Editorialpro - Unimar

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Juliana Martin et al.INTRODUÇÃOA osteopatia metafisária de colo femoral felino(OMCFF) é caracterizada por necrose do colo femoralcom fratura patológica secundária nesta região, sendouma das poucas afecções de articulação coxofemoralem felinos (MILKEN, 2007). Assemelha-se muito àdisplasia espontânea da fise da cabeça femoral, naqual há uma fratura de colo femoral primária levandoà reabsorção óssea secundária. Para alguns autores,trata-se da mesma patologia, mas relatada em diferentesmomentos da sua evolução (BENETT, 2004).O estudo desta afecção em felinos começou aaumentar no fim da década de 1990, sendo o trabalhode Queen et al. (1998) um dos mais citados. Nestapesquisa foram descritas as características clínicas,radiológicas e dados de resenha de 17 felinos comdiagnóstico de osteopatia metafisária, com os resultadosdemonstrando a ocorrência em felinos machos,sendo 15 castrados, com idade de dois anos ou menos,sinal clínico de claudicação esporádica com evoluçãogradativa e demonstrando radiograficamente a radiolucênciae perda de definição na metáfise proximaldo fêmur (colo femoral). Essas características sãodescritas praticamente em todos os casos da doença,sendo também citado que ele ocorre tipicamente emgatos obesos, com peso médio de 5 kg (HARASEN,2004).Acredita-se que a doença ocorre devido aatraso no fechamento das linhas fisárias em animaiscastrados precocemente, que ocorreria normalmenteentre os sete e nove meses de idade em gatos não orquiectomizados.A linha fisária em gatos acometidosencontra-se aberta e mais larga, medindo duas vezesalém do normal esperado, levando à incapacidade desuporte de peso e consequente deformidade ou fraturametafisária, principalmente em animais obesos (HA-RASEN, 2004). No entanto, não há somente um atrasono fechamento desta linha, mas também modificaçãomicroscópica na organização dos condrócitos locais,que deveriam apresentar um arranjo colunar, mas seapresentam em aglomerados irregulares associados amatrix extracelular abundante, como se estivessemdisplásicos. O motivo desta displasia é o principalponto de discussão, pois não está esclarecido aindacomo a esterilização precoce poderia interferir nadisposição dos condrócitos (CRAIG, 2001).A osteopatia metafisária e displasia da fise sãoafecções que ocorrem principalmente em países comprogramas de castração precoce dos felinos, sendopor este motivo observado nos países desenvolvidoseconomicamente, como na América do Norte(BENETT, 2004).O diagnóstico é realizado a partir da resenhae dos dados do exame físico, com a confirmação pormeio do exame radiográfico (SCHERK, 2004), com osprincipais sinais clínicos de claudicação, dificuldadepara saltar, mudanças no comportamento, apatia,hiporexia e outros sinais relativos à presença de dor(KERWIN, 2007). No exame físico a abdução, flexãoe rotação interna da articulação coxofemoral estão diminuídas,podendo haver crepitação em estágios maisavançados (BURKE, 2003). As alterações radiográficasincluem reabsorção óssea, radiolucência, perdade definição em metáfise proximal do fêmur (colofemoral) e remodelação em alguns casos (QUENNet al., 1998). Atualmente, o tratamento indicado é aartroplastia excisional de cabeça e colo femoral, comtaxa de sucesso relatada em quase 100% dos casos(MONTAVON et al., 2009).Outra patologia relatada na articulação coxofemoralque deve fazer parte do diagnóstico diferencialé a displasia coxofemoral, com exame radiográficosendo conclusivo e realizado de forma detalha,respeitando-se as diferenças em relação à displasiacoxofemoral canina (MILKEN, 2007).Com isso, o objetivo deste trabalho é relatar aocorrência de osteopatia metafisária de colo femoralem um felino, tratado cirurgicamente pela técnica deartroplastia excisional de cabeça e colo femoral, comrecuperação satisfatória.RELATO DE CASOFoi atendido no Hospital Veterinário da Universidadede Marília (UNIMAR) um felino macho,de dois anos, pesando 4,3 kg, castrado, sem raçadefinida, com queixa de claudicação em membroposterior esquerdo, há oito dias. O animal já haviapassado por atendimento clínico