11.07.2015 Views

Direito à Memória e à Verdade - DHnet

Direito à Memória e à Verdade - DHnet

Direito à Memória e à Verdade - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

DIREITO À MEMÓRIA E À VERDADEMARIA AUXILIADORA LARA BARCELLOS (1945 – 1976)Número do processo: 114/04Filiação: Clélia Lara Barcellos e Waldemar de Lima BarcelosData e local de nascimento: 25/03/1945, Antônio Dias (MG)Organização política ou atividade: VAR-PalmaresData e local da morte: 01/06/1976, em Berlim Ocidental, AlemanhaRelatora: Suzana Keniger LisbôaDeferido em: 26/08/2004 por unanimidadeData da publicação no DOU: 03/09/2004Maria Auxiliadora atirou-se nos trilhos de um trem na estação de metrô Charlottenburg, em Berlim, Alemanha Ocidental, em 01/06/1976,tendo morte instantânea. Conhecida pelos amigos como Dora ou Dorinha, tinha sido presa sete anos antes, no dia 21/11/1969, junto comseus companheiros da VAR-Palmares, Antônio Roberto Espinoza e Chael Charles Schreier, na casa em que moravam no bairro do Méier, noRio de Janeiro. Os três foram torturados no quartel da Polícia do Exército, na Vila Militar, e Chael morreu em menos de 24 horas, conformejá relatado neste livro-relatório.Dora foi vítima de cruéis torturas e passou pelos presídios de Bangu, no Rio de Janeiro, e Linhares, em Juiz de Fora. Foi banida e enviada parao Chile com outros 69 presos políticos no dia 13/01/1971, no episódio do seqüestro do embaixador suíço no Brasil. Nunca mais conseguiuse recuperar plenamente das profundas marcas psíquicas deixadas pelas sevícias e violências de todo tipo a que foi submetida. Durante oexílio registrou num texto recheado de tons literários suas duras memórias: “Foram intermináveis dias de Sodoma. Me pisaram, cuspiram,me despedaçaram em mil cacos. Me violentaram nos meus cantos mais íntimos. Foi um tempo sem sorrisos. Um tempo de esgares, de gritossufocados, um grito no escuro”.Mineira de Antônio Dias, Maria Auxiliadora era filha de um agrimensor e, por isso, passou a infância morando em várias cidades no interiorde Minas Gerais. Estudou no Colégio Estadual Nossa Senhora de Fátima, em Belo Horizonte e, quando criança, pensou em ser freira. Despertoumuito cedo para as questões sociais e lecionou durante dois anos na escola de uma favela. Em 1965, começou a cursar Medicina naUFMG e, ainda estudante, deu plantões na área de psiquiatria no Hospital Galba Veloso e no Pronto Socorro. Participou das mobilizaçõesestudantis de 1968. Após o AI-5, já militante do Colina, que se transformaria logo depois em VAR-Palmares, deixou o quinto ano de Medicinae mudou-se para o Rio de Janeiro, em março de 1969, passando a atuar na clandestinidade.Durante a permanência no Chile, tentou tratar-se das seqüelas das torturas. Após setembro de 1973, com a queda de Salvador Allende,conseguiu asilo na embaixada do México, onde trabalhou como intérprete até seguir para a Europa, através da Cruz Vermelha. Passou peloMéxico, pela Bélgica e pela França, chegando à Alemanha em 10/02/1974. Nesse país, conseguiu uma bolsa para completar seu curso deMedicina. Pouco antes de concluir os estudos, foi internada para tratamento psiquiátrico.Quando depôs na Justiça Militar do Rio de Janeiro, em 27/05/1970, Maria Auxiliadora denunciou detalhadamente as brutalidades que ela eseus dois companheiros sofreram na Polícia do Exército. Consta de seu depoimento na 2ª Auditoria da Marinha que “foi presa no dia 21/11;estavam juntos a declarante, Antônio Roberto e Chael (...), presos em casa, por uma turma mista, composta por elementos do DOPS e da PE;foram conduzidos ao DOPS, onde se procederam as providências de rotina; se encontravam os três numa sala, de onde Chael foi chamado paradirigir-se a uma sala ao lado, onde ele foi espancado, ouvindo a declarante seus gritos; (...) na sala foram tirando aos poucos sua roupa; queum policial, entre palavras de baixo calão, proferidos por outros, ficou a sua frente como se mantivesse relações sexuais com a declarante, aotempo que tocava seu corpo, que esta prática perdurou por duas horas; o policial profanava os seus seios e usando uma tesoura, fazia comose fosse seccioná-los; entre semelhante prática, sofreu bofetadas; (...) pelas quatro horas da madrugada, Chael e Roberto saíram da sala ondese encontravam, visivelmente ensangüentados, inclusive no pênis, na orelha e ostentando corte na cabeça; nessa mesma madrugada foramtransferidos para a PE, (...); nesta unidade do Exército, os três foram colocados numa sala, sem roupas; primeiro chamaram Chael e fizeramnobeijar a declarante toda, e em seguida chamaram Antônio Roberto para repetir esta prática (...); depois um indivíduo lhe segurou os seios,| 418 |

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!