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Direito à Memória e à Verdade - DHnet

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DIREITO À MEMÓRIA E À VERDADEDesde fins de 1966 o PCdoB dedicava-se à implantação lenta dequadros partidários numa área da Amazônia limitada, a Leste,pelo rio Araguaia, no sul do Pará. Essa região tinha sido eleitacomo área estratégica para o nascimento de um futuro embriãodo Exército Popular Guerrilheiro. Entre os que para lá foramenviados num primeiro momento, estavam alguns dos militantesretornados da viagem á China. Por volta de 1969/1970 éengrossado o fluxo de militantes que se deslocou para a área,trazendo agora inúmeras lideranças estudantis de 1968, que apartir do AI-5 eram obrigadas pela perseguição policial a viveremna clandestinidade. Em abril de 1972, quando o número de militantesdo PCdoB deslocados para a região já beirava a casa de umacentena, os órgãos especiais de repressão ao Regime Militar descobrirama implantação da área de guerrilhas e desfecharam imediataofensiva militar. Iniciados os combates armados, as forçasgovernamentais sofreram duros revezes numa primeira etapa. A“Guerrilha do Araguaia” é a experiência melhor estruturada dentretodas as que foram vivenciadas pelos diversos grupos no período,embora o desfecho em 1974 apontasse igualmente uma vitóriamilitar das forças do governo, que esmagaram o agrupamento, eliminandoa maioria de seus integrantes.Nos anos seguintes, o PCdoB conseguiu recompor seu aparelhopartidário, contando para isso com um expressivo enraizamentono meio estudantil, e dedicou-se ao balanço autocrítico da experiênciaguerrilheira. Confrontavam-se na direção do partido duasavaliações acerca da Guerrilha do Araguaia, quando os órgãos desegurança interromperam uma reunião clandestina do ComitêCentral do PCdoB, em dezembro de 1976, em São Paulo, assassinandotrês dos presentes e aprisionando a maioria dos restantes. Oepisódio ficou conhecido como “Massacre da Lapa”.Em 1978 o PCdoB desvinculou-se publicamente do Partido ComunistaChinês e do próprio maoísmo, mantendo a partir de entãolaços privilegiados, no campo internacional, unicamente com aAlbânia, apontada em seus documentos como único país verdadeiramentemarxista-leninista de todo o mundo.AP - Ação PopularSurgiu em maio/junho de 1962, com as características de “movimentopolítico”, e não partido, coroando uma evolução em direçãoà esquerda que setores da Ação Católica, em especial a JUC- JuventudeUniversitária Católica – tinham vivido desde meados dosanos 50. Sua base estava localizada fundamentalmente na áreaestudantil, assegurando hegemonia política na composição das diferentesdiretorias da UNE na fase pré – 64.Realiza seu primeiro Congresso em fevereiro de 1963, na Bahia,onde aprova um “Documento-Base” que resume as concepções daorganização naquele momento. A AP é definida como “expressãode uma geração” e a problemática das classes sociais é apenastocada de passagem no texto. Trata-se, portanto, nesse seu nascimento,de um grupo que conta com ampla influência na áreaestudantil e forte potencial de crescimento aí, mas limitado aindapor uma estrutura orgânica extremamente frágil e numerosas indefiniçõesde natureza política. No momento de sua fundação aAP já contava com certa atuação junto ao meio camponês, atravésdo Movimento de Educação de Base (MEB), ligado à igreja, querealizava programas radiofônicos de educação de adultos, especialmenteno Nordeste. Preocupava-se também em estabeleceralguma penetração no meio operário.Em 1963 e no início de 1964 sua linha de atuação tática se caracterizavapela defesa de opiniões à esquerda do PCB. A AP sofreu, comotodo o restante da esquerda, o impacto e os prejuízos acarretadospelo golpe militar de 1964. A rearticulação de suas forças no períodosubseqüente teve como preocupação determinante a busca das definiçõespolíticas ainda inexistentes. Uma “Resolução Política” de 1965revela um claro direcionamento rumo à utilização do pensamentomarxista como seu método de análise. A luta armada é apresentada,nesse texto, como caminho necessário para a Revolução Brasileira e,no âmbito do programa partidário, afirma-se que essa revolução teráum caráter “Socialista de Libertação Nacional”.Entre 1966 e 1967 a AP transita para a adoção formal do marxismocomo pensamento da organização. Os dirigentes que se alinhamcom o pensamento de Mao Tse-Tung conquistam hegemonia naAP quando retornam de uma viagem de estudos à China Populare introduzem uma fase de mudanças bruscas na fisionomia relativamenteeclética da organização. O calor da “Grande RevoluçãoCultural Proletária” é trazido para o Brasil e chega a acarretaraté episódios pitorescos, como o fato de se exigir, a partir daí a“autocrítica de Deus” para todos os militantes que anteriormentehaviam sido cristãos, como condição mesma para se permanecerna AP. Muitos dos fundadores da AP em sua fase cristã, que defendiama chamada “transição indolor ao marxismo” acabem sendoafastados e é provável que o contingente da organização tenha-sereduzido, então, de 5.000 para algumas centenas de militantes.A partir de 1967, quando a AP reforça seu peso no ME, sua linhapolítica já tem todas as características de um partido tipicamentemaoísta. Conseqüência disso cresce dentro da organização a leiturade textos marxistas chineses e inicia-se um amplo processo| 466 |

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