A Primeira Relação Sexual, o Primeiro Casamento e o ... - UFMG

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106considerada importante? Para algumas jovens, porque ela representa a possibilidade de valorização damulher pelo companheiro. Apesar disto, enfatizam que, ao “guardar a virgindade” para o casamento,a mulher pode estar correndo um risco de perceber, depois de casada, que não tem afinidade sexualcom o companheiro e se sentir bastante frustada por causa disto.Embora as jovens enfatizem que, hoje em dia, a virgindade ainda é considerada umacaracterística desejável entre as mulheres, elas frisam que existem inúmeras pressões para queuma mulher deixe de ser virgem. Os amigos e a televisão são as principais fontes de incentivopara que uma menina perca sua virgindade. Algumas jovens lembram, ainda, que o valoratribuído à virgindade pode variar em função dos locais onde as pessoas vivem. Em cidadesmenores, a perda da virgindade é encarada com mais preconceito do que nas cidades maiores.Em grandes centros urbanos, como é o caso de Belo Horizonte, ser virgem é consideradoquase como um comportamento fora do normal e as pessoas que optam por permaneceremvirgens são motivos de piadas e comentários jocosos. Apesar disto, muitas jovens enfatizamque gostariam de se casar virgens, pois a liberdade para ter sexo antes do casamento gerouuma certa banalização nas relações.A mudança no significado e no valor conferido à virgindade, ao longo dos tempos, foiapontada por muitas participantes. As mulheres entre 50 e 59 anos revelam que, quando eramjovens, existiam dois grupos de mulheres solteiras: as virgens e as que não eram mais virgens.Enquanto as virgens eram valorizadas e bem vistas pela sociedade, as que não eram maisvirgens eram marginalizadas. A virgindade de uma mulher servia, portanto, para lhe garantiruma boa reputação, definida em uma das falas da seguinte maneira: “Quando era jovem, areputação da gente ficava exatamente entre as pernas”. Atualmente, de acordo com todos osgrupos, isto já não ocorre. Entre as participantes da coorte mais velha, somente as negras debaixa escolaridade são enfáticas ao dizer que a virgindade permanece um atributo importantenos dias de hoje. Entre as negras de alta escolaridade, o tema é bastante controvertido - paraalgumas, ser virgem ainda é importante; para outras, isso é algo que já não tem maisimportância. Entre as brancas, é consenso que a virgindade não é importante. Para elas, ter aliberdade de iniciar uma vida sexual ainda na juventude e antes de casar faz com que aspessoas aumentem suas chances de terem casamentos melhores. Para elas, “hoje é maisimportante ter experiência”. Assim como para as jovens, a maior parte das mulheres destacoorte de idade também acredita que existe uma pressão para que as jovens, hoje em dia,deixem de ser virgens.

