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Monografia - Unesc

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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESCCURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSUESPECIALIZAÇÃO EM: Educação Estética: Arte e as PerspectivasContemporâneasNATHÁLIA NEVES AQUINOO TEATRO MÁGICO: ARTE E CULTURA DE RESISTÊNCIACRICIUMA, FEVEREIRO DE 2011


NATHÁLIA NEVES AQUINOO TEATRO MÁGICO: ARTE E CULTURA DE RESISTÊNCIA<strong>Monografia</strong> apresentada à Diretoria de Pósgraduaçãoda Universidade do Extremo SulCatarinense – UNESC, para a obtenção dotítulo de especialista em Educação Estética.Orientador: Prof. Dr. Gladir da Silva CabralCRICIÚMA, FEVEREIRO DE 2011


Dedico este trabalho a meus pais:Minha mãe, pessoa que sempre meincentivou e a quem amo muito. Meu pai,meu amigo, que eu tanto amo e que ajudoua tornar este sonho realidade.


AGRADECIMENTOSAgradeço a todos os que de certa forma contribuíram para a realizaçãodeste trabalho.Muito obrigada a Deus por nunca me deixar desistir. Aos meus paisAugusto e Ereny, pela extrema paciência e amor dedicado.O meu orientador, Prof. Gladir, pela paciência, e-mails e diálogos.Aos meus amigos, por partilharem comigo os momentos bons, meacolherem nos dias mais difíceis e por me ajudarem sempre que precisei: à Michelepelo companheirismo durante esta e outras caminhadas, ao Tiago pelo incentivo,paciência e positividade, à Belise pelos momentos de descontração, à Cíntiasimplesmente por existir e ser uma grande amiga, à Grazi, irmãzinha do coração quesempre me dá os mais certos conselhos, ao Glaucus por me aguentar todos os diase me incentivar nos momentos mais difíceis, ao Georg por contribuir para a minhabagagem musical ao me apresentar “O Teatro Mágico”, ao Juliano Gordo, por mefazer “cair na real” mesmo nas horas mais irreais, e a todos os outros que aqui nãocito, mas que moram no meu coração e que fazem parte dessa grande maravilhaque é a minha vida.


“O Teatro Mágico é um lugar onde tudo é possível”Fernando Anitelli


RESUMOO que uma banda independente como “O Teatro Mágico” quer trazer a seu público?Como esse público se compõe? Quais as linguagens artísticas presentes notrabalho desse grupo? Como se dá a discussão sobre identidades nas canções datrupe? E ainda, qual o lugar que o grupo ocupa na produção artística e cultural dacontemporaneidade? Essas e outras questões estiveram presentes neste trabalhoque teve como objetivo entender como o grupo “O teatro Mágico” se manifesta nasociedade contemporânea como cultura de resistência, analisando as linguagensartísticas usadas pelo grupo, assim como a forma de divulgação de seu trabalho.Esta pesquisa foi realizada de forma bibliográfica, buscando sempre materiaisteóricos que subsidiem as questões aqui expressas. A internet foi uma importanteferramenta de pesquisa e interação para a execução desta pesquisa, principalmenteo site oficial d‟O Teatro Mágico, que de forma aberta expõe pensamentos e materiaissobre a trupe.Palavras-chave: O teatro Mágico. Linguagens artísticas. Mídia. Identidade.


SUMÁRIO1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 72. SOBRE “O TEATRO MÁGICO”: PEQUENO HISTÓRICO DO GRUPO ............... 93. O TEATRO MÁGICO E AS IDENTIDADES .......................................................... 154. O TEATRO MÁGICO E AS MÍDIAS ..................................................................... 235. LINGUAGENS ARTÍSTICAS ................................................................................ 296. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 377. ANEXOS ............................................................................................................... 398. REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 41


1. INTRODUÇÃONa arte, não vemos apenas as obras, mas a nósmesmos e a sociedade em que vivemos. Eladesacomoda as percepções, instiga, incomoda,rejubila. Ela aciona toda sorte de sensaçõespositivas e/ou negativas, mas, sobretudo, faz-nosestranhar o familiar e perceber as coisas de outrosângulos, de outras formas. (Leite e Ostetto, 2004,p. 11).O presente trabalho busca entender e esclarecer como o grupo “O TeatroMágico” se manifesta na sociedade contemporânea como produtor de cultura e artede resistência. O grupo o Teatro Mágico age na cena musical nacional como umgrupo popular e independente. Eles se colocam contra o mercado da arte aodisponibilizarem suas músicas gratuitamente na internet. Utilizam em suasapresentações musicais diversas outras linguagens da arte, como performancescircenses, dança e teatro. Em suas músicas, trazem personagens da nossa cultura,tratam do cotidiano e nos levam a pensar sobre diversos temas sociais discutidos naatualidade, tais como o preconceito linguístico, o modo de vida contemporâneo e aformação das identidades do povo brasileiro. Por sua postura enquanto “grupomusical independente”, faz-nos refletir até mesmo sobre os artistas e suas obras naatualidade globalizada e controlada pela força do mercado.Diante dessas prévias observações sobre o grupo “O teatro Mágico”, sobre oque é a arte e sobre a formação de identidades é que percebo a importância decompreender como um grupo de “cultura de resistência” consegue ganhar voz nacena atual, como a internet colabora para essa globalização cultural e ainda como osujeito é influenciado e receptivo diante dessa e das tantas formas de comunicaçãoe conhecimentos que constituem, assim, a sua identidade.Pretendo, ainda, entender como uma banda independente “O teatro Mágico”se manifesta e tem seu lugar reconhecido na sociedade contemporânea, como ogrupo constrói sua a sua identidade e a dos personagens citados em suas músicas,como eles levam sua arte ao público e qual é esse público e como ele se constitui,buscando entender ainda sobre as linguagens artísticas utilizadas pelo grupo e porque dessas várias linguagens e a relação entre a música, o teatro e o circo nasobras do grupo.7


Para a realização desta pesquisa, trago Zamboni (2001, p. 43) quando afirmaque a “pesquisa é a busca sistemática de soluções, com o fim de descobrir ouestabelecer fatos ou princípios relativos a qualquer área do conhecimento humano”.Sendo assim, procurarei primeiramente textos e materiais teóricos que possam medar subsídio para esta pesquisa de caráter bibliográfico. O registro escrito é semdúvida algo indispensável nesta pesquisa. Também levantarei análises sobrealgumas obras do grupo “O Teatro Mágico”, assim como sobre textos teóricos quediscutam a formação de identidades, de sociedades, sobre a indústria cultural eartística.No primeiro capítulo deste trabalho será apresentado um breve histórico dogrupo “O Teatro Mágico”, como eles se constituem, quais são seus ideais comoartistas e como se dá a forma de trabalho dessa trupe tão diferenciada dentro dacena artística musical da contemporaneidade. Busco trazer curiosidades e fatos queinfluenciaram na criação da trupe e sua formação. Num segundo momento, estareidiscutindo sobre as produções musicais d‟Teatro Mágico juntamente com aformação da identidade, analisando a formação da trupe, assim como a formação dopúblico que acompanha as suas canções e os personagens nelas citados, buscandoreferenciais teóricos em Stuart Hall e outros representantes dos Estudos Culturasi.No terceiro capítulo, intitulado “O Teatro Mágico e as Mídias”, busco compreendercomo se dá a relação do grupo com as diversas mídias de comunicação,principalmente a internet, já que é o principal veículo de divulgação do trabalho datrupe, procurando ainda compreender por que a utilização desse meio, ao invés demeios tradicionais da cultura massiva, ou seja, as gravadoras, tornam o trabalho datrupe ainda mais questionador, contestador e independente dentro da cena atual. Noúltimo capítulo deste trabalho, trago O Teatro Mágico e as linguagens artísticas porele utilizadas, tais como o teatro, o circo, a dança e a música, buscando esclarecerum pouco sobre cada linguagem e sua importância dentro das apresentações datrupe. Concluindo o trabalho, trago breves reflexões e busco sintetizar asdiscussões.8


