POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010ou moles na dieta das crianças, com umafrequência adequada: duas a três vezes pordia para bebés entre os seis e oito meses, etrês vezes por dia para crianças dos nove aosonze meses, para além do leite materno. Emmédia, apenas metade das crianças de seisa onze meses receberam o número mínimorecomendado de refeições, conforme sepode ver na Figura 3.15. É considerável avariação entre as províncias, com setentae um por cento das crianças nesta faixaetária a serem devidamente alimentadas noNiassa, em comparação com 32 por centoem Inhambane. 42Alimentação infantil e transmissão doHIVUma das formas de transmissão de HIV damãe para a criança (transmissão vertical)(para além de durante a gravidez e o parto)é através do aleitamento materno. Foideterminado que o risco total da transmissãovertical é de cerca de 30-45 por cento.Numerosos estudos têm documentado queo risco de as crianças não amamentadasmorrerem por causas que podem ser evitadaspelo aleitamento materno, nomeadamentedesnutrição, diarreia e infecções, ésemelhante ao risco de as amamentadasserem infectadas com HIV. A chamada taxa desobrevivência livre de HIV aos 18 meses oudois anos de idade é semelhante para ambosos grupos. As orientações anteriores para asmães que vivem com HIV recomendavam oaleitamento materno exclusivo, a menos quea alimentação substituta fosse “aceitável,viável, acessível, sustentável e segura”. 43Em finais de 2009, a OMS actualizou assuas directrizes, recomendando o uso demedicamentos anti-retrovirais (para a mãee para a criança) durante a amamentação. 44Desta forma, a criança tira proveito do leitematerno, bem como da protecção contra atransmissão do HIV. O Ministério da Saúdede Moçambique, no âmbito do Programa dePrevenção da Transmissão Vertical, adoptouas recomendações mais recentes da OMSem meados de 2010. Isto significa que asmães seropositivas serão aconselhadas aseguir a amamentação exclusiva dos seusfilhos durante os primeiros seis mesesde vida, e a continuar a amamentar, comalimentos complementares adequados,até aos 12 meses ou acima dessa idade.Depois disso, a amamentação pode serinterrompida. Durante todo o período deamamentação e até uma semana depois, ascrianças devem tomar uma dose diária domedicamento anti-retroviral Nevirapina. Asnovas orientações deverão ser introduzidasde forma faseada a partir de 2011.Deficiências em micro-nutrientes:Deficiência de iodoA deficiência de iodo é a maior causaindividual evitável de dano cerebrale retardamento mental no mundo. 45A deficiência de iodo reduz também asobrevivência infantil, o crescimento e odesenvolvimento. As mulheres grávidas comdeficiência de iodo correm risco de aborto,nado-morto e outras complicações. Asconsequências visíveis e mais graves destadeficiência são bócio (aumento da glândulatiróide) e cretinismo. Nas suas formas maismoderadas, pode levar a uma redução dodesenvolvimento mental.A estratégia com melhor relação custoeficáciapara prevenir a deficiência de iodoé a iodização universal do sal, que consistena fortificação, com iodo, do sal destinadoa consumo humano e animal. Além disso,podem distribuir-se cápsulas de óleo iodadoem áreas com uma elevada prevalênciadesta deficiência.Em Janeiro de 2000, o Ministério da Saúdee o Ministério da Indústria e Comércioemitiram o Diploma Ministerial conjunton.º 7/2000, que estabelece que todo o salproduzido localmente ou importado paraconsumo humano e animal seja iodado.Contudo, até à data, a execução destadirectiva tem sido relativamente fraca.O Ministério da Indústria e Comércioinvestiu na formação de produtores de sale forneceu equipamento para iodizaçãodo sal e monitoria, enquanto o Ministério64
CAPÍTULO 3: SOBREVIVÊNCIA E DESENVOLVIMENTO INFANTILda Saúde tem vindo a apoiar actividadespromocionais. A ONG PSI está tambéma apoiar o Governo na criação de maiorprocura de sal iodado.O uso do sal iodado aumentou ligeiramente,de 54 por cento em 2003 para 58 por centoem 2008. 46 O maior aumento proveio de ummaior uso de sal iodado nas áreas urbanas;nas zonas rurais verificou-se uma ligeiradiminuição. As diferenças no uso de saliodado e nos níveis de sal adequadamenteiodado entre as províncias são acentuadas.Em 2008, apenas 25 por cento das famíliasutilizava sal adequadamente iodado (mais de15 partes por milhão), devendo-se esta baixapercentagem provavelmente a deficiênciasna iodização e práticas de embalagem nafábrica e/ou a inadequadas práticas dearmazenamento.Curiosamente, Cabo Delgado, Nampulae Zambézia, províncias produtoras de saliodado, têm os menores níveis de iodizaçãodo sal. Entre 2003 e 2008, os níveis deiodização diminuíram em todas as trêsprovíncias, o que pode dever-se ao factode o sal não processado, não iodado, estarmais facilmente disponível nas áreas onde éextraído e mais facilmente poder ser levadopara o mercado local.Os agregados familiares dos quintis emmelhor situação usam com mais frequênciasal iodado e também mais facilmente saladequadamente iodado, o que se deveprovavelmente ao facto de esses agregadosterem mais possibilidades de adquirir saliodado que, muitas vezes, custa o dobroou mais que o sal não iodado, e ao factode poderem estar melhor equipados paraarmazenar o sal de forma adequada.Em 2007, o Ministério da Saúde iniciou adistribuição de cápsulas de óleo iodadonas províncias com as mais elevadas taxasde deficiência de iodo, nomeadamenteNiassa, Nampula, Zambézia e Tete, tendocomo grupo-alvo da intervenção mulheresgrávidas e crianças de 7-24 meses. Em2008, foram distribuídas cápsulas de iododurante as Semanas de Saúde da Criança,alcançando 89 por cento de cobertura, masem 2009 a intervenção foi descontinuada. 47Figura 3.16: Uso de sal iodado por província, 2008 Fonte: MICS 200865