onde o sistema tributário é progressivo, a ren<strong>da</strong> domiciliar bruta pode resultar em índices dedesigual<strong>da</strong>de de ren<strong>da</strong> maiores do que aqueles obtidos a partir <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> domiciliar líqui<strong>da</strong>. 39 Quando aanálise é realiza<strong>da</strong> <strong>entre</strong> locali<strong>da</strong>des que possuem distintos sistemas tributários, o efeito <strong>da</strong>desigual<strong>da</strong>de sobre o estado de saúde irá variar de acordo com a medi<strong>da</strong> de ren<strong>da</strong> utiliza<strong>da</strong>, podendogerar conclusões errôneas acerca <strong>da</strong> existência dessa relação. A dificul<strong>da</strong>de é que a ren<strong>da</strong> líqui<strong>da</strong> nemsempre está disponível para os países analisados, sobretudo quando as informações são obti<strong>da</strong>s a partirde surveys domiciliares.A relação empírica <strong>entre</strong> a desigual<strong>da</strong>de de ren<strong>da</strong> e o estado de saúde também depende donível de agregação espacial em que a desigual<strong>da</strong>de de ren<strong>da</strong> é mensura<strong>da</strong>. Segundo Soobader eLeClere (1999), o efeito <strong>da</strong> desigual<strong>da</strong>de de ren<strong>da</strong> é mais evidente quando a análise é realiza<strong>da</strong>considerando níveis mais elevados de agregação. De acordo com os autores, em ca<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>deobserva-se uma segregação espacial econômica cuja magnitude depende do nível de desigual<strong>da</strong>de deren<strong>da</strong>. Essa segregação determina uma distribuição espacial dos diferentes grupos socioeconômicos.Quando a análise é realiza<strong>da</strong> considerando níveis menores de agregação, como por exemplo,estratos censitários, o estado de saúde dependerá mais <strong>da</strong>s condições socioeconômicas individuais enível de riqueza média <strong>da</strong> locali<strong>da</strong>de, do que do nível de desigual<strong>da</strong>de de ren<strong>da</strong>. Esse resultado éobservado uma vez que a segmentação espacial determina estratos censitários que são maishomogêneos em termos socioeconômicos, traduzindo-se em um menor nível de desigual<strong>da</strong>de de ren<strong>da</strong>e de saúde dentro de ca<strong>da</strong> estrato.Para níveis maiores de agregação, como por exemplo, municípios, é possível observar o efeitoindependente <strong>da</strong> desigual<strong>da</strong>de de ren<strong>da</strong> sobre o estado de saúde uma vez que a população apresentacaracterísticas socioeconômicas mais heterogêneas. Nesse contexto, o mecanismo pelo qual este efeitoé observado decorre <strong>da</strong>s conseqüências políticos sociais <strong>da</strong> segregação espacial econômica. De acordocom a corrente psicosocial, a maior segregação pressupõe menor coesão social e menor capital social,afetando assim o estado de saúde. Para os neomaterialistas, o efeito sobre a saúde será observado namedi<strong>da</strong> em que essa segregação afeta a distribuição <strong>da</strong> oferta de bens e serviços que são importantespara a determinação do estado de saúde individual e <strong>da</strong> população.3.3. Medi<strong>da</strong>s do Estado de Saúde Comumente Utiliza<strong>da</strong>s na LiteraturaUma <strong>da</strong>s principais questões metodológicas em estudos que envolvem o estado de saúde écomo mensurá-lo. O estado de saúde é multidimensional, cujo efeito sobre a oferta de trabalho erendimentos salariais depende de qual dimensão é considera<strong>da</strong>.O quadro 1 sintetiza os principais tipos de medi<strong>da</strong>s freqüentemente utiliza<strong>da</strong>s na literatura. Osindicadores comumente utilizados são medi<strong>da</strong>s agrega<strong>da</strong>s que se referem ao estado de saúde médio <strong>da</strong>população, tais como expectativa de vi<strong>da</strong> ao nascer, taxa de mortali<strong>da</strong>de infantil, taxa bruta de39 Uma outra questão relaciona<strong>da</strong> ao cálculo <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> refere-se à forma como a ren<strong>da</strong> domiciliar per capita é obti<strong>da</strong>, já que emgeral, ela é calcula<strong>da</strong> sem a utilização de pesos diferenciados para ca<strong>da</strong> membro <strong>da</strong> família. A inclusão de pesos relativos éimportante devido à presença de economias de escala dentro de ca<strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de familiar (Macinki et al 2003, Judge ePaterson, 2002). A dificul<strong>da</strong>de refere-se à escolha do peso que será utilizado para ca<strong>da</strong> componente adicional na família ese esse peso deve ser diferenciado segundo i<strong>da</strong>de e sexo dos indivíduos.18
