72exterior para estudantes brasileiros, encorajavaas pesquisas e discutia os novos conhecimentos,<strong>de</strong>monstrando um obsessivo amor à ciência(2004, p. 59).O Imperador brasileiro traduziu poemas e textos religiosos datradição judaica e católica e fez traduções entre vários pares <strong>de</strong> línguas 19como atestam o livro Poesias completas <strong>de</strong> Dom Pedro II, publicado em1889, e a obra Poesies Hebraico-Provençales, publicada em 1891, dosquais falaremos mais adiante. O seu trabalho como tradutor é poucoconhecido mesmo no mundo acadêmico e, como já dito, são exíguas aspesquisas a respeito.Como homem <strong>de</strong> cultura, incentivava a educação e o estudo <strong>de</strong>línguas estrangeiras. Há registros <strong>de</strong> que tenha, inclusive, acompanhadoaulas <strong>de</strong> aplicação <strong>de</strong> novos métodos <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> línguas estrangeiras,como consta da folha <strong>de</strong> rosto do livro Novo curso <strong>de</strong> língua inglezapratico, a<strong>na</strong>lytico e sinthetico, <strong>de</strong> 1856, por T. Robertson e organizadopelo professor Cyro Cardoso <strong>de</strong> Menezes no Imperial Colégio <strong>de</strong> PedroII (OLIVEIRA, 2006, p. 29).A infância reclusa e voltada a apren<strong>de</strong>r as artes <strong>de</strong> gover<strong>na</strong>r não<strong>de</strong>sumanizou o homem Pedro <strong>de</strong> Alcântara. Talvez ele, mais do queninguém, soubesse enten<strong>de</strong>r e racio<strong>na</strong>lizar a diferença entre o Pedrohomeme o Pedro-instituição. Aliás, racio<strong>na</strong>lizar foi uma condiçãoessencial para que pu<strong>de</strong>sse levar a bom termo a sua tarefa <strong>de</strong> imperador,19 “Era do hebreu, dos Provérbios, e <strong>de</strong>sdobrou-o em árabe, persa, sânscrito, grego <strong>de</strong> Sócrates,latim <strong>de</strong> Ovídio, italiano <strong>de</strong> Dante [...], alemão <strong>de</strong> Schiller, francês <strong>de</strong> Vacqueria, russo <strong>de</strong> Mile<strong>de</strong> Glinka, filha do ministro da Rússia no Brasil, <strong>de</strong> inglês <strong>de</strong> Taylor, <strong>de</strong> espanhol <strong>de</strong>Campoamor, <strong>de</strong> português <strong>de</strong> Camões, [...]. Sem <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> acrescentar: traduzia holandês esueco” (CALMON, 1975, p. 295).
pois, não fosse esta qualida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>ria - como fez o pai - ter posto emrisco a estabilida<strong>de</strong> constitucio<strong>na</strong>l do reino, mo<strong>de</strong>lo que acreditava ser amelhor forma <strong>de</strong> governo para o Brasil.Carvalho (2007) retrata Pedro <strong>de</strong> Alcântara como homem quefoi acometido <strong>de</strong> todas as paixões e inseguranças a que está sujeitoqualquer ser humano: sentiu-se enga<strong>na</strong>do quando lhe apresentaram a jáesposa, Teresa Cristi<strong>na</strong>, 20 irmã do rei Ferdi<strong>na</strong>ndo II das Duas Sicílias,por <strong>de</strong>cepcio<strong>na</strong>r-se com a imagem muito diferente daquela do retrato;teve várias amantes e um gran<strong>de</strong> amor, a Con<strong>de</strong>ssa <strong>de</strong> Barral, com quemmanteve uma relação que se prolongou por mais <strong>de</strong> 30 anos. Mais quequalquer outra coisa, amava o conhecimento, 21 o que o levou aempreen<strong>de</strong>r três gran<strong>de</strong>s viagens inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is, fi<strong>na</strong>nciadas com osnumerários