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Direito à Memória e à Verdade - DHnet

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DIREITO À MEMÓRIA E À VERDADEe sendo avidamente procurado pelo aparelho de repressão do regime militar, que o confundia com Fujimore, acusado este de participaçãoem inúmeras ações armadas, ao passo que Massafumi tinha, na VPR, militância de base.No processo apresentado por seus familiares à CEMDP consta que, após submeter-se a uma dessas retratações públicas, concedendo entrevistaà TV Tupi ao lado de um general do Exército, passou a sofrer distúrbios psicológicos que terminariam se revelando permanentes. Tinhaalucinações e dizia repetidamente que a OBAN iria matá-lo. Diante disso, submeteu-se a repetidos tratamentos psiquiátricos, teve de sermedicado e chegou a ser internado. Na primeira tentativa de suicídio, Massafumi se jogou embaixo de um ônibus; na segunda, tentou sejogar pela janela; na terceira e última, se enforcou com a mangueira de plástico do chuveiro, em sua casa.Ao recomendar em seu voto o deferimento do pedido, acatado por unanimidade pelos integrantes da CEMDP, a relatora do processo, MariaEliane Meneses de Farias, analisou essas marcas psicológicas permanentes e registrou que, ao sair da prisão, Massafumi não conseguiu maisestudar ou trabalhar e a família continuou sendo vítima de vigilância e perseguições.JOÃO BOSCO PENIDO BURNIER (1917 – 1976)Número do processo: 352/96Data e local de nascimento: 11/06/1917, Juiz de Fora (MG)Filiação: Maria Cândida Penido Burnier e Henrique BurnierOrganização política ou atividade: religiosoData e local da morte: 12/10/1976, Ribeirão Cascalheira (MT)/Goiânia (GO)Relator: Nilmário MirandaIndeferido em: 24/04/1997 por 5x2 (votos a favor de Nilmário Miranda e Suzana Lisbôa)Missionário jesuíta, o padre João Bosco foi mortalmente ferido por um soldado da Polícia Militar em Ribeirão Bonito, hoje Ribeirão Cascalheira(MT), em 11/10/1976, falecendo no dia seguinte num hospital de Goiânia, onde já foi internado com morte cerebral. Foi baleadoquando se encontrava ao lado de Dom Pedro Casaldáliga, bispo da prelazia de São Felix do Araguaia, odiado pelos órgãos de segurança epor altas autoridades do regime militar devido a suas corajosas denúncias em defesa dos posseiros e índios da região. O padre João Boscoera membro de uma tradicional família de Juiz de Fora (MG) e tinha laços de parentesco com uma das figuras mais truculentas do aparelhode repressão, o brigadeiro João Paulo Penido Burnier, apontado como responsável pela morte sob torturas de vários presos políticos.Quando jovem, o projeto do padre João Bosco era seguir para o Japão. Em 1945, foi estudar em Roma para concluir o mestrado em Filosofiae Teologia na Universidade Gregoriana. Depois de seus estudos na Itália, serviu como Prepósito na Vice-Província Goiano-Mineira dosJesuítas. De 1959 a 1965, respondeu pelos cargos de mestre de noviços e diretor espiritual dos juniores. Os anos de sua vida madura foramdedicados à Missão de Diamantino, no Mato Grosso. Trabalhou junto aos índios Beiços-de-pau e Bakairi, chegando a aprender sua língua,e também junto aos Merure e Bororo. Vários anos depois de sua morte, esses povos indígenas continuavam a considerá-lo um santo.O padre era uma pessoa de comportamento reservado, de poucas palavras. Não falava de si e nem de suas experiências pessoais com facilidade.Era extremamente disponível e dava atenção a todos. Era considerado no meio religioso uma pessoa que praticava integralmente ospreceitos de pobreza evangélica. Tomava as conduções mais baratas, esperava às margens das estradas, pedia carona, até mesmo descansavaao relento à espera de uma condução que o pudesse levar. Quando assassinado, Padre Burnier era missionário da Prelazia de Diamantinoe desempenhava a função de coordenador regional do CIMI – Conselho Indigenista Missionário.É do próprio Dom Pedro Casaldáliga a descrição detalhada do episódio que resultou na morte do jesuíta, transcorrido num lugarejo cujapopulação não atingia dois mil habitantes:“...quando chegamos a Ribeirão logo nos sentimos atingidos por um certo clima de terror que pairava sobre o lugar e as redondezas. A Mortedo cabo Félix (...), muito conhecido pelas suas arbitrariedades e até crimes (...) trouxe ao lugar um grande contingente de policiais e com eles a| 420 |

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