A Primeira Relação Sexual, o Primeiro Casamento e o ... - UFMG
A Primeira Relação Sexual, o Primeiro Casamento e o ... - UFMG A Primeira Relação Sexual, o Primeiro Casamento e o ... - UFMG
104A visão apresentada anteriormente é compartilhada por muitas companheiras dogrupo, as quais mencionam que também acham muito difícil ter um diálogo aberto sobre sexocom seus filhos e filhas. Além disto, elas também revelam que se casavam sem saber nadasobre sexo e com muito medo do que aconteceria na noite de núpcias. Para elas, se soubessemque não teriam afinidade sexual com o parceiro, e da importância que isto têm na vida de umcasal, não teriam se casado. O diálogo a seguir elucida estas questões.P42: É muito difícil, né? Essa coisa de falar sobre sexo, da gente abrirmesmo. De falá claro.P41: Mas, é muito difícil. Por mais que a gente queira, eles também não seabrem com a gente totalmente. A mãe não é amiga, a primeira amiga dafilha não.P40: Agora, a gente mesmo, quer saber de uma coisa, sabe quando eu tiveorgasmo na minha vida? Nunca...como é que vô conversar com minha filha?Se pudesse, nem teria casado.P38: Eu vivi com meu marido muitos anos e nunca tive orgasmo comele..que casamento...P43: A gente tinha medo da noite do casamento..P40: Por isso que eu tô falando, como é que a gente vai conversa com asfilhas...(Grupo 7, 50 a 59 anos, Baixa Escolaridade, Branca)5.3.8 Brancas entre 50 e 59 anos, alta escolaridadePara o grupo de brancas da coorte de 50 a 59 anos e de alta escolaridade, hoje em dia,as jovens têm muita vergonha de revelar que ainda são virgens. A pressão do grupo éapontada como uma das razões centrais para que as mulheres mais novas não queiram deixartransparecer que ainda não tiveram nenhuma relação sexual e continuam virgens. Naconcepção destas mulheres, a televisão também tem um papel importante nestecomportamento, apresentando padrões que devem ser seguidos se um jovem quiser continuarpertencendo ao grupo, ou à “tribo”.Além disto, para estas participantes, muitos profissionais de saúde também não estãopreparados para lidar com o assunto quando recebem pacientes jovens. O relato de uma dasparticipantes sugere que, ao tentarem abrir espaços para um diálogo sobre sexo e sexualidade
105com as jovens, estes profissionais estão, em muitas ocasiões, atuando como agentes depressão, insistindo para saber sobre a vida sexual das mulheres. Na concepção de algumasmulheres deste grupo, esta postura pode gerar desconforto e descontentamento entre as jovensque ainda não iniciaram sua vida sexual. As falas destas mulheres estão em consonância comas das mulheres negras de baixa escolaridade, no sentido de que, para elas, existe umacobrança muito grande para que as jovens percam sua virgindade.P70: Eu acho que é muito mais estar (com ênfase)... porque hoje em dia eujá vi moças, por exemplo, meninas na televisão, ter vergonha de falá que évirgem.P73: A novela tá mostrando isso.P67: ... as perguntas que se fazem aos jovens é... quando que ocê perdeu...P72: Sua virgindade. Pergunta-se tanto prô rapaz como, quanto prá moçaum tipo de coisa dessa. E eles têm vergonha de falá que não.P67: Eu tenho a impressão que muitos, mesmo que não tenham tido a...P71: É... o relacionamento sexual, fala que teve, prá não ficá tendo gozaçãoda turma. Prá não ficá sendo criticado pela turma. Então, é aquele negóciode tribo, prá você sê aceito dentro do...P73: Da tribo, do grupo, você tem que sê igual a eles. Se você for diferente,eles não te aceitam. Aí, inclui a questão da... sexualidade, do relacionamentoe outras coisas piores ainda, que é o uso de drogas....P71: E isso é tão sério, em nível de profissionais competentes como eu pudevivenciá ontem. A minha filha ...ela foi à ginecologista...ela falô: mamãe, eunão estou gostando mais daquela médica porque ela fica muito tempofalando: e a sua atividade sexual, e a sua vida sexual, sabe? Tanto a de vinteum, como a dezessete. Eu falei: olha, você vai falá prá ela que você nãoquer tocá nesse assunto. Você não tem vida sexual ativa...(Grupo 11, 50 a 59 anos, Alta Escolaridade, Branca)5.3.9 SínteseDe uma forma geral, é possível dizer que há um consenso entre as participantes dosgrupos focais de que a virgindade ainda continua sendo vista como um atributo feminino importante.Entre as participantes da coorte mais jovem, somente as brancas de alta escolaridade não percebem avirgindade como uma característica feminina relevante nos dias de hoje. Mas por que a virgindade é
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104A visão apresentada anteriormente é compartilhada por muitas companheiras dogrupo, as quais mencionam que também acham muito difícil ter um diálogo aberto sobre sexocom seus filhos e filhas. Além disto, elas também revelam que se casavam sem saber nadasobre sexo e com muito medo do que aconteceria na noite de núpcias. Para elas, se soubessemque não teriam afinidade sexual com o parceiro, e da importância que isto têm na vida de umcasal, não teriam se casado. O diálogo a seguir elucida estas questões.P42: É muito difícil, né? Essa coisa de falar sobre sexo, da gente abrirmesmo. De falá claro.P41: Mas, é muito difícil. Por mais que a gente queira, eles também não seabrem com a gente totalmente. A mãe não é amiga, a primeira amiga dafilha não.P40: Agora, a gente mesmo, quer saber de uma coisa, sabe quando eu tiveorgasmo na minha vida? Nunca...como é que vô conversar com minha filha?Se pudesse, nem teria casado.P38: Eu vivi com meu marido muitos anos e nunca tive orgasmo comele..que casamento...P43: A gente tinha medo da noite do casamento..P40: Por isso que eu tô falando, como é que a gente vai conversa com asfilhas...(Grupo 7, 50 a 59 anos, Baixa Escolaridade, Branca)5.3.8 Brancas entre 50 e 59 anos, alta escolaridadePara o grupo de brancas da coorte de 50 a 59 anos e de alta escolaridade, hoje em dia,as jovens têm muita vergonha de revelar que ainda são virgens. A pressão do grupo éapontada como uma das razões centrais para que as mulheres mais novas não queiram deixartransparecer que ainda não tiveram nenhuma relação sexual e continuam virgens. Naconcepção destas mulheres, a televisão também tem um papel importante nestecomportamento, apresentando padrões que devem ser seguidos se um jovem quiser continuarpertencendo ao grupo, ou à “tribo”.Além disto, para estas participantes, muitos profissionais de saúde também não estãopreparados para lidar com o assunto quando recebem pacientes jovens. O relato de uma dasparticipantes sugere que, ao tentarem abrir espaços para um diálogo sobre sexo e sexualidade