>em</strong>peraturas elevadas paraacelerar o processo de degradação e decomposição da matéria orgânicapor bactérias e outros organismos. Os nutrientes liberados nesteprocesso são rapidamente assimilados pelo fitoplâncton. Entre eles, ogás carbônico (CO 2), o nitrogênio na forma amoniacal (NH 4+) ou denitrato (NO 3-) e o fósforo na forma de ortofosfatos (HPO 4-2e H 2PO 4-).No entanto, nos locais mais profundos (Zonas 2 e 3), <strong>em</strong> virtude damenor disponibilidade de oxigênio, maior acidez e baixa t<strong>em</strong>peraturada água, este material orgânico é decomposto de forma muito lenta.Isso provoca um acúmulo de material orgânico nos sedimentos, resultando<strong>em</strong> depleção total do oxigênio e aumento na concentração degás carbônico nas águas mais profundas. S<strong>em</strong> oxigênio, o processo dedecomposição da matéria orgânica passa a ser anaeróbico (“fermentação”),resultando na produção e acúmulo de substâncias tóxicas comoa amônia (NH 3), o nitrito (NO 2-), o gás súfídrico (H 2S) e o metano(CH 4). Assim, além de ter o oxigênio zerado (ou mesmo “negativo”,ou seja, d<strong>em</strong>anda por oxigênio) e alta concentração de gás carbônico,a água das zonas mais profundas (Zona 3) concentra uma significativaquantidade de substâncias tóxicas aos peixes.Enquanto esta água permanece no fundo, s<strong>em</strong> perturbação,não há probl<strong>em</strong>a. No entanto, quando este estrato do fundo, poralguma razão, se mistura com as outras camadas (<strong>em</strong> um fenômeno18 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2007


chamado “desestratificação”), o risco de morte dos peixes nos tanques-<strong>rede</strong> émuito grande. Diferente dos peixes soltos no açude, os peixes confinados nostanques-<strong>rede</strong> não consegu<strong>em</strong> se deslocar para um local de melhor qualidade deágua. Tampouco, devido à alta densidade no interior dos tanques-<strong>rede</strong>, muitos nãoconsegu<strong>em</strong> acessar a superfície, onde está o filme de água mais oxigenado, <strong>em</strong>contato com a atmosfera. Inevitavelmente, grande parte dos peixes morre. A bocae os opérculos abertos são sinais claros de que houve asfixia, causada pela súbitaredução no oxigênio e alta elevação no gás carbônico após a mistura dos estratos.Quando a morte dos peixes não ocorre imediatamente (ou seja, o oxigênio e o gáscarbônico não atingiram níveis suficientes para matar), nos dias seguintes podeocorrer mortalidade <strong>em</strong> virtude da intoxicação dos peixes por outras substânciastóxicas que aumentaram de concentração na água superficial. Por tudo isso, quando(a) – Vista superior de um açude com tanques-<strong>rede</strong>, identificando áreas comdiferentes riscos para posicionamento dos tanques-<strong>rede</strong>.os tanques-<strong>rede</strong> são posicionados nas áreas d<strong>em</strong>aior profundidade, o risco de mortalidade dospeixes devido à mistura das camadas é maior.Zona 1 – b<strong>em</strong> iluminada; presença dofitoplâncton; t<strong>em</strong>peratura mais elevada; oxigênioadequado; pouco gás carbônico; rápidadecomposição de material orgânico;Zona 2 – menor intensidade de luz;menos fitoplâncton; t<strong>em</strong>peratura, oxigênio egás carbônico <strong>em</strong> níveis intermediários;Zona 3 – pouca ou nenhuma luz;ausência de atividade fotossintética; baixosníveis de oxigênio (geralmente zero ou negativo– potencial redox negativo); acúmulo d<strong>em</strong>atéria orgânica nos sedimentos; decomposiçãoanaeróbica do material orgânico; acúmulo decompostos tóxicos, como o nitrito (NO 2-), o gássulfídrico (H 2S) e o metano (CH 4).<strong>Tanques</strong>-<strong>rede</strong>Figura 1 – Na Fig. 1a é apresentado um desenho simplificado deum açude com baterias de tanques-<strong>rede</strong> posicionadas <strong>em</strong> diferenteslocais. Geralmente os produtores posicionam os tanques-<strong>rede</strong> nasáreas mais fundas do açude, próximas à barrag<strong>em</strong>. Os cortes AB e CDda Fig. 1a são representados na forma de perfis do açude, nas Fig. 1b(perfil longitudinal) e Fig. 1c (perfil transversal), respectivamente.Em ambos os perfis é apresentada uma simplificada estratificaçãoda coluna d’água do açude. Estratificação como esta deve seresperada <strong>em</strong> todos os açudes. Na Fig. 1b observe que a influência doestrato mais profundo e de pior qualidade (Zona 3) aumenta quantomais próximo se chega a barrag<strong>em</strong>. Na Fig. 1c observamos que ainfluência desta mesma Zona 3 é maior no centro do açude do quenas margens. Posicionar os tanques-<strong>rede</strong> próximos à barrag<strong>em</strong> ounas áreas centrais do açude implica <strong>em</strong> maior risco de incidentescom a mistura destas camadas de água (desestratificação).