e medicado porcolega com antiinflamatório esteroidal no início dossintomas durante cinco dias, com ausência de melhorasatisfatória no quadro clínico. O proprietário relatou,ainda, sobre o animal, pouco acesso à rua, negando apossibilidade de trauma ou lesão por mordedura poroutros animais.Ao exame físico, constataram-se claudicaçãointermitente durante deambulação, dor à palpação dearticulação coxofemoral esquerda, crepitação discretadurante rotação, abdução e adução do membro, sempresença de alterações externas locais como edemaou atrofia muscular da região. Indicou-se realizaçãode radiografias em projeções látero-medial e ventrodorsal,que evidenciaram osteólise em colo femoralesquerdo e presença da cabeça femoral sem alteraçõesem acetábulo (Figura 1).UNIMAR CIÊNCIAS 20 (1-2), 2011 20

Osteopatia Metafisária de colo femoral em felinosO animal retornou após uma semana, apresentandoainda claudicação intermitente e edema discretono local da cirurgia. No segundo retorno, aos 15dias de pós-operatório, o proprietário relatava presençade claudicação esporádica e comportamento normal doanimal, quando foi recomendada fisioterapia passivabranda. Aos seis meses de pós-operatório, o felinoencontra-se em recuperação completa do membro,sem indícios de dor ou claudicação (Figura 3).Figura 1: Osteólise em colo femoral esquerdo.Realizou-se artroplastia excisional de cabeçae colo femoral onze dias após a primeira consulta, peloacesso crânio-lateral da articulação, sem intercorrênciascirúrgicas (Figura 2). No pós-operatório o felinofoi medicado com meloxicam (0,1mg/kg), por viaoral, a cada 24 horas, durante três dias; cloridrato detramadol (2mg/kg), via oral, a cada 12 horas, duranteseis dias e cefalexina (25mg/kg), via oral, a cada 12horas, durante sete dias, com indicação de repouso.Figura 2: Artroplastia excisional de cabeça e colo femoral.Figura 3. Recuperação completa do membro, sem indícios dedor ou claudicação.DISCUSSÃOApesar de tratar-se de uma afecção pouco descritana literatura, as características clínicas do animalassemelham-se e são compatíveis com a doença em felinose seres humanos (CHANDLER; BEALE, 2002).Estudo científico que enfoca as artrites degenerativasnos felinos refere prevalência em gatos adultos jovens,com idade de quatro a 24 meses e obesos, dados encontradosno felino em questão (BENETT, 2004). Maisespecificamente, na osteopatia metafisária, a castraçãoprecoce dos felinos ao redor dos quatro meses de idadeé uma característica marcante nestes animais, comoobservada também neste caso (SCHERK, 2004).A claudicação do membro afetado, observadapelo proprietário, é a principal queixa evidenciada emliteratura (QUEEN et al., 1998). Entretanto, mesmocom crepitação e reabsorção óssea, compatíveis comgraus avançados da afecção, não havia ainda presençade atrofia muscular da região, como acontece frequentementenas patologias desta articulação (STURIONet al., 2006). A lise óssea foi evidenciada radiograficamenteconforme relatado por Queen et al. (1998),com a observação durante procedimento cirúrgico daintegridade na cabeça femoral e ausência de sinais detrauma em tecidos moles, como hematomas e edema,indicando assim reabsorção óssea não traumática,como é descrito na OMCFF (HARASEN, 2004).O tratamento de eleição para esta patologiae outras semelhantes, com envolvimento da região21UNIMAR CIÊNCIAS 20 (1-2), 2011

Juliana Martin et al.INTRODUÇÃOA osteopatia metafisária de colo femoral felino(OMCFF) é caracterizada por necrose do colo femoralcom fratura patológica secundária nesta região, sendouma das poucas afecções de articulação coxofemoralem felinos (MILKEN, 2007). Assemelha-se muito àdisplasia espontânea da fise da cabeça femoral, naqual há uma fratura de colo femoral primária levandoà reabsorção óssea secundária. Para alguns autores,trata-se da mesma patologia, mas relatada em diferentesmomentos da sua evolução (BENETT, 2004).O estudo desta afecção em felinos começou aaumentar no fim da década de 1990, sendo o trabalhode Queen et al. (1998) um dos mais citados. Nestapesquisa foram descritas as características clínicas,radiológicas e dados de resenha de 17 felinos