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DIVERSIDADE BIOLÓGICA E DINAMISMO ... - José Eli da Veiga

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1in: MAY, Peter (org) Economia do meio ambiente: teoria e prática, 2ª ed, RJ: Elsevier/Campus, 2010, p. 289-308<strong>DIVERSIDADE</strong> BIOLÓGICA E <strong>DINAMISMO</strong> ECONÔMICO NO MEIO RURALJosé <strong>Eli</strong> <strong>da</strong> <strong>Veiga</strong> e Eduardo Ehlers(Janeiro 2009)IntroduçãoQuando a primeira edição deste livro foi publica<strong>da</strong>, em 2003, a degra<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>biodiversi<strong>da</strong>de e o aquecimento global estavam praticamente empatados na liderança <strong>da</strong>sprincipais preocupações ambientais. Mas, nos anos recentes, o aquecimento global disparouna dianteira desse ranking. Provavelmente porque seus efeitos podem ser mais facilmentecompreendidos e sentidos pela socie<strong>da</strong>de em geral, levando muito mais gente a questionaros alicerces e os rumos do industrialismo. Além disso, as previsões sobre os gravesimpactos provocados pelo aquecimento global, inclusive o desaparecimento <strong>da</strong>biodiversi<strong>da</strong>de, aju<strong>da</strong>ram a estabelecer essa hierarquia. Mas é obvio que os esforços paratentar solucionar os principais problemas ambientais não podem ser excludentes, casocontrário, de que adiantaria conter o aquecimento do planeta se até lá a diversi<strong>da</strong>de deespécies já estiver praticamente extinta?Este capítulo abor<strong>da</strong> a importância econômica <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de biológica, buscandoidentificar mecanismos que permitam conciliar sua conservação e a criação de empresas eempregos. Inicialmente, mostra-se que a valorização <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de é um fenômenorecente. No passado predominava a crença de que, nos trópicos, a natureza diversifica<strong>da</strong> ehostil dificultava ou mesmo impedia qualquer tentativa de civilizar os povos e os paísesdessas regiões. A eliminação <strong>da</strong>s florestas tornaria o ambiente tropical mais semelhante aoeuropeu, ampliando, assim, as chances de prosperi<strong>da</strong>de. Foi só após a publicação <strong>da</strong>sdescobertas de Charles Darwin, que as teses sobre a natureza tropical perderam o sentido.Nas últimas déca<strong>da</strong>s do século XX a diversi<strong>da</strong>de biológica já era aceita como um trunfo enão como um obstáculo ao crescimento econômico. To<strong>da</strong>via, a estratégia convencional deconservação, basea<strong>da</strong> na manutenção e expansão de áreas protegi<strong>da</strong>s, é insuficiente paramanter a diversi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. A “saí<strong>da</strong>” é a ampliação <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des econômicas queconservem ou mesmo ampliem a biodiversi<strong>da</strong>de, tais como: o aproveitamento <strong>da</strong>sameni<strong>da</strong>des no meio rural e a diversificação dos sistemas produtivos agrícolas. Por fim,conclui-se que para avançar nessa direção é necessário taxar muitas <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des quecontribuem para degra<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> natureza e investir os recursos arreca<strong>da</strong>dos no pagamentode serviços ambientais e na promoção de empreendimentos voltados à conservação <strong>da</strong>biodiversi<strong>da</strong>de.


2A visão <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de na históriaQual é a dimensão <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>? Quantas espécies de fato existem no planeta?Não se tem respostas exatas a estas perguntas. As estimativas apontam variações entre 5 e100 milhões, mas muitos especialistas acreditam que o número de espécies vivas é deaproxima<strong>da</strong>mente 12,5 milhões. Dentre essas, cerca de 1,7 milhões são conheci<strong>da</strong>s, sendo:750 mil insetos, 41 mil vertebrados, 250 mil plantas, além de milhares de invertebrados,fungos, algas e microorganismos (Parker, 1982 apud: Wilson, 1997:4). Estimativas ain<strong>da</strong>“rudimentares” mostram que em 2006 o número de espécies de insetos conhecidos jáchegava a 900 mil. Só os insetos somam aproxima<strong>da</strong>mente um milhão de trilhões de seresvivos e as 10 mil trilhões de formigas vivas tem pesam tanto quanto to<strong>da</strong> a populaçãohumana (Wilson, 2008:42).Mesmo desconhecendo-se a totali<strong>da</strong>de de espécies, ampliam-se as evidências científicassobre a sua importância para a manutenção <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> em todo o planeta. Se os insetosdesaparecessem, em pouco tempo morreria a maioria <strong>da</strong>s plantas e dos animais (Wilson,2008:44). Dentre os argumentos que justificam a importância biológica e econômica <strong>da</strong>biodiversi<strong>da</strong>de destacam-se os seguintes (OCDE, 1996-a:7):– A biodiversi<strong>da</strong>de facilita o funcionamento dos ecossistemas, permitindo que oplaneta se mantenha habitável (por exemplo: trocas de carbono, manutenção<strong>da</strong>s fontes de água superficial e subterrânea, proteção e fertilização dos solos,regulação <strong>da</strong> temperatura e do clima, dentre outras funções).– Oferece valores estéticos, científicos, culturais, dentre outros valoresuniversalmente reconhecidos, mesmo sendo intangíveis e não monetários.– A biodiversi<strong>da</strong>de é a fonte de muitos produtos utilizados pelas socie<strong>da</strong>descontemporâneas: alimentos, fibras, produtos farmacêuticos, químicos, etc.,além de ser a principal fonte de informações para o desenvolvimento <strong>da</strong>biotecnologia.– A biodiversi<strong>da</strong>de é a base para as culturas agrícolas e para o melhoramento edesenvolvimento de novas varie<strong>da</strong>des 1 .– A beleza e a singulari<strong>da</strong>de de diversos ecossistemas têm valor para uma sériede ativi<strong>da</strong>des recreativas e de ecoturismo.1 Dentre esses argumentos, talvez o mais perceptível seja o aproveitamento <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de para aalimentação humana. Ain<strong>da</strong> que a nossa dieta se concentre atualmente em aproxima<strong>da</strong>mente 150 espécies –com forte predominância de quatro: trigo, arroz, milho e batata - no curso <strong>da</strong> história estima-se quehumani<strong>da</strong>de tenha utilizado cerca de 7000 espécies de plantas comestíveis. Não obstante, existemaproxima<strong>da</strong>mente 75.000 espécies que poderiam ser incluí<strong>da</strong>s nos nossos cardápios, muitas delas comvantagens sobre as que usamos atualmente (Myers, 1984 apud: Wilson, 1997:19; Witt, 1985 apud: Plotkin,1997:139).