mortali<strong>da</strong>de e taxas de mortali<strong>da</strong>de segundo diferentes causas de morte. A principal dificul<strong>da</strong>de dessasmedi<strong>da</strong>s é que, como se referem apenas a morbi<strong>da</strong>des que já se traduziram em mortali<strong>da</strong>de,desconsideram doenças, que a despeito de não serem causas de morte, geram per<strong>da</strong> de bem estar paraa população.No âmbito do indivíduo, as informações sobre o estado de saúde em geral são obti<strong>da</strong>s a partirde pesquisas domiciliares, podendo ser auto reporta<strong>da</strong>s, antropométricas e clinicamente determina<strong>da</strong>s.As medi<strong>da</strong>s antropométricas compreendem o peso, altura, índice de massa corporal (definido como arazão <strong>entre</strong> o peso e a altura dos indivíduos) e a ingestão de nutrientes 40 . As medi<strong>da</strong>s clinicamentedetermina<strong>da</strong>s são aquelas obti<strong>da</strong>s a partir de exames clínicos realizados durante a pesquisa domiciliar,tais como medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> pressão sanguínea, exame de diabetes, a coleta de sangue para detectardetermina<strong>da</strong>s doenças. Devido ao alto custo de se promover esse tipo de avaliação, a maior parte <strong>da</strong>spesquisas domiciliares, especialmente as que têm cobertura geográfica mais ampla, baseia-se naautopercepção dos indivíduos para avaliar o seu estado de saúde.QUADRO 1Classificação <strong>da</strong>s Medi<strong>da</strong>s de SaúdeNível de Saúde Médio <strong>da</strong>PopulaçãoExpectativa de vi<strong>da</strong> ao NascerTaxas de Mortali<strong>da</strong>deEstado de Saúde IndividualMedi<strong>da</strong>s ObjetivasMedi<strong>da</strong>s Auto-Reporta<strong>da</strong>sAntropométricasDimensão ClínicaDimensão FuncionalClinicamente Determina<strong>da</strong>s Dimensão SubjetivaAs medi<strong>da</strong>s auto-reporta<strong>da</strong>s compreendem indicadores mais subjetivos. A principaldificul<strong>da</strong>de é que a auto-avaliação do estado de saúde em geral está condiciona<strong>da</strong> ao estado de saúde<strong>da</strong>s demais pessoas <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de e às condições do ambiente no qual o indivíduo está inserido, porestes afetarem a percepção dos indivíduos. Em estudos comparativos <strong>entre</strong> locali<strong>da</strong>des que sãobastante heterogêneas em termos sociais, econômicos e culturais, as diferenças observa<strong>da</strong>s no estadode saúde podem refletir tanto um estado de saúde precário como também as características do contextoem que está inserido. Além disso, a maioria dessas variáveis está sujeita a erros sistemáticos dedeclaração uma vez que dependem <strong>da</strong> própria avaliação que os indivíduos fazem sobre sua saúde(Strauss e Thomas, 1998). Os indivíduos <strong>da</strong>s classes de ren<strong>da</strong> mais baixa podem ser menos capazes derelatar informações sobre o seu ver<strong>da</strong>deiro estado de saúde, devido às diferentes oportuni<strong>da</strong>des deacesso dessas cama<strong>da</strong>s aos serviços médicos. Com isso, o número de pessoas saudáveis nesta cama<strong>da</strong>de ren<strong>da</strong> pode estar superestimado.As principais medi<strong>da</strong>s auto-reporta<strong>da</strong>s compreendem três dimensões do estado de saúde. Aprimeira é a dimensão clínica, onde a doença é defini<strong>da</strong> como um desvio de uma norma fisiológica.Neste caso, temos duas variáveis comumente utiliza<strong>da</strong>s: existência de doenças crônicas e restrição deativi<strong>da</strong>des habituais decorrente de um problema de saúde em um determinado período de referência.40 Para uma maior discussão sobre as medi<strong>da</strong>s antropométricas ver Strauss e Thomas, 1998.19
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