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Direito à Memória e à Verdade - DHnet

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DIREITO À MEMÓRIA E À VERDADECatarinense de Braço do Norte, João Batista mudou ainda criança para Criciúma (SC), onde estudou no Ginásio Madre Tereza Michel, atécompletar o curso ginasial. Foi então viver em Porto Alegre, onde começou sua militância política. Trabalhava em um escritório de advocaciae participava das mobilizações estudantis de 1968. Por sua estatura miúda, seu sobrenome lhe rendeu entre os amigos o apelido de “Ritinha”.Morava em Cachoeirinha, na região metropolitana de Porto Alegre com a irmã Aidê. Integrado ao M3G, foi preso em 10 de abril de1970, poucos dias depois da tentativa frustrada de seqüestro do cônsul americano no Rio Grande do Sul pela VPR, sendo muito torturado.Era considerado o número 2 de um pequeno grupo liderado por Edmur Péricles Camargo, que se afastou de Marighella e fundou a organizaçãodenominada M3G (Marighella, Marx, Mao e Guevara). De acordo com documentos dos órgãos de segurança, João Batista participoude pelo menos três ações armadas realizadas por esse grupo em Porto Alegre, Viamão e Cachoeirinha, no Rio Grande do Sul. Depois de viveralgum tempo no Chile, transferiu-se para a Argentina, onde se casou com uma exilada chilena, Amalia Barrera, que chegou a escrever umacarta para Aidê, irmã de João Batista, em março de 2004.A nota emitida em 06/02/1975 pelo ministro da Justiça Armando Falcão, a respeito dos desaparecidos políticos, mencionou apenas que João Batistahavia sido banido do país. Constam do processo na CEMDP recortes de jornais relatando que esse exilado “preparava os documentos para suaida à Itália, quando os órgãos de repressão do Brasil, articulados pelo capitão do Exército, Diniz Reis, o seqüestraram. A ação foi desenvolvida por umgrupo de indivíduos falando português que o colocaram à força dentro de um automóvel, na presença de numerosas pessoas”. Foi levado para o Riode Janeiro e desapareceu no Quartel da Polícia do Exército. Foi visto pela última vez, por outros presos políticos, na noite de 13/01/1974.Leopoldo Paulino, ex-exilado político, músico e atualmente vereador pelo PSB em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, escreveu a respeitodesses dois desaparecidos, num texto de 2004: “No dia 11 de dezembro de 73, foi seqüestrado em Buenos Aires o companheiro JoãoBatista Rita, chamado de ‘Catarina’ por todos nós, exilado que morava conosco no Aparelhão. Com João Batista, foi seqüestrado também omajor Cerveira, exilado político brasileiro, cuja operação foi realizada em Buenos Aires pela polícia brasileira, com o aval dos órgãos de segurançado governo argentino. Os dois companheiros foram vistos, pela última vez, por alguns presos políticos no DOI-CODI do Rio de Janeiro,já arrebentados pela tortura, nunca mais se conhecendo seu paradeiro”.Major da Cavalaria do Exército Brasileiro, Joaquim Pires Cerveira era gaúcho de Pelotas, casado com Maria de Lourdes Romanzini Pires Cerveira,com quem tinha três filhos. Filho de militar e órfão de pai aos 7 anos, foi enviado com os quatro irmãos para o Colégio Militar de Porto Alegre,onde estudou em regime de internato. Formado em Odontologia pela Universidade de Coimbra, também se dedicou ao ensino de Matemática apóscursar a Academia Militar de Agulhas Negras. Filiou-se ao Partido Comunista logo após a derrubada do Estado Novo, quando tinha apenas 13anos. Engajou-se nas mobilizações nacionalistas dos anos 50 e participou da campanha presidencial do Marechal Lott, em 1955. Radicou-se coma família em Curitiba e, já licenciado do Exército, foi eleito vereador. Passou à reserva pelo primeiro Ato Institucional, de 09/04/1964, por força deseus vínculos políticos com Leonel Brizola e de seu alinhamento com o chamado nacionalismo Revolucionário.Conforme documentos encontrados nos arquivos secretos do DOPS/SP, Cerveira já tinha sido preso uma vez em dia 21/10/1965, sendoencaminhado à 5ª Região Militar e entregue ao Coronel Fragomini. Em 29/05/1967 foi absolvido pelo Conselho Especial de Justiça da 5ªCircunscrição Judiciária Militar, da denúncia por crime de subversão. Os órgãos de segurança o acusavam de ter facilitado a fuga da prisãodo coronel Jefferson Cardim Osório, que liderou uma tentativa de insurreição popular contra o regime militar no final de março de 1965,nas cidades gaúchas de Três Passos e Tenente Portela.Cerveira foi preso novamente em abril de 1970, junto com sua mulher e um filho, pelo DOI-CODI/RJ, onde foi submetido a violentas torturas.Nessa época, liderava uma pequena organização clandestina denominada FLN – Frente de Libertação Nacional, que atuava muito ligadaà VPR, tendo participado do levantamento conjunto e preparativos do seqüestro do embaixador alemão, que realmente se concretizou emjunho, dois meses depois de Cerveira estar preso e nada informar aos torturadores sobre a operação.A já mencionada nota oficial do ministro da Justiça Armando Falcão, de 1975, informou a respeito de Cerveira apenas que estava banidodo país, nada esclarecendo sobre seu paradeiro. Nos arquivos secretos do DOPS/PR, o nome do major foi encontrado numa gaveta com aidentificação de “falecidos”.| 370 |

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