3O uso do termo biodiversi<strong>da</strong>de é bastante recente. Começou a ser usado em artigos dobiólogo Edward O. Wilson no final dos anos 1980. Em linhas gerais, é definido como adiversi<strong>da</strong>de de to<strong>da</strong>s as formas de vi<strong>da</strong> na Terra. Na perspectiva científica, trata-se de to<strong>da</strong> avarie<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> estu<strong>da</strong><strong>da</strong> em três níveis: os ecossistemas; as espécies que os compõem; eos genes que compõem essas espécies (Wilson, 1997). Soa agora como um termo comum,amplamente utilizado nas escolas e nos jornais, mas nem por isso seu significado tornou-seclaro e certeiro. Usamos indistintamente o termo biodiversi<strong>da</strong>de para expressar adiversi<strong>da</strong>de de seres vivos presentes num pomar de macieiras, no interior <strong>da</strong> FlorestaAmazônica, ou quando nos referimos à relação o conjunto de florestas e as mu<strong>da</strong>nçasclimáticas. Essa abrupta mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> escala obscurece a noção de biodiversi<strong>da</strong>de (LeGuyader, 2008). É como se usássemos a mesma palavra para fazer referência aosmilímetros, aos metros e aos quilômetros.Se o uso do termo é recente, a noção de varie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> já estava presente em váriascivilizações antigas. Gregos, romanos, chineses e vários outros povos esboçaram sistemasde classificação e se preocuparam em relacionar os diferentes organismos vivos conhecidosem suas épocas (Lewinsohn, 2001:1). No Europa, entre os séculos XVI e XVII, osnaturalistas criaram 25 sistemas para classificar as espécies botânicas. Mas foi em 1750 queo sueco Carl Lineu lançou uma proposta de classificação do mundo natural que se sobrepôsàs demais e que permanece vigente até hoje: o Systema Naturae. A relação publica<strong>da</strong> em1758 já continha cerca de 9.000 espécies de plantas e de animais classifica<strong>da</strong>s por Lineu eseus assistentes. Esse número cresceu muito rapi<strong>da</strong>mente nos anos seguintes, não apenasdevido à invenção do microscópio - cujas lentes revelaram um novo universo deorganismos até então desconhecido -, como também, devido ao crescimento <strong>da</strong>s viagensexploratórias dos naturalistas europeus (Lisboa, 1997:69; Lewinsohn, 2001:2).A atração pelo exótico, a vontade de estu<strong>da</strong>r a flora e a fauna dos trópicos e o interesse emdescobrir novas espécies comercialmente exploráveis foram os principais fatores quemotivaram os viajantes a conhecer o novo mundo. “O Brasil, particularmente, por deixarsuas fronteiras fecha<strong>da</strong>s até 1808, revelava-se como terra prometi<strong>da</strong> para os interesses dosnaturalistas”. E a revogação <strong>da</strong> proibição à entra<strong>da</strong> dos estrangeiros possibilitou a vin<strong>da</strong> dedezenas de naturalistas europeus – como Langsdorf, Wied-Neuwied, Saint Hilaire, Spix,Martius – e de pintores – como Taunay, Rugen<strong>da</strong>s, Debret - que retratavam as imagenspitorescas <strong>da</strong>s expedições. Nos relatos desses viajantes naturalistas fica evidente o fascíniodiante <strong>da</strong> exuberância e <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s formas de vi<strong>da</strong> encontra<strong>da</strong>s no novo continente(Lisboa, 1997:69).Entretanto, é interessante notar que o deslumbramento desses viajantes diante <strong>da</strong> naturezados trópicos contrastava com os preceitos teóricos que traziam em suas bagagens. Afinal,no início do século XIX, ain<strong>da</strong> predominava a crença nas teses “decadentistas” formula<strong>da</strong>spelo naturalista francês, Conde de Buffon. Em 1749 Buffon publicava os três primeirosvolumes – de um total de 36 – de sua Histoire Narturelle, na qual tentou comprovar a“inferiori<strong>da</strong>de” <strong>da</strong> natureza no continente americano. A ausência de animais de grandeporte - camelos, dromedários, elefantes, girafas – era uma prova irrefutável de suas teorias.Para ele, a desprezível onça dos trópicos jamais poderia ser compara<strong>da</strong> a um leão <strong>da</strong>ssavanas e o tapir brasileiro não passava de um “elefantinho ridículo” que não conseguiu se


4desenvolver. O estado bruto <strong>da</strong> natureza, o aspecto pantanoso <strong>da</strong> paisagem, a constanteumi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s florestas e a intolerável presença dos mais variados tipos de insetos tornavamo ambiente insalubre para o desenvolvimento de qualquer animal de grande porte (Gerbi,1960 apud: Lisboa, 1997: 78).Mesmo sem nunca ter pisado na América, Buffon estendeu suas teorias sobre os animais degrande porte aos homens do novo mundo, tentando provar que a natureza era um enormeobstáculo ao desenvolvimento desses povos. O homem americano é marcado peladebili<strong>da</strong>de física, pelo tamanho insignificante, pela insensibili<strong>da</strong>de e pela carência devivaci<strong>da</strong>de. Ao contrário, nas regiões de clima temperado podiam ser encontrados homensmais “belos” e “bem feitos”. A explicação de Buffon parecia bastante convincente: nasregiões de clima temperado a natureza era muito mais “organiza<strong>da</strong>” e, portanto, maispropícia à civilização. Ao adentrar um bosque, qualquer um poderia facilmente identificaras diferentes espécies de plantas e de animais ali presentes. Ao contrário, nas florestastropicais, a natureza não havia atingido este estágio de maturi<strong>da</strong>de e de “organização”; asplantas e os animais se misturavam de tal forma que era praticamente impossível identificalos.Este ambiente “hostil” dificultava o desenvolvimento dos povos selvagens einviabilizava qualquer tentativa de civilização (Gerbi, 1960 apud: Lisboa: 78).Por quase um século, essas idéias foram amplamente aceitas no insipiente meio científicoeuropeu. To<strong>da</strong>via, a aproximação ao desconhecido mundo dos trópicos levou muitosnaturalistas a questionar as consagra<strong>da</strong>s teses de Buffon. Ao cruzar as temi<strong>da</strong>s águas domar do Caribe, em 1799, Alexander von Humboldt relata seu encantamento diante <strong>da</strong>natureza do novo mundo, contribuindo para reverter a imagem depreciativa do continenteamericano (Lisboa, 1997:81). Mas o cheque-mate nas teorias de Buffon seria <strong>da</strong>do em 1859com a publicação <strong>da</strong> teoria evolucionista de Charles Darwin. Em Origem <strong>da</strong>s espéciesDarwin mostra que, ao contrário do que se pensava, os seres vivos estão em constanteprocesso evolutivo e a diversi<strong>da</strong>de genética é fun<strong>da</strong>mental aos mecanismos de seleçãonatural <strong>da</strong>s espécies.Obviamente as idéias de Darwin e de outros pesquisadores sobre a importância <strong>da</strong>diversi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s espécies não convenceram a comuni<strong>da</strong>de científica e, muito menos, orestante <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. Tanto que o século XX foi marcado pela crescente degra<strong>da</strong>ção dosecossistemas e pela extinção de milhares de espécies de plantas e de animais. Mesmoassim, essas idéias deram início a um processo de transição no qual a diversi<strong>da</strong>de biológicapassa a ser considera<strong>da</strong> – ain<strong>da</strong> que em círculos muito restritos – uma vantagemcompetitiva do meio rural e não um obstáculo ao seu crescimento econômico.Impactos econômicos <strong>da</strong> per<strong>da</strong> de biodiversi<strong>da</strong>deCom a acelera<strong>da</strong> degra<strong>da</strong>ção dos ecossistemas tropicais, particularmente no último quartodo século XX, proliferaram os trabalhos científicos sobre o tema. Em meados dos anos1980, o biólogo norte-americano Edward O. Wilson adotou o termo “biodiversi<strong>da</strong>de”, que


5rapi<strong>da</strong>mente foi incorporado pelos estudiosos <strong>da</strong> área. Biodiversi<strong>da</strong>de é to<strong>da</strong> a varie<strong>da</strong>de deorganismos vivos em todos os ecossistemas do planeta. O estudo <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de incluitambém as interações e os processos que fazem os organismos, as populações e osecossistemas preservarem sua estrutura e funcionarem em conjunto.A necessi<strong>da</strong>de de se criar instituições que regulamentassem tanto a proteção como o uso <strong>da</strong>biodiversi<strong>da</strong>de levou 157 países a assinaram a Convenção Sobre Diversi<strong>da</strong>de Biológica(CDB) durante a Conferência <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s sobre Meio Ambiente eDesenvolvimento, a Rio-92. Os signatários deste documento se comprometeram a respeitara soberania dos países sobre seu patrimônio genético, bem como, possibilitar o acesso aesses recursos desde que em condições previamente estabeleci<strong>da</strong>s entre as partesinteressa<strong>da</strong>s.“Diversi<strong>da</strong>de biológica significa a variabili<strong>da</strong>de de organismos vivos de to<strong>da</strong>sas origens e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendoain<strong>da</strong> a diversi<strong>da</strong>de dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas."(SMA, 1997:16).Não é a primeira vez na história do planeta que a biodiversi<strong>da</strong>de corre riscos de extinção.Desde a emergência <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, há 4 bilhões de anos, pelo menos cinco grandes episódiosnaturais provocaram drásticas reduções no número de espécies. Alguns especialistasconsideram que a atual pressão antrópica sobre os ecossistemas seria o sexto grande eventode extinção em massa. E é bem provável que eles tenham razão. Em condições naturaisuma espécie é extinta a ca<strong>da</strong> ano (Myers, 1997:36), mas hoje estima-se que 10.000 espéciesdesapareçam anualmente (Wilson, 1987 apud: Myers 1997:39).É muito difícil estabelecer com segurança a importância relativa dos seis fenômenos quemais provocam a per<strong>da</strong> de biodiversi<strong>da</strong>de: (i) destruição e alteração de habitats; (ii)exploração de espécies “selvagens”; (iii) introdução de espécies exóticas; (iv)homogeneização; (v) poluição; (vi) mu<strong>da</strong>nças ambientais globais. Quanto à extinção globalde animais, estima-se que um terço seja provoca<strong>da</strong> pela destruição/alteração de habitats,outro terço venha <strong>da</strong> introdução de espécies, e o terceiro decorra de formas insustentáveisde caça e de pesca. Mas cerca de dois terços dos “estoques” de peixes marinhos estão sendoultra-explorados, ou já foram extintos. E três quartos dos desaparecimentos de pássarosdecorrem diretamente de mu<strong>da</strong>nças de uso dos solos, exatamente como acontece com aextinção de plantas (WCMC,1992 apud: OCDE, 1996-a).As formas mais visíveis dessas mu<strong>da</strong>nças de uso dos solos são as derruba<strong>da</strong>s de florestas, adrenagem de áreas úmi<strong>da</strong>s, a construção de estra<strong>da</strong>s, a expansão e criação de aglomeraçõesurbanas etc.. To<strong>da</strong>via, o pior parece ser a resultante fragmentação de formações naturaisque antes eram contínuas. Muitas espécies desaparecem; muitas vezes diminui a população<strong>da</strong>s que subsistem; movimentos passam a ser restritos; e torna-se mais freqüente a presençade pre<strong>da</strong>dores e competidores que perderam seus habitats naturais (Meffe & Carroll,1994apud: <strong>Veiga</strong>, 1999).


