Dom Pedro II escreveu essas notas em seu diário, em 31 <strong>de</strong><strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1861, quando já gover<strong>na</strong>va o Brasil há 21 anos, ou seja, jápróximo da meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu rei<strong>na</strong>do <strong>de</strong> 49 anos e aos 37 anos <strong>de</strong> vida (nelmezzo <strong>de</strong>l cammino). Esse rápido tratado sobre seu pensamento políticoconclui-se numa profunda reflexão pessoal sobre suas fraquezas e suarelação com a mulher, que não amava, mas a quem apren<strong>de</strong>ra a admirar:76Confesso que em 21 anos muito mais se po<strong>de</strong>riater feito; mas [...] viveria inteiramente tranqüiloem minha consciência se meu coração já fosseum pouco mais velho do que eu; contudorespeito e estimo sinceramente minha mulher;cujas qualida<strong>de</strong>s constitutivas do caráterindividual são excelentes (BEDIAGA, 1999, v.9).Gover<strong>na</strong>ntes e mo<strong>na</strong>rcas <strong>de</strong> todos os tempos – como, porexemplo, os mece<strong>na</strong>s do Re<strong>na</strong>scimento, que fi<strong>na</strong>nciavam a produçãoartística para conseguir renome e prestígio <strong>na</strong> socieda<strong>de</strong>, se interessarampela tradução, <strong>na</strong> maioria das vezes, motivados pelo po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>ssa <strong>na</strong>formação da opinião social, pois, como coloca Lefevere, “a traduçãoprojeta uma imagem” e esta imagem está “a serviço <strong>de</strong> <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>dasi<strong>de</strong>ologias” (2007, p. 75). Alguns soberanos que po<strong>de</strong>m constar <strong>de</strong>stalista são: Alfredo o Gran<strong>de</strong>, rei <strong>de</strong> Wessex <strong>na</strong> Inglaterra do séc. IX quetraduziu obras do latim para o inglês; Afonso X o Sábio, rei <strong>de</strong> Castela eLeão no século XIII, patrono da Escola <strong>de</strong> Tradução <strong>de</strong> Toledo on<strong>de</strong>incentivou a tradução dos textos da antiguida<strong>de</strong> clássica para as línguasvernáculas oci<strong>de</strong>ntais; D. Luís <strong>de</strong> Bragança, rei <strong>de</strong> Portugal entre 1861 e1889, tradutor <strong>de</strong> Shakespeare e contemporâneo <strong>de</strong> Dom Pedro II;Bartolomeu Mitre, presi<strong>de</strong>nte da Argenti<strong>na</strong> <strong>de</strong> 1862 a 1868, fundador do
jor<strong>na</strong>l La Nación, que traduziu para o espanhol a Eneida <strong>de</strong> Virgílio e aDivi<strong>na</strong> Comédia, tendo submetido a última à crítica <strong>de</strong> Dom Pedro II.Todavia, bem poucos gover<strong>na</strong>ntes se interessaram pela traduçãocomo um campo <strong>de</strong> estudo e, possivelmente, um número menor ainda se<strong>de</strong>dicou à prática <strong>de</strong>la <strong>de</strong> forma tão extensiva e abrangente como DomPedro II. Esse fato po<strong>de</strong> ser um indicativo <strong>de</strong> que, além <strong>de</strong> prováveismotivações políticas, das quais um gover<strong>na</strong>nte não po<strong>de</strong> se <strong>de</strong>scuidar,havia um entusiasmo próprio do homem, do homem-intelectual, ávidopor conhecimento e por ampliar sua visão <strong>de</strong> mundo.Este fato, por si só, é suficientemente substancial para tor<strong>na</strong>rDom Pedro II um objeto <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong> interesse acadêmico. Afora isto,soma-se o contexto próprio da época do segundo império: a únicamo<strong>na</strong>rquia da América liberta; o primeiro gover<strong>na</strong>nte <strong>na</strong>scido no Brasil;a longevida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu rei<strong>na</strong>do e o seu apreço pela <strong>de</strong>mocracia e pelaliberda<strong>de</strong>, chancelados por suas ações, por seus escritos e pelas suasrelações com intelectuais e figuras eminentes do século XIX, espalhadospelo mundo oci<strong>de</strong>ntal. Os próprios textos, escolhidos por Pedro <strong>de</strong>Alcântara para serem traduzidos, expressam seus valores e suauniversalida<strong>de</strong>.Voltando ao livro <strong>de</strong> traduções e poesias <strong>de</strong> Dom Pedro II,publicado em 1889, pelos netos D. Pedro e D. Luiz, filhos da princesaIsabel, nele se encontram, além <strong>de</strong> suas poesias, as traduções <strong>de</strong> poemas<strong>de</strong> Victor Hugo, Leconte <strong>de</strong> Lisle, Félix Anvers, Henry Longfellow, 24John Whittier, Alessandro Manzoni, entre outros, num total <strong>de</strong> 267724 “[...] Henry Longfellow (1807-1882), importante poeta americano cuja tradução da Divi<strong>na</strong>Comédia, <strong>de</strong> Dante Alighieri, tornou-se referência no mundo erudito da época” (MARTINS,2010, p. 56).