2. SOBRE “O TEATRO MÁGICO”: PEQUENO HISTÓRICO DO GRUPOO grupo “O Teatro Mágico” nasceu com o primeiro projeto de um CDindependente, no ano de 2003, idealizado por Fernando Anitelli, como seu primeirotrabalho solo e inspirado na obra literária O Lobo da Estepe, do escritor alemãoHermann Hesse, cuja personagem principal, Harry Haller, assume até certo ponto daobra dois tipos de personalidades e, em determinado momento, percebe-se atraídopor diversas outras personalidades que estão no seu interior, ou seja, a pluralidadede personalidades em um único ser, “ele descobre sua pluralidade e descobre que ohomem não é só homem ou lobo, ele é uma junção infinita de personagens que vaiescolher interpretar em diferentes dias” (Anitelli, 2009). Em outra entrevista, Anitellicomenta sobre as origens do grupo, confirmando a ligação com o escritor alemão:O Lobo da Estepe foi justamente o primeiro momento desse projeto todo.Justamente quando eu estava lendo esse livro me deparei com aquelemomento em que o personagem se depara com aquela placa “hoje a noiteteatro mágico entrada para raros”. Ele acredita que aquilo não é para ele,ele quer ir embora, quando olha “só para raros, só para loucos”, mas eleentra e ali se descobre plural, o personagem descobre a própriapluralidade. Isso é fabuloso porque a gente é assim. Diariamente nós nãosomos somente um em um milhão, somos um milhão em um. As maneirascomo a gente resolve reagir às coisas do cotidiano são muito distintas,então é buscar esse melhor personagem que vive em nós. E o palhaçotraduz isso. Então juntei essa ideia do Lobo da Estepe, essa inspiração –porque a ideia não é traduzir o livro de maneira alguma, ele serviu comoinspiração. Eu peguei isso aí e misturei com a ideia do sarau, que é aquelavariedade de timbres, de cores, misturei numa coisa só e a gente foiaprendendo a montar, a fazer isso aí esse tempo todo. (apud Vianna, 2010)Pensando nessa pluralidade de personalidades e buscando juntar em um sóespetáculo diversas linguagens da arte, como a música, o teatro, a dança e, ainda,linguagensda arte circense, tais como os malabaristas, palhaços e bailarinas,nasceu o primeiro álbum do “O Teatro Mágico” no ano de 2003, intitulado Entradapara Raros. Nele, a trupe, formada por músicos e artistas, já veio com o objetivo dediscutir vários temas sociais, como o racismo, a discriminação e até mesmo ospersonagens ou identidades que temos de assumir diariamente em várias situaçõesdo cotidiano, “a trupe estava imersa num paralelo, num lugar onde tudo era possível,falávamos de lutar pelos nossos ideais, pelos sonhos” (Teatro Mágico, 2009).9


Para Anitelli, “O Teatro Mágico é um lugar onde tudo é possível”. Para ocriador da trupe, “essa é a grande brincadeira, ser o que se é, afinal todos somosraros e temos que ter consciência disso” (Teatro Mágico, 2009). E é com roupas emaquiagens de palhaços que os integrantes da trupe nos trazem a ideia de“personagem interno, escondido em cada um de nós” (WIKIPÉDIA, 2011). Oprimeiro disco inicialmente era para ser apenas com “voz e violão, algumas poesiase a ideia era que a pessoa ouvisse o álbum e sentisse que o que ela estivesseouvindo poderia acontecer na sala da casa dela” (Anitelli, 2009). Por isso, passou ater também sons de utensílios domésticos como garfos, facas e panelas, era umverdadeiro sarau de sons, poesias e espetáculos, dando espaço ainda aosinstrumentos tradicionais como contrabaixo, bateria e violino. Foi assim que osparticipantes da produção do álbum subiram rapidamente para a soma de trintaintegrantes, e nas apresentações somavam quarenta colaboradores.A trupe conta hoje com um grande elenco: são 16 integrantes, entre eles osmúsicos Fernando Anitelli (voz, violão e guitarra), Fernando Rosa (contra-baixo),Miguel Assis (bateria), Nene dos Santos (bateria), Willians Marques (percussão emalabares), Galdino Octopus (violino e bandolim), DJ HP (pick-ups e sonoplastia),Silvio Depieri (sax e flauta), Kleber Saraiva (teclado) e os artistas circenses RoberTosta, Gabriela Veiga, Deinha Lamego, Tum Aguiar, Andrea Baubour, WallaceAlcantara e Ivan Parente (ator e cantor). Além das equipes técnicas e de produção,que também somam um considerável número de colaboradores, a trupe conta aindacom alguns apoios culturais e parcerias com empesas e instituições (O TeatroMágico, 2009).É defendendo a “bandeira da música livre” e disponibilizando gratuitamente assuas músicas na internet que “O Teatro Mágico passa, cada vez mais, a apresentarum perfil questionador e contestador” (O Teatro Mágico, 2009). Os CDs e DVDs datrupe também são vendidos, mas a preços populares, buscando atingir ainda mais opúblico em geral (idem). Para a trupe, além de grandes incentivadores, o público éparte de seu espetáculo, pois ele cria tal identificação com as produções musicais dogrupo e com as linguagens visuais por eles usadas que algumas pessoas chegam ase caracterizar como os integrantes da trupe, o que realmente garante o alcance doobjetivo do grupo em relação à apropriação, por parte do grande público, da suaobra.10


Em uma de suas entrevistas, Anitelli afirma que o palhaço “é sempre disposto.Ele é gatuno, malandro, mas é inocente, chora. Essa pluralidade de coisas, dopróprio bufão, o bobo da corte, sempre foi a lógica do palhaço” (Anitelli,2009), quetorna-se elemento essencial nos shows da trupe que assim se caracteriza, pois elesimboliza o “personagem interno” que existe em cada um de nós. Para Anitelli, opalhaço é o personagem que “seria capaz de traduzir essa instabilidade, esse caosinterior”. Segundo o site oficial do “Teatro Mágico”, durante os shows é que se dáessa “grande” interação do público com a trupe.E assim, Anitelli vai traçando um paralelo entre o real e o imaginárioenquanto o público, aos poucos, vai entrando na mesma freqüênciasinestésica marcada pelo ritmo do espetáculo. No final, palco e platéia sefundem e cada um dos presentes vai descobrindo a delícia de se permitirser um pouco mais de si mesmo. (O Teatro Mágico, 2009).O segundo álbum, intitulado O segundo ato, surge após quatro anos detrabalho, com um número bem considerável de CDs vendidos, a música bemdifundida entre o público na internet e com uma valorização do seu trabalho peranteas mídias, como jornais e televisão. Nessa etapa do projeto, a trupe se propõe “aentrar mais fundo nos debates que cercam a sociedade desigual e desumana quenos rodeia” (Vianna, 2008). Maíra Vianna, em texto publicado em 25 de julho de2008, comenta:Nesta nova fase, é como se a trupe chegasse no universo urbano commais profundidade , como o cotidiano dos moradores de rua citados nacanção “Cidadão de Papelão” ou a problemática da mecanização dotrabalho, citada no “Mérito e o Monstro” entre várias outras abordagens.Indo mais além, há um debate sutil e, por vias opostas, mordaz, sobre oamontoado de informações que absorvemos, sem perceber, assistindo aosprogramas de TV. (Vianna, 2008).A trupe que escreveu “seu nome na história da música popular brasileira como sucesso independente de gravadoras ou mídias de massa” (Teatro Mágico, 2009)abre espaços para seu público, junta-se a ele, que não abrange apenas uma faixaetária, são pessoas de várias idades, classes sociais e culturas. A internet é oprincipal veículo de comunicação e divulgação do trabalho do grupo, o que tambémfacilita a interação das pessoas com a equipe, que além dos dois álbuns que possui,já está planejando o terceiro álbum pré-intitulado O Terceiro Ato.11


“A trupe”Fonte: (http://coracao26.blogspot.com/2010/07/o-teatro-magico.html)Defendendo bandeira da música livre e do movimento por eles criado,chamado de MPB (Música para baixar), a atitude da trupe vai contra o modocapitalista de produção cultural e musical que ainda existe nos dias de hoje. ParaAnitelli, esse é o objetivo: “A gente resolveu construir esse movimento para podercada vez mais politizar nosso público e potencializar essa discussão para além doTeatro Mágico” (Anitelli, 2009).Segundo Gustavo Anitelli, citando Hanna Arendt, “a cultura de massacumpria um papel de responder a uma necessidade biológica do indivíduo, que jánão mais possuía tempo livre, e sim um leve descanso ou pausa entre um dia eoutro na rotina do trabalho” (O Teatro Mágico, 2009). Logo, a massificação dacultura torna-a capital de grandes empresas que visam ao lucro, difundindo essasproduções por todo o mundo, vendendo o seu produto, dando maior visibilidade aosartistas que mais lhes convém, afinal, a gravadora geralmente era a única forma dese produzir um álbum, devido ao grande custo de equipamentos etc.Nos dias de hoje, com o avanço tecnológico e o maior acesso da população aesses meios, os movimentos como a “nova” MPB ganham força. Por meio dainternet, conseguimos visualizar essa revolução na cena musical brasileira einternacional. Para Gustavo Anitelli, irmão do criador da trupe:Essa ferramenta que tem revolucionado o mundo foi capaz de recriar arelação não somente do mercado com o artista, mas também do artistacom seu público, já que a comunicação livre permite a troca direta deinformações, sem a dependência dos atravessadores da indústria quedistanciavam esse elo principal. (Aniteli, 2010).12


