4Sábado, 10 <strong>de</strong> março, final da manhã. Descontraído, nosso entrevistado após sua aula ministradano curso <strong>de</strong> graduação, recebeu a equipe do <strong>Alquimista</strong> vestindo uma camiseta branca <strong>de</strong>algodão – tipo pólo – com o logotipo do IQ<strong>USP</strong>. Tal como se traja a maioria dos estudantes donosso <strong>Instituto</strong>. Sua voz é compassada e segura. Seus pensamentos bem articulados. Médico <strong>de</strong>formação, mas bioquímico por vocação, teve uma infância bastante pobre, pois era filho <strong>de</strong>escriturário e que era, ao mesmo tempo, um pintor <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>s e que também tocava violino. Foipor duas vezes Diretor do IQ e também duas vezes candidato <strong>de</strong>rrotado a Reitor. Não lamentapela <strong>de</strong>rrota que, ao fim, se mostrou benéfica a ele. Estamos falando do Prof. Walter Colli.Acompanhe, a seguir, os principais momentos do seu fantástico <strong>de</strong>poimento:Prof. Walter ColliALQUIMISTA: Prof. Colli, por favor, fale-nos da suaformação e da sua opção pela Bioquímica.WC: Sim. Mas para isto tenho antes <strong>de</strong> falar da minha vida.Meu pai era escriturário do mais baixo nível. Ele assentava(escrevia) livros contábeis, era pintor <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>s e tocavaviolino. Morávamos numa vila, que tinha casinhas, massequer banheiros. O banho era <strong>de</strong> bacia na cozinha, o fogãoera <strong>de</strong> lenha e para fazer as nossas necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>scíamosuma escada para ter acesso a uma fossa. Essa foi a minha vidaaté os 9 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.ALQUIMISTA: E <strong>de</strong>pois?WC: Bem, meu pai faleceu vitimado por uma leucemia dotecido linfói<strong>de</strong>. Aí ficamos absolutamente na miséria. Então ostios, que eram irmãos da minha mãe, abrigaram a mim e àminha irmã, além <strong>de</strong> minha mãe, é claro. Um <strong>de</strong>sses tios, quetinha um armazém, pagou-me um curso <strong>de</strong> datilografia, on<strong>de</strong>me diplomei aos 10 anos. Fazia fatura para ele e ia aos bancospara pagar contas, mas também estudava em escola pública.ALQUIMISTA: E quando o senhor começou o seu cursosuperior?WC: Ingressei na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da <strong>USP</strong> em 1957 eme formei em 1962.ALQUIMISTA: O senhor chegou a clinicar?WC: Cliniquei apenas por pouco tempo quando estava nosexto ano e dava plantões no pronto-socorro dos institutos <strong>de</strong>aposentadoria como o dos bancários, industriários ecomerciários.ALQUIMISTA: Professor, por que então o senhor não se<strong>de</strong>dicou à Medicina?WC: Acontece que eu gostava muito <strong>de</strong> Genética e porisso ingressei também no curso <strong>de</strong> Biologia. Optei porMedicina pela perspectiva <strong>de</strong> maior segurança econômica nofuturo. Já no fim do primeiro ano <strong>de</strong> graduação, fui convidadopor Isaias Raw para fazer iniciação no laboratório <strong>de</strong>Bioquímica. Lá fiquei e já no terceiro ano ajudava nas aulaspráticas.ALQUIMISTA: Por favor, <strong>de</strong>talhe-nos um pouco mais.WC: Em 1963 fui nomeado instrutor, que era o auxiliar <strong>de</strong>ensino na época, sem mestrado e sem doutorado. Então, <strong>de</strong>1963 a 1966 fiz meu doutorado com o Prof. Isaias Raw comoorientador. Logo após a <strong>de</strong>fesa fui para Nova Iorque fazer omeu Pos-Doc e lá permaneci por dois anos trabalhando combio-energética e mitocôndria. Lá conheci um japonês <strong>de</strong> nomeMichio Oishi. Almoçávamos juntos todos os dias e passamos aplanejar experimentos <strong>de</strong> Biologia Molecular.ALQUIMISTA: Mas, como ficou a sua situação frente aovínculo já existente com a <strong>USP</strong>?WC: Solicitei maior tempo <strong>de</strong> licença junto à Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong>Medicina, que me conce<strong>de</strong>u mais um ano e sete meses.ALQUIMISTA: E o que o senhor produziu durante aqueletempo todo?WC: Durante todo aquele estágio e em co-autoria com oProf. Michio, publicamos quatro trabalhos nas revistas maisprestigiadas da época. Isto porque fomos dos primeiros a isolarum gene e fizemos vários estudos <strong>de</strong> mapeamento <strong>de</strong>cromossomos em bactérias, <strong>de</strong>ntre outras coisas.ALQUIMISTA: E qual foi o <strong>de</strong>sdobramento disso tudo queo senhor apontou?WC: No começo lidávamos com a Bioquímica clássica.Mas, <strong>de</strong>pois o futuro mostrou que a Genética e a Bioquímicairiam se fundir, tanto que a Biologia Molecular apareceu emfunção das duas. Na verda<strong>de</strong>, os pesquisadores provenientesda Genética e o da Bioquímica se amalgamaram tornando-as,no fundo, a mesma coisa. Hoje, as pesquisas mo<strong>de</strong>rnas nestasáreas mostram enorme sinergia, <strong>de</strong> forma que o conhecimentona área <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> informação na célula <strong>de</strong> reaçõesquímicas implica conhecimento das reações químicascatalisadas pelas enzimas. Em outras palavras: você po<strong>de</strong> virda Química, da Medicina ou da Biologia. O que se precisaconhecer é um pouco <strong>de</strong> cada coisa. Há enormeinterdisciplinarida<strong>de</strong> entre todas.ALQUIMISTA: Colli, sua pessoa e personalida<strong>de</strong> sãobastante conhecidas e, sobretudo, respeitadas ante acomunida<strong>de</strong> cientifica. Contudo, o seu nome envolve aspectosainda pouco conhecidos. Nesse sentido, fala-se que você fezteatro amador e que, também, pertenceu aos quadros políticosdo Partidão. Estas informações são proce<strong>de</strong>ntes?WC: Em primeiro lugar sempre tive uma curiosida<strong>de</strong> geralmuito gran<strong>de</strong>. Contudo, não sou contemplativo. Souexecutivo, ou seja, quero fazer coisas e me meto a fazê-las. Foiassim que na Medicina fun<strong>de</strong>i um grupo <strong>de</strong> teatro amador quemontou, no máximo, quatro peças. Agora quanto a pertencerao Partidão é uma historia que estou cansado <strong>de</strong> ouvir. Já fui,digamos assim, discriminado por isso e, às vezes, ajudado.Nunca fui do Partido Comunista. Na verda<strong>de</strong>, durante afaculda<strong>de</strong> era amigo do pessoal <strong>de</strong> esquerda. Naquela épocahavia uma efervescência e os jovens eram atraídos pelaesquerda. Na verda<strong>de</strong>, sempre fui in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, mas minhasformas <strong>de</strong> pensar quase sempre coincidiam com as do pessoalvinculado ao Partidão, particularmente nas questõesuniversitárias e à exceção do centralismo <strong>de</strong>mocrático. Então opessoal brincava comigo, dizendo que eu era da linha auxiliar.Esse pessoal, que eu reencontrei na AD<strong>USP</strong> <strong>de</strong> 1980, semprefoi muito sério e sempre apoiou o progresso, a ciência e amo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, além <strong>de</strong> saber fazer autocrítica. Qualida<strong>de</strong>s queoutras esquerdas não souberam <strong>de</strong>monstrar e que estão por aíe, ainda por cima, mandando e arranhando a <strong>de</strong>mocracia.