- Page 1:
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATAR
- Page 5:
Romeu Porto DarosO IMPERADOR TRADUT
- Page 9:
AGRADECIMENTOSÀs minhas filhas pel
- Page 13:
RESUMOA pesquisa analisa o processo
- Page 17:
ABSTRACTThe research analyzes the c
- Page 21:
LISTA DE QUADROSQuadro I - Diário:
- Page 25: SUMÁRIOINTRODUÇÃO 271 A CRÍTICA
- Page 28 and 29: no ensaio O afreudisíaco Lacan na
- Page 30 and 31: Dom Pedro II traduziu de diversas l
- Page 32 and 33: erudito, que se preocupava e se ocu
- Page 34 and 35: 1 A CRÍTICA GENÉTICA COMO FUNDAME
- Page 36 and 37: Para Romanelli, a CG mostra “o av
- Page 38 and 39: somente existe na sua redação con
- Page 40 and 41: quando faz conclusões acerca do pr
- Page 42 and 43: Gideon Toury (2001) sustenta que as
- Page 44 and 45: Os estudos descritivos, focados no
- Page 46 and 47: 46sistemas de normas da cultura-alv
- Page 48 and 49: o tradutor pode adotar uma soluçã
- Page 50 and 51: 50uma não tradução em um dado co
- Page 52 and 53: a partir dos padrões e das normas
- Page 54 and 55: processo referentes às traduções
- Page 56 and 57: processo tradutório, verificando a
- Page 59 and 60: Império, a fuga de D. João VI 16
- Page 61 and 62: 61através de investimentos de capi
- Page 63 and 64: asileiro como maior protagonista. S
- Page 65 and 66: línguas da história brasileira: a
- Page 67 and 68: assumir o trono do pai. Mesmo abdic
- Page 69 and 70: Brasil o órfão: ordenara-lhe que
- Page 71 and 72: 712.4 AS ARTES E A ARTE DE GOVERNAR
- Page 73 and 74: pois, não fosse esta qualidade, po
- Page 75: 75Não sou de nenhum dos partidos p
- Page 79 and 80: 7. Poema “A Passiflora”, tradu
- Page 81 and 82: 81muitos de nossos poetas, romancis
- Page 83 and 84: 83doméstico. As traduções, em ou
- Page 85 and 86: com a tradução de Odorico Mendes
- Page 87 and 88: Ao que parece, o Imperador não tra
- Page 89 and 90: 893 POETAS EM DOIS TEMPOSDom Pedro
- Page 91 and 92: Dante da sua velhice, fez uma brilh
- Page 93 and 94: obrigando-o a se exilar para fugir
- Page 95 and 96: O canto V do “Inferno” mostra o
- Page 97 and 98: 97103 Amor, ch'a nullo amato amar p
- Page 99 and 100: No Brasil Colônia dos primeiros mo
- Page 101 and 102: 101obra um forte anti-clericarismo
- Page 103 and 104: 103No final do século, com o Reali
- Page 105 and 106: 105desenvolver uma literatura nacio
- Page 107 and 108: 107Monsenhor JoaquimPinto de Campos
- Page 109 and 110: 1093.4 DOM PEDRO II TRADUTOR DA DIV
- Page 111 and 112: 111Teresa Cristina, conterrânea de
- Page 113 and 114: 113prática este preceito é precis
- Page 115 and 116: 115da Divina Comédia, feita pelo B
- Page 117 and 118: 117próximo ao Imperador é, possiv
- Page 119 and 120: 119Nos treze versos acima, é níti