que o orçamento do Estado lhe <strong>de</strong>sti<strong>na</strong>va para as <strong>de</strong>spesaspessoais. Esta ânsia por conhecimento o conduziu ao estudo das artes edas ciências. Entretanto, como não é possível estabelecer-se umafronteira rígida entre o homem e o mo<strong>na</strong>rca, tanto um quanto o outro<strong>de</strong>sejavam que a <strong>na</strong>ção também acessasse este conhecimento. Ofi<strong>na</strong>nciamento, com recursos do próprio bolso, 22 <strong>de</strong> estudantesbrasileiros no exterior, <strong>de</strong>monstra este anseio.7320 O casamento foi realizado por procuração em Nápoles, em 1843.21 “D. Pedro II cumpriu escrupulosamente as tarefas <strong>de</strong> governo que o <strong>de</strong>stino lhe reservou.Porém, as paixões <strong>de</strong> Pedro d’Alcântara eram o Brasil, a con<strong>de</strong>ssa <strong>de</strong> Barral e os livros. Mas,se a paixão pelo Brasil permitia que convivessem os dois Pedros, a dos livros talvez tivessesido mais radical. D. Pedro era um leitor voraz e onívoro. Lia muito e <strong>de</strong> tudo, livros, jor<strong>na</strong>is,revistas, relatórios. Lia diariamente, em casa, nos trens, nos <strong>na</strong>vios, nos hotéis. [...]”(CARVALHO, 2007, p. 223).22 “[...] Muitos brasileiros estudaram no país e no exterior à custa do bolsinho imperial. D.Pedro fazia o que hoje fazem os órgãos do governo que fi<strong>na</strong>nciam bolsas <strong>de</strong> estudo, como oConselho Nacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Durante o SegundoRei<strong>na</strong>do, 151 bolsistas obtiveram pensões, 41 <strong>de</strong>les para estudar no exterior. No Brasil, foram65 pensionistas do ensino básico e médio, dos quais 15 eram mulheres. Os pensionistas noexterior recebiam ajuda para viagem, livros e enxoval. Em contrapartida, tinham <strong>de</strong> prestar
- Page 1:
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATAR
- Page 5:
Romeu Porto DarosO IMPERADOR TRADUT
- Page 9:
AGRADECIMENTOSÀs minhas filhas pel
- Page 13:
RESUMOA pesquisa analisa o processo
- Page 17:
ABSTRACTThe research analyzes the c
- Page 21: LISTA DE QUADROSQuadro I - Diário:
- Page 25: SUMÁRIOINTRODUÇÃO 271 A CRÍTICA
- Page 28 and 29: no ensaio O afreudisíaco Lacan na
- Page 30 and 31: Dom Pedro II traduziu de diversas l
- Page 32 and 33: erudito, que se preocupava e se ocu
- Page 34 and 35: 1 A CRÍTICA GENÉTICA COMO FUNDAME
- Page 36 and 37: Para Romanelli, a CG mostra “o av
- Page 38 and 39: somente existe na sua redação con
- Page 40 and 41: quando faz conclusões acerca do pr
- Page 42 and 43: Gideon Toury (2001) sustenta que as
- Page 44 and 45: Os estudos descritivos, focados no
- Page 46 and 47: 46sistemas de normas da cultura-alv
- Page 48 and 49: o tradutor pode adotar uma soluçã
- Page 50 and 51: 50uma não tradução em um dado co
- Page 52 and 53: a partir dos padrões e das normas
- Page 54 and 55: processo referentes às traduções
- Page 56 and 57: processo tradutório, verificando a
- Page 59 and 60: Império, a fuga de D. João VI 16
- Page 61 and 62: 61através de investimentos de capi
- Page 63 and 64: asileiro como maior protagonista. S
- Page 65 and 66: línguas da história brasileira: a
- Page 67 and 68: assumir o trono do pai. Mesmo abdic
- Page 69 and 70: Brasil o órfão: ordenara-lhe que
- Page 71: 712.4 AS ARTES E A ARTE DE GOVERNAR
- Page 75 and 76: 75Não sou de nenhum dos partidos p
- Page 77 and 78: jornal La Nación, que traduziu par
- Page 79 and 80: 7. Poema “A Passiflora”, tradu
- Page 81 and 82: 81muitos de nossos poetas, romancis
- Page 83 and 84: 83doméstico. As traduções, em ou