(b) – Seção longitudinal de um açude (AB)(c) – Seção transversal de um açude (CD)Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 200719


<strong>Tanques</strong>-<strong>rede</strong>"Produtoresinexperientesmuitas vezesminimizam aimportância douso de rações dealta qualidadee, seduzidos porpreços atrativose por falsasgarantias de bomdes<strong>em</strong>penho,acabam comprandorações incapazesde atender àsnecessidades dospeixes cultivados<strong>em</strong> tanques-<strong>rede</strong>.Rações inadequadas,prejudicam ocrescimento e aconversão alimentar,e pod<strong>em</strong> resultar<strong>em</strong> maior incidênciade doenças <strong>em</strong>ortalidade nocultivo, apóso manuseio edurante e depoisdo transporte. Comisso o custo deprodução se eleva epode inviabilizar ocultivo".As principais forças que causam adesestratificação da água dos açudes sãoos ventos fortes, as enxurradas e a quedana t<strong>em</strong>peratura do ar, que afeta a t<strong>em</strong>peraturae a densidade da água superficial.Nos meses de verão, momento <strong>em</strong> que oaçude se encontra fort<strong>em</strong>ente estratificado,a ocorrência de t<strong>em</strong>porais, com fortesventos, e/ou grande volume de enxurradacarreado para dentro dos açudes, as camadasde água pod<strong>em</strong> ser rapidament<strong>em</strong>isturadas, desestratificando o açude.Por anos seguidos tenho conhecido produtoresque experimentaram mortalidadesúbita de tilápias <strong>em</strong> tanques-<strong>rede</strong>, principalmentenos meses de verão. Em quasetodos os casos, ocorreram t<strong>em</strong>porais aoentardecer ou na noite que antecedeu amortalidade. Onde isso não ocorreu, amais provável causa da morte dos peixespor asfixia pode ter sido a morte súbitado fitoplâncton <strong>em</strong> açudes onde a águaestava excessivamente verde e comtransparência abaixo de 30cm (mais informaçõessobre a morte súbita do plânctonpoderão ser encontradas <strong>em</strong> livros sobrequalidade de água e <strong>em</strong> matérias já publicadasnesta revista). Nos meses deinverno, a t<strong>em</strong>peratura da água superficialacompanha a queda na t<strong>em</strong>peratura doar. Esse resfriamento da água superficialprovoca uma queda na t<strong>em</strong>peratura dascamadas subseqüentes até que, aos poucos,o gradiente de t<strong>em</strong>peratura entre asdiferentes camadas é minimizado. Comisso, a diferença na densidade entre osestratos se reduz e a mistura da água doaçude acaba ocorrendo, porém de maneiramenos súbita. Esse fenômeno é chamadode inversão térmica. Em pequenos açudesa inversão térmica pode ocasionar a mortedos peixes nos tanques-<strong>rede</strong>, porém commenor intensidade do que se poderia esperar<strong>em</strong> grandes reservatórios.Quando ocorre a morte dos peixespela mistura das camadas (uma mortalidad<strong>em</strong>uito misteriosa aos olhos de umprodutor leigo), é comum atribuir o probl<strong>em</strong>aà ração ou mesmo a um possívelenvenenamento intencional da água doaçude. No entanto, uma ração <strong>em</strong>boloradaou com alguma deficiência nutricionalnão mata todos os peixes da noite parao dia, a não ser que realmente alguémtenha colocado um veneno na ração. E,por outro lado, se houve algum envenenamentoda água, os peixes soltos no açudetambém deveriam ter morrido. E isso geralmentenão ocorre, pois os peixes soltospod<strong>em</strong> procurar locais com oxigênio maisadequado ou, até mesmo, se “esparramar”pela superfície da água, buscando o filmesuperficial mais oxigenado.O produtor pode prevenir a ocorrênciade forte estratificação através dosseguintes procedimentos de