Assim, as produções destinadas às massas foram perdendo parte de suaforça. Agora existem vários produtores musicais independentes em diversos cantosdo mundo, surgiram novos artistas, novas possibilidades de fazer e receber música.A cultura está se democratizando aos poucos, possibilitando o acesso a qualquerpessoa. O Teatro Mágico colabora dessa forma com o público, além de vender seusCDS a preços muito baixos, a trupe se mantém também com a venda de produtospela internet e com shows, nos quais se preocupa ainda em arrecadar doações dealimentos para algumas entidades que necessitam de ajuda. Anitelli conta queinicialmente vendiam os CDs, gravados na garagem de sua casa, a R$ 10,00, masque em seguida:Passamos a vendê-lo por 5 reais. Nos lugares mais periféricos, maishumildes, a gente vendia por 1 real, às vezes dávamos. Essa lógica deespalhar a música, de ela se tornar um vírus do bem, distribuída na rede,pelo CD a preço acessível, passou a ser nossa bandeira, nosso carrochefe.(Anitelli, 2009).É com esse perfil questionador e socializador de cultura que o grupo age nacena musical atual, cantando e encantando gerações entre seus fãs. O grupo temvários espaços na internet, entre eles o site oficial do grupowww.oteatromagico.mus.br, “.mus” e não “.com”, pois “.com” vem de comércio e“.mus”, não, pois o domínio “.mus” provém é especialmente destinado a músicos eartistas em geral. O grupo ocupa também sites de relacionamento como orkut,facebook, twitter e ainda sites de divulgação de música livre para baixar, como o sitedo Terra com o palco mp3 e outros de exibições de vídeos, com clipes, músicas eentrevistas, como é o caso do Youtube. Divulgando o trabalho da trupe, ainda existeo livro intitulado O Teatro Mágico em Palavras, escrito por Maíra Viana. O livro,assim como os demais materiais de divulgação, é vendido a preço popular pelainternet, trata-se deUm conto inspirado em cada canção de Fernando Anitelli contidas no CD"Entrada Para Raros". As histórias ganharam vida nos palcos do TeatroMágico com interpretações feitas pela trupe e também por atoresconvidados. São crônicas, contos e fábulas do cotidiano. "O que ela quisdizer com isso: será metáfora ou pé-da-letra? Será que foi isto que eladisse? Ou seriam querubins fugidios soprando coisas nos ouvidos?",questões pertinentes ao prefácio do livro, escrito pelo próprio FernandoAntelli. (O Teatro Mágico, 2009)A trupe comemorou no ano de 2010, sete anos de existência na cena musicalbrasileira, sempre com uma forte ideologia independente. Mesmo já tendo recebido13


algumas propostas de gravadoras, não se deixaram corromper pelo sistemamassificador de cultura e, quanto a essas propostas, afirmam não aceitá-las, poispara a trupe “nenhuma delas traduzia nossas ideologias e preferimos continuar ocaminho, sozinhos” (O Teatro Mágico, 2009), complementando que “sozinhos” não,mas sempre contando com o apoio do seu público. No ano de 2010 também foi olançamento do segundo livro de Maíra Viana sobre a trupe, desta vez intitulado OTeatro Mágico em Palavras II, onde a autora “se propõe a um diálogo não sómusical e literário, mas também visual, pelas mãos talentosas do ilustrador RodrigoFranco, que mantém a linha regionalista da xilogravura, marca já registrada doprojeto” (idem).O grupo já contou também com algumas apresentações em televisõesbrasileiras, como é o caso da Rede Globo, onde fizeram uma participação especialem uma novela de horário nobre da emissora, assim como participações emprogramas como o “Altas Horas”, contando ainda com a divulgações no “JornalHoje” da mesma emissora. É uma forma de levar a todos, sem discriminações, assuas canções e poesias. A televisão também mostra o que o público quer ver, e opúblico mostra que se identifica com o trabalho do “Teatro Mágico”, que faz seutrabalho por “amor à música” e pela “vontade de se expressar”, como conta Anitelliem uma entrevista ao apresentador Serginho Groisman, que define a trupe como um“grupo que mistura a música e o circo de maneira espetacular”, e ao seu público noprograma “Altas Horas”. Termino, então, este capítulo sobre a história do grupocitando a fala de um de seus fãs no “Jornal Hoje”. Para ele, “O Teatro Mágico é vida,não é revolução, não é política, é vida. É acreditar no ser humano”(http://www.youtube.com/watch?v=GshS8wnRTd8).14


3. O TEATRO MÁGICO E AS IDENTIDADESAtualmente, a questão da formação de identidade está sendo muito discutida,também fala-se sobre “crise de identidade”, ou seja, como está se dando a mudançados processos de construção das identidades contemporâneas, o que está alterandoa forma como o indivíduo interage com o mundo. Partindo da idéia da formação daidentidade cultural no mundo pós-moderno regido pelo sistema capitalista, creio queseja válido ilustrar a questão da analisando as principais características das obrasdo grupo “O Teatro Mágico”, que age na cena artística musical de formaindependente, sem se voltar totalmente para o mercado artístico convencional e,assim, prefere tornar a sua arte acessível para todos por meio da internet.A identidade de cada um forma-se a partir da sua interação com a sociedadee com a cultura em que está inserido, seja em nível étnico, racial, religioso enacional. Contudo, hoje em dia as identidades estão se formando de forma cada vezmais fragmentada em razão do processo de globalização. À medida que asociedade sofre transformações em sua estrutura por causa da globalização, asidentidades pessoais também se alteram, são muitas ideias e informações que nosformam como sujeitos. Podemos dizer que a identidade também é efêmera,configurando-se, assim, a tal “crise de identidade” citada por Hall (2001). ParaWoodward (2005), essa crise de identidade se dá porque a vida moderna “exige queassumamos diferentes identidades, mas essas diferentes identidades podem estarem conflito” (2005, p. 31). Trago um trecho de uma composição d‟O Teatro Mágicomostrando a questão do conflito de identidade. Ela traz o exemplo de uma senhoraque tem sua identidade formada culturalmente pelo meio em que viveu e que vemsofrendo transformações em seu modo de pensar e entender o mundo devido àmodernidade.Ah eu tenho fé em Deus... né?Tudo que eu peço ele me ouci... né?Aí quando eu to com algum pobrema eu digo:Meu Deus! me ajuda que eu to com esse problema!Aí eu peço muito a Deus... aí eu fecho meus olhos... né?E Deus me ouci na hora que eu peço pra ele, né?Eu desejo ir embora um dia pra RecifeNão vou porque tenho medo de avião, de torro...de torroristoAí eu tenho medo, né?Corra tudo bem... se Deus quiser... se deus quiser... (Teatro Mágico, 2003)15


Nesse trecho da música “Zazulejo”, composta por Anitelli, a mulher fala dasua fé em Deus, que se contrapõe com os fatos da atualidade. É uma falaextremamente rica, pois mostra a cultura “esquecida” em contraste com a cultura“hoje valorizada”, revelando a formação de identidade de tal personagem. Trata-sede uma mulher pobre, do Nordeste, portanto alguém que encarna e testemunha todoo processo de migração dentro do país, alguém que vem de uma áreaprovavelmente rural para viver (ou sobreviver) no centro caótico da urbanidade.Nota-se também a importância que a experiência religiosa tem para essepersonagem. Terminando a música, o autor nos faz pensar a respeito do que é certoou errado, já que o certo e errado foram criados por nós mesmos, assim como aforma de levarmos a vida. Um dos temas desta canção é, portanto, o do preconceitosocial, regional e linguístico. A voz do cantor, o eu-lírico comenta:Mas quando alguém te disser tá errado ou erradaQue não vai S na cebola e não vai S em felizQue o X pode ter som de Z e o CH pode ter som de XAcredito que errado é aquele que fala correto e não vive o que diz"E eu sou uma pessoa muito divertida...eles não inventavam nada... eu gostava de inventar as coisanão sei falar direito...inventar uma piada, inventar uma palavra, inventa uma brincadeira...não sei falarme da um golinho... me da um golinho...” (Teatro Mágico, 2003)Vivemos na era chamada pós-moderna, isto é, um período em que o projetoda modernidade passa por sua pior crise, talvez sua crise final. Como sujeitos,constituímos a nossa identidade a partir de todo um processo histórico e social quevivemos. Ora, a identidade é mutável, ela se transforma conforme amadurecemos einteragimos com o mundo, conforme interpretamos e somos interpretados. Criamosdiferentes identidades, ou seja, diferentes roupagens para agir coerentemente comos diversos círculos de convivência aos quais temos acesso. Para Woodward, “osindivíduos vivem no interior de um grande numero de diferentes instituições, queconstituem aquilo que Pierre Bourdieu chama de „campos sociais‟, tais como asfamílias, os grupos de colegas, as instituições educacionais, os grupos de trabalhoou partidos políticos” (Woodward, 2005, p. 30), e assim criamos uma maneira quejulgamos adequada para agir conforme o grupo com o qual estamos nosrelacionando no momento. Trago aqui uma canção d‟O Teatro Mágico, curiosamente16