7nacional e 5% <strong>da</strong> flora e <strong>da</strong> fauna mundiais. A flora dos Cerrados é considera<strong>da</strong> a mais ricado mundo dentre as savanas (WWF, 1995). A a<strong>da</strong>ptação destas plantas aos solos, ao clima eaos pre<strong>da</strong>dores característicos dos ambientes dos Cerrados faz delas “bancos gênicos demuito maior valor do que o atribuído e que merecem ter importância muito maior do queapenas a de produzir carvão e enormes áreas de cultivo (...)” (Castro, 1997:49).A diminuição <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de na Mata Atlântica, na Floresta Amazônica e nos Cerradostraz graves consequências para a agricultura, para a silvicultura, para a pesca, para oturismo, dentre outras ativi<strong>da</strong>des. No caso <strong>da</strong> agricultura são pouco estu<strong>da</strong>dos os impactos<strong>da</strong> redução <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de, mas é óbvio que ela compromete a identificação de novasespécies de plantas e de varie<strong>da</strong>des potencialmente cultiváveis, para fins medicinais,alimentícios, industriais etc..A dilapi<strong>da</strong>ção florestal também acarreta diminuição <strong>da</strong> estabili<strong>da</strong>de dos agroecossistemas,devido a desequilíbrios provocados pela eliminação de inimigos naturais de pragas(Macedo e Campanhola, 1997). Isso aumenta os gastos com agrotóxicos e a contaminaçãodo ambiente. Outro problema, mais imediato, é a diminuição dos recursos hídricos; bilhõesde metros cúbicos de água deixam de infiltrar naturalmente nos solos em decorrência <strong>da</strong>redução <strong>da</strong> cobertura vegetal, acarretando na redução dos estoques disponíveis com gravesconsequências para o abastecimento <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des, <strong>da</strong> agricultura e dos reservatórios deusinas hidrelétricas. A somatória desses problemas provoca impactos incalculáveis naeconomia do país.Desenvolvimento e conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>deO conveniente compromisso com “desenvolvimento sustentável”, que se firmou a partir demeados dos anos 1980, é uma manifestação inequívoca de que se tornou imprescindívelencontrar um modo menos destrutivo e mais duradouro de crescimento. Mas, paraconquistar mais sustentabili<strong>da</strong>de (já que o processo de desenvolvimento não poderá atingilaem termos absolutos) é preciso definir o conjunto de operações necessárias a umacompleta reorientação do processo de crescimento econômico.To<strong>da</strong>via, qualquer arranjo institucional é prisioneiro do caminho que foi seguido nopassado (path-dependence), pois to<strong>da</strong> trajetória prévia tende a ser consoli<strong>da</strong><strong>da</strong> peloprocesso de aprendizado <strong>da</strong>s organizações, pela modelização subjetiva <strong>da</strong>s questões, porexternali<strong>da</strong>des de rede, etc. Ou seja, a economia tende a engendrar políticas que reforçamas incitações e as organizações existentes (North, 1990:99). Só poderia ser ilusória,portanto, a idéia de uma brusca vira<strong>da</strong> na estrutura institucional de incitações que foi sendosedimenta<strong>da</strong> durante os três séculos que multiplicaram a produtivi<strong>da</strong>de por 40 ou 45 vezes,sendo que ela sequer havia dobrado durante os sete séculos anteriores (Bairoch,1997). Umasituação que se torna ain<strong>da</strong> mais grave num momento histórico em que a luta contra odesemprego tende a impor uma busca desenfrea<strong>da</strong> de qualquer fórmula que possa favorecero crescimento <strong>da</strong>s economias nacionais. Em tais circunstâncias, a mu<strong>da</strong>nça de rumo dita<strong>da</strong>por preocupações ambientais só se legitimará se puder simultaneamente incentivar um


8crescimento rico em empregos (em vez de restringi-lo). Isto é, se a precaução ecológicapuder impulsionar o “empreendedorismo” (<strong>Veiga</strong>, 1999).Mas é possível conciliar a conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de com a criação de novos negóciose de novos empregos? É óbvio que isso só acontecerá se houver simultânea retração deativi<strong>da</strong>des que degra<strong>da</strong>m os habitats e crescimento <strong>da</strong>s que os conservam ou recuperam.Para que isso aconteça, é necessário que as últimas sejam mais vantajosas que as primeiras,o que requer a combinação de vários tipos de intervenção pública (em geral estatais) deestímulo e dissuasão. O problema é que, tradicionalmente, as intervenções públicas sãolimita<strong>da</strong>s à criação e manutenção, muitas vezes deficitária, de uni<strong>da</strong>des de conservação(parques, reservas, estações etc.). Só excepcionalmente essa intervenção tem comoestratégia o financiamento de outras ações conservacionistas, ou de iniciativas queestimulem o desenvolvimento sustentável.Em termos mundiais, estima-se que o gasto anual com a conservação dos atuais 13,1milhões de km2 de áreas protegi<strong>da</strong>s atinja 6 bilhões de dólares. Uma conservação maisadequa<strong>da</strong> dessas uni<strong>da</strong>des exigiria um suplemento de 2,3 bilhões de dólares. A inclusão demais 7,4 milhões de km2 nessas reservas globais (90% dos quais em paísessubdesenvolvidos) exigiria 11 bilhões de dólares para a obtenção e mais 3,3 bilhões anuaispara a sua manutenção. Segundo os autores dessas estimativas, tratam-se de quantiasirrisórias se compara<strong>da</strong>s ao valor de nocivos subsídios (sobretudo agroalimentares),estimados em 1 trilhão de dólares por ano (James, Kevin & Balmford, 1999).Como denúncia, o raciocínio é até aceitável. Mas a idéia de que recursos atualmente usadospara subsidiar ativi<strong>da</strong>des do agribusiness no mundo desenvolvido possam ser transferidospara a manutenção e expansão <strong>da</strong>s áreas protegi<strong>da</strong>s (principalmente em países periféricos)só pode ser considera<strong>da</strong> quixotesca. Os atuais esquemas de regulação <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>desagropecuárias do primeiro mundo resultam de instituições sedimenta<strong>da</strong>s por muitas déca<strong>da</strong>sde pragmatismo socioeconômico. No início estavam exclusivamente voltados à sustentaçãode preços internos, para que fosse garanti<strong>da</strong> estabili<strong>da</strong>de de ren<strong>da</strong> mínima a multidões deagricultores. Mas aos poucos foram adquirindo muitas outras dimensões, à medi<strong>da</strong> em queos agricultores se tornavam minoria no próprio meio rural (<strong>Veiga</strong>, 1999).Predomina nas organizações volta<strong>da</strong>s à conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de a idéia de utilizarrecursos fiscais dos mais tradicionais para manter e expandir reservas controla<strong>da</strong>s pelopoder público, ou criar fundos que compensem custos assumidos por empresários ruraisesclarecidos (isto é, proprietários de florestas, fazendeiros e agricultores familiaresdispostos a adotar práticas ecologicamente mais corretas que as convencionais, mas quasesempre menos rentáveis). Pior, nunca se recolhe dos agentes que mais se beneficiam <strong>da</strong>existência de uni<strong>da</strong>des de conservação os recursos necessários para a sua própriamanutenção. O mais comum é que os proprietários fundiários <strong>da</strong>s imediações fiquem comas novas ren<strong>da</strong>s de localização e outros tipos de quase-ren<strong>da</strong> engendrados pela existência deparques, reservas ou estações, sem qualquer tipo de contraparti<strong>da</strong>. Quase não se penaliza asativi<strong>da</strong>des mais prejudiciais à biodiversi<strong>da</strong>de, e muito menos se maneja as ativi<strong>da</strong>des menos


