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Direito à Memória e à Verdade - DHnet

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DIREITO À MEMÓRIA E À VERDADEteve aposentadoria compulsória. Tornou-se militante do PCdoB logo após ter participado da conferência de fundação do PCBR, no Rio deJaneiro, assim como fizeram Armando Teixeira Frutuoso e Manoel Jover Telles.Trabalhou como sociólogo no SESC até passar a viver na clandestinidade em 1972. Participou do Programa Nacional de Alfabetização eintegrou o Comitê Estadual e o Comitê Central do PCdoB. Antes da clandestinidade foi preso várias vezes. Após 1972 trabalhou para váriasinstituições usando outras identidades.Pela versão oficial Lincoln morreu ao reagir às forças de segurança. Tinha 28 anos de idade. O corpo foi encontrado ao lado do Pavilhão de SãoCristóvão (RJ) em 13/03/1973 com mais de 15 tiros. O cadáver teria entrado no IML/RJ no mesmo dia, como desconhecido, pela Guia N° 15 doDOPS. A necropsia, realizada no dia seguinte por Gracho Guimarães Silveira e Jorge Nunes Amorim, confirmou a versão oficial de morte em tiroteio.Teria sido reconhecido pelas impressões digitais, segundo documento do DOPS/RJ, de 16/03/1973 e, retirado por seu irmão para o enterro realizadopela família, no dia 23, no Cemitério Jardim da Saudade (RJ). Sua morte foi divulgada pelos órgãos de repressão no dia 21/03/1973A relatora do processo na CEMDP afirmou, baseada em provas anexadas, que era falsa a versão oficial apresentada e que na verdade Lincolnfora assassinado sob torturas no DOI-CODI do Rio de Janeiro, como provam os depoimentos prestados por seus familiares e ex-presospolíticos na ação ordinária movida pela família de Lincoln junto à 3ª Vara Federal do Rio de Janeiro.João Luiz de Santiago Dantas Barbosa Quental, companheiro de militância de Lincoln, preso no dia 06/03/1973 e recolhido à PE da ruaBarão de Mesquita, onde funcionava o DOI-CODI/RJ, confirmou ter sido levado para uma praça em São João do Meriti, onde tinha encontromarcado com Lincoln. Ali, escoltado pelos agentes do DOI-CODI, viu quando Lincoln chegou ao local e foi preso, agarrado pelo cós da calçae pelos braços, sem esboçar qualquer reação. Acrescentou que, conforme orientação do partido a que pertencia - e Lincoln era do ComitêCentral - os militantes não portavam armas nas cidades, pois o PCdoB defendia que a luta armada deveria ser travada no campo. Soube damorte de Lincoln dias depois, por outro preso, que lhe relatou ter a nota oficial informado que ele faleceu em tiroteio em um outro local.Delzir Antônio Mathias declarou que foi preso no dia 01/06/1975. Como durante a tortura no DOI-CODI/RJ não falava nada, ameaçaramlevá-lo para o delegado Fleury em São Paulo, dizendo-lhe que era corajoso como o Lincoln, que resistira muito às torturas, e que lhe passariamum filme para que visse em que estado Lincoln ficara. Amilcar Barroso de Siqueira, que em 1973 era estagiário no escritório doadvogado Modesto da Silveira, afirmou que a família de Lincoln procurou o escritório ao saber que ele estava preso. Todas as tentativasfeitas para localizá-lo tiveram resposta negativa.A relatora do processo na CEMDP destacou que o documento feito pelo comissário do DOPS, Mário Martins da Veiga, funcionáriode plantão no dia 13 para 14/03/1973, dizia que ao receber a mensagem telefônica às 19h30 sobre a morte de um “subversivo” noCampo de São Cristóvão, foi ao local e constatou que, realmente, ocorrera uma morte por volta das 20h, o que entra em contradiçãocom o horário do telefonema.O levantamento pericial, realizado por Luiz Leite Santiago e Brent Bastos, descreve o encontro do corpo, das vestes, os ferimentos,a chuva e a iluminação deficiente, concluindo que houve um homicídio, em circunstâncias a serem esclarecidas e atestam: “Como cadáver nas proximidades não foram encontrados quaisquer documentos, pertences, ou outros elementos materiais (vestígios) devalor criminalístico que se pudesse relacionar ao evento da causa”. A própria perícia desmente a versão oficial ao constatar que alinão havia armas. A história da militância política de Lincoln já tinha sido tema de documentário do diretor Cacá Diegues, intituladoOito universitários.| 334 |

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