intitulada “(!)”, falando sobre essas diferentes identidades que assumimosdiariamente:Quanta mudança alcançaO nosso ser posso ser assim daqui a pouco nãoQuanta mudança alcançaO nosso ser posso ser assim daqui a pouco (!).Vivendo em constantes transformações, a sociedade atual segue as principaistendências de cada geração e desconstrói valores culturais que anteriormentetinham caráter transcendental. Sendo assim, os sujeitos da atualidade formam suasidentidades de maneira fragmentada, algumas vezes manipuladas, enfim sãoidentidades globalizadas, inseridas no contexto pós-moderno. Essa “pluralização deidentidades” é formada ao longo da vida do sujeito inconscientemente por meio desuas vivências, suas experiências e relacionamentos, e ainda por meio dalinguagem, que é de grande importância para a comunicação e a formação deidéias, ideologias e identidades. As identidades não são mais formadas somente apartir da cultura local, na modernidade, “os lugares permanecem fixos; é neles quetemos „raízes‟. Entretanto, o espaço pode ser “cruzado” num piscar de olhos – poravião a jato, por fax ou por satélite” (Hall, 2005, p. 72-73).A globalização nos permite a interconexão com o mundo, logo tem um papelfundamental na formação de identidades híbridas, já que nos formamos a partir devários contextos culturais aos quais temos acesso e conhecimento. A partir desseconhecimento, criamos nossas próprias identidades, que já não correspondemsomente a tempo, lugar, história e tradições culturais, mas também ao mercadoglobal e à vida social do presente, como afirma Woodward quando diz que “aglobalização envolve uma interação entre fatores econômicos e culturais, causandomudanças nos padrões de produção e consumo, as quais por sua vez, produzemidentidades novas e globalizadas” (2005, p. 20).As identidades são formadas ao longo da vida, com a interação do outro eainda sofrendo influência dos meios educacionais e artísticos, como a literatura, amúsica, enfim, a arte, que pode também ser trada como parte de movimentoshistóricos e sociais. O grupo “O Teatro Mágico” se utiliza de diversas linguagensartísticas e traz ao seu público provocações para a reflexão sobre a reprodutibilidademassiva dos “produtos artísticos”, sobre o que gostamos ou não e ainda sobre comonos formamos sujeitos críticos perante o que nos é imposto pela mídia.17


A massificação de “produtos culturais” é um dado inegável dessasociedade em que os produtos colocados à venda seguem o “gosto domercado” mais que o “gosto popular”. Na verdade, o povo, transformadoem massa, é também o mercado onde serão divulgados e vendidos essesartigos. (Ostetto e Leite, 2004, p. 48).Discutindo a formação de identidade no mundo moderno e capitalista,referindo-me à massificação do mercado, trago Woodward propondo que atualmenteacontece uma certa massificação cultural de gostos e identidades, que passam delocal, ou seja, a cultura de determinado lugar, a cultura global, influenciada pelamídia e pelo comércio. Para a autora:A homogeneidade cultural promovida pelo mercado global pode levar aodistanciamento da identidade relativamente à comunidade e à cultura local.De forma alternativa, pode levar a uma resistência que pode fortalecer ereafirmar algumas identidades nacionais e locais ou levar ao surgimento denovas posições de identidades. (Woodward, 2005, p. 21)O trabalho d‟O Teatro Mágico se diferencia do da maioria dos artistas emúsicos atuais pela utilização da internet e pela disponibilização gratuita de suascanções, fazendo questionar as leis do mercado fonográfico e estimulando seupúblico a pensar e refletir ainda mais sobre seu trabalho e sobre os temas discutidosneles. Para Luciana Ostetto e Maria Isabel Leite, o gosto por algo está muito ligado àcultura de massa imposta pela indústria, pois “o gosto não é natural, estamosfalando de uma sociedade capitalista, uma sociedade massificada, que produzcultura de massa” (Ostetto e Leite, 2004, p. 48). Acredito que a atuação da trupe nacena musical atual surge como um incentivo para pensar a respeito do que nos éimposto, provocando-nos a resistir a essa massificação cultural, ou pelo menos anos questionarmos como sujeitos em formação, prestando mais atenção a quemsomos e quem queremos ser.Walter Benjamin nos traz a questão da reprodução massiva e técnica dasobras de arte, aqui em específico a música, fazendo-nos pensar a respeito de comoessa reprodutibilidade técnica e massiva desvaloriza de certa maneira a poética daobra, a sua trajetória de existência, a sua vida, e o seu “aqui e agora” (Benjamin,1994, p. 168). Ele fala do verdadeiro valor da arte e da importância da suaacessibilidade para a formação de bagagens artísticas e culturais dos sujeitos.Entretanto, o mesmo autor reconhece que é por meio da reprodutibilidade que a18


identidades que formam a nossa identidade, trago um trecho de uma obra d‟OTeatro Mágico, intitulada com o mesmo nome do grupo:O teatro mágico é o teatro do nosso interiorA história que contamos todos os diasE ainda não nos demos contaAs escolhas que fazemos em busca dos melhores atos,Dos melhores sabores,Das melhores melodias e dos melhores personagensQue nos compõem,As peças que encenamos e aquelas que nos encerramNosso roteiro imaginário é a maneira improvisadaDe viver a vidaDe sobreviver o dia, de ressaltar os tombos e relançar as idéias,O teatro nosso de cada diaPara o grupo, a identidade também parece se formar de maneirafragmentada, o que somos hoje pode não ser igual ao que seremos amanhã, comoafirma Brait ao citar Bakthin e Medvedev, dizendo que “a criação ideológica nãoexiste em nós, mas entre nós” (2001, p. 77). É o que o autor chama de “dialogismoentre sujeitos e sociedades” (idem, p. 78), que o mundo globalizado nos impõe,sugerindo que as fronteiras sejam ultrapassadas, como diz Hall, citando McGrew(1992):A “globalização” se refere àqueles processos, atuantes numa escala global,que atravessam fronteiras nacionais, interagindo e conectandocomunidades e organizações em novas combinações de espaço-tempo,tornando o mundo, em realidade e em experiência, mais interconectado.(MecGrew apud Hall, 2005, p. 67)Logo surge a necessidade de aceitar e pensar no que para nós é diferente.Para Woodward “[a]s identidades são fabricadas por meio da marcação da diferença(...). A identidade, pois, não é o oposto da diferença: a identidade depende dadiferença” (2005, p.39-40). Somente através do que é diferente é que aprendemos onovo, classificando assim o que é mais importante para fazer significado à nossaparticularidade, construindo nossa identidade e ideologia. Os modos de pensardivergentes são constantes no mundo atual, colocando em diálogo a formação deidentidade por meio da cultura local e étnica, assim como por meio da culturamassiva da globalização. Para Woodward o tempo, ou seja, a época e o modo depensar da sociedade influenciam na formação do homem como sujeito:As identidades são produzidas em momentos particulares no tempo. Nadiscussão sobre mudanças globais, identidades nacionais e étnicasressurgentes e renegociadas e sobre os desafios dos “novos movimentossociais”e das novas definições das identidades pessoais e sexuais, surgeri21


que as identidades são contingentes, emergindo em momentos históricos eparticulares. (Woodward, 2005, p. 38)Pensando nesse dialogismo, nos valores culturais na formação de identidade,trago Barros citando o dialogismo interacional de Bakhtin, dizendo que o “sujeito,que perde o papel de centro ao ser substituído por diferentes vozes sociais quefazem dele um sujeito histórico e ideológico” (2001, p. 28). Aqui é válido ilustrar comeste trecho de uma canção da trupe, “A primeira semana”, falando sobre as nossasescolhas e de como nós criamos historicamente as leis sociais vivenciadas hoje.Criou o perdão e o pecadoCriou a dor e o prazerCriamos o certo e o erradoE o orgulho pra nos esconderDo que prevalece em nós...Encerro este capítulo fazendo refletir sobre quem somos, o que nos influenciae como vivemos e pensamos o mundo. Pensando no que “prevalece em nós”,procurando compreender e reavaliar o que selecionamos para a nossa bagagemcultural de identidade, para nos tornarmos sujeitos cada vez melhores, temos de sernós mesmos. Ilustro aqui com um último trecho d‟O Teatro Mágico na música“Camarada d‟água‟, o qual acredito ser a melhor forma de pensar em quemrealmente sou:Viva a tua maneiraNão perca a estribeiraSaiba do teu valor22


