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Íntegra do relatório final da CPI do Tráfico de Armas

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13<strong>da</strong>s guar<strong>da</strong>m a herança <strong>do</strong>s tempos em que a força era a lei, quan<strong>do</strong> patrimônioseram adquiri<strong>do</strong>s e manti<strong>do</strong>s à bala, quan<strong>do</strong> a or<strong>de</strong>m e a obediência <strong>de</strong>subordina<strong>do</strong>s eram garanti<strong>da</strong>s pela intimi<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> arma. As classes intermediáriasvêem a posse <strong>da</strong> arma (legal ou mesmo clan<strong>de</strong>stina) como uma prerrogativaarrosta<strong>da</strong> contra as classes mais baixas, que não <strong>de</strong>têm o po<strong>de</strong>r econômicoou a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> legal para possuí-las. Já as classes mais baixas vêem asarmas como um último refúgio <strong>de</strong> digni<strong>da</strong><strong>de</strong>, seja contra seus pares, seja contraas classes mais eleva<strong>da</strong>s (ninguém, por mais bem situa<strong>do</strong> e corajoso queseja, se aventura a manifestar a arrogância e a prepotência costumeiras quan<strong>do</strong>tem uma pistola sen<strong>do</strong> sacudi<strong>da</strong> raivosamente diante <strong>do</strong> nariz). Sob o impacto<strong>do</strong>s conflitos entre pessoas e entre grupos sociais, o anseio pela posse eporte <strong>da</strong> arma <strong>de</strong> fogo prolifera, tanto entre os chama<strong>do</strong>s “homens <strong>de</strong> bem”,quanto entre os bandi<strong>do</strong>s.Por muito tempo, até 1997, o porte <strong>de</strong> arma <strong>de</strong> fogo foi tipifica<strong>do</strong> comouma simples contravenção penal, a quem a polícia não consi<strong>de</strong>rava digna sequer<strong>do</strong>s procedimentos padrão <strong>de</strong> registro <strong>de</strong> ocorrência. Não se tratan<strong>do</strong> <strong>do</strong>ssegmentos tradicionalmente discrimina<strong>do</strong>s pela socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, o porte <strong>de</strong> arma eratolera<strong>do</strong> como uma infração irrelevante. Foi somente a partir <strong>de</strong> mea<strong>do</strong>s <strong>da</strong>déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> oitenta, quan<strong>do</strong> o quadro <strong>de</strong> violência e criminali<strong>da</strong><strong>de</strong> intensificou asua escala<strong>da</strong> <strong>de</strong> gravi<strong>da</strong><strong>de</strong>, que o Po<strong>de</strong>r Executivo fe<strong>de</strong>ral encaminhou aoCongresso Nacional uma proposição legislativa no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> agravar o porte<strong>de</strong> arma <strong>de</strong> fogo com a tipificação <strong>de</strong> crime. Não foi o bastante para sensibilizaros parlamentares <strong>de</strong> então. A proposição ficou engaveta<strong>da</strong> durante anos, atéque, no início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> noventa, o clamor <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>saguou numaenxurra<strong>da</strong> com <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> proposições similares. No meio <strong>da</strong> déca<strong>da</strong>, antenovo recru<strong>de</strong>scimento <strong>da</strong> violência, em particular <strong>do</strong>s homicídios cometi<strong>do</strong>scom arma <strong>de</strong> fogo, a matéria tramitou a toque <strong>de</strong> caixa, ain<strong>da</strong> que relata<strong>da</strong> <strong>de</strong>forma frouxa, temerosa <strong>de</strong> enfrentar as prerrogativas <strong>da</strong>s classes <strong>do</strong>minantes e<strong>de</strong>sconhecen<strong>do</strong> inteiramente a evidência <strong>do</strong> emprego perverso que a criminali<strong>da</strong><strong>de</strong>faria <strong>da</strong>s lacunas premedita<strong>da</strong>mente <strong>de</strong>ixa<strong>da</strong>s no texto legal. Em que pesea frouxidão <strong>da</strong> norma, contra ela se voltaram as críticas <strong>de</strong> quem entendia aposse e porte <strong>de</strong> arma como um direito natural <strong>do</strong> ci<strong>da</strong>dão, numa apropriaçãoespúria <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> emen<strong>da</strong> <strong>da</strong> constituição norte-americana.A nova norma, a par <strong>de</strong> tipificar numerosas condutas relaciona<strong>da</strong>s com ouso <strong>de</strong>sautoriza<strong>do</strong> <strong>de</strong> armas <strong>de</strong> fogo, instituía um sistema <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> armas<strong>de</strong> fogo, inexistente até então, atribuin<strong>do</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s aos governos estaduaisno senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> ca<strong>da</strong>strar armas, possui<strong>do</strong>res e porta<strong>do</strong>res autoriza<strong>do</strong>s,

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