comdiagnóstico de osteopatia metafisária, com os resultadosdemonstrando a ocorrência em felinos machos,sendo 15 castrados, com idade de dois anos ou menos,sinal clínico de claudicação esporádica com evoluçãogradativa e demonstrando radiograficamente a radiolucênciae perda de definição na metáfise proximaldo fêmur (colo femoral). Essas características sãodescritas praticamente em todos os casos da doença,sendo também citado que ele ocorre tipicamente emgatos obesos, com peso médio de 5 kg (HARASEN,2004).Acredita-se que a doença ocorre devido aatraso no fechamento das linhas fisárias em animaiscastrados precocemente, que ocorreria normalmenteentre os sete e nove meses de idade em gatos não orquiectomizados.A linha fisária em gatos acometidosencontra-se aberta e mais larga, medindo duas vezesalém do normal esperado, levando à incapacidade desuporte de peso e consequente deformidade ou fraturametafisária, principalmente em animais obesos (HA-RASEN, 2004). No entanto, não há somente um atrasono fechamento desta linha, mas também modificaçãomicroscópica na organização dos condrócitos locais,que deveriam apresentar um arranjo colunar, mas seapresentam em aglomerados irregulares associados amatrix extracelular abundante, como se estivessemdisplásicos. O motivo desta displasia é o principalponto de discussão, pois não está esclarecido aindacomo a esterilização precoce poderia interferir nadisposição dos condrócitos (CRAIG, 2001).A osteopatia metafisária e displasia da fise sãoafecções que ocorrem principalmente em países comprogramas de castração precoce dos felinos, sendopor este motivo observado nos países desenvolvidoseconomicamente, como na América do Norte(BENETT, 2004).O diagnóstico é realizado a partir da resenhae dos dados do exame físico, com a confirmação pormeio do exame radiográfico (SCHERK, 2004), com osprincipais sinais clínicos de claudicação, dificuldadepara saltar, mudanças no comportamento, apatia,hiporexia e outros sinais relativos à presença de dor(KERWIN, 2007). No exame físico a abdução, flexãoe rotação interna da articulação coxofemoral estão diminuídas,podendo haver crepitação em estágios maisavançados (BURKE, 2003). As alterações radiográficasincluem reabsorção óssea, radiolucência, perdade definição em metáfise proximal do fêmur (colofemoral) e remodelação em alguns casos (QUENNet al., 1998). Atualmente, o tratamento indicado é aartroplastia excisional de cabeça e colo femoral, comtaxa de sucesso relatada em quase 100% dos casos(MONTAVON et al., 2009).Outra patologia relatada na articulação coxofemoralque deve fazer parte do diagnóstico diferencialé a displasia coxofemoral, com exame radiográficosendo conclusivo e realizado de forma detalha,respeitando-se as diferenças em relação à displasiacoxofemoral canina (MILKEN, 2007).Com isso, o objetivo deste trabalho é relatar aocorrência de osteopatia metafisária de colo femoralem um felino, tratado cirurgicamente pela técnica deartroplastia excisional de cabeça e colo femoral, comrecuperação satisfatória.RELATO DE CASOFoi atendido no Hospital Veterinário da Universidadede Marília (UNIMAR) um felino macho,de dois anos, pesando 4,3 kg, castrado, sem raçadefinida, com queixa de claudicação em membroposterior esquerdo, há oito dias. O animal já haviapassado por atendimento clínico e medicado porcolega com antiinflamatório esteroidal no início dossintomas durante cinco dias, com ausência de melhorasatisfatória no quadro clínico. O proprietário relatou,ainda, sobre o animal, pouco acesso à rua, negando apossibilidade de trauma ou lesão por mordedura poroutros animais.Ao exame físico, constataram-se claudicaçãointermitente durante deambulação, dor à palpação dearticulação coxofemoral esquerda, crepitação discretadurante rotação, abdução e adução do membro, sempresença de alterações externas locais como edemaou atrofia muscular da região. Indicou-se realizaçãode radiografias em projeções látero-medial e ventrodorsal,que evidenciaram osteólise em colo femoralesquerdo e presença da cabeça femoral sem alteraçõesem acetábulo (Figura 1).UNIMAR CIÊNCIAS 20 (1-2), 2011 20

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