4. O TEATRO MÁGICO E AS MÍDIASHoje a sociedade pós-moderna vive em um ritmo acelerado, são muitasquestões postas à mesa de maneira simultânea. Vivendo numa era globalizada,temos acesso a muitas informações, o que resulta numa luta de valores, identidadese crenças dentro de nós. Para Santaella, a internet ampliou o “poder de referênciado termo „mídias‟ que, desde então, passou a se referir a quaisquer tipos de meiosde comunicação” (Santaella apud Prado, 2002, p. 45), incluindo os programas quenos auxiliam para tais comunicações. Para a autora, a mídia e a cultura caminhamjuntas, já fazem parte do nosso modo de viver e aceitar o mundo, para ela “é acultura como um todo que a cultura das mídias tende a colocar em movimento,acelerando o tráfego entre suas múltiplas formas, níveis, setores, tempos e espaços”(Santaella apud Prado, 2002, p. 49).Falando sobre mídias, trago Neto, lembrando que o Rádio “foi a primeiramídia eletrônica do Brasil” (1998, p. 2) e a internet surgiu apenas na década de 90no Brasil, mais precisamente em 1995 (1998, p. 89). Para o autor, “com a internet, omundo se tornou uma comunidade multicultural. A grande verdade é que a websuprimiu a questão das fronteiras e da distância entre os continentes” (Neto, 1998, p.90), hoje ela torna o mundo globalizado e faz parte do dia a dia da maioria daspessoas. Segundo Santaella citando McLuah, “os meios de comunicação moldam aorganização social porque são estruturadores das relações espaço-temporais àsquais o pensamento e sensibilidade do ser humano se conformam” (2001, p. 64). Acomunicação de tempos atrás, feita somente por telefone e televisão, torna-se hojeinterativa por meio da internet. Agora os sujeitos têm a oportunidade de exprimir oque sentem, como pensam, quais são seus ideais, enfim, exprimem o que querempara todo o mundo em apenas alguns segundos. Com o avanço da internet, “[a] vidacomum transforma-se em algo espetacular, compartilhada por milhões de olhospotenciais” (Lemos apud Prado, 2002, p. 114).O Teatro Mágico, como grupo ou “trupe” musical atuantecontemporaneamente no mundo artístico, se provê da internet como principalveículo de divulgação, além dos demais, como a televisão, por exemplo. E assim,como toda boa arte, também influencia na formação de identidades, como foi23


discutido no capítulo anterior. Dessa forma, denominam-se como um grupo de MPB(Música Popular Brasileira) e criaram o movimento denominado Nova MPB (Músicapara Baixar), o que torna o trabalho deles contestador, indo contra as mídiascomerciais tradicionais que temos hoje. Para Anitelli, em uma entrevista para arevista (on line) Fórum em novembro de 2009:As mídias comerciais tradicionais vivem querendo criar novos talentos,novos sucessos. Por isso, um monte de gente se tranca em uma casa ounum sítio e sai de lá artista, achando que é uma pessoa representativa. Éporra nenhuma! Não traz nada de debate, não contribui com nada. O artistaautônomo é outra coisa, ele traz consigo o debate. É militante. Não souartista, sou militante da música. A gente tem que pensar assim, até porqueo artista já começa a ter um significado pejorativo hoje.Defendendo a bandeira da Música Livre, música sem “Jabá” (expressãoutilizada para a música comercial paga), Anitelli e sua trupe começaram e continuama agir de forma independente na cena musical. Para eles, “jabá é crime e queninguém deve pagar isso, nem a gravadora nem o artista” (Anitelli em entrevista àRevista Fórum, 2009). A internet serve, então, para a divulgação gratuita dostrabalhos da trupe. Essa ferramenta de comunicação existe e é muito forte nos diasde hoje, concorrente forte da televisão, já que disponibiliza também programas devídeos como o Youtube, no qual é possível assistir a vários conteúdos, aquiespecificando a música, a qualquer hora.Aqui no Brasil e no mundo, uma das emissoras de conteúdo musical maisforte é a MTV, que promove intensamente a influência da internet nostelespectadores, tendo de inovar sempre seus programas e quadros para sustentarseu índice no Ibope, e é forte influente também na formação de identidades e gostosmusicais das massas, já que transmite o que bem entende e lhe convém. Anitelli, namesma entrevista à Revista Fórum em 2009 critica um programa da MTV, o VMB,que, segundo ele, “como a festa da música brasileira, podia se chamar a “festa dojabá nacional”. Anitelli continua sua crítica dizendo que não participaria de umprograma onde “os melhores artistas do ano” são empresariados pela mesmapessoa, “é uma festa para promover pessoas que não fazem diferença nenhuma namúsica brasileira”. Anitelli segue destacando que existem também bons artistas quefazem parte desse mercado, mas salienta que “hoje em dia todo o mecanismo decomunicação que você precisa está às mãos. O grande segredo é não parar deproduzir” (Anitelli, 2009).24


O Teatro Mágico continua a produzir as suas músicas assim, de forma livre esocializada. Na internet, contam com vários sites de relacionamentos como oYoutube, o Orkut, o Facebook, o Twitter, entre outros, além do site oficial da trupe edos sites de músicas para baixar como o palco mp3 do Terra. Sua principal mídia dedivulgação é, então, a internet ou o ciberespaço, que segundo Lemos “fez com quequalquer um possa não só ser consumidor, mas também produtor de informação,emissor” (Lemos apud Prado, 2002, p. 114). Com a utilização da internet, valeressaltar que a socialização de bens culturais e artísticos fica mais acessível atodos. Para Neto, é tão grande essa socialização, que outros meios de comunicaçãotambém se fundem a ela. Segundo o autor:O movimento é histórico; o poder de comunicar palavras, imagens, sons,vídeos, já não se limita a quem possui gráficas, emissoras de televisão oude rádio. Hoje sabemos que o baixo custo e grande alcance da Internetestão levando a televisão, o rádio, o jornal e a revista para a rede. (Neto,1998, p. 90)Com a globalização, as mídias de difusão cultural e artísticas também setornam comunicadoras entre si. Para Santaella, “uma mesma informação passa deuma mídia a outra, distribuindo-se em aparições diferenciadas: partindo do rádio etelevisão, continua nos jornais, repete-se nas revistas, podendo virar documentáriotelevisivo e até filme ou mesmo livro” (Santaella apud Prado, 2002, p. 49). Essediálogo entre as mídias favorece de certa maneira bandas independentes como OTeatro Mágico, afinal, se na internet existe uma grande procura por determinadogrupo, consequentemente outras mídias como a televisão, por exemplo, tornarão aexibir de outra maneira o produto solicitado, como foi o caso da aparição da trupeem uma novela da Rede Globo em horário nobre. Santaella ainda ressalta que osmeios de comunicação trazem a socialização cultural “de modo que o advento decada novo meio de comunicação traz consigo um ciclo cultural que lhe é próprio”(Santaella apud Prado, 2002, p. 46).Apesar de as mídias favorecerem a socialização cultural, elas também agemde acordo com o sistema capitalista, visando aos índices do Ibope, lucros e vendas,atraindo consumidores, fazendo girar a moeda, podendo-se dizer que hoje essesmeios também agem como formadores de opinião e identidades. A televisão, porexemplo, traz em sua linguagem os comerciais, incentivando o telespectador aoconsumismo, ou seja, a colaborar com o sistema capitalista dominante na25


atualidade. Na internet não acontece diferente, são muitos sites de compras evendas, além das propagandas expostas em todos os sites “gratuitos”. Santaella nosalerta sobre essa característica das mídias e do ciberespaço, assim como Netotambém traz sua contribuição para esse alerta:E Neto também comenta:[...] longe de estar emergindo como um reino de algum modo inocente, ociberespaço e suas experiências virtuais vêm sendo produzidos pelocapitalismo contemporâneo e estão necessariamente impregnados dasformas culturais e paradigmas que são próprias do capitalismo global.(Santaella apud Prado, 2002, p. 55)Hoje, já é possível comprar quase de tudo e mais um pouco na rede. Aslojas virtuais estão se multiplicando, sinalizando que a web será umexcelente canal para promover negócios, efetuar vendas e gerar lucrofinanceiro.(...) Com a possibilidade de transações comerciais pela Internet,as fronteiras desapareceram, acirrando cada vez mais a competitividademundial. (Neto, 1998, p. 95)Por outro lado, Santaella nos faz refletir sobre o ciberespaço como um ótimomeio e uma boa maneira de debate e pensamentos críticos ao que nos rodeia, afinalela:Permitem que uma pletora de vozes sejam ouvidas pelo mundo por umcusto mínimo. Isso dá às redes uma constituição comunicativamenterevolucionária da qual um número incontável de organizações culturais,artísticas, políticas e sociais está tirando vantagem e sem a qual essasorganizações estariam marginalizadas ou silenciadas. (apud Prado p. 55)Se na era global temos a oportunidade de nos expressarmos com maisfacilidade por meio de computadores, a televisão também traz seu lado positivo.Para Neto, a televisão como meio de comunicação “possui um grande envolvimentocom a sociedade. Tudo o que aparece na televisão tem alto poder de exposição,tornando-a uma „janela do mundo‟, exibindo em sua tela o que está difundido nasociedade” (1998, p. 6). Entretanto, temos de pensar a respeito do que vemos e doperigo a que expomos nossas relações sociais ao tomarmos como exemplo paranossas vidas o que passa nos meios de comunicação em massa, como alertaSantaella quando diz que “quanto mais as transformações tecnológicas aceleramseu rítmo, mais as atividades humanas se reduzem à inércia, substituídas que sãopelos aparelhos que levam à perda da sensação da duração, da vida corporal esocial” (Santaella, 2001, p. 69).26