rotina:• drenag<strong>em</strong> periódica da água do fundo,com o uso de “monges”, cachimbos e outrasestruturas que r<strong>em</strong>ovam continuamenteo excesso de água pelo fundo do açude.Se estas estruturas não exist<strong>em</strong>, ainda épossível fazer a implantação de sifões paraa descarga da água do fundo;• captação de água para irrigação noestrato mais profundo do açude. A água<strong>em</strong> profundidade geralmente contémmenos material particulado (água comausência de plâncton), causando menosprobl<strong>em</strong>as com o entupimento de filtrose dos bicos dos aspersores. Além disso,r<strong>em</strong>over a água do fundo ajuda a reduzira severidade de morte dos peixes nostanques-<strong>rede</strong> <strong>em</strong> um eventual probl<strong>em</strong>acom a mistura da água do açude. Quandoa água é r<strong>em</strong>ovida dos estratos intermediários,o gradiente de qualidade de águaentre a superfície e o fundo fica aindamais acentuado, podendo amplificar amortalidade de peixes com a ocorrênciada desestratificação.• circulação diária da água nas áreas maisfundas do açude, com o uso de aeradoresde pá ou com propulsores de ar eficientes.Esta circulação deve ser efetuada entreas 12:00 e 15:00 horas, horários maisquentes do dia e de pico de fotossíntese.O objetivo da circulação é <strong>em</strong>purrar aágua mais rica <strong>em</strong> oxigênio da superfíciepara o estrato mais fundo do açude,melhorando as condições de oxigênio nofundo, reduzindo assim o gradiente dequalidade da água entre a superfície e ofundo do açude. O produtor que dispuserde oxímetro notará que após a circulaçãode água haverá um aumento na concentraçãode oxigênio <strong>em</strong> profundidade.O uso de aeraçãoEm açudes pequenos, se houvereventuais probl<strong>em</strong>as com a qualidade daágua, não é difícil acudir providenciandouma aeração localizada próxima das20 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2007


No entanto, quando é necessário prover aeração apenas <strong>em</strong>caráter de <strong>em</strong>ergência, pode ser uma boa opção <strong>em</strong> tanques<strong>rede</strong>nestes açudes de pequeno porte.• Um sist<strong>em</strong>a de aeração de <strong>em</strong>ergência também pode sermontado com bombas de água que succionam a água dasuperfície do açude e, através de uma <strong>rede</strong> de tubos, conduza água ao longo de todas as linhas de tanques-<strong>rede</strong>, injetandoa mesma com pressão no interior ou b<strong>em</strong> nas laterais dos tanques.Isso força a incorporação de oxigênio durante a queda(efeito cascata) e promove uma melhor circulação de água nointerior dos tanques-<strong>rede</strong>.<strong>Tanques</strong>-<strong>rede</strong>linhas de tanques-<strong>rede</strong> ou mesmo no interior dos tanques<strong>rede</strong>.No entanto, <strong>em</strong> açudes de grande porte, o esforçod<strong>em</strong>andado por uma aeração de <strong>em</strong>ergência pode ser muitogrande, muitas vezes impossível de prover.Em açudes com tanques-<strong>rede</strong>, a aeração deve ser usada apenascomo ferramenta <strong>em</strong> situações de <strong>em</strong>ergência e não com a finalidadede atingir um nível maior de produção. Realizar uma aeraçãolocalizada é mais eficiente do que tentar elevar o oxigênio <strong>em</strong> toda aextensão do açude. De um modo geral, <strong>em</strong> viveiros de piscicultura, apotência de aeração aplicada varia entre 5 a 10 HP/ha, dependendoda taxa de alimentação, da biomassa de peixes estocada e de diversosoutros fatores. No caso de uma aeração localizada para tanques-<strong>rede</strong>nos açudes, esta potência pode ser reduzida <strong>em</strong> pelo menos 50% (2 a5HP/ha), visto que a biomassa instantânea e taxa de alimentação porárea geralmente é menor do que o praticado <strong>em</strong> viveiros.A aeração pode ser feita das seguintes maneiras:• Com o uso de aeradores de pás posicionados próximos as linhas detanques-<strong>rede</strong>, provendo uma aeração localizada na área dos tanques<strong>rede</strong>.Aeradores de pás são os mais eficientes. No entanto, deve setomar cuidado para não posicionar os aeradores muito próximos aostanques-<strong>rede</strong>, para não causar