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Direito à Memória e à Verdade - DHnet

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DIREITO À MEMÓRIA E À VERDADEtar. Seu corpo havia sido exumado em 1991 pela equipede legistas da Unicamp, no cemitério de Xambioá. Mas,na ocasião, o coordenador da equipe, Badan Palhares,havia descartado a hipótese de que se tratasse de MariaLúcia. Com a publicação da foto, ficou evidente queo cadáver encontrado vestia as mesmas roupas (umablusa de banlon e um cinturão) e também tinha a cabeçaenvolvida por um saco plástico e o corpo envolvidopor tecido de pára-quedas. Finalmente, em maio,a Unicamp reconheceu a identidade da jovem, sendoseus restos mortais finalmente entregues à família pararealização do funeral.Entre as revelações feitas pelo jornal carioca, constavam,ainda, indícios de locais de sepultamentoclandestinos utilizados pelos militares, fato que contrariavauma versão oficiosa de que os corpos haviamsido incinerados. Na tentativa de localizar maisdesaparecidos, representantes da CEMDP rumarampara Xambioá com a finalidade de delimitar e preservaros locais para futuras escavações. Os familiarestrataram de providenciar também uma equipede antropólogos especializados no assunto. Foi assimque entraram em cena os já citados especialistas daEquipe Argentina de Antropologia Forense.No Brasil, essa equipe havia realizado, em 1991, noRio de Janeiro, uma capacitação para profissionaisda área, na tentativa de organizar um grupo interdisciplinarque trabalharia no exame das 2.100 ossadaslocalizadas pelo Grupo Tortura Nunca Mais nocemitério Ricardo de Albuquerque, no Rio de Janeiro.Sem dotação orçamentária, a proposta não seguiuadiante. Em 1996, o grupo argentino trabalhou noAraguaia, em três áreas delimitadas pelos familiares:pátio do DNER em Marabá (PA), parte frontal do cemitériode Xambioá (TO) e Fazenda Fortaleza (PA).A equipe permaneceu no local entre 29 de junho e 27de julho, enfrentando inúmeras dificuldades. A área totalonde ocorreu a guerrilha estende-se por 7.000 km 2– de Xambioá, na época ainda estado de Goiás, a Marabá,no Pará –, o que significou longas distâncias percorridasem estradas poeirentas e cheias de buracos, emregião devastada pelo desmatamento. Com orçamentoestreito, a locomoção tornou-se dificílima e teria sidoimpossível executar a tarefa se não fosse o auxílio dosprofissionais da imprensa, responsável pela coberturadas buscas.Outra barreira enfrentada pelos técnicos foram os receiosda população local, que, duas décadas depois,ainda se mostrava traumatizada e refratária a confidências.“A sensação da busca dos corpos é exatamentea de procurar uma agulha no palheiro – toda aquelamata, toda aquela extensão e a necessidade de fixarexatamente onde escavar, dão uma sensação de totaldesamparo”, quando se sabe que o Exército poderiacolaborar e o governo poderia determinar a aberturade todos os arquivos, argumentou Suzana Lisbôa noRelatório Azul, publicado pela Comissão de Cidadaniae <strong>Direito</strong>s Humanos da Assembléia Legislativa doRio Grande do Sul.Mesmo com todos esses entraves, foram exumados doiscorpos no cemitério de Xambioá. Um deles já havia sidodesenterrado e descartado, em 1991, pela equipe daUnicamp. Pela segunda vez, pairava a suspeita de quepodiam corresponder aos restos mortais do guerrilheiroJoão Carlos Haas Sobrinho, médico gaúcho, integrantedo PCdoB, que ficou conhecido na região do Araguaiacomo Dr. Juca.Ainda durante a caravana de 1996, foram feitas escavaçõesna reserva indígena dos índios Suruís, no Pará, medianteautorização expressa do então ministro da JustiçaNelson Jobim. Uma moradora apontou com exatidãoonde havia visto os militares enterrando corpos. Entretanto,após a área ser vasculhada, descobriu-se que oscorpos já haviam sido retirados da sepultura, deixandopara trás apenas poucos ossos, o que dificultava a identificação.Foi possível concluir unicamente que entre omaterial não exumado encontravam-se restos mortaisde pelo menos duas pessoas.O saldo da incursão, à primeira vista, foi baixo: apenasum esqueleto em condições de possibilitar identificação,embora tenham sido feitas escavações em oito sítios.Na avaliação dos familiares, a expedição serviu pararevelar indícios de alguma “operação limpeza”. Para oresgate da história, no entanto, o saldo foi bastante positivo,já que os depoimentos colhidos confirmaram a| 42 |

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