9agressivas mediante instrumentos econômicos que também permitam uma arreca<strong>da</strong>ção derecursos a serem usados na incitação de ativi<strong>da</strong>des benéficas (<strong>Veiga</strong>, 1999).Neste sentido, a integração entre políticas ambientais e políticas econômicas está muitomais “atrasa<strong>da</strong>” no âmbito <strong>da</strong> conservação <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de biológica do que, por exemplo,no domínio energético, no qual os recursos arreca<strong>da</strong>dos por “ecotaxas” têm sido ca<strong>da</strong> vezmais usados, por exemplo, para reduzir impostos que inibem a criação de empregos(OCDE, 1996-b, 1996-c, 1997). No fundo, a criação e a manutenção de áreas protegi<strong>da</strong>sdeveria ser acompanha<strong>da</strong> por um conjunto de intervenções de recuperação e conservaçãocapazes de dissuadir a degra<strong>da</strong>ção e gerar excedentes monetários (pelo menos durante otempo em que essa degra<strong>da</strong>ção continuar existindo). Mas onde esses excedentes seriamaplicados? Existem ativi<strong>da</strong>des capazes de, ao mesmo tempo, estimular a conservação e acriação de empregos?Pelo menos duas ações já acumulam resultados suficientemente convincentes podendo seraponta<strong>da</strong>s como possíveis “saí<strong>da</strong>s” para a criação de uma espécie de “empreendedorismoverde”. São estas: o aproveitamento <strong>da</strong>s ameni<strong>da</strong>des no meio rural, particularmente nasáreas que ain<strong>da</strong> dispõem de heranças naturais, e a diversificação dos sistemas produtivosagrícolas.Ganhando com a conservação dos ecossistemasGanharam muita importância nas últimas déca<strong>da</strong>s as políticas públicas que visam oferecerperspectivas de um futuro mais promissor às áreas rurais. Particularmente às maisperiféricas, onde o dinamismo econômico tende a se esvair, ou sequer chega a ocorrer.Num passado longínquo, o essencial era poder expedir para as ci<strong>da</strong>des um volumecrescente <strong>da</strong>s mercadorias primárias que elas mais deman<strong>da</strong>vam: alimentos, fibras,madeira, minérios e energia. Também era condição necessária dispor <strong>da</strong> exploraçãoracional de riquezas naturais raramente abun<strong>da</strong>ntes e nem sempre renováveis. Mas nãodemorou para que se tornasse bem mais decisiva a transformação local dos bens primáriosantes de exportá-los às ci<strong>da</strong>des, pois tal agregação de valor logo passa a gerar mais ren<strong>da</strong> eemprego do que as ativi<strong>da</strong>des agropecuárias, florestais, pesqueiras ou minerais. Odinamismo passou a depender muito do tino empresarial dos que obtinham o capitalnecessário ao emprego <strong>da</strong> mão-de-obra libera<strong>da</strong> pelas outras ativi<strong>da</strong>des. O sucesso naindustrialização de produtos primários aju<strong>da</strong>va a atrair os demais empreendimentos cruciaispara o desenvolvimento regional (<strong>Veiga</strong>, 1999).Acontece que ultimamente a dinamização econômica de uma região rural começou a sermuito mais determina<strong>da</strong> pela captação <strong>da</strong>s ren<strong>da</strong>s urbanas que se transferem pela freqüenteestadia de famílias que constróem segun<strong>da</strong>s residências (chácaras e sítios de recreio, casasde veraneio ou chalés de montanha), pela presença sazonal de famílias em férias, pelasvisitas dos mais diversos tipos de turistas, esportistas, congressistas, ou ain<strong>da</strong>, pelasignificativa imigração de aposentados. O que há em comum entre esses grupos é a buscade um contato mais próximo com a natureza, defini<strong>da</strong> pelo biólogo Edward Wilson como:


10“... é aquela parte do ambiente original e de suas formas de vi<strong>da</strong> quepermanece depois do impacto humano. Natureza é tudo aquilo no planetaterra que não necessita de nós e pode existir por si só.” (Wilson, 2008:23).O dinamismo econômico de certas áreas rurais está, portanto, ca<strong>da</strong> vez mais atrelado àcapaci<strong>da</strong>de de explorar as “ameni<strong>da</strong>des” presentes em territórios que puderam evitar ouimpedir a degra<strong>da</strong>ção de seus patrimônios natural e cultural (<strong>Veiga</strong>, 1999). A necessi<strong>da</strong>dede atribuir a mais alta priori<strong>da</strong>de à capitalização do valor <strong>da</strong>s ameni<strong>da</strong>des rurais foi,justamente, a principal conclusão <strong>da</strong> oficina de trabalho que a OCDE promoveu no Japãoem setembro de 1997, na qual foram discuti<strong>da</strong>s as dinâmicas rurais de uma dúzia de países.E dela resultou a recomen<strong>da</strong>ção de dois tipos básicos de políticas: as que estimulem a diretacoordenação entre os provedores e os beneficiários <strong>da</strong>s ameni<strong>da</strong>des (apoio à ação coletiva eà valorização comercial); e as que ajudem a mu<strong>da</strong>r certas regras econômicas(regulamentações e incentivos financeiros). O mais curioso, entretanto, é que os oitoestudos de caso citados são experiências que articulam o aproveitamento econômico deameni<strong>da</strong>des à conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de (OCDE, 1999-a).A idéia geral é que a preservação <strong>da</strong>s ameni<strong>da</strong>des não deve paralisar o desenvolvimentolocal, mas também não pode permitir que o dinamismo econômico venha justamente adestruir as características <strong>da</strong> região. Trata-se de encontrar o caminho do meio (“to strike abalance”) entre a manutenção ou o aumento <strong>da</strong> oferta de ameni<strong>da</strong>des e a promoção docrescimento econômico (OCDE, 1999-a:100).As ameni<strong>da</strong>des rurais estão muito freqüentemente liga<strong>da</strong>s ao manejo de importantes fontesde biodiversi<strong>da</strong>de, desde as uni<strong>da</strong>des de conservação de fragmentos naturais poucoalterados (como os parques nacionais), até paisagens bem artificializa<strong>da</strong>s. Obviamente omanejo dessas áreas não se presta apenas à exploração <strong>da</strong>s ameni<strong>da</strong>des. Os ecossistemasconservados ou preservados também são a principal fonte de “matéria-prima” para oemergente mercado <strong>da</strong> “bioprospecção”.A Convenção <strong>da</strong> Biodiversi<strong>da</strong>de – hoje ratifica<strong>da</strong> por 174 países com a ilustre exceção dosEUA – estabeleceu os modos de exploração dos recursos biológicos pela engenhariagenética. Institucionalizando direitos de proprie<strong>da</strong>de física e intelectual, ela facilitou anegociação direta entre o poder público e as empresas priva<strong>da</strong>s de biotecnologia, o quetende a resultar em contratos de bioprospecção prevendo uma exploração econômica nãodestrutiva dos recursos genéticos, e uma divisão “justa e equânime” dos lucros. A fonte deinspiração foi o contrato que já havia sido estabelecido entre o laboratório americanoMerck & Co. e o Instituto Nacional <strong>da</strong> Biodiversi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Costa Rica (INBio), organismoprivado sem fins lucrativos que depende do Ministério dos Recursos Naturais <strong>da</strong>quele país.Em troca de mil amostras, o INBio recebeu em dois anos mais de um milhão de dólares,sendo que a empresa ain<strong>da</strong> se comprometeu a pagar royalties sobre medicamentos quevierem a ser desenvolvidos a partir dessa base genética (<strong>Veiga</strong>, 1999).Muitas críticas têm sido dirigi<strong>da</strong>s a esse modelo. Pequenos países subdesenvolvidospoderiam estar sendo colocados em forte concorrência, diante <strong>da</strong> emergente


