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Direito à Memória e à Verdade - DHnet

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COMISSÃO ESPECIAL SOBRE MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOSCaiupy era bancário aposentado, casado com Marly Paes Leme, sócio da empreiteira São Tomé. Vivia no Rio de Janeiro em situação perfeitamentelegal e desapareceu no dia 21/11/1973, às 19 horas, após descer de um ônibus em Copacabana. Já havia sido preso uma vez, emmaio de 1968, na véspera das comemorações do 1º de maio, quando participava de uma manifestação perto do campo do São Cristóvão.Ficou por 11 dias incomunicável nas dependências do DOPS/RJ. O Sindicato dos Bancários interferiu, mas as autoridades não reconhecerama prisão. Vinte dias depois, por meio de um habeas-corpus, Caiupy foi solto. Não houve processo, nada foi apurado. Era acusado de sermembro do PCB por ter tirado seu título de eleitor através desse partido, por volta de 1945. Nesse período pós-Estado Novo, o PCB era umpartido perfeitamente legal, que montava bancas nas ruas para obter novos filiados. O nome de Caiupy consta na lista de desaparecidospolíticos anexa à Lei nº 9.140/95.Nas várias listas formadas desde os anos 1970 sobre mortos e desaparecidos políticos, seu nome costumava ser gravado como Caiuby, enão Caiupy, e sua vinculação política era dada como sendo o PCB, graças a essa prisão anterior. No entanto, sabe-se que Caiupy era pessoalmenteligado ao major do Exército Joaquim Pires Cerveira, banido do Brasil em junho de 1970, a quem Caiupy visitou no Chile em 1971. Levando em contaque os dossiês e sites ligados aos familiares de mortos e desaparecidos políticos nunca trouxeram maiores informações sobre o vínculo de Caiupycom o PCB, considerando que nesse período Cerveira nada tinha a ver com esse partido, e atentando, finalmente, para a proximidade das datasentre os desaparecimentos de Caiupy e Cerveira, parece mais seguro registrar como não definida a filiação política de Caiupy.Marly, em depoimento no livro Desaparecidos Políticos, organizado por Reinaldo Cabral e Ronaldo Lapa, em 1979, conta o que aconteceuno dia do desaparecimento de Caiupy:“Tomamos um ônibus da linha circular Glória-Leblon, no inicio da rua Barata Ribeiro, em Copacabana, e quando chegamos na altura da GaleriaMenescal, Caiupy puxou a cigarra e desceu. Antes, me confidenciara um encontro rápido com um amigo, mas garantiu que voltaria logo.Pediu-me, inclusive, que não mudasse a roupa ao chegar em casa, pois iríamos juntos ao cinema.Esperei e nada de Caiupy. O dia já estava quase amanhecendo e o meu marido não tinha voltado. Pensei comigo: vai ver que o encontro se prolongoudemais e ele não pode avisar. Dia seguinte, não dava mais para esperar e comecei a tomar as providências, meu marido tinha desaparecido.Comecei a busca. Recorri a amigos que me acompanharam nos distritos policiais. Desconfiava da gravidade do que tinha acontecido. Ninguémdesaparece assim de uma hora para outra. Fui pelas vias normais. Percorri todos os hospitais da cidade, minha irmã foi ao necrotério, fomostambém ao DOPS e nada encontramos. (...)Procurei um advogado. Fui falar com D. Ivo Lorscheiter na CNBB, comecei a movimentar pessoas amigas, fiz pedidos a generais e nada consegui. Nenhumórgão assumia a prisão de Caiupy. Devido à minha falta de tempo, Lourdes Cerveira, esposa do também desaparecido major Cerveira, me ajudava.Nessa época foi preso um companheiro do Caiupy de nome Otevaldo Silva. A prisão foi de conhecimento público. Pouco depois, Otevaldo foisolto e disse que ouviu a voz de meu marido quando estava sendo interrogado num quartel militar de Brasília..”.SÔNIA MARIA DE MORAES ANGEL JONES (1946-1973)Número do processo: 092/96Filiação: Cléa Lopes de Moraes e João Luiz de MoraesData e local de nascimento: 09/11/1946, Santiago do Boqueirão (RS)Organização política ou atividade: ALNData e local da morte: 30/11/1973, São Vicente (SP)Relator: Suzana Keniger LisbôaDeferido em: 08/02/1996 por unanimidadeData da publicação no DOU: 12/02/1996| 363 |

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