- Page 85 and 86: com a tradução de Odorico Mendes
- Page 87 and 88: Ao que parece, o Imperador não tra
- Page 89 and 90: 893 POETAS EM DOIS TEMPOSDom Pedro
- Page 91 and 92: Dante da sua velhice, fez uma brilh
- Page 93 and 94: obrigando-o a se exilar para fugir
- Page 95 and 96: O canto V do “Inferno” mostra o
- Page 97 and 98: 97103 Amor, ch'a nullo amato amar p
- Page 99 and 100: No Brasil Colônia dos primeiros mo
- Page 101 and 102: 101obra um forte anti-clericarismo
- Page 103 and 104: 103No final do século, com o Reali
- Page 105 and 106: 105desenvolver uma literatura nacio
- Page 107 and 108: 107Monsenhor JoaquimPinto de Campos
- Page 109 and 110: 1093.4 DOM PEDRO II TRADUTOR DA DIV
- Page 111 and 112: 111Teresa Cristina, conterrânea de
- Page 113 and 114: 113prática este preceito é precis
- Page 115 and 116: 115da Divina Comédia, feita pelo B
- Page 117 and 118: 117próximo ao Imperador é, possiv
- Page 119 and 120: 119Nos treze versos acima, é níti
- Page 121 and 122: 121caracteriza um processo de influ
- Page 123 and 124:
vv109DanteQuand'iointesiquell'anime
- Page 125 and 126:
1254 O PROCESSO CRIATIVO EM DOM PED
- Page 127 and 128:
127vv Versão 1 (18) Versão 2 (17)
- Page 129 and 130:
919497Se amigo fosseo Rei doUnivers
- Page 131 and 132:
109112115Logo que ouvias almasdolor
- Page 133 and 134:
127130133Lendo um dianas horas dela
- Page 135 and 136:
1354.2 VISÃO DIACRÔNICA DO PROCES
- Page 137 and 138:
137#1Usa poucos símbolos indicativ
- Page 139 and 140:
139disso, é razoável presumir que
- Page 141 and 142:
141III.Terceira campanha de traduç
- Page 143 and 144:
143V. Texto Final - o impresso de 1
- Page 145 and 146:
145vv Manuscrito Definitivo Texto I
- Page 147 and 148:
147criativo fazendo uma interessant
- Page 149 and 150:
1494.4 O ENCADEAMENTO DOS MOMENTOS
- Page 151 and 152:
15176 Mas adiante, no verso 77, ele
- Page 153 and 154:
15382No verso 82, troca uma traduç
- Page 155 and 156:
15594Nas três primeiras versões d
- Page 157 and 158:
157106Embora seja considerável a q
- Page 159 and 160:
159115No verso 116, hesita entre o
- Page 161 and 162:
161124Versão 1 Versão 2 Versão 3
- Page 163 and 164:
163Demonstra dúvida se usa ou não
- Page 165 and 166:
165136As poucas dúvidas no verso 1
- Page 167 and 168:
167No terceto que se inicia no vers
- Page 169 and 170:
169interpretatione, considerado o p
- Page 171 and 172:
171Talvez isso ajude a entender o m
- Page 173 and 174:
173adotar uma estratégia de tradu
- Page 175 and 176:
175de compor, sendo útil e necess
- Page 177 and 178:
177movimento de insubordinação ao
- Page 179 and 180:
179dizem-me que os esforços do poe
- Page 181 and 182:
181supor que a quantidade de rasura
- Page 183 and 184:
183poético, próximo do original,
- Page 185 and 186:
185relação à obra de Dom Pedro I
- Page 187 and 188:
187REFERÊNCIASALCÂNTARA, D. Pedro
- Page 189 and 190:
189CANTO, Antonio Maria do. Diccion
- Page 191 and 192:
191MANUPPELLA. Giacinto. Dantesca L
- Page 193 and 194:
193TOURY, Gideon. Principi per un
- Page 195 and 196:
195______. Limites da Traduzibilida
- Page 197 and 198:
APÊNDICE A - Transcrição diplom
- Page 199 and 200:
199
- Page 201 and 202:
201
- Page 203 and 204:
203
- Page 205 and 206:
205
- Page 207 and 208:
207
- Page 209 and 210:
209
- Page 211 and 212:
211
- Page 213 and 214:
213
- Page 215 and 216:
215
- Page 217 and 218:
217
- Page 219 and 220:
219
- Page 221 and 222:
221
- Page 223 and 224:
223
- Page 225 and 226:
APÊNDICE B - Quadro comparativo: t
- Page 227 and 228:
227APÊNDICE C - Quadro comparativo
- Page 229 and 230:
229
- Page 231 and 232:
231
- Page 233 and 234:
ANEXO A - Carta de Dom Pedro II à
- Page 235:
235