11regulamentação do mercado de recursos genéticos. Estando em condições naturaissemelhantes, poderiam ser levados a praticar um ver<strong>da</strong>deiro “dumping ecológico”. Os que,ao contrário, não têm riquezas biológicas comparáveis, não poderiam encontrar nessafórmula qualquer tipo de solução para seus problemas de degra<strong>da</strong>ção ambiental. Alémdisso, a distribuição “justa e equânime” dos resultados financeiros dessas operações(prevista na Convenção) só poderia ser ensaia<strong>da</strong> mediante avaliações públicasinternacionais realiza<strong>da</strong>s no âmbito de uma negociação multilateral, em vez de dependeremde acordos bilaterais feitos entre uma multinacional e um país com ínfimo poder debarganha. De resto, os termos desses contratos nem precisam ser divulgados ou submetidosa qualquer organismo de controle e de arbitragem (Hermitte, 1992 apud: Aubertin e Vivien,1998; Pistorius e Wijk, 1993 apud: Aubetin e Vivien, 1998).Também há muita incerteza sobre a possibili<strong>da</strong>de de se fazer uma estimativa razoável <strong>da</strong>parte do preço final de um medicamento que deve ser atribuí<strong>da</strong> a uma seqüência de DNAretira<strong>da</strong> de um organismo. Até porque esse preço depende muito mais do poder de mercado<strong>da</strong> empresa, do que de seu custo de produção. É muito comum que sua margem de lucroseja composta essencialmente de ren<strong>da</strong>s de monopólio. Em tais circunstâncias, é poucoprovável que a comuni<strong>da</strong>de local ou regional possa realmente tirar bom proveito desse tipode contrato com uma multinacional. E é justamente por isso que muitas ONG denunciamtais acordos como formas “politicamente corretas” de legalizar a biopirataria, ao mesmotempo em que grandes firmas farmacêuticas parecem se desinteressar pela bioprospecção.Podem vir a considerar mais vantajoso um acerto com empresas especializa<strong>da</strong>s no acessoaos bancos de <strong>da</strong>dos de seqüências de genes, ou ain<strong>da</strong> um simples recurso a firmas decorretagem de recursos genéticos, como Biotics ou Shaman Pharmaceuticals, atualBotanical Pharmaceuticals (Aubertin & Vivien,1998:64).E ain<strong>da</strong> há outros inconvenientes. Os interesses específicos <strong>da</strong> deman<strong>da</strong> de recursosgenéticos podem vir a determinar a orientação <strong>da</strong> pesquisa, favorecendo o estudo dedetermina<strong>da</strong>s famílias, em vez estimular o conhecimento do conjunto <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>delocal (inclusive <strong>da</strong> fauna, que não costuma interessar a essas empresas, apesar de suacrucial influência sobre a reprodução vegetal). Também costuma ser necessária uma boadúzia de anos e mais de duzentos milhões de dólares para que uma molécula dota<strong>da</strong> dequali<strong>da</strong>des especiais dê origem a um novo medicamento. E parte <strong>da</strong>s contraparti<strong>da</strong>sfinanceiras que precedem os eventuais royalties podem ser, inclusive, usa<strong>da</strong>s pelosgovernos para fins que pouco ou na<strong>da</strong> têm a ver com os objetivos <strong>da</strong> CDB. No casoemblemático <strong>da</strong> Costa Rica, metade do que foi pago pela Merck foi para os cofres dogoverno sem qualquer obrigação de utilização em políticas previamente determina<strong>da</strong>s(Hermitte,1992 apud: Aubertin e Vivien, 1998; Pistorius e Wijk,1993 apud: Aubetin eVivien, 1998).Essas e muitas outras críticas só mostram a insipiência institucional do emergente mercadointernacional de recursos genéticos, problema que está intimamente relacionado àfragili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s legislações nacionais, particularmente entre os exportadores. Mas indicam,também, que a superação dessa fragili<strong>da</strong>de poderá resultar em oportuni<strong>da</strong>des de captaçãode recursos. Esses arranjos institucionais podem evoluir numa direção mais favorável àsexigências de uma efetiva conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de acopla<strong>da</strong> a uma perspectiva de


12desenvolvimento. Na<strong>da</strong> impede, por exemplo, o lançamento de ‘títulos’ ou ‘contratos derisco’ para incentivar uma responsável bioprospecção em uni<strong>da</strong>des de conservação. Se taisoportuni<strong>da</strong>des forem bem aproveita<strong>da</strong>s, certamente poderão contribuir tanto para reforçar eexpandir a proteção de ecossistemas, quanto para financiar outras iniciativas dedesenvolvimento sustentável (<strong>Veiga</strong>, 1999).Além de fonte de ameni<strong>da</strong>des e de biodiversi<strong>da</strong>de, os ecossistemas protegidos tambémpodem ser viveiros <strong>da</strong>s mais importantes vantagens competitivas que o processo dedesenvolvimento reserva às regiões rurais. Mas a sinergia que pode existir entre aconservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e a exploração dessas vantagens competitivas dificilmentese manifesta de forma espontânea, pois esbarra em enormes obstáculos culturais einstitucionais. Se tais obstáculos não forem vencidos, será muito mais difícil garantir, porexemplo, a preservação do que restou <strong>da</strong> Mata Atlântica e dos Cerrados brasileiros, onde aoferta dos pacotes de turismo de massa parece superar o amadurecimento de pactosterritoriais que possam aliar a conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de com muito dinamismoeconômico.Agricultura e biodiversi<strong>da</strong>deA conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de de um agroecossistema está associa<strong>da</strong> à manutenção dosrecursos genéticos, tanto <strong>da</strong>s espécies nativas como <strong>da</strong>s varie<strong>da</strong>des de plantas cultiva<strong>da</strong>s e<strong>da</strong>s raças de animais criados. Antes <strong>da</strong>s sementes se tornarem um insumo de origemindustrial os próprios agricultores faziam suas seleções e misturavam espécies de interessecomercial com outras que não eram cultiva<strong>da</strong>s. Em muitos casos, contribuíam para oaumento <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de genética, a<strong>da</strong>ptando diferentes varie<strong>da</strong>des de plantas paramicroambientes distintos. É o que alguns especialistas chamam de “mosaicos coevolutivos”(Norgaard, 1997:263).Na agricultura moderna a diversificação dos sistemas produtivos foi substituí<strong>da</strong> pelaespecialização. Muitos agrônomos e economistas acreditaram que a lógica <strong>da</strong> produção emescala, que fizera sucesso no setor industrial, poderia ser facilmente aplica<strong>da</strong> na agricultura.As monoculturas, altamente mecaniza<strong>da</strong>s e basea<strong>da</strong>s no emprego intensivo de insumosquímicos e genéticos funcionariam como ver<strong>da</strong>deiras fábricas a céu aberto, capazes deproduzir alimentos em quanti<strong>da</strong>des suficientes para abastecer to<strong>da</strong> a humani<strong>da</strong>de. Mas logose percebeu que, ao contrário <strong>da</strong> indústria, a agricultura é totalmente dependente de limitesnaturais, os quais não podem ser facilmente controlados. A substituição de ecossistemascomplexos e diversificados - particularmente nas regiões tropicais – por sistemasprodutivos extremamente simplificados – como são as monoculturas - provocou uma sériede impactos econômicos e ambientais.Hoje se sabe que quanto maior o número de espécies presentes em um determinadoecossistema, maior será o número de interações tróficas entre os seus componentes e,conseqüentemente, a estabili<strong>da</strong>de tenderá a aumentar, ou seja, a estabili<strong>da</strong>de é função direta<strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de. Os agroecossistemas estáveis tendem a absorver mais facilmente asperturbações externas, pois os impactos são dissipados entre seus vários componentes