Entretenimento para divulgação<strong>de</strong> cultura e ciência5O ensino e a aprendizagem estão ligados, <strong>de</strong> forma que a boa qualida<strong>de</strong>do primeiro gera o sucesso do segundo. Visando criar alternativas paraatrair a atenção dos alunos, inúmeras técnicas <strong>de</strong> aprendizagem têm sidoestudadas e testadas em todos os níveis do conhecimento. Seguindo alinha <strong>de</strong> métodos não-formais <strong>de</strong> ensino surgiu a Cia. Ouroboros.É formada por alunos <strong>de</strong> graduação em química e <strong>de</strong> pós-graduação. Édirigida pela Dra. Karina Omuro Lupetti e coor<strong>de</strong>nada, até 2006, pelaProfa. Dra. Clelia Mara <strong>de</strong> Paula Marques, ambas com formação emQuímica. Conta com 30 integrantes, todos amadores. Des<strong>de</strong> o início <strong>de</strong>2007 a coor<strong>de</strong>nação do grupo passou às mãos do Prof. André Farias <strong>de</strong>Moura, como projeto <strong>de</strong> extensão da UFSCar.O principal objetivo da companhia é divulgar a ciência para o públicoem geral, através <strong>de</strong> peças teatrais, com efeitos especiais proporcionadospor experimentos <strong>de</strong> Química e ensinar <strong>de</strong> maneira lúdica toda a ciênciaque está por trás do mundo mágico que a arte cênica po<strong>de</strong> proporcionar.O Ouroboros, criado em 2004, está ligado ao Departamento <strong>de</strong> Químicada Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Carlos e está <strong>de</strong>senvolvendo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2005o projeto “Além da lenda”, uma peça teatral que, através do sonho <strong>de</strong> umjovem aluno <strong>de</strong> Química, conta sobre mitos da Ida<strong>de</strong> Média, como a lendado Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda, a fada Morgana e omago Merlin. Mostra aspectos da Alquimia e da Iatroquímica, explicandociência <strong>de</strong> uma maneira clara e correta, porém, com muita <strong>de</strong>scontração ebom humor.A peça “Além da lenda” foi apresentada 5 vezes em São Carlos noTeatro Florestan Fernan<strong>de</strong>s na UFSCar; 2 vezes em Ribeirão Preto,durante a calourada 2006 na <strong>USP</strong>; e em Campinas durante o XIII ENEQ(Encontro Nacional <strong>de</strong> Ensino em Química) na UNICAMP. A peça Magiavs Ciência tem sido apresentada, então, em diferentes cida<strong>de</strong>s e escolas noEstado <strong>de</strong> São Paulo, levando experiências <strong>de</strong> química e bom humor paraensinar um pouco da história da ciência. A peça foi apresentada em SãoCarlos, na UFSCar, durante a Universida<strong>de</strong> Aberta <strong>de</strong> 2006, on<strong>de</strong> foramfeitas 4 apresentações. A peça O sonho <strong>de</strong> Bernardo foi direcionada aosalunos <strong>de</strong> 1a a 4a série, on<strong>de</strong> houve uma gran<strong>de</strong> interação com as criançase por fim foi contada uma estória com experiências <strong>de</strong> química às criançasdo maternal à pré-escola, que realmente se mostraram muito interessadascom a bruxa, as fadinhas e também com as reações químicasapresentadas, incentivando <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo as crianças a entrarem para omundo da ciência.Em 2006, o grupo estreou em outubro, a peça: O “Químico e oMonstro”, uma analogia ao Médico e o Monstro, enfocando <strong>de</strong>sta vez osgran<strong>de</strong>s nomes da ciência nacional e internacional, que apareceram emcena <strong>de</strong> maneiras inesperadas, trazendo o seu conhecimento <strong>de</strong> modomuito divertido e ilustrativo. A peça foi apresentada em 3 sessões sendoarrecadada ½ tonelada <strong>de</strong> alimentos, doados as entida<strong>de</strong>s carentes <strong>de</strong> SãoCarlos. Encerramos o ano com uma apresentação ao orfanato dos Salesianosem São Carlos para 80 crianças epais <strong>de</strong> alunos. As ativida<strong>de</strong>s dos alunosartistas amadores são totalmentevoluntárias e eles utilizam esse trabalhocomo estágio e ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cunhosocial complementando seus cursos <strong>de</strong>licenciatura e bacharelado.Contatos com o grupo po<strong>de</strong>rão serfeitos pelo correio eletrônico (e-mailwww.ouroboros.rg3.net) ou diretamentepelo telefone 016/8133-1706. Falar comKarina (karinalupetti@yahoo.com.br).Exibições teatrais e apresentação <strong>de</strong> grupoOuroboros na Praça XV <strong>de</strong> São Carlos