Ãntegra do relatório final da CPI do Tráfico de Armas
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11capoeira. Nos trinta anos seguintes, a tecnologia e o comércio internacionalcolocaram à sua disposição os revólveres <strong>de</strong> calibres .22, .32 e .38. <strong>Armas</strong> fáceis<strong>de</strong> dissimular e com um po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> fogo similar ao <strong>do</strong>s órgãos <strong>de</strong> segurança,embora em quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> muito menor que o <strong>da</strong>s polícias. Nessa época, é <strong>de</strong>se lembrar, a maioria <strong>do</strong>s policiais exerciam a suas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>sarma<strong>do</strong>s,sem que com isso se expusessem a maiores riscos para a sua vi<strong>da</strong>.Na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> oitenta, e mais especificamente, ao seu <strong>final</strong>, as coisasmu<strong>da</strong>ram. A guerra fria, que havia estimula<strong>do</strong> a proliferação <strong>da</strong> fabricação <strong>de</strong>armas leves e automáticas nos países industrializa<strong>do</strong>s, já <strong>da</strong>va sinais aos merca<strong>do</strong>s<strong>de</strong> que estava chegan<strong>do</strong> ao seu fim. Era hora <strong>de</strong> buscar nova clientela.O regime militar no Brasil também terminava, e os integrantes <strong>da</strong>s forçasirregulares que o enfrentaram por mais <strong>de</strong> vinte anos estavam presos juntocom os con<strong>de</strong>na<strong>do</strong>s pela justiça comum, principalmente no sistema prisional <strong>do</strong>Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, numa promiscui<strong>da</strong><strong>de</strong> que permitiu a troca <strong>de</strong> informaçõesque se mostrariam preciosas para a criminali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Assaltantes comunsapren<strong>de</strong>ram no convívio prisional a se organizarem, a se relacionarem numespaço mais amplo, com outras ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s, outros Esta<strong>do</strong>s, outros países; a ultrapassaremos limites estreitos <strong>do</strong> ventanista e <strong>do</strong> bate<strong>do</strong>r <strong>de</strong> carteiras. Adquirin<strong>do</strong>nova musculatura, atravessaram a déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> oitenta inauguran<strong>do</strong> umnovo patamar <strong>de</strong> criminali<strong>da</strong><strong>de</strong> com uma on<strong>da</strong> <strong>de</strong> assaltos a bancos, numamanifestação <strong>de</strong> competência criminosa ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iramente cinematográfica.No mun<strong>do</strong>, a recepção <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> pós-guerra ao vício generaliza<strong>do</strong><strong>de</strong> entorpecentes <strong>de</strong>u sobrevi<strong>da</strong> aos movimentos guerrilheiros que enfrentaramos regimes <strong>de</strong> exceção que também atormentaram a ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia nos paísesvizinhos. Em especial nos países andinos, geograficamente a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s ao cultivo<strong>da</strong> coca, formaram-se po<strong>de</strong>rosos cartéis <strong>de</strong> drogas, que cresceram à sombra<strong>da</strong> natural fragili<strong>da</strong><strong>de</strong> institucional <strong>da</strong>s <strong>de</strong>mocracias restabeleci<strong>da</strong>s e <strong>da</strong>sca<strong>da</strong> vez mais po<strong>de</strong>rosas estruturas organiza<strong>da</strong>s na resistência arma<strong>da</strong>.Embora <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong>-se <strong>da</strong> categoria <strong>de</strong> país produtor internacional <strong>de</strong>drogas (a produção nacional <strong>de</strong> maconha <strong>de</strong>stina-se exclusivamente ao merca<strong>do</strong>interno), a geopolítica brasileira <strong>de</strong>terminou ao país a condição igualmentelamentável <strong>de</strong> corre<strong>do</strong>r <strong>de</strong> exportação <strong>da</strong> droga. A promiscui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> comérciointernacional <strong>de</strong> drogas com a criminali<strong>da</strong><strong>de</strong> preexistente nas ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s portuáriasfez renascer as práticas comerciais clan<strong>de</strong>stinas que já haviam si<strong>do</strong><strong>de</strong>staque nos tráficos ilícitos <strong>de</strong> escravos e <strong>de</strong> café. Agora o tráfico estava se