Se <strong>de</strong>talhássemos a tradução em cada período da história doBrasil, po<strong>de</strong>ríamos exami<strong>na</strong>r as influências dos contextos e das classes<strong>dom</strong>i<strong>na</strong>ntes no uso da tradução. No entanto, um tradutor e um períodoem particular compõem o objeto <strong>de</strong> análise <strong>de</strong>ste trabalho: Dom Pedro IIe o segundo rei<strong>na</strong>do, que se inicia em 1840 e se encerra com aproclamação da República em 1889.662.3 O MENINO IMPERADORO Mo<strong>na</strong>rca louro, <strong>de</strong> 1,90 m e olhos azuis, <strong>na</strong>scera robusto, com47 cm, em 2 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1825, já príncipe <strong>de</strong> uma <strong>na</strong>ção que tinhaape<strong>na</strong>s 3 anos <strong>de</strong> existência. Pedro II cresceu, amadureceu e se formouhomem ao mesmo tempo em que o país, a que ele estava <strong>de</strong>sti<strong>na</strong>do agover<strong>na</strong>r, também crescia, amadurecia e se formava como <strong>na</strong>ção.Assim como ocorria com a <strong>na</strong>ção, seus primeiros anos nãoforam fáceis; a robustez do <strong>na</strong>scimento se <strong>de</strong>bilitou, herdou do pai aepilepsia e ficou órfão <strong>de</strong> mãe com ape<strong>na</strong>s 1ano e nove meses <strong>de</strong> vida. Apátria, sob o comando do seu pai, o imperador Dom Pedro I, português<strong>de</strong> <strong>na</strong>scimento, lutava para se afirmar no mundo das <strong>na</strong>ções sobera<strong>na</strong>s.As i<strong>de</strong>ias liberais do príncipe Dom Pedro I ce<strong>de</strong>ram lugar aosatos conflitantes do início <strong>de</strong> seu governo, como a <strong>de</strong>missão <strong>de</strong> JoséBonifácio, um dos principais articuladores da proclamação dain<strong>de</strong>pendência e a dissolução da Assembleia Constituinte. Em 1826,com a morte <strong>de</strong> Dom João VI, rei <strong>de</strong> Portugal, Dom Pedro I contrariou aconstituição que encomendara a um grupo <strong>de</strong> notáveis e foi a Lisboa
assumir o trono do pai. Mesmo abdicando em seguida ao trono <strong>de</strong>Portugal, em favor <strong>de</strong> sua filha, este fato, somado às suas sucessivasinterferências nos assuntos portugueses, gerou <strong>de</strong>scontentamentos noBrasil. A imagem <strong>de</strong> Dom Pedro I sofreria, ainda, novos abalosmotivados pela perda da província Cisplati<strong>na</strong>, em 1828, com a criseeconômica e a consequente <strong>de</strong>cretação da falência do Banco do Brasil,em 1829, e com a crise política gerada pela <strong>de</strong>missão do gabinete liberal<strong>de</strong> Barbace<strong>na</strong>, que culminou com as “Noites das Garrafas”, em março <strong>de</strong>1831 (ALENCAR, 1996, p. 132).Alencar <strong>na</strong>rra que Dom Pedro I, voltando <strong>de</strong> uma fracassadaviagem a Mi<strong>na</strong>s Gerais, em busca da popularida<strong>de</strong> perdida, foirecepcio<strong>na</strong>do com festa pela “socieda<strong>de</strong> secreta Colu<strong>na</strong>s do Trono,composta por portugueses absolutistas” (1996, p. 132), o que irritou osbrasileiros, que foram às ruas gerando um conflito <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> proporção.Em 7 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1831, pressio<strong>na</strong>do por uma multidão, quetomou as ruas para protestar contra a <strong>de</strong>missão do “Ministério dosBrasileiros”, abdicou em favor <strong>de</strong> seu filho Pedro <strong>de</strong> Alcântara(CARVALHO, 2007, p. 14). Encerrava-se assim o período <strong>de</strong> dualida<strong>de</strong>gover<strong>na</strong>mental entre Brasil e Portugal e completava-se a in<strong>de</strong>pendênciapolítica do Brasil. Dom Pedro II ficava no Brasil e Dom Pedro IV emPortugal. O Brasil ganhava um imperador <strong>na</strong>tivo e Pedro <strong>de</strong> Alcântarator<strong>na</strong>va-se, também, órfão <strong>de</strong> pai.Ainda para Carvalho (2007), o temperamento “impulsivo,romântico, autoritário, ambicioso, generoso, grosseiro, sedutor” <strong>de</strong> DomPedro I, levava-o a comportamentos que aviltavam a moral da época,como, por exemplo, ter várias amantes e filhos. Entre as amantes67
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