- Page 121 and 122: 121caracteriza um processo de influ
- Page 123 and 124: vv109DanteQuand'iointesiquell'anime
- Page 125 and 126: 1254 O PROCESSO CRIATIVO EM DOM PED
- Page 127 and 128:
127vv Versão 1 (18) Versão 2 (17)
- Page 129 and 130:
919497Se amigo fosseo Rei doUnivers
- Page 131 and 132:
109112115Logo que ouvias almasdolor
- Page 133 and 134:
127130133Lendo um dianas horas dela
- Page 135 and 136:
1354.2 VISÃO DIACRÔNICA DO PROCES
- Page 137 and 138:
137#1Usa poucos símbolos indicativ
- Page 139 and 140:
139disso, é razoável presumir que
- Page 141 and 142:
141III.Terceira campanha de traduç
- Page 143 and 144:
143V. Texto Final - o impresso de 1
- Page 145 and 146:
145vv Manuscrito Definitivo Texto I
- Page 147 and 148:
147criativo fazendo uma interessant
- Page 149 and 150:
1494.4 O ENCADEAMENTO DOS MOMENTOS
- Page 151 and 152:
15176 Mas adiante, no verso 77, ele
- Page 153 and 154:
15382No verso 82, troca uma traduç
- Page 155 and 156:
15594Nas três primeiras versões d
- Page 157 and 158:
157106Embora seja considerável a q
- Page 159 and 160:
159115No verso 116, hesita entre o
- Page 161 and 162:
161124Versão 1 Versão 2 Versão 3
- Page 163 and 164:
163Demonstra dúvida se usa ou não
- Page 165 and 166:
165136As poucas dúvidas no verso 1
- Page 167 and 168:
167No terceto que se inicia no vers
- Page 169 and 170:
169interpretatione, considerado o p
- Page 171 and 172:
171Talvez isso ajude a entender o m
- Page 173 and 174:
173adotar uma estratégia de tradu
- Page 175 and 176:
175de compor, sendo útil e necess
- Page 177 and 178:
177movimento de insubordinação ao
- Page 179 and 180:
179dizem-me que os esforços do poe
- Page 181 and 182:
181supor que a quantidade de rasura
- Page 183 and 184:
183poético, próximo do original,
- Page 185 and 186:
185relação à obra de Dom Pedro I
- Page 187 and 188:
187REFERÊNCIASALCÂNTARA, D. Pedro
- Page 189 and 190:
189CANTO, Antonio Maria do. Diccion
- Page 191 and 192:
191MANUPPELLA. Giacinto. Dantesca L
- Page 193 and 194:
193TOURY, Gideon. Principi per un
- Page 195 and 196:
195______. Limites da Traduzibilida
- Page 197 and 198:
APÊNDICE A - Transcrição diplom
- Page 199 and 200:
199
- Page 201 and 202:
201
- Page 203 and 204:
203
- Page 205 and 206:
205
- Page 207 and 208:
207
- Page 209 and 210:
209
- Page 211 and 212:
211
- Page 213 and 214:
213
- Page 215 and 216:
215
- Page 217 and 218:
217
- Page 219 and 220:
219
- Page 221 and 222:
221
- Page 223 and 224:
223
- Page 225 and 226:
APÊNDICE B - Quadro comparativo: t
- Page 227 and 228:
227APÊNDICE C - Quadro comparativo
- Page 229 and 230:
229
- Page 231 and 232:
231
- Page 233 and 234:
ANEXO A - Carta de Dom Pedro II à
- Page 235:
235