Essa composição de um panorama internacional pluricultural foiintensificado, especialmente nos países centrais, a consciência dasalteridades culturais, da existência do outro na sua outridade. Graças abancos de dados cada vez mais potentes, a memória cultural dahumanidade começou a se acumular e se tornar cada vez mais acessível.(...) a cultura do disponível começou a contaminar a cultura de massa como vírus da personalização comunicativa do qual esta jamais se livraria.(Santaella, 2001, p. 67).Como foi dito anteriormente, a trupe d‟O Teatro Mágico, buscando diferenciarseu trabalho, trazendo à tona a reflexão sobre o modo de se produzir cultura e de seexpressar artisticamente, se utiliza da internet como seu principal veículo midiático ede sobrevivência na era global capitalista. Eduardo E.S.Prado em seu site faz umabreve esclarecimento do modo de sobrevivência do grupo:Enquanto músicos e gravadoras do mundo todo reclamam dos prejuízoscausados pela troca de arquivos na internet e pela cópia de CDs e DVDs,o Teatro Mágico usa isso a seu favor. É assim que o trabalho deles édivulgado e mais e mais fãs se somam aos já existentes. O grosso dofaturamento vem dos shows, sempre sucessos de público, e da vendadireta (na lojinha do site ou nas apresentações do grupo) de cds, dvds eartigos como camisetas.(Prado, 2010)É através desse meio que a trupe se comunica com o seu público, tornandomais viável a comunicação entre fãs e artistas. Em uma entrevista a um blog,Fernando Anitelli traz a visão da trupe perante o público que busca alcançar, e aindaqual a responsabilidade, digo aqui como artistas que visam em relação ao mesmo:Poxa, a gente sente o peso dessa responsabilidade, a gente sente a cadadia que passa, a cada momento que aumenta o número de pessoas quenos acompanham no Twitter, nos acompanham nas comunidades, onúmero de pessoas que começam a aparecer nas apresentações… E eusempre disse que o artista tem uma responsabilidade social, ele não podeachar que circular de maneira colorida e entreter está de bom tamanho.Isso não nos cabe e não nos serve, a gente não quer isso, a gente querjustamente trazer esse debate, certas colocações, algumas críticas. Tudo oque a gente sempre fez foi junto ao público, o público sempre participou eaté hoje é cada vez maior a participação dele de uma maneira colaborativajunto com o Teatro Mágico. É o público que alimenta o site com fotos,vídeos, textos, é o público que nos ajuda a arrumar lugares para a gentetocar. Nas comunidades, a gente vai e pergunta “sabe de algum lugar?”. Opúblico dá ideia, indica. Então essa maneira de se fazer música, de setrabalhar música e se comercializar inclusive… todo nosso conteúdo foisempre gratuito, você consegue tudo de graça na Internet, na rede, ou por5 reais no saquinho, 10 reais na caixinha e 15 reais o DVD, todas aspossibilidades para a pessoa ter acesso ao nosso material. Então é dentrodesse “case”, dessa vivência, dessa experiência que a gente passa para opúblico essa experimentação, essa vontade de fazer as coisas junto. Tudoo que é feito de uma maneira colaborativa nos surpreende no resultadofinal. (Vianna, 2010).27


A partir dos breves esclarecimentos sobre as mídias e sobre a forma desocialização cultural e de bens artísticos, podemos perceber como é feito o trabalhode artistas independente, não deixando de usufruir dos meios de comunicação, jáque esses fazem parte da nossa cultura atual, que Santaella chamaria de “culturamidiática” ou ainda, referindo-se a uma sociedade “cibercultural”, na qual a utilizaçãodesses elementos torna-se indispensável na nossa formação cultural como sujeitosglobalizados. A trupe vem na era da internet, mas se põe contra a indústria cultural,utilizando-se desse meio para expressar sua arte, tornando-a mais acessível atodos, usando a internet de maneira crítica e consciente como um meio desobrevivência do grupo e de socialização de ideias.28


5. LINGUAGENS ARTÍSTICAS“Linguagem é a faculdade que temos de representar” TurinDesde a pré-história o homem vem tentando expressar sua vida, seussentimentos, seu cotidiano por meio de diversas linguagens artísticas e técnicas.Passando por vários períodos e fatos históricos, culturais e sociais, o ser humano,“fazendo arte”, sempre se preocupou em representar de alguma forma seus valores.Para ilustrar essa afirmação, podemos citar o quadro de Manet, “Almoço na Relva”(anexo A), no qual é retratada uma cena cotidiana do século XIX. Podemos aindafazer um paralelo com a obra de Picasso intitulada “Guernica” (anexo B), onde oartista representa, além do fato histórico, a dor sofrida pelas pessoas que habitavamGuernica, cidade bombardeada. Se compararmos essa obra com a de Manet, acimacitada, é possível perceber o quanto nos envolvemos com os sentimentos trazidospelas imagens com as quais temos contato. Além das imagens, nos dias atuaistemos também a música, o teatro e a dança, que também podem nos fazer pensar esentir. A arte não está somente em museus, galerias e espaços específicos; a arteestá nas ruas, na internet, na música, no cinema, enfim, hoje a arte vai muito alémdo academicismo plástico.Nós sabemos que não precisaríamos entrar em museus para visitarexposições de fotos de guerra, ou folhear os jornais diariamente, para verretratos da dor, basta olhas para a calçada, seja da janela do nosso carroou da rápida caminhada pelas calçadas das grandes cidades no mundo,que nos deparamos frequentemente com estas cenas. (Vitelli, 2003, p. 34)Nos dias de hoje, encontramos à nossa volta as mais diversas imagens eproduções artísticas que possuem significado, expressam sentimentos, comunicammensagens, etc. Tais idéias muitas vezes não são devidamente assimiladas por nós,espectadores, afinal vivemos em meio a um bombardeio de informações. Logo, aarte vem nos instigar a refletir sobre essas mesmas cenas cotidianas e ainda sobreas produções artísticas e culturais que se tornam parte de nossa bagagem cultural.A trupe d‟O Teatro Mágico defende a arte independente, a música livre e quedeve ser acessada por todos, independentemente da classe social ou da raça, coretnia, afinal a arte é um bem universal e deveria ser acessível a todos.29


Ao vermos a apresentação d‟O Teatro Mágico ou os DVDs da trupe, podemosobservar que trata-se de um grande sarau, com muito teatro, dança, poesia emúsica. A trupe se utiliza de diversas linguagens artísticas em suas apresentações.O palhaço é um dos personagens principais, caracterizado por Anitelli e pelosdemais artistas. No decorrer das apresentações surge um mundo mágico, combailarinas, malabaristas e palhaços interpretando canções e poemas em sincroniacom a música. O conjunto forma um verdadeiro espetáculo artístico em que públicoe artistas se fundem em uma só voz. O público interage com o grupo,caracterizando-se como “personagem-palhaço” também, colaborando com aperformance e ressignificando o trabalho do grupo.Falando sobre as linguagens artísticas utilizadas pelo grupo, creio que sejaválido esclarecer um pouco sobre cada uma delas. Começo, então, pela linguagemdo teatro. O teatro nacional começou a se desenvolver de forma tardia,aproximadamente 20 anos após a Semana da Arte Moderna de 1922, quando,segundo Cacciaglia, chegou ao Brasil o diretor polonês Zbigniew Ziembinski e trouxeconsigo contribuições de grande importância para o teatro atual brasileiro.O polonês revelou o simbolismo, o expressionismo, os cenários sintéticos,a importância do som e da luz, os ritmos da dança e da mímica, as últimasinovações dos teatros alemão e russo, o teatro totalmente naturalista.(Cacciaglia, 1986, p. 107)Segundo Carlson, “[n]os anos 80, a intensa preocupação da teoria semióticacom o papel da platéia envolveu naturalmente uma atenção maior aoposicionamento social, cultural e político do evento teatral como um todo” (1997, p.503). Na história do teatro Brasileiro, um dos grandes nomes que acredito ser válidorelembrar é o do diretor Nelson Rodrigues, quando “voltou sua atenção também paraa triste realidade dos subúrbios cariocas, representada pelos mitos popularesalimentados pela imprensa marrom, pelo rádio e pela televisão”. (Cacciaglia, 1986,p. 109), discutindo temas sociais e fazendo as pessoas pensarem a respeito de tudoque as rodeava.Entrando no tema de teatro popular, trago Garcia afirmando que o teatropopular, feito a princípio por trabalhadores, também conhecido como “teatro de rua”,trouxe questionamentos a respeito da arte e suas concepções.A presença de uma “massa” de operários sem acesso à produção artísticaestimulou a reflexão sobre a arte, em especial o teatro, enquanto meio pelo30


