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Editorialpro - Unimar

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Fábio Fernando Ribeiro ManhosoPara falarmos em pesquisa homeopática noBrasil, temos nos que reportar ao século XIX, maisprecisamente ao ano de 1840, quando aqui aportouBenoit Mure, que foi provavelmente, quem iniciou apesquisa homeopática em nosso país, tendo estudadopatogeneticamente plantas e animais brasileiros compublicação posterior no livro Patogenesias Brasileiras.A ele se seguiram alguns poucos trilhando essemesmo caminho da determinação de novas patogenesiase, após sua curta estada de dez anos em nosso país,pouca coisa se fez em termos científicos. Escreveu-see falou-se muito sobre homeopatia, mas pouco foirealizado de concreto no campo da ciência e da pesquisapertinente ao assunto. Eventos científicos com afinalidade de aglutinar homeopatas visando à pesquisa,sua implantação ou desenvolvimento, praticamentenão se registraram até 1926, ano da organização do1º Congresso Brasileiro de Homeopatia realizado nomunicípio do Rio de Janeiro. Dele participaram 79pessoas, entre farmacêuticos, médicos e leigos, sendona ocasião apresentados 10 trabalhos. Pelos dadoscitados, podemos ter uma visão do que era a homeopatiabrasileira em termos de ciência. Já em 1980,durante o XV Congresso Brasileiro de Homeopatiarealizado na cidade de Petrópolis/RJ, esse númeroaumentou para 30 trabalhos, entre revisões, relatos decaso e outros. Nesse sentido, fica evidente que, desdea saída de Benoit Mure do Brasil até o aparecimentodas primeiras pesquisas em homeopatia, passaram-semais de cem anos, praticamente, de silêncio científico(POZETTI, 1988).A homeopatia no Brasil, durante longo período,foi desenvolvida como medicina popular, havendoalguns poucos profissionais médicos e raros farmacêuticos.Posteriormente, observou-se um “surto” deinteresse progressivo por parte dos profissionais dasaúde, como médicos, farmacêuticos, dentistas emédicos veterinários, além dos estudantes. Em 1979,instalou-se, no município de Ribeirão Preto/SP, oprimeiro grupo de estudos homeopáticos voltado àpesquisa e, em 1981, o primeiro trabalho experimentalbrasileiro realizado no campus da Universidade deSão Paulo, sob o título “Emprego de bioterápicos notratamento de camundongos infectados por Trypanossomacruzi, publicado no periódico francês Les AnalesHomeopathiques Françaises (1982), de autoria deRosa Domingues Ribeiro, Ana Maria Tucci Turco Nasie Ruberval Armando Lopes (SOARES, 1986).Afinal podemos refletir: como surgiu a Homeopatia?Exatamente do questionamento, uma vezque, foi questionando a ação da China que Hahnemannanunciou o Similia Similibus Curentur. Dessa forma,porque não prosseguimos estes questionamentos embenefício do próprio desenvolvimento homeopático?A terapêutica homeopática, como a alopática, adotadiversas condutas empíricas e que vão ganhandosubstrato à medida que vão sendo questionadas etestadas. Trata-se de adequar a metodologia visandoà investigação. Temos um exemplo histórico significativonos Estados Unidos, onde a homeopatiaperdeu bastante terreno pela posição dos homeopatasortodoxos, adeptos das teorias esotéricas de Kent(SOARES, 1987).A Homeopatia não é necessariamente antagônicaà medicina hegemônica, mas é como se ahomeopatia analisasse e investigasse e, portanto, cuidassede aspectos que não são valorizados na práticamédica comum. Portanto, não há necessariamentecomplementaridade, mas traçados paralelos que podemdialogar. Ainda reina uma confusão entre ignoraro mecanismo de ação do medicamento homeopático eas muitas evidências empíricas de seu funcionamento.Ninguém duvida que exista um mecanismo de ação,mas ninguém o apresentou ainda. É necessário admitirque o preconceito diminuiu bastante, porém, ainda quetenhamos assistido a reedições de velhos ataques, ahomeopatia cresce na Europa, nos Estados Unidos, noOriente e na América do Sul, conseguindo, aqui e ali,inclusive espaço nas universidades (ROSENBAUM,2006).É na articulação entre os diversos tipos de conhecimentoe na certeza de que não há mais verdadesabsolutas que se delineia o atual cenário da nova racionalidadecientífica. Estamos vivendo uma época deprofundas transformações sociais engendradas pelosúltimos avanços da ciência e tecnologia. O mundocaminha rapidamente de uma sociedade industrial parauma sociedade que tem por base o capital humano eintelectual, na qual a informação passa a ter grandeimportância. Teses consagradas são questionadas,surgem novos paradigmas nas diferentes áreas dosaber, novos conhecimentos são produzidos em ritmomuito acelerado e as reformulações acontecem empraticamente todos os campos da existência. Certamente,para se trabalhar com realidades que se transformama cada instante, as comunidades precisam setornar flexíveis, abertas para a novidade e altamentecriativas. O modelo científico, com base nessas novasconcepções de mundo, começa a se aperceber de que,para dar conta do novo, precisa dialogar com outrosmodelos de conhecimento. Os homeopatas, de ummodo geral, parecem não se esforçar o suficientepara institucionalizar a homeopatia, isolando-a daacademia, com receio de perder seu marco referencial.A ciência clássica vem cedendo espaços cada vez maissignificativos à nova racionalidade científica e abrindoenormes lacunas das quais a homeopatia poderá sebeneficiar para seu desenvolvimento. Porém, antes,a homeopatia terá que se desvencilhar de conceitose terminologias ancorados nos referenciais teóricosda medicina do século XIX. Nessa perspectiva, semabrir mão de seus principais fundamentos, cabe àhomeopatia dedicar-se cada vez mais à produção doconhecimento científico, à revisão de suas terminologias,à atualização de seus conceitos e à extinção defeudos do conhecimento homeopático, a fim de serUNIMAR CIÊNCIAS 20 (1-2), 2011 54

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