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A Reescrita e os Caminhos da Construção do Sujeito - Centro de ...

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Jacqueline AUTHIER, em sua teoria sobre a heterogenei<strong>da</strong><strong>de</strong> constitutiva d<strong>os</strong>ujeito apoian<strong>do</strong>-se no dialogismo backtiniano 3 e na psicanálise <strong>de</strong> FREUD emsua releitura por LACAN 4 propõe a<strong>os</strong> que trabalham com o texto escrito infantilum gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio. Ao enumerar as formas <strong>da</strong> heterogenei<strong>da</strong><strong>de</strong> m<strong>os</strong>tra<strong>da</strong> -discurso direto, aspas, formas <strong>de</strong> retoque, discurso indireto livre, ironia -,AUTHIER apresenta-n<strong>os</strong> um sujeito competente no uso que faz <strong>do</strong> sistemalingüístico. Não é esse emprego ajusta<strong>do</strong> às regulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>do</strong> código lingüísticoque vem<strong>os</strong> no texto que a criança produz.Uma primeira direção, que me parece equivoca<strong>da</strong>, seria consi<strong>de</strong>rar taisviolações como equívoc<strong>os</strong> própri<strong>os</strong> <strong>do</strong> aprendiz e, assim sen<strong>do</strong>, nãointeressan<strong>do</strong> à análise <strong>do</strong> discurso. Entretanto, as contribuições <strong>da</strong> Psicologia <strong>do</strong>Desenvolvimento acerca <strong>do</strong> processo <strong>da</strong> construção <strong>da</strong> escrita pós-Piagetobrigam-n<strong>os</strong> a examiná-l<strong>os</strong> <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> men<strong>os</strong> leviano.A regulari<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sses "err<strong>os</strong>" permite que se veja através <strong>de</strong>les com queconcepções a respeito <strong>da</strong> escrita a criança opera: permite, também, que seenxergue um pouco o próprio processo <strong>de</strong> elaboração <strong>do</strong> escrito que, em geral,não está disponível ao leitor. A escrita, enquanto objeto, separa o texto <strong>de</strong> seuenuncia<strong>do</strong>r, conferin<strong>do</strong> certa autonomia ao escrito. M<strong>os</strong>tran<strong>do</strong> o seu processo erevelan<strong>do</strong> as convicções <strong>de</strong> seu produtor, o texto infantil abre espaço para que oalocutário, reconhecen<strong>do</strong> tais <strong>de</strong>svi<strong>os</strong>, assuma com mais freqüência papéisnormativ<strong>os</strong>: "Não é assim que se escreve tal palavra"; ou ria <strong>de</strong> efeit<strong>os</strong> <strong>de</strong> senti<strong>do</strong><strong>de</strong>rivad<strong>os</strong> <strong>de</strong> construções <strong>de</strong>sviantes.Minha intenção é consi<strong>de</strong>rar as p<strong>os</strong>sibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s didáticas que a "escuta" <strong>de</strong> taismarcas po<strong>de</strong> introduzir na relação entre a criança, seu texto, as p<strong>os</strong>sibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s<strong>da</strong> linguagem escrita e o professor. Penso que o professor enquanto alocutáriopo<strong>de</strong> assumir papéis que vão além <strong>da</strong> imp<strong>os</strong>ição <strong>da</strong>s coerções normativas.Analisan<strong>do</strong> as marcas <strong>do</strong> discurso, po<strong>de</strong> criar condições que permitam à criançaajustar o seu dizer ao dito. O produto é, portanto, <strong>de</strong> co-autoria: um escritor maisexperiente aju<strong>da</strong> a um men<strong>os</strong> experiente a <strong>do</strong>minar a mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> escrita <strong>da</strong>linguagem.3 A obra <strong>de</strong> BAKHTIN começou a ser divulga<strong>da</strong> na Europa a partir <strong>de</strong> 1963 com a publicação <strong>de</strong> A Poética <strong>de</strong>D<strong>os</strong>toiévski. São <strong>de</strong> BAKHTIN expressões como "dialogismo" e "polifonia". Para o autor, "a experiência discursivaindividual <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> pessoa se forma e se <strong>de</strong>senvolve em uma constante interação com <strong>os</strong> enunciad<strong>os</strong> individuaisalhei<strong>os</strong>". O "outro" é constitutivo <strong>do</strong> sujeito; o sujeito se constitui sujeito a partir <strong>da</strong>s trocas que estabelece com <strong>os</strong>outr<strong>os</strong>.4 LACAN nasceu em 1901 e morreu em 1980. Estu<strong>do</strong>u Medicina e <strong>de</strong>pois Psiquiatria. Seu pensamento tem importâncianão apenas para a Psicanálise, mas também para outras áreas <strong>do</strong> conhecimento. Para LACAN, o inconsciente éconstituí<strong>do</strong> <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> significantes, tem uma estrutura <strong>de</strong> linguagem. Para ele, na Psicanálise, as coisas sepassam em função <strong>da</strong> fala: o psicanalista busca a fala para encontrar o que não é dito. Portanto, a linguagem <strong>de</strong>fine o<strong>do</strong>mínio <strong>da</strong> Psicanálise.88

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