13(Paschoal, 1979). Nos sistemas agrícolas muito simplificados, sobretudo nas monoculturasde grãos, os fatores desestabilizadores são amplificados, obrigando os agricultores arecorrer a técnicas intensivas para manter as condições necessárias ao desenvolvimentovegetal. De certo modo, nos sistemas agrícolas convencionais o potencial regulador que eraexercido pelo próprio ecossistema foi substituído por fontes exógenas de nutrientes e deenergia, geralmente originárias de combustíveis fósseis (Romeiro, 1992).Existem diferentes meios de se promover a diversificação de um agroecossistema, desdeuma simples consorciação entre duas culturas até os complexos sistemas agroflorestais, quevisam a convivência de espécies florestais nativas com as culturas de interesse comercial. Odesafio, portanto, é conhecer não apenas as características dos agroecossistemas, comotambém as formas mais apropria<strong>da</strong>s de diversificá-los.Nas consorciações e nas rotações de culturas, os recursos disponíveis - água, nutrientes, luz,dentre outros - são utilizados de forma mais eficiente. Alia<strong>da</strong>s ao retorno de matériaorgânica ao solo, esses sistemas contribuem para manter sua estrutura física, aju<strong>da</strong>m areduzir a erosão e, conseqüentemente, melhoram a fertili<strong>da</strong>de dos solos. A combinaçãodesses fatores leva, invariavelmente, a aumentos de produtivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s lavouras. Ao mesmotempo, os sistemas diversificados diminuem muito a necessi<strong>da</strong>de de insumos externos,como os agrotóxicos e os fertilizantes nitrogenados. Possibilitam, desse modo, a eliminaçãode uma parte significativa dos gastos de investimento e de custeio necessários àmanutenção do padrão tecnológico "moderno". Além disso, nas proprie<strong>da</strong>des diversifica<strong>da</strong>sos ingressos de ren<strong>da</strong> agrícola são distribuídos de forma mais homogênea durante o ano. Aquebra de uma safra ou a que<strong>da</strong> de preço de uma determina<strong>da</strong> cultura não causam tantosestragos quanto nas proprie<strong>da</strong>des monoculturais e os riscos de falência são muito menores.(Killey-Worthington, 1981; NRC, 1989; Romeiro, 1992; <strong>Veiga</strong>, 1994).Outra forma de diversificar os sistemas produtivos é a agrosilvicultura ou“agroflorestação”. Consiste em um sistema de manejo florestal que visa conciliar aprodução agrícola e a manutenção <strong>da</strong>s espécies nativas, por meio de “capinas seletivas” <strong>da</strong>sespécies que já cumpriram seu papel fisiológico na sucessão e “po<strong>da</strong>s de rejuvenescimento”para revigorar e acelerar o sistema produtivo. Em várias partes do país a adoção dessessistemas tem demonstrado vantagens econômicas e ambientais em relação aos sistemas decultivo convencionais, cuja longevi<strong>da</strong>de depende do emprego elevado de insumosindustriais (Cordeiro et al., 1996:23). Em quase to<strong>da</strong>s as experiências observa-se o aumentode matéria orgânica nos solos, a redução <strong>da</strong> erosão laminar e em sulcos e o aumento <strong>da</strong>diversi<strong>da</strong>de de espécies. Nos casos em que as matas ciliares são recupera<strong>da</strong>s, verifica-se,também, a diminuição <strong>da</strong> turbidez <strong>da</strong> água e o aumento <strong>da</strong> disponibili<strong>da</strong>de de recursoshídricos.Uma característica comum entre os sistemas diversificados é que todos são mais exigentesem mão-de-obra. Os custos de se empregar mais trabalho são geralmente compensados pelaredução, ou mesmo eliminação, do uso de insumos agroquímicos. Isso fica bem claroquando se compara o número de pessoas emprega<strong>da</strong>s em uma proprie<strong>da</strong>de diversifica<strong>da</strong> aoutra altamente especializa<strong>da</strong>. As regiões cobertas pelas monoculturas, geralmente


14aponta<strong>da</strong>s como “modernas”, são extremamente pobres em geração de oportuni<strong>da</strong>des detrabalho, tanto na proprie<strong>da</strong>de agrícola como nas suas circunvizinhanças. Além disso, essasregiões acabam com o solo, com a água e com a biodiversi<strong>da</strong>de que poderia ser um dosprincipais trunfos de dinamismo econômico.Biocombustíveis e biodiversi<strong>da</strong>deDesde que a queima do petróleo consagrou-se como um dos principais vilões doaquecimento global só aumentou a convicção de que essa matriz energética precisa serrapi<strong>da</strong>mente supera<strong>da</strong>. Depois do domínio do fogo, <strong>da</strong> agricultura e <strong>da</strong> máquina a vapor, aadoção de novas fontes de energia que não sejam fosseis deverá ser o quarto grande saltotecnológico <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de (<strong>Veiga</strong> e Valle, 2008). A energia do século XXI tem que serlimpa e renovável, reduzindo ou mesmo eliminando a emissão de gás carbônico para aatmosfera.O hidrogênio poderá ser o combustível do futuro (<strong>Veiga</strong>, 2008), ou, então, ampliaremos ouso <strong>da</strong> energia que pode ser obti<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong>s marés, dos ventos ou do calor <strong>da</strong> Terra. Masenquanto esse futuro não chega o uso <strong>da</strong> biomassa é a alternativa mais viável de quedispomos. Em 2006, apenas 1% do transporte terrestre mundial era movido por etanol oubiodiesel, porém as preocupações ambientais e o elevado custo do petróleo devemaumentar a ebulição desse mercado nas próximas déca<strong>da</strong>s. Além disso, nos EUA, principalconsumidor mundial, a substituição de George Bush por Barak Obama pode marcar,também, a transição <strong>da</strong> matriz fóssil para a renovável. O primeiro passo foi a nomeação deum especialista em fontes alternativas, Nobel em física, como secretário de energia, e deum entusiasta dos biocombustíveis como secretário de agricultura.Transições como essa são geralmente permea<strong>da</strong>s por dúvi<strong>da</strong>s e incertezas. Não se sabe,ain<strong>da</strong>, se o avanço dos biocombustíveis contribuirá para a conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>deou, ao contrário, acelerará sua dilapi<strong>da</strong>ção. Num “país <strong>da</strong>s maravilhas”, poder público esetor produtivo empenhariam mais esforços para conservar as áreas com rica diversi<strong>da</strong>debiológica, nas quais se poderia, com regras muito bem defini<strong>da</strong>s, ampliar a bioprospecçãode plantas com potencial para produção de combustíveis, mesmo que os resultados dessaspesquisas só servissem para beneficiar gerações futuras.Fora deste “país” esse desejável arranjo é quase uma ilusão. Nos biomas brasileiroscertamente existem espécies com potencial para suprir a indústria de biocombustíveis, masnão há evidências de que o avanço desse setor esteja favorecendo a conservação <strong>da</strong>s áreasnaturais. Mas o mais preocupante é que quase to<strong>da</strong> a produção de etanol e de biodieselconcentra-se no cultivo de duas espécies: a cana-de-açúcar e a soja, respectivamente. Éclaro que esses sistemas monoculturais são muito mais aptos a atender a deman<strong>da</strong> em largaescala <strong>da</strong> indústria dos biocombustíveis, por outro lado, são bastante conhecidos os seusimpactos ambientais, particularmente a erosão dos solos e a contaminação <strong>da</strong>s águas. Alémdisso, são sistemas altamente dependentes do petróleo como matriz energética. Ora, se adesejável geração de combustível renovável continuar dependendo <strong>da</strong> queima decombustível fóssil como fica esse balanço?


