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Íntegra do relatório final da CPI do Tráfico de Armas

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94 - INTRODUÇÃOAs armas parecem estar profun<strong>da</strong>mente mergulha<strong>da</strong>s no patrimônio cultural<strong>da</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong>. Há quem afirme que as primeiras ferramentas fabrica<strong>da</strong>spelo homem eram armas. <strong>Armas</strong> que aperfeiçoavam o equipamento orgânico<strong>do</strong> homem e lhe permitiam complementar a alimentação com a proteína animal<strong>de</strong> herbívoros, mas também contribuíam para preservar a incolumi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> grupodiante <strong>da</strong> ameaça <strong>do</strong>s gran<strong>de</strong>s pre<strong>da</strong><strong>do</strong>res carnívoros.Não há dúvi<strong>da</strong>s, no entanto, <strong>de</strong> que já muito ce<strong>do</strong>, o homem começou ausar suas armas contra os seus semelhantes. Espécie <strong>do</strong>ta<strong>da</strong> <strong>de</strong> acentua<strong>do</strong>sinstintos hierárquico e territorial, a humani<strong>da</strong><strong>de</strong> certamente usou <strong>de</strong> suas armasprimitivas para assegurar o pre<strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> indivíduo <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> grupo familiar,<strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> grupo social a que pertencia, e diante <strong>do</strong>s outros grupos com quecompetia pelo espaço vital <strong>da</strong> sobrevivência.Anthony Sampsom, em sua obra “The Arms Bazaar” – (Os Ven<strong>de</strong><strong>do</strong>res<strong>de</strong> <strong>Armas</strong>, editora Record -1982), menciona que, no idioma inglês, a palavra“arm” (arma, braço) também era, até o século XIV, usa<strong>da</strong> como sinônimo parao órgão masculino. Isso não é surpreen<strong>de</strong>nte, pois no <strong>de</strong>senvolvimento cultural<strong>da</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong>, o macho <strong>da</strong> espécie, ao mesmo tempo que subjugava a fêmea,também se lançava em competição para impor sua vonta<strong>de</strong> pela forçaaos outros machos, sempre guia<strong>do</strong> pela obediência cega à diretriz primitiva <strong>da</strong>hierarquia grupal. Na genial cena <strong>do</strong>s coveiros, em Hamlet, Shakespeare perpetraum trocadilho infame com a conotação fálica <strong>da</strong> palavra “arm”. A substituição<strong>da</strong>s armas brancas por armas <strong>de</strong> fogo, nos séculos XVI e XVII, não pareceter introduzi<strong>do</strong> gran<strong>de</strong>s mu<strong>da</strong>nças na analogia entre os <strong>do</strong>is significa<strong>do</strong>s. Nalinguagem chula <strong>do</strong> português fala<strong>do</strong> no Brasil, essa ambigüi<strong>da</strong><strong>de</strong> semânticasobrevive em expressões como “Eu sou espa<strong>da</strong>!” ou “armar a barraca”.Na formação <strong>da</strong> nacionali<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira, como no resto <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, omanuseio <strong>da</strong>s armas teve um apelo mítico absur<strong>da</strong>mente <strong>de</strong>sproporcional ao<strong>da</strong> enxa<strong>da</strong> ou <strong>da</strong> pena. Pela força <strong>da</strong>s armas estruturou-se o perfil <strong>da</strong> hierarquiasocial <strong>do</strong>minante; ocupou-se o espaço que pertencia aos habitantes primitivos;escravizaram-se o índio e o africano; assegurou-se a permanência <strong>do</strong>po<strong>de</strong>r e <strong>da</strong> riqueza nas mãos <strong>de</strong> poucos.Mais recentemente, valores como a lei, o direito, a <strong>de</strong>mocracia e o méritopela competência vêm se <strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong> e ocupan<strong>do</strong> o espaço que já foiprivativo <strong>da</strong> força <strong>da</strong>s armas. Hoje, a mulher já não se <strong>de</strong>ixa subjugar por pecu-

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