[...] curavamos [os jesuítas] aos doentes, aplicandoas mezinhas que a charidade nos ensinava [...] antesda missa mandou fazer vinte sangrias por aver humadoença perigosa, <strong>em</strong>fim eramos enfermeros [...]apos os r<strong>em</strong>edios do corpo aplicavamos os da alma,catequizando, bautizando, aiudando a b<strong>em</strong> morrer[...] Huma india tinha huma filha doente <strong>dos</strong> olhos epedindo-me alguma mesinha lha dei e vendo que nãoaproveitava [...] trouxe a minina a igreja [...] 74Muitas vezes s<strong>em</strong> formação superior na área médica, ospadres da Companhia tomavam contato com as doenças e aarte de curar no trato cotidiano com os enfermos que buscavam,de alguma forma, seu auxílio. A preocupação <strong>dos</strong>jesuítas com a cura física fica bastante evidenciada nas palavrasdo Padre Antônio Vieira: “[...] muito particularment<strong>em</strong>andavam vir para este Reino [Brasil] to<strong>dos</strong> os anos umabotica das coisas mais necessárias nestas partes [...]” 75 .Como ver<strong>em</strong>os mais à frente neste trabalho, o arcabouçogalênico transparece <strong>em</strong> alguns pontos da Triaga, <strong>em</strong>boranão possamos afirmar, categoricamente, que os jesuítas seguirama teoria humoralista <strong>em</strong>pregando as ervas medicinaisbrasileiras. De fato, M. Ferraz afirma que “livres, talvez,das amarras <strong>dos</strong> estu<strong>dos</strong> clássicos — e puramente acadêmicos— ministra<strong>dos</strong> nas universidades européias, os jesuítaspuderam, com mais facilidade, incorporar novas drogas <strong>em</strong>suas receitas” 76 .______________________74Manoel Gomes, “Informação da Ilha chamada Maranhão”, p. 334 (grifo nosso).75Serafim Leite, História, Tomo IV, <strong>Livro</strong> III, Cap. III, p. 186.76M. H. M. Ferraz, “A Química Médica”, p. 697.48 - 15/04/2009
As boticas jesuíticas, <strong>em</strong>bora tenham se tornado célebres,eram ainda poucas no século XVIII 77 . Para entendermos qualo universo <strong>em</strong> que as boticas jesuíticas se inseriam no Brasil,primeiramente citamos A. R. Ferreira que, <strong>em</strong> finais do séculoXVIII, afirmava não haver ainda boticas nas povoaçõesde Moreira e Thomar, na Amazônia, tampouco os r<strong>em</strong>édiosmais domésticos, comuns <strong>em</strong> outras boticas (como as doRio de Janeiro e Bahia, por ex<strong>em</strong>plo), razão pela qual a mortandadeera muito grande entre o povo dessas vilas 78 . E. Pohl,ao viajar no início do século XIX pelos sertões do Brasil, notouque “quanto à assistência médica, os habitantes [...] sãodignos de dó; não possu<strong>em</strong> médico n<strong>em</strong> farmácia” 79 .As boticas no Brasil, entretanto, faziam parte de uma redede boticas sob domínio português. Em Lisboa, as duas boticasjesuíticas mais importantes eram as boticas do Colégiode Santo Antão e de São Roque, que “eram apenas uma pequenaparte de uma rede de boticas distribuídas pelo país epelos domínios ultramarinos, <strong>em</strong> Évora, Coimbra, Bragança,Baía, Maranhão, Olinda, Recife, Pará, Rio de Janeiro, <strong>Santos</strong>,S. Paulo, Goa, Macau e outros locais” 80 .Nas boticas existentes, a renovação era feita constant<strong>em</strong>ente,com os medicamentos que se mandavam buscar de______________________77Serafim Leite, História, Tomo IV, <strong>Livro</strong> III, Cap. III, p. 189, afirma que, <strong>em</strong> 1757,a Botica do Colégio do Pará “era a única da cidade”. Curiosamente, o mesmoSerafim Leite, Artes e ofícios, p. 32, afirma que “como se sabe os Padres daCompanhia de Jesus, da Assistencia de Portugal, tiveram Colégios, Residências eFazendas desde o Amazonas ao Rio da Prata e da costa atlântica ao Mato Grosso”(estas indicações geográficas refer<strong>em</strong>-se, segundo ele, aos anos de 1549 a 1760).78Alexandre Rodrigues Ferreira, Viag<strong>em</strong> filosófica ao Rio Negro, p. 76. Os relatosde Alexandre Rodrigues Ferreira são bastante importantes, já que seus trabalhossão considera<strong>dos</strong> cientificamente como um <strong>dos</strong> primeiros levantamentos completos,no final do século XVIII e início do século XIX, da natureza e <strong>dos</strong> povoamentos daregião norte do Brasil, com ênfase nos aspectos econômicos da Amazônia.Historicamente, também, seus trabalhos anteced<strong>em</strong> os trabalhos de Spix e Martius.79J. E. Pohl, Viag<strong>em</strong> ao interior do Brasil, p. 102.80J. P. F. S. Dias, op. cit., pp. 338-9 (grifo nosso). O autor afirma que a botica deSanto Antão guardava 566 receitas, d<strong>em</strong>onstrando que esta botica não se destinavaexclusivamente para o uso interno do colégio jesuítico. Cf. P. J. C. Silva, op. cit., p.16, ao referir-se à fecunda produção intelectual no âmbito da Companhia de Jesus.15/04/200949
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