15Para se gerar biocombustíveis por processos mais limpos será necessário definir normassociais e ambientais de produção e estabelecer mecanismos para o cumprimento dessasregras. Algumas usinas de etanol, atentas aos padrões estabelecidos pelo mercadointernacional, já seguem esse caminho. E, se quisermos que a produção de biocombustíveiscontribua para a geração de postos de trabalho e para o desenvolvimento rural, será precisoimplantar políticas públicas que possibilitem a participação <strong>da</strong> agricultura familiar. Porenquanto, esse é um mercado restrito à agricultura patronal (Bravo, 2007).Outra questão decisiva que relaciona o crescimento dos biocombustíveis à conservação <strong>da</strong>biodiversi<strong>da</strong>de é a crescente pressão sobre os remanescentes florestais e demais áreasnaturais, como é o caso <strong>da</strong> soja que não pára de avançar sobre a Amazônia. O problema équalquer suposição sobre os desdobramentos desse embate esbarra em outra questãoigualmente complexa, a qual vem atraindo a atenção de pesquisadores e <strong>da</strong> mídia em geral:será que a ocupação <strong>da</strong>s terras com lavouras para suprir a crescente indústria dosbiocombustíveis reduzirá as áreas disponíveis para o plantio de alimentos?Com uma população mundial que só deve parar de crescer quando atingir aproxima<strong>da</strong>mente9 bilhões de habitantes, em 2050 ou mais, a segurança alimentar continua sendo um dosmais importantes desafios sociais a ser enfrentado. No começo de 2008, Jean Ziegler,representante <strong>da</strong> FAO, chegou a declarar que a expansão <strong>da</strong>s lavouras para a produção debiodiesel é um “crime contra a humani<strong>da</strong>de”, pois, além de ocupar as terras, eleva os preçosdos alimentos dificultando o acesso <strong>da</strong>s populações mais pobres. O Presidente Luis InácioLula <strong>da</strong> Silva rebateu prontamente as críticas ao etanol brasileiro afirmando que over<strong>da</strong>deiro crime contra a humani<strong>da</strong>de é descartar o uso dos biocombustíveis.Pela “lei do mercado”, o aumento <strong>da</strong> deman<strong>da</strong> por soja, milho e outros grãos utilizados paraa produção de biocombustíveis, tende a elevar os preços dessas commodities, com reflexosdiretos nos custos <strong>da</strong> produção animal. Mas a indústria de biocombustíveis não pode serconsidera<strong>da</strong> a única responsável pela elevação dos preços dos alimentos nos últimos anos.Pelo menos foi esta a conclusão a que chegou um estudo elaborado pela Fun<strong>da</strong>ção GetúlioVargas, segundo o qual a recente elevação dos preços decorre de uma confluência defatores, tais como: o aumento de deman<strong>da</strong>, os baixos estoques internacionais e aespeculação nos mercados futuros de commodities (FGV, 2008). O aumento <strong>da</strong> deman<strong>da</strong> seexplica pelo crescimento demográfico e pela recente elevação do poder aquisitivo empaíses como a Índia e a China. Também não se pode ignorar que a alta do petróleo, eleva oscustos dos fertilizantes, dos combustíveis usados no maquinário agrícola e no transporte,tendo efeito direto sobre os preços dos alimentos.Estima-se que, em 2007, 4,5% <strong>da</strong> safra mundial de grãos foi transforma<strong>da</strong> em etanol. NosEUA o combustível é produzido a base de milho e nos países europeus as principais plantasutiliza<strong>da</strong>s são o trigo e o sorgo. Além de mais caras, a produtivi<strong>da</strong>de dessas culturas é beminferior a <strong>da</strong> cana-de-açúcar utiliza<strong>da</strong> na produção do etanol brasileiro. Talvez seja por issoque nesses países as críticas são bem mais severas. “O balanço energético do etanolbrasileiro é 4,5 vezes melhor do que o etanol de açúcar de beterraba ou trigo, e quase 7vezes melhor do que o etanol de milho”, afirma Eduardo Leão de Souza, Diretor <strong>da</strong> União<strong>da</strong> Indústria <strong>da</strong> Cana de Açúcar (Souza, 2008). No Brasil o etanol abastece 50% doconsumo de combustíveis para automóveis, ocupando 1% <strong>da</strong>s terras aráveis. Uma


16alternativa que pode até duplicar a produção sem ocupar mais terras é a obtenção do etanola partir <strong>da</strong> celulose <strong>da</strong> palha <strong>da</strong> cana-de-açúcar ou de outras gramíneas. O que falta éconhecimento científico e tecnológico e, nesse ponto, os EUA já estão bem à frente (CastroNeto, 2008a).Se a produção brasileira de etanol já tem índices mais satisfatórios de rendimento, o mesmonão se pode afirmar sobre a produção de biodiesel. A soja é a única oleaginosa queconsegue abastecer essa indústria sendo responsável por 80% <strong>da</strong> produção. Cerca de 7% <strong>da</strong>safra anual é destina<strong>da</strong> às usinas de biocombustíveis, o que corresponde aaproxima<strong>da</strong>mente 1,5 milhão de hectares plantados. O girasol, a mamona, a palma, acanola, o pinhão manso, o dendê ou o amendoim têm teores de óleo bem mais elevados doque a soja e seu emprego em maior escala permitiria melhorar o rendimento <strong>da</strong>s terrasocupa<strong>da</strong>s para produção de biodiesel (Castro Neto, 2008b). Além disso, o cultivo dessasoleaginosas é muito mais compatível com a produção familiar, abrindo um amplo mercadopara esses agricultores.Os defensores dos biocombustíveis também argumentam que as terras usa<strong>da</strong>s para aprodução de etanol e de biodiesel são ínfimas se compara<strong>da</strong>s às áreas ocupa<strong>da</strong>s peloscultivos destinados à alimentação animal. De fato, para se obter uma tonela<strong>da</strong> de carne sãonecessárias 10 tonela<strong>da</strong>s de grãos, como a soja, o milho etc. Então, uma mu<strong>da</strong>nça parahábitos alimentares mais saudáveis, com menor ingestão de proteína animal, já provocariauma enorme transformação no uso <strong>da</strong>s terras. Mas ain<strong>da</strong> estamos longe do dia em que aconsciência ambiental possa gerar mu<strong>da</strong>nças significativas nos hábitos alimentares. Quandoesse dia chegar, an<strong>da</strong>r num automóvel para quatro ou cinco passageiros será consideradoum hábito do passado.No Brasil, ao contrário dos EUA, há terra suficiente para se produzir cana-de-açúcar e asoleaginosas usa<strong>da</strong>s na produção de biodiesel, sem competir com as áreas destina<strong>da</strong>s àprodução de alimentos, foi o que concluiu Dora Isabel Hernández em uma dissertação demestrado recentemente defendi<strong>da</strong> na UNB (Hernández, 2008). Mas a disputa pelas terrascultiváveis não se limita aos biocombustíveis, aos alimentos e aos cultivos destinados ànutrição animal, pois as áreas destina<strong>da</strong>s à conservação ambiental também devem entrarnessa equação. De acordo com Eduardo Evaristo de Miran<strong>da</strong> se somarmos to<strong>da</strong>s as áreasprotegi<strong>da</strong>s pela legislação ambiental, apenas 7% <strong>da</strong> Amazônia e 33% do país estãodisponíveis para a ocupação habitacional, industrial e agrícola (Miran<strong>da</strong>, 2008). Issoequivale a 2.841.000 km2, mas só a pecuária já ocupa quase to<strong>da</strong> essa área. Se a legislaçãoambiental for integralmente cumpri<strong>da</strong>, a disputa pelo uso <strong>da</strong> terra será bem mais acirra<strong>da</strong>.Se continuar sendo desrespeita<strong>da</strong>, ou se for altera<strong>da</strong>, como querem os ruralistas quedefendem o afrouxamento do Código Florestal, haverá mais área para a agricultura, mas aínão sabemos até que ponto os serviços ambientais prestados pelas florestas serãocomprometidos. Haverá água para tanta agricultura?Por enquanto, o acúmulo científico é insipiente e não é na<strong>da</strong> fácil prever os impactos dosbiocombustíveis sobre a biodiversi<strong>da</strong>de ou sobre a dinâmica de ocupação <strong>da</strong>s terras. O certoé que para atender a deman<strong>da</strong> mundial de alimentos, fibras, biocombustíveis e, ao mesmotempo, respeitar a legislação ambiental será imprescindível aumentar a produtivi<strong>da</strong>de nasáreas já ocupa<strong>da</strong>s. Mas para isso não podemos correr o risco de iniciar uma nova


17“Revolução Verde”, cujos impactos ambientais podem ser devastadores. Será necessáriogerar muito mais conhecimento científico e tecnológico que permita aliar produtivi<strong>da</strong>de edurabili<strong>da</strong>de dos sistemas produtivos. Também será necessário refletir sobre os aspectosestratégicos relacionados à produção dos biocombustíveis. Se, em algumas déca<strong>da</strong>s, a águase tornar um recurso ain<strong>da</strong> mais escasso, será que ain<strong>da</strong> valerá a pena exportar essescombustíveis, cujo processo produtivo requer enormes quanti<strong>da</strong>des de água?Empreendedorismo e biodiversi<strong>da</strong>deÉ imenso o leque de ameni<strong>da</strong>des disponíveis nos espaços rurais. Podem variar tanto defragmentos de natureza intoca<strong>da</strong> a paisagens minuciosamente maneja<strong>da</strong>s, quanto <strong>da</strong>s maisantigas relíquias históricas às mais vivas tradições culturais. Também são imensas aspossibili<strong>da</strong>des de diversificação dos sistemas produtivos agrícolas. O aumento <strong>da</strong> deman<strong>da</strong>pelas ameni<strong>da</strong>des do meio rural e por produtos mais “limpos” – livres de resíduos deagroquímicos - acompanha a evolução do tempo livre e <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> e dos habitantes urbanos,gerando novos negócios e empregos.A “saí<strong>da</strong>”, portanto, seria estimular um tipo de empreendedorismo capaz de gerar empregose, simultaneamente, conservar a biodiversi<strong>da</strong>de. Os empreendedores são os principaisagentes <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça econômica, pois são eles que geram, disseminam, e aplicam asinovações. Ao procurarem identificar as potenciais oportuni<strong>da</strong>des de negócios e assumiremos riscos de suas apostas, eles expandem as fronteiras <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de econômica. Mesmo quemuitos não tenham sucesso, é sua existência que faz com que uma socie<strong>da</strong>de tenhaconstante geração de novos produtos e serviços (<strong>Veiga</strong>, 1999).Infelizmente, não se sabe muito bem quais são os determinantes do “empreendedorismo”,apesar de sua crucial influência sobre o crescimento econômico. Sequer existe acordo sobreos indicadores que melhor revelariam os graus relativos em que o fenômeno se manifesta,apesar de existir tanta convicção de que ele é a essência do dinamismo econômico e acerteza de que sua promoção é uma ótima maneira de expandir o emprego. Obviamente sãomaiores as possibili<strong>da</strong>des de surgirem novas empresas em regiões rurais que já são (ou jáforam) prósperas e nas que atraem “refugiados” <strong>da</strong>s aglomerações urbanas, do que emzonas rurais que sempre estiveram entre as mais periféricas ou que há muito tempodeixaram de ser dinâmicas. Muitas <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des para qualquer esforço de dinamizaçãoeconômica decorrem <strong>da</strong> baixa densi<strong>da</strong>de demográfica que está no cerne <strong>da</strong> própriadefinição <strong>da</strong> rurali<strong>da</strong>de: distância dos centros de decisão e <strong>da</strong>s redes de informação; falta deredes de transporte e de telecomunicações; raras oportuni<strong>da</strong>des de valorização dos recursoshumanos; dificul<strong>da</strong>de de estreitar relações que geram parcerias (<strong>Veiga</strong>, 1999).Questões cruciais como a dos efeitos <strong>da</strong> educação sobre a dinâmica empreendedoracontinuam sem respostas convincentes, embora se saiba que os sistemas educacionaisforam concebidos para formar bons assalariados, em vez de preparar os jovens para aperspectiva do auto-emprego. E tudo indica que o conhecimento científico sobre o assuntosó avançará quando for possível realizar uma avaliação sistemática e comparativa <strong>da</strong>srecentes políticas públicas de estímulo à criação de pequenas e médias empresas.