qual se poderia mobilizar os trabalhadores e fazer avançar a lutarevolucionária” (Garcia, 2004, p. 3)Movimentos como o do teatro popular ocorreram antes em paísesdesenvolvidos como a Alemanha, por exemplo. Segundo Garcia, surgiu nesse paísum grupo intitulado Agritop, cujo intuito era de fazer oposição e resistência política, eno Brasil ele surgiu como um grupo que pensava politicamente, “contaminada poruma vanguarda militante e inovadora” (Garcia, 2004, p. 207), com pensamentossocialistas, mas trazendo consigo “a marca de uma outra tendência política, de raizibérica e italiana, e de um padrão muito mais tradicional de produção artística” (idem,p. 208).Em comparação com essas contribuições à nossa história teatral, analiso otrabalho do Teatro Mágico em um de seus DVDs. Logo no início podemos observara preocupação da trupe com a arte e alguns aspectos do teatro, com a iluminaçãodo palco e com a performance de entrada dos músicos, atores, dançarinos.Personagens são interpretados, roupas e figurinos, tudo é pensado para o grandeespetáculo. Fernando Anitelli, com ironia e entusiasmo, começa o show convidandoo público ao espetáculo, como se estivesse em uma arena de circo: “Senhoras eSenhores, respeitável público pagão... bem-vindos ao Teatro Mágico”. Em seguida,ele começa uma canção em que o trecho principal diz: “Por que é que não se juntatudo numa coisa só”. Nesse momento, surgem no palco os mais variadospersonagens: malabaristas, flautistas, cuspidores de fogo, enfim músicos e outrosartistas caracterizados de palhaço, tocando e dançando ao mesmo ritmo com opúblico, que parece tomado por uma grande emoção, alguns se caracterizandocomo a trupe, embalados pela harmonia e pela energia que toma conta do lugar.Em outra composição, “O Catador de Papelão”, ocorre uma encenação, emque o personagem tema, o catador de papelão, usa uma máscara neutra e um sacode plástico (de lixo) como objeto cênico. Segundo Costa, no teatro a máscara neutrapermite que o ator relacione-se “com o mundo sob a perspectiva de um outro ser, ese opera na fronteira entre o perigo e o aconchego” (Costa, 2005, p. 34). Ele passa aser um corpo sem rosto que se expressa e tem vida, se identifica ainda mais com aspessoas e se relaciona de forma instantânea com os objetos, que por sua vezganham um maior destaque na cena. No teatro, com a utilização da máscara, o ator31


precisa se expressar por meio do seu corpo, buscando um tempo de atuaçãoperfeito, improvisando e lidando com as reações do seu público.O jogo com a máscara requer, antes de tudo a investigação corporal. Aosubtrair o sistema de expressão do rosto, desvela-se o corpo que torna aferramenta da tessitura gestual no espaço. (Costa, 2005, p. 29)Na mesma canção existem outros personagens, mas foco duas emespecífico, duas mulheres lendo jornal e olhando a cena do catador de papelão, oque parece sugerir a mensagem de que “o que lemos nos jornais todos os dias estáà nossa volta e nem ao menos prestamos atenção”. São tais as linguagens teatraisutilizadas nas apresentações d‟O Teatro Mágico, todas regadas pelas letras dascanções e pela melodia, com muita mímica e expressões corporais e circenses.Falando, ainda, sobre o teatro, trago a questão do circo-teatro. O circo,segundo Paulo Ricardo Merisio em seu artigo intitulado “Influências da indústriacultural no universo circense teatral na década de 1970”, explana sobre asmudanças ocorridas na linguagem circense ao longo do século XX (2001). Eleexplana que o circo traz elementos tradicionais passados de pai para filho, como osmalabaristas, os palhaços e os trapezistas. Entretanto, com as mudanças sociais eculturais, o circo não pode se ater somente a essas heranças tradicionais, mas abriusuas portas às peças teatrais. Segundo Merisio, os “momentos de crise,determinados quase sempre pelo afastamento do público, tendem a gerar mudançasna estrutura de seus espetáculos, que se abrem então para a absorção de novoselementos” (Merisio, 2010). Merisio ainda nos fala sobre como a economiainfluenciou essas mudanças, citando Duarte:O espetáculo tradicional 3 de circo, assentado nas variedades (acrobatas,palhaços e malabaristas), era apresentado na primeira parte, e, nasegunda, podia-se assistir às peças. Essa fórmula permitia às companhiascerta economia na estrutura do espetáculo, que excluía números maisdispendiosos, “tais como a apresentação de animais, motivo de gastosenormes para as companhias dados os custos de sua aquisição,alimentação e cuidados especiais”. (Duarte, 1995 apud Merisio, 2010)Além dos fatores acima mencionados, Merisio cita mais dois fatores quealteraram significativamente arte produzida pelo circo-teatro:O primeiro se refere à migração da população rural para as grandescidades brasileiras (principalmente nas décadas de 1960 e 1970) e trazconsigo uma persistente gama de costumes que deveriam manter-seincorporados ao cotidiano citadino.32


O segundo fator de ordem mais ampla a influenciar fortementetransformações no circo-teatro está ligado à ampliação da rede dos meiosde comunicação, que tende a cumprir dominantemente o papel inverso,levando para o interior o universo das grandes cidades. (Merisio, 2001)Maria Lúcia Montes (apud Merisio, 2001) nos traz uma breve reflexão sobre oque é o circo e como ele se constituiu como circo-teatro no decorrer dos tempos,lembrando ainda que hoje em dia alguns circos incluem em seus espetáculosperformances e peças musicais:O circo é antes de tudo arte profissional de palhaços, acrobatas edomadores, mas essa arte, em testemunho de seus próprios produtores,se acha em decadência e o desdobramento da segunda parte doespetáculo, a comédia ou o drama, que convivia com a arte do picadeiro,acabou quase que por eliminá-la do espetáculo, dando origem aos circosteatrosque se especializam unicamente nesta forma de apresentação.Isto aliado à introdução no circo dos cantores de música sertaneja, muitasvezes eles próprios autores de dramas e comédias, é considerado poralguns artistas circenses como a causa da decadência do circo, enquantooutros vêem aí o único caminho para a salvação. O fato é que aconivência entre a arte tradicional do circo e a cultura dos meios decomunicação de massa é complexa e delicada. Como espetáculopropriamente dito e como forma de entretenimento, o circo se acha maispróximo dos produtos da indústria cultural, mas apresenta uma versãoprópria destes no chanchar de um texto ou na paródia de um programa desucesso na tevê. A produção deste espetáculo passa por uma rede queatravessa seletivamente os meios de comunicação de massa e competecom eles por um público acostumado a programas que vão de Zé Betio acantores de música sertaneja, de Barros de Alencar ao Clube dos Artistas,passando por cantores e comediantes, que depois de firmada a suareputação no circo podem ir depois para a tevê, nada excluindo quevoltem ao circo para apresentações esporádicas. (Montes, 1978 apudMerisio, 2001)Sobre a linguagem da música, trago indagações sobre o seu real valor,citando Swanwick quando diz que “todos nós temos bens a negociar com os outrose somos parte de um sistema de mercado, somos parte da vida” (2004, p. 18).Olhando a música como um bem negociável, o autor nos propõe a possibilidade daressignificação musical do sujeito que escuta a canção, da troca que existe entre elae o seu ouvinte. Para o autor, a música pode ser vista como uma antiga forma dediscurso, “um meio no qual as idéias acerca de nós mesmos e dos outros sãoarticulados (sic) em formas sonoras” (2004, p. 19). Logo, a música toma um papelmuito importante em nossas vidas, ela tem a capacidade de nos fazer refletir ecompreender melhor o mundo e nós mesmos.A música faz parte da nossa vida, do nosso sistema cognitivo, “é um caminhode conhecimento, de pensamento, de sentimento” (Swanwick, 2004, p. 23) e, assimcomo as outras artes, desenvolve e possibilita a imaginação, a socialização de33


aprendizados, a relação que da música com o mundo, o despertar de nossossentimentos. É por meio de metáforas que nos relacionamos com a arte, e é nesseprocesso que temos a possibilidade de ver as coisas e pensá-las de forma diferente,de forma pessoal e de acordo com nossas bagagens culturais e de aprendizadosque formamos ao longo da vida e que nos constitui como sujeitos. É a partir dessesconhecimentos prévios que reconhecemos formas e as associamos às linguagens.É a partir das semelhanças entre as coisas que aprendemos a formar opensamento metafórico, “o processo metafórico reside no coração da ação criativa,capacitando-nos a abrir novas fronteiras, tornando possível para nós reconstruiridéias, ver as coisas de forma diferente” (Swanwick, 2004, p. 26), possibilitando aosujeito tornar-se cada vez mais humano. O processo musical metafórico acontecequando escutamos notas como melodias, e essas nos remetem a alguma emoçãoou sentimento. O sujeito assume uma nova relação com a música, ressignificaçãode acordo com suas experiências e, quando escuta os sons da música, prestandoatenção nos sons isoladamente, percebendo “um sentido de peso, espaço, tempo efluência. Normalmente fazemos isso facilmente, exceto quando a música é muitodiferente para nós” (idem, 2004, p. 30). É por esse processo metafórico que ocriador de música e o ouvinte percebem o verdadeiro valor da música para si, pois éum valor que se dá de maneira dialógica.O autor também nos remete à questão da diversidade cultural e suasinfluências nos modos de fazer e ouvir música. Sendo a música um discursometafórico, ela pode ir além da sua ideia inicial e ser compreendida de diferentesmaneiras, conforme cada um que a escuta.A música não somente possui um papel na reprodução cultural e afirmaçãosocial, mas também potencial para promover o desenvolvimento individual,a renovação cultural, a evolução social, a mudança. (Swanwick, 2004, p.40)Para Swanwick, a música “como todas as formas de discurso liga o espaçoentre indivíduos e entre diferentes grupos culturais” (2004, p. 42). Muitas pessoas secaracterizam e se formam como sujeitos participativos de grupos sociais por meio damúsica, mas o importante é que aconteça a troca entre “grupos sonoros”, para quese transcenda a realidade e se recriem novas maneiras de pensar e ver o diferente,para que enfim se crie uma bagagem musical.34