107Os diálogos dos grupos mostram que a primeira relação sexual de uma jovem e aperda da virgindade ainda são assuntos envoltos em tabus, preconceitos e incertezas. Estudossobre sexualidade geralmente enfatizam a resistência, a insegurança e a dificuldade quemuitas pessoas apresentam para conversarem abertamente sobre estes temas (CASTRO,ABRAMOVAY & SILVA, 2004; MIRANDA-RIBEIRO, 1997). Neste sentido, indaga-se:com quem as jovens estão conversando sobre sexualidade? Onde elas procuram informaçõespara sanar suas dúvidas? Estas questões são abordadas no item a seguir.5.4 As conversas e a busca de informações sobre sexoDe uma maneira geral, há um consenso entre as participantes de que as conversas sobretemas como a primeira relação sexual e a virgindade, normalmente, não acontecem dentro dafamília. Embora muitas reconheçam que o ideal seria conversar com a mãe ou com ummédico ginecologista para esclarecer dúvidas e obter informações corretas sobre questõesligadas à sexualidade e ao comportamento sexual, elas enfatizam que as informações sobreestes assuntos são, geralmente, obtidas em conversas com amigas, em programas de televisãoou em revistas. Uma das conseqüências deste comportamento é a obtenção de informaçõesparciais ou erradas.Segundo as mulheres mais jovens, as mães normalmente apresentam posturas maisrígidas e possuem mais dificuldades para conversarem com as filhas sobre sexo do que asamigas. A formação que receberam, envolta em preconceitos e tabus, é vista como uma dasmaiores razões para tal comportamento. Além disto, muitas jovens enfatizam que uma mãedificilmente aceita o pedido de uma filha para ir ao ginecologista sem suspeitar que ela estáquerendo iniciar sua vida sexual, ou até mesmo, que já iniciou. Este clima de desconfiança,assim como o medo de represálias, fazem com que as jovens procurem outras pessoas, ououtras fontes de informação, quando o tema a ser tratado é ligado ao comportamento sexual.Para as mulheres da geração mais velha, as dificuldades para conversar sobre sexocom as filhas são obstáculos que ainda não foram superados. Muitas relatam que ficamconstrangidas e que, pela formação que tiveram, não se sentem à vontade para iniciar umdiálogo neste sentido com seus filhos e filhas. Para elas, pensar que estão preparadas paraestas conversas é uma coisa, mas conversar, de fato, é outra.O rápido panorama apresentado indica a dificuldade para que os diálogos sobre temasrelacionados a aspectos do comportamento e da vida sexual aconteçam entre mães e filhas.Diante deste cenário, pergunta-se: com quem as jovens conversam sobre temas relacionados à

107Os diálogos dos grupos mostram que a primeira relação sexual de uma jovem e aperda da virgindade ainda são assuntos envoltos em tabus, preconceitos e incertezas. Estudossobre sexualidade geralmente enfatizam a resistência, a insegurança e a dificuldade quemuitas pessoas apresentam para conversarem abertamente sobre estes temas (CASTRO,ABRAMOVAY & SILVA, 2004; MIRANDA-RIBEIRO, 1997). Neste sentido, indaga-se:com quem as jovens estão conversando sobre sexualidade? Onde elas procuram informaçõespara sanar suas dúvidas? Estas questões são abordadas no item a seguir.5.4 As conversas e a busca de informações sobre sexoDe uma maneira geral, há um consenso entre as participantes de que as conversas sobretemas como a primeira relação sexual e a virgindade, normalmente, não acontecem dentro dafamília. Embora muitas reconheçam que o ideal seria conversar com a mãe ou com ummédico ginecologista para esclarecer dúvidas e obter informações corretas sobre questõesligadas à sexualidade e ao comportamento sexual, elas enfatizam que as informações sobreestes assuntos são, geralmente, obtidas em conversas com amigas, em programas de televisãoou em revistas. Uma das conseqüências deste comportamento é a obtenção de informaçõesparciais ou erradas.Segundo as mulheres mais jovens, as mães normalmente apresentam posturas maisrígidas e possuem mais dificuldades para conversarem com as filhas sobre sexo do que asamigas. A formação que receberam, envolta em preconceitos e tabus, é vista como uma dasmaiores razões para tal comportamento. Além disto, muitas jovens enfatizam que uma mãedificilmente aceita o pedido de uma filha para ir ao ginecologista sem suspeitar que ela estáquerendo iniciar sua vida sexual, ou até mesmo, que já iniciou. Este clima de desconfiança,assim como o medo de represálias, fazem com que as jovens procurem outras pessoas, ououtras fontes de informação, quando o tema a ser tratado é ligado ao comportamento sexual.Para as mulheres da geração mais velha, as dificuldades para conversar sobre sexocom as filhas são obstáculos que ainda não foram superados. Muitas relatam que ficamconstrangidas e que, pela formação que tiveram, não se sentem à vontade para iniciar umdiálogo neste sentido com seus filhos e filhas. Para elas, pensar que estão preparadas paraestas conversas é uma coisa, mas conversar, de fato, é outra.O rápido panorama apresentado indica a dificuldade para que os diálogos sobre temasrelacionados a aspectos do comportamento e da vida sexual aconteçam entre mães e filhas.Diante deste cenário, pergunta-se: com quem as jovens conversam sobre temas relacionados à

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