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Direito à Memória e à Verdade - DHnet

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COMISSÃO ESPECIAL SOBRE MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOSAntes da montagem do processo referente a João Carlos para exame na CEMDP, a denúncia que constava no Dossiê dos Mortos e Desapa-recidos Políticosera de que fora fuzilado na data e local informados na versão oficial. O exame dos documentos, entretanto, revelou dadosnovos e levou à conclusão de que a versão oficial era falsa.Pelo que foi possível reconstruir a partir de vários depoimentos, João Carlos e Natanael de Moura Girardi tinham perdido há dois dias ocontato com Antonio Benetazzo. Na busca de notícias, foram à casa do militante Rubens Carlos Costa, onde Benetazzo havia sido preso doisdias antes. Instalados na casa vizinha, estavam os agentes do DOI-CODI. Natanael conseguiu escapar do cerco, mas João Carlos não.A certidão de óbito, atestada por Issac Abramovitc, anota que João Carlos Cavalcanti Reis teria falecido no dia 30 de outubro de 1972, às19 horas. O declarante é o funcionário do DOPS Miguel Fernandes Zaniello.Abramovitc e Orlando Brandão descreveram duas lesões de entrada na cabeça: no canto externo do supercílio direito, com ferimento desaída na região occipital; e outro ferimento de entrada no canto direito da rima bucal, que fraturou os incisivos laterais direitos e saiu pelaporção inferior da região occipital. Apontam ainda ferimentos no terço inferior de ambas as pernas, sem descrever a natureza das lesõesou os instrumentos que as produziram.A Requisição de Exame ao IML, encaminhada por um delegado do DOPS no dia 30 de outubro, repete o mesmo horário. No entanto, a ficha do IMLencontrada nos arquivos do DOPS/SP informa que João Carlos deu entrada no necrotério às 22 horas, vestindo apenas cueca de náilon castanho emeias de algodão cinza. Considerou a maioria da CEMDP que, com certeza, não era possível que João Carlos, assim trajado, tivesse participado deum tiroteio ocorrido supostamente três horas antes da entrada de seu corpo no IML, sendo falsa a versão oficial dos órgãos de segurança.AURORA MARIA NASCIMENTO FURTADO (1946-1972)Número do processo: 194/96Data e local de nascimento: 17/06/1946, São Paulo (SP)Filiação: Maria Lady Nascimento Furtado e Mauro Albuquerque FurtadoOrganização política ou atividade: ALNData e local da morte: 10/11/1972 no Rio de JaneiroRelator: general Oswaldo Pereira GomesDeferido em: 02/04/1996 por unanimidadeData da publicação no DOU: 11/04/1996Estudante de Psicologia na Universidade de São Paulo, com ativa militância no Movimento Estudantil, Aurora tinha sido a responsável pelaimprensa da União Estadual dos Estudantes de São Paulo, no final da década de 1960, período em que era conhecida como Lola, sendo namoradae companheira de José Roberto Arantes de Almeida, cuja morte já foi relatada no presente livro-relatório. Foi também funcionáriado Banco do Brasil, na agência Brás, capital paulista.Militante da DISP - Dissidência Estudantil do PCB/SP, passou à clandestinidade após ter sido editado o AI-5. Ao ser morta, militava na ALN, atuandono Rio de Janeiro, sendo a responsável pela publicação do jornal Açãoe tendo participado de inúmeras ações armadas, de acordo com informaçõesdos órgãos de segurança, inclusive o assalto à Casa de Saúde Dr. Eiras, que deixou um saldo de três vigilantes de segurança mortos e da execuçãodo marinheiro inglês David Cuthberg. Aurora foi presa no dia 09/11/1972, em Parada de Lucas, Rio de Janeiro, depois de ter entrado em uma blitzpolicial realizada por uma patrulha do 2º Setor de Vigilância Norte. Tentando romper o cerco