18Principalmente dos programas mais inteligentes, que amadureceram nos âmbitos local eregional para melhor aproveitar os trunfos territoriais na formação de ambientesinovadores. Afinal, o empreendedorismo nunca ocorre de forma homogênea entre asregiões de uma mesma nação. E é bem provável que tais divergências espaciais <strong>da</strong>criativi<strong>da</strong>de empreendedora correspon<strong>da</strong>m ao fenômeno de “clustering” (formação de“feixes” ou “cachos”) (<strong>Veiga</strong>, 1999).Segundo uma <strong>da</strong>s definições mais aceitas, “cluster” é uma concentração geograficamentedelimita<strong>da</strong> de negócios independentes que se comunicam, dialogam e transacionam parapartilhar coletivamente tanto oportuni<strong>da</strong>des quanto ameaças, gerando novosconhecimentos, concorrência inovadora, chances de cooperação, adequa<strong>da</strong> infra-estrutura,além de freqüentemente também atraírem os correspondentes serviços especializados eoutros negócios correlacionados. Alguns estudos revelam que a confluência de muitasfirmas para um determinado ponto pode corresponder muito mais a certas característicasespecíficas do local - como prestígio e ameni<strong>da</strong>des - do que à necessi<strong>da</strong>de de contatos comoutras firmas que supostamente fariam parte de um desses feixes ou cachos. Outrosenfatizam que a ver<strong>da</strong>deira base do “clustering” é o conhecimento, o que não significanecessariamente ‘alta tecnologia’ (OCDE,1999-b ). Mas a maioria dos que abor<strong>da</strong>ram arelação existente entre a formação desses feixes e o “empreendedorismo” acabam quasesempre enfatizando os fatores culturais que às vezes são compactados na sedutora noção de“capital social”: um complexo de instituições, costumes e relações de confiança queestimulam três dobradinhas fun<strong>da</strong>mentais: a <strong>da</strong> concorrência com a cooperação, a doconflito com a participação, e a do conhecimento local e prático com o conhecimentocientífico (OCDE,1998).As políticas governamentais volta<strong>da</strong>s à promoção do empreendedorismo mal começam aincorporar essas dimensões territoriais, institucionais e culturais. Até há pouco, taispolíticas voltavam-se quase que exclusivamente ao fomento de alta tecnologia e de grandesindústrias capazes de “polarizar” as economias regionais e/ou nacionais. Foi somente apartir de meados <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1980 que o papel <strong>da</strong>s chama<strong>da</strong>s “PMEs” começou a ser(re)valorizado, principalmente por sua superior capaci<strong>da</strong>de de gerar empregos. Mas essamu<strong>da</strong>nça de atitude ain<strong>da</strong> não gerou resultados persuasivos sobre a melhor maneira de sepromover esse empreendedorismo mais “difuso”, que possa atingir todos os ramoseconômicos e todos os tipos de regiões. Muito menos sobre as maneiras de se promover um“empreendedorismo verde”, baseado na conservação e recuperação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de.Entretanto, recentes avanços no entendimento de suas dimensões rurais permitem pensarque a conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de pode ser um fator estratégico para a criação,consoli<strong>da</strong>ção e crescimento de novas empresas.Além de mu<strong>da</strong>nças culturais e institucionais é obvio que o incentivo a umempreendedorismo compatível com a conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de também requerinvestimentos governamentais. A fonte destes recursos pode ser a taxação <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>desque mais degra<strong>da</strong>m a biodiversi<strong>da</strong>de. Esses recursos poderão viabilizar investimentos que,se forem bem escolhidos, poderão estimular simultaneamente a conservação <strong>da</strong>biodiversi<strong>da</strong>de e a criação de empresas e empregos. E se isso acontecer, tais investimentosaju<strong>da</strong>rão a abrir um dos caminhos para o tão falado desenvolvimento sustentável.


19ConclusãoA promoção <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de biológica tende a ser um fator crucial na dinamização <strong>da</strong>sregiões rurais. Particularmente <strong>da</strong>quelas onde o crescimento econômico não chegou adestruir as fontes de ameni<strong>da</strong>des. Nestas é perfeitamente possível incentivarsimultaneamente a conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e a criação de empresas e empregos. Aexperiência internacional nesses dois domínios confirma que as restrições ambientaispodem alavancar o crescimento econômico em vez de prejudicá-lo.O que é muito menos evidente é a linha estratégica e as formas de ação que deveriam seradota<strong>da</strong>s para que essa sinergia entre biodiversi<strong>da</strong>de e empreendedorismo seja maisintensamente promovi<strong>da</strong>. Os argumentos apresentados neste texto parecem indicar anecessi<strong>da</strong>de de profun<strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças na visão que prevalece entre as principais organizaçõesnacionais e internacionais volta<strong>da</strong>s à conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de. Em vez de insistir nanecessi<strong>da</strong>de de aplicar recursos fiscais tradicionais (acrescidos de receitas obti<strong>da</strong>s com abioprospecção) na manutenção e expansão <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong>des de conservação, é necessário taxare investir. Taxar as ativi<strong>da</strong>des que contribuem para a erosão <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e investir osrecursos assim arreca<strong>da</strong>dos na promoção de um empreendedorismo dirigido ao melhoraproveitamento <strong>da</strong>s ameni<strong>da</strong>des rurais e à diversificação dos sistemas produtivos.As formas de ação que correspondem a essa mu<strong>da</strong>nça de linha estratégica dependerão demuitas variáveis políticas que, neste momento, só poderiam ser abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s de formaimpressionista e especulativa. Mas duas coisas parecem claras quando se considera o casobrasileiro: a) a necessi<strong>da</strong>de de que uma reforma tributária venha a contemplar ecotaxas nãoapenas no domínio energético (e nas formas de poluição a ele associa<strong>da</strong>s), mas também nocombate à erosão <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de; b) a necessi<strong>da</strong>de de que o “segundo dividendo” dessasecotaxas seja utilizado em novos programas de fomento do empreendedorismo,principalmente em regiões rurais onde as ameni<strong>da</strong>des poderão favorecer uma simbioseentre conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e dinamização econômica.Por enquanto, a socie<strong>da</strong>de brasileira não parece propensa a aceitar ecotaxas ou se dotar <strong>da</strong>sinstituições necessárias à promoção de um empreendedorismo rural que permita aproveitaras inúmeras vantagens <strong>da</strong> conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de. Mas para que essas coisaspossam um dia acontecer, é absolutamente necessário que se comece a superar a insipiênciado pensamento estratégico sobre o desenvolvimento sustentável, seja na escolha deobjetivos, como na definição dos meios de atingi-los.


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