desconforto aos peixes com correntesde água muito rápidas. Aeradores de pá também pod<strong>em</strong> ser usadospara circular e misturar a água nas áreas mais fundas dos açudes,evitando que ocorra forte estratificação dos açudes;• Com difusores de ar de adequado tamanho e alta vazão posicionadosno interior dos tanques-<strong>rede</strong>. O sist<strong>em</strong>a de aeração por ar difusod<strong>em</strong>anda a instalação de sopradores de ar (compressores radial),ramais principais de grande calibre (75, 100 e até mesmo 150mm,dependendo da distância das tubulações) e difusores de grande vazão,de forma a evitar estrangulamentos no sist<strong>em</strong>a e sobrecargasno motor dos sopradores. Grande parte dos sist<strong>em</strong>as de ar difusoque tenho visto nas pisciculturas t<strong>em</strong> sido implantada pelos própriosprodutores e não segue os requisitos técnicos d<strong>em</strong>andadospor este sist<strong>em</strong>a de aeração. Assim, é comum ver sopradores dealta potência estrangulados por tubos e mangueiras finas e mesmopor um s<strong>em</strong> número de ineficientes pedras porosas de pequenocalibre e vazão. Os resultados: a sobrecarga do sist<strong>em</strong>a, queimafreqüente dos motores dos sopradores e uma ineficiente aeração.A aeração por ar difuso consome mais energia por unidade deoxigênio incorporada, comparado a outros sist<strong>em</strong>as.Rações de alta qualidade são imprescindíveisOs peixes cultivados <strong>em</strong> tanques-<strong>rede</strong> depend<strong>em</strong>exclusivamente da ração para suprir, de forma equilibrada,todos os nutrientes necessários para adequada saúde edes<strong>em</strong>penho produtivo. Produtores com pouca experiênciamuitas vezes minimizam a importância do uso de rações dealta qualidade e, seduzidos por preços atrativos e por falsasgarantias de bom des<strong>em</strong>penho, acabam comprando raçõesincapazes de atender as necessidades dos peixes cultivados<strong>em</strong> tanques-<strong>rede</strong>. Deficiências nutricionais devido ao usode rações inadequadas, além de prejudicar o crescimento ea conversão alimentar, pod<strong>em</strong> resultar <strong>em</strong> maior incidênciade doenças e mortalidade no cultivo, após o manuseio e durantee depois do transporte. Com isso o custo de produçãose eleva, podendo inviabilizar o cultivo.Considerações finaisA criação de peixe <strong>em</strong> tanques-<strong>rede</strong> é uma atividadeintensiva que d<strong>em</strong>anda um adequado planejamento,conhecimento técnico, equipe de produção b<strong>em</strong> treinada e<strong>em</strong>penho na comercialização, de forma a obter a melhor r<strong>em</strong>uneraçãopossível e estruturar canais de venda seguros.O uso dos açudes particulares disponíveis oferece umaoportunidade única de implantar um negócio promissor comuma imobilização mínima de capital. Essa oportunidade podeser estendida a <strong>em</strong>preendedores não proprietários que, atravésde contratos de arrendamento ou através de parcerias de produção,poderão se tornar donos do seu próprio negócio. Alémdisso, ao contrário da grande imobilização de investimentofeito na implantação de pisciculturas tradicionais <strong>em</strong> tanquesescavados, as unidades de cultivo e estruturas de apoio usadasno cultivo <strong>em</strong> tanques-<strong>rede</strong> pod<strong>em</strong> ser transferidas deum local a outro diante de uma eventual necessidade e, atémesmo, vendidas com maior agilidade se houver necessidadede interrupção do <strong>em</strong>preendimento.Observando o universo de propriedades rurais noBrasil, é possível identificar um grande número de açudescom potencial para piscicultura convencional ou <strong>em</strong>tanques-<strong>rede</strong> de forma sustentável. A ex<strong>em</strong>plo do que t<strong>em</strong>sido praticado há décadas na China, o aproveitamento dosaçudes disponíveis para fins de piscicultura, seja de formatradicional ou com o uso de tanques-<strong>rede</strong>, por si só, possibilitaráum significativo aumento na produção e oferta depescado <strong>em</strong> nosso país.Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 200721

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