POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010eliminação do antigo sistema duodecimal,de atribuição do orçamento, a introduçãodo novo sistema de gestão financeira doEstado (SISTAFE), o melhoramento dosprocessos de procurement, os desembolsosmais pontuais dos doadores, melhoresestimativas das datas de arranque deprojectos, e a permissão, por parte de algunsdoadores, de o Governo de Moçambiquepagar as suas contribuições de contrapartidaou impostos usando os mesmos créditos ousubvenções dos projectos.O investimento médio anual necessáriopara cumprir as metas dos ODM naszonas rurais foi estimado em 70 milhõesde dólares americanos. 127 A primeira fasedo Programa Nacional de Abastecimentode Água e Saneamento Rural (2009-2011)vai requerer cerca de 200 milhões dedólares americanos. Embora as despesasprevistas para água urbana ultrapassem oinvestimento estimado necessário, há umdéfice de aproximadamente 35 por centoem relação ao sector de água rural. 128 Oscompromissos orçamentais actuais para osaneamento indicam que foram prometidoscerca de 5 por cento dos fundos necessáriospara o saneamento rural, 3 milhões dedólares americanos por ano, contra os cercade 22 milhões necessários. No saneamentourbano, foi prometido cerca de metade domontante necessário. 129 Dado o consideráveldéfice, é pouco provável que se alcancem osODM relacionados com água e saneamento.Estão, no entanto, a ser mobilizados recursospara preencher o défice de financiamento,quer através da criação de um fundo comum,quer melhorando a coordenação dos fundosdo programa.O Governo de Moçambique reportou em 2010que 7,6 por cento (241 milhões de dólarese 8.464 milhões de meticais) do orçamentototal do Estado foram atribuídos ao sectorda água, 130 o que representa um aumentosignificativo comparativamente aos 2,8 porcento registados em 2003 (ver Tabela 3.5).Numa tentativa para reduzir as disparidadesgeográficas, o Programa Nacional deAbastecimento de Água e Saneamento Ruralserá implementado em carácter prioritário emprovíncias e distritos que reúnam os critériosacordados, que incluem a cobertura de águae saneamento actual, o nível de pobreza,compromissos escritos e colocação adequadade pessoal, entre outros.Apesar deste aumento na percentagem doorçamento total atribuída ao sector da águae saneamento, a contribuição do governosofreu um grande retrocesso. Em 2006, 66 porcento das despesas para água e saneamentoforam cobertas com financiamento externo. 131De acordo com uma análise sobre oinvestimento total do sector em 2010, 85por cento do financiamento provém agorade recursos externos, embora esta situaçãotenha conhecido uma ligeira diminuição apartir de 2009. 132 , 133Tabela 3.5: Financiamento do sector da água como percentagem do orçamento do estado, 2003-2010, anosseleccionados2003 2004 2005 2008 2009 20103% 2% 2,5% 5% 4,5% 8%Fonte: Ministério das Finanças, 2008, 2010.98
CAPÍTULO 3: SOBREVIVÊNCIA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL4. ConclusõesHá várias causas subjacentes às elevadastaxas de mortalidade e condições de saúdeprecárias das crianças moçambicanas, bemcomo substanciais barreiras à melhoria dasua sobrevivência e desenvolvimento.Uma das principais causas subjacentesda morbilidade e mortalidade infantil emMoçambique é a falta de acesso a serviçospúblicos, tanto em termos de acesso físicocomo económico, e a má qualidade destesserviços. As barreiras ao acesso e uso deserviços são particularmente graves paraos agreados familiares mais pobres, para aspessoas que vivem em áreas rurais e paraas que têm menos escolaridade, o que temdirectamente que ver com maior índice demortalidade nas crianças desses agregados.Existem disparidades significativas naalocação de recursos do nível central adeterminadas províncias e áreas rurais, oque se pode em parte atribuir a insuficientesligações entre instrumentos da política desaúde, que enfatizam a redução da pobrezae a necessidade de ter como alvo gruposvulneráveis, e a planificação e sistemas dealocação de recursos do sector.A pobreza continua a ser uma das principaiscausas subjacentes da mortalidade infantil.As taxas de mortalidade nas crianças dasfamílias mais pobres são significativamentemais elevadas do que as das famílias emmelhor situação. Dados do inquérito MICS2008 mostram que os níveis de mortalidadeinfantil começam a diminuir de formasignificativa apenas no quarto quintil deriqueza. A pobreza contribui para as altastaxas de mortalidade infantil não só devidoàs desvantagens que as famílias maispobres enfrentam, tais como menor acessoa serviços, mais baixos níveis educacionaise ambientes de vida menos saudáveis, mastambém devido à falta imediata de dinheiropara pagar por serviços ou medicação.As práticas de prestação de cuidados,entre as quais as práticas de alimentaçãoinfantil, higiene e saneamento, e a gestãode doenças da infância desempenhamum papel importante na sobrevivência edesenvolvimento saudável das crianças.As práticas de prestação de cuidadosnão só têm um impacto directo na saúdedas crianças, como também moldam ocomportamento e tratamento dos seuspróprios filhos mais tarde na vida. Devidoaos baixos níveis educacionais, ao limitadoacesso a informação sobre prevenção etratamento de doenças e ao ambiente poucosaudável de muitas famílias, as práticas dosprovedores de cuidados são, muitas vezes,inadequadas ou mesmo prejudiciais à saúdedas crianças.O acesso a água potável e, particularmente,a saneamento, continua baixo. Água potávele saneamento são essenciais para melhorara saúde das crianças e das famílias, devido àelevada prevalência de doenças transmitidaspela água. A falta de acesso a água potávelretira também tempo das actividadesprodutivas, uma vez que o tempo médiogasto até uma fonte de água é de quase umahora, uma deslocação mais frequentementefeita por mulheres e raparigas.Apesar dos progressos realizados nacriação de um ambiente propício (quadroinstitucional sectorial e directrizes eabordagens de implementação conexas),a capacidade para implementar asintervenções na escala necessária e coma qualidade exigida nem sempre estápresente a nível subnacional. Além disso, asavaliações do sector recentemente levadasa cabo mostraram que, apesar dos avançosnas áreas urbanas, um número significativode pessoas a viver em áreas peri-urbanascarece de água potável e instalaçõessanitárias adequadas.99