Nas apresentações d‟O Teatro Mágico, as músicas são compostas cominstrumentos tradicionais, tais como violão, violino, flauta, bateria, etc. e com autilização de instrumentos e efeitos sonoros, como sons de cachorro latindo, buzinasde carros etc., além de sons como o beatbox, expressão em inglês que significacaixa de batida, referindo-se à “percussão vocal do hip-hop” (Wikipédia) e deinstrumentos diferentes para a nossa cultura, como é o caso do didgeridoo, “uminstrumento de sopro muito antigo dos aborígenes australianos. “Estudosarqueológicos baseados em pinturas rupestres sugerem que o povo aborígine daregião de Kakadu já utilizava o didjeridu há cerca de 1.500 anos” (Wikipédia), o quenos remete à discussão sobre identidades e culturas.Ainda é válido citar o músico que toca percussão, ele se veste de palhaço,estilizado, meio africano tribal, e também faz refletir sobre a questão da discussãosobre a identidade cultural. Assim como na canção em que diz “como pode um peixevivo viver fora d‟água fria”, canção popular brasileira em nova versão, com direito aapresentação teatral e de dança. Anitelli convida o público a cantar junto com ele,quando saem de traz do palco vários bailarinos segurando vários arcos grudadosuns nos outros e enfeitados com tiras de pano, como se fosse a água e as pessoasos peixes, mostrando uma bela coreografia de dança com o auxílio desse objeto quetraz mais movimento à expressão corporal.Ao ouvirmos uma música, podemos senti-la de diversas formas, com ocoração, sentimentalmente, identificando nossa vida com a trilha sonora, com onosso intelecto, pensando a respeito do que está sendo dito, utilizando osconhecimentos prévios adquiridos, como perceber o som de certos instrumentos,reconhecendo a linguagem técnica da música e ainda com o corpo, sentindo o ritmo,“dançando conforme a música”. Esse ditado popular pode refletir muito sobre o queé a dança. Para Klauss Vianna, “a expressão corporal reflete tudo que sou: minhahistória, o que penso, como sinto. Vida interior e expressão corporal são coisasinseparáveis” (2005, p. 148). Corpo e mente em movimento, sincronicamenteexprimindo sentimentos, revelando o eu-interior de cada um através do movimentocorporal. “O homem é uno em sua expressão: não é o espírito que se inquieta nem ocorpo que se contrai – é a pessoa inteira que se exprime” (Vianna, 2005, p. 150).A trupe d‟O Teatro Mágico traz em sua essência todas essas linguagensartísticas, trazendo elementos do circo, a poesia, a música, a dança e a performance35


no palco como um sarau, misturando diversas linguagens que se completam nassuas apresentações. Atuam de maneira similar ao circo, que se situa “a meiocaminho entre a indústria cultural e as manifestações espontâneas, mas não ésimplesmente um repetidor de uma e outras, pois quando delas se apropriasubmete-as a um processo de reelaboração, recodificação, produzindo assim umdiscurso que leva a sua marca” (Magnani, 1984, p. 47). Como sugere a citação deMagnani sobre o circo, acredito que a trupe criou a sua marca com todas essaslinguagens, trazendo por meio da arte a mensagem ou a crítica, ou ainda buscandoque seu público reflita a respeito da realidade.36


6. CONSIDERAÇÕES FINAIS“Debruçar-se sobre uma produção cultural que édominantemente percebida como popular requerdifícil exercício metodológico. É preciso levar emconta as características específicas do universoque está sendo analisado para que se possamperceber em seu interior sistemas definidores desuas estruturas artísticas.” (Paulo Ricardo Merísio)Lembrando as palavras citadas acima de Merísio, concluo esta monografiapercebendo que muito ainda há de se pesquisar sobre, por exemplo, as linguagensartísticas, as mídias e a formação de identidades. Busquei aqui esclarecer como sedão esses processos, analisando em específico o trabalho e a forma de fazê-lo datrupe do O Teatro Mágico. Como artistas, eles são formadores de opinião, têm emseu trabalho um perfil de resistência à cultura massiva que nos assedia todos osdias. Trazendo questões sobre como se dá a formação da nossa identidade culturale ainda sobre a subjetividade de cada cultura, busquei discutir a formação deidentidade a partir do próprio grupo, com suas canções e modo de pensar e agirquanto artistas.O Teatro Mágico, banda formada em Osasco (SP) no ano de 2003 e autodenominadaindependente e adepta do movimento MPB (Música para Baixar), buscacom essa atitude socializar a sua arte, que tem características questionadoras econtestadoras ao desenvolverem temas sociais, como o analfabetismo, ocapitalismo, o preconceito, etc. Disponibilizando seu trabalho gratuitamente pelainternet, o grupo se apresenta como “livre e resistente” à indústria fonográfica,conseguindo formar uma legião de fãs que acompanham seu trabalho pela internet eassistindo aos shows. Alguns buscam até mesmo se caracterizar como osintegrantes da trupe, que ainda tem como diferencial o grande número de seusintegrantes-artistas, entre eles, músicos, malabaristas, atores, dançarinos, palhaçose trapezistas. É misturando “Tudo numa coisa só‟, como diria uma das canções d‟Oteatro Mágico, que se dá a apresentação da trupe, que busca revelar para si e parao outro os inúmeros personagens que assumimos diariamente. Pensando nessespersonagens internos é que Fernando Anitelli, resolveu nomear o primeiro disco datrupe como Entrada para Raros, também no ano de 2003, inspirado no livro O Lobo37


da Estepe, do escritor Hermann Hesse, no qual uma das personagens vive emconflito com suas diversas identidades.Falando sobre personagens internos, trouxe neste trabalho alguns teóricosconceituados, como Stuart Hall, para falar sobre a formação de identidade. Ao longoda nossa vida, assumimos diversas identidades conforme os círculos sociais com osquais nos relacionamos. O “palhaço” surge nas apresentações da trupe como essespersonagens internos que descobrimos dentro de nós diariamente. Hoje em dia, coma globalização, a formação de identidade se dá de forma cada vez mais fragmentadae o contato com o outro é modificado pelo advento da internet. As identidades sechocam, afinal são as diversas informações e modelos de identidades herdadasculturalmente e socialmente com as quais temos de lidar para formar a nossaprópria forma de agir, pensar e ainda de aceitar o outro que, como sujeito, tambémcarrega suas particularidades, enfim suas identidades.As mídias são importantes veículos de comunicação e têm, perante asgrandes massas, um papel fundamental na formação de opinião e na socializaçãoda arte assim como dos pensamentos. A internet fez implementar a globalização,com o livre acesso e trânsito de informações a todos os cantos do mundo. O TeatroMágico se utiliza da internet para divulgar de forma acessível o seu trabalho,preferindo não se adaptar cegamente à indústria musical, que de certa forma criaartistas que lhe convém, buscando muitas vezes somente o valor comercial, nãolevando em consideração o verdadeiro valor artístico e crítico da arte.Como arte, o trabalho da trupe vem questionando e buscando mostrardiversas linguagens artísticas, como o teatro, quando em seus shows fazemencenações durante as músicas, a própria música, que é carregada de valoresestéticos, trazendo em sua poesia temas a serem refletidos socialmente, sobre onosso cotidiano moderno e sobre as coisas que acontecem diariamente e às vezesnem percebemos pela correria do dia-a-dia. A dança, carregada de coreografia,misturada a malabares e trapézio, mostra a arte realizada com o próprio corpo,misturando tudo como um grande circo. Assim O Teatro Mágico se expressa emantem seu lugar garantido na cena musical contemporânea.38


7. AnexosAnexo Ahttp://assuntosdaana.blogspot.com/39


Anexo Bhttp://www.cursodehistoriadaarte.com.br/lopreto/index.php/page/39/40


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