Nas apresentações d‟O Teatro Mágico, as músicas são compostas cominstrumentos tradicionais, tais como violão, violino, flauta, bateria, etc. e com autilização de instrumentos e efeitos sonoros, como sons de cachorro latindo, buzinasde carros etc., além de sons como o beatbox, expressão em inglês que significacaixa de batida, referindo-se à “percussão vocal do hip-hop” (Wikipédia) e deinstrumentos diferentes para a nossa cultura, como é o caso do didgeridoo, “uminstrumento de sopro muito antigo dos aborígenes australianos. “Estudosarqueológicos baseados em pinturas rupestres sugerem que o povo aborígine daregião de Kakadu já utilizava o didjeridu há cerca de 1.500 anos” (Wikipédia), o quenos remete à discussão sobre identidades e culturas.Ainda é válido citar o músico que toca percussão, ele se veste de palhaço,estilizado, meio africano tribal, e também faz refletir sobre a questão da discussãosobre a identidade cultural. Assim como na canção em que diz “como pode um peixevivo viver fora d‟água fria”, canção popular brasileira em nova versão, com direito aapresentação teatral e de dança. Anitelli convida o público a cantar junto com ele,quando saem de traz do palco vários bailarinos segurando vários arcos grudadosuns nos outros e enfeitados com tiras de pano, como se fosse a água e as pessoasos peixes, mostrando uma bela coreografia de dança com o auxílio desse objeto quetraz mais movimento à expressão corporal.Ao ouvirmos uma música, podemos senti-la de diversas formas, com ocoração, sentimentalmente, identificando nossa vida com a trilha sonora, com onosso intelecto, pensando a respeito do que está sendo dito, utilizando osconhecimentos prévios adquiridos, como perceber o som de certos instrumentos,reconhecendo a linguagem técnica da música e ainda com o corpo, sentindo o ritmo,“dançando conforme a música”. Esse ditado popular pode refletir muito sobre o queé a dança. Para Klauss Vianna, “a expressão corporal reflete tudo que sou: minhahistória, o que penso, como sinto. Vida interior e expressão corporal são coisasinseparáveis” (2005, p. 148). Corpo e mente em movimento, sincronicamenteexprimindo sentimentos, revelando o eu-interior de cada um através do movimentocorporal. “O homem é uno em sua expressão: não é o espírito que se inquieta nem ocorpo que se contrai – é a pessoa inteira que se exprime” (Vianna, 2005, p. 150).A trupe d‟O Teatro Mágico traz em sua essência todas essas linguagensartísticas, trazendo elementos do circo, a poesia, a música, a dança e a performance35
no palco como um sarau, misturando diversas linguagens que se completam nassuas apresentações. Atuam de maneira similar ao circo, que se situa “a meiocaminho entre a indústria cultural e as manifestações espontâneas, mas não ésimplesmente um repetidor de uma e outras, pois quando delas se apropriasubmete-as a um processo de reelaboração, recodificação, produzindo assim umdiscurso que leva a sua marca” (Magnani, 1984, p. 47). Como sugere a citação deMagnani sobre o circo, acredito que a trupe criou a sua marca com todas essaslinguagens, trazendo por meio da arte a mensagem ou a crítica, ou ainda buscandoque seu público reflita a respeito da realidade.36