A Primeira Relação Sexual, o Primeiro Casamento e o ... - UFMG
A Primeira Relação Sexual, o Primeiro Casamento e o ... - UFMG A Primeira Relação Sexual, o Primeiro Casamento e o ... - UFMG
785.1.1 Negras entre 20 e 24 anos, baixa escolaridadePara as mulheres entre 20 e 24 anos, negras e de baixa escolaridade, a primeira relaçãosexual deve acontecer quando o final da adolescência já estiver mais próximo. Na concepçãode algumas participantes, o ideal seria que a vida sexual de uma mulher começasse somentequando ela tivesse, pelo menos, 18 anos. Segundo elas, caso a primeira relação sexual resulteem gravidez, as jovens com menos de 18 anos não estão preparadas para o nascimento de umfilho. Além disto, estas mulheres também acreditam que, até esta idade, as jovens não têmmaturidade e não sabem dizer “não” caso o companheiro insista para ter uma relação sexual.Esta visão reforça a noção de que a responsabilidade pelo acontecimento do ato sexual é damulher, a qual deve saber dizer “não” aos avanços sexuais do homem, como uma estratégiapara evitar uma gravidez não planejada. Em seu estudo sobre o controle feminino na primeirarelação sexual, MOORE (2004) observa que as mulheres que escolhem o parceiro e omomento para que a primeira relação aconteça, relatam suas experiências de uma formapositiva e dizem que iniciaram a vida sexual por vontade própria e não devido à coerção doparceiro. No caso deste estudo, o diálogo a seguir revela a percepção que mulheres de BeloHorizonte possuem a este respeito.M: Existe uma idade certa, ou mais adequada, para a mulher ter sua primeirarelação sexual?P3: Acho que existe uma idade certa sim...acho que é melhor depois dos 18anos.P4: Acho que 18 ainda é muito jovem...jovem não é bom...não temmaturidade...a mulher não sabe dizer não...aí...se engravida é problema nacerta....(Grupo 1, 20 a 24 anos, Baixa Escolaridade, Negra)Adicionalmente, é possível observar que a preocupação central, expressa por estasjovens, é particularmente voltada para a gravidez. Na verdade, o discurso destas mulheresmostra uma ligação estreita entre idade de início da vida sexual e gravidez. Além disto, napercepção destas participantes, a AIDS - como conseqüência da relação sexual - e as doençassexualmente transmissíveis (DST) fazem parte do universo masculino. Também segundo elas,as propagandas sobre o uso de métodos contraceptivos, veiculadas nos meios decomunicação, reforçam a visão tradicional de que a responsabilidade pela contracepção é um
79papel que cabe à mulher. Já o desafio de se proteger contra as inúmeras doenças sexualmentetransmissíveis, incluindo a AIDS, é uma tarefa masculina. É importante ressaltar que as falasdestas jovens negras e de baixa escolaridade sugerem que a camisinha é um métodomasculino e a mulher parece não ter poder para exigir que o parceiro a utilize durante umarelação. Já a pílula ou o dispositivo intra-uterino (DIU), que embora evitem a gravidez, nãoprotegem contra as doenças sexualmente transmissíveis (DST), incluindo a AIDS, são vistoscomo métodos femininos. O diálogo a seguir deixa evidente esta visão e aponta para anecessidade de implementação de ações que incentivem as mulheres a adotarem práticassexuais mais seguras.P2: O rapaz bota a camisinha no bolso, o marido (com ênfase), o marido(com ênfase), cê entendeu? Vai, tem a camisinha, não pega doença, nãoengravida [a mulher]...aí manda vê. E a mulher não, já é, diferente. Não temuma propaganda: mulher, não tenha filho! Tome anticoncepcional!P6: Mulher, põe o DIU. (risos).P3: Diminua sua despesa: tome anticoncepcional! Devia mostrar. Meninas,deixem de ser, como que é? Faz uma propaganda, uma propagandaverdadeira, real. Não adianta mostra a propaganda com aquela atriz: ah, omicrovilar agora... é seguro. Pronto. Acabô. Aí vem propaganda: usecamisinha! A camisinha não dá. Camisinha foi feita prá home e o resto foifeito prá mulher.(Grupo 1, 20 a 24 anos, Baixa Escolaridade, Negra)Além do mais, estas jovens acreditam que, caso a relação sexual resulte em gravidezantes do casamento, existe uma possibilidade muito grande de abandono pelo companheiro.No estudo realizado com adolescentes de treze capitais brasileiras, CASTRO,ABRAMOVAY & SILVA (2004) também observam que uma das grandes dificuldadesenfrentadas pelas jovens que engravidam refere-se à instabilidade na relação com o parceiro,o qual, geralmente, não mostra interesse em assumir a paternidade e a relação com a mulher.A afirmação de uma das participantes retrata a questão do abandono.P3: ...depois que ocê tiver grávida....ocê é largada...isso machuca demais...(Grupo 1, 20 a 24 anos, Baixa Escolaridade, Negra).
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785.1.1 Negras entre 20 e 24 anos, baixa escolaridadePara as mulheres entre 20 e 24 anos, negras e de baixa escolaridade, a primeira relaçãosexual deve acontecer quando o final da adolescência já estiver mais próximo. Na concepçãode algumas participantes, o ideal seria que a vida sexual de uma mulher começasse somentequando ela tivesse, pelo menos, 18 anos. Segundo elas, caso a primeira relação sexual resulteem gravidez, as jovens com menos de 18 anos não estão preparadas para o nascimento de umfilho. Além disto, estas mulheres também acreditam que, até esta idade, as jovens não têmmaturidade e não sabem dizer “não” caso o companheiro insista para ter uma relação sexual.Esta visão reforça a noção de que a responsabilidade pelo acontecimento do ato sexual é damulher, a qual deve saber dizer “não” aos avanços sexuais do homem, como uma estratégiapara evitar uma gravidez não planejada. Em seu estudo sobre o controle feminino na primeirarelação sexual, MOORE (2004) observa que as mulheres que escolhem o parceiro e omomento para que a primeira relação aconteça, relatam suas experiências de uma formapositiva e dizem que iniciaram a vida sexual por vontade própria e não devido à coerção doparceiro. No caso deste estudo, o diálogo a seguir revela a percepção que mulheres de BeloHorizonte possuem a este respeito.M: Existe uma idade certa, ou mais adequada, para a mulher ter sua primeirarelação sexual?P3: Acho que existe uma idade certa sim...acho que é melhor depois dos 18anos.P4: Acho que 18 ainda é muito jovem...jovem não é bom...não temmaturidade...a mulher não sabe dizer não...aí...se engravida é problema nacerta....(Grupo 1, 20 a 24 anos, Baixa Escolaridade, Negra)Adicionalmente, é possível observar que a preocupação central, expressa por estasjovens, é particularmente voltada para a gravidez. Na verdade, o discurso destas mulheresmostra uma ligação estreita entre idade de início da vida sexual e gravidez. Além disto, napercepção destas participantes, a AIDS - como conseqüência da relação sexual - e as doençassexualmente transmissíveis (DST) fazem parte do universo masculino. Também segundo elas,as propagandas sobre o uso de métodos contraceptivos, veiculadas nos meios decomunicação, reforçam a visão tradicional de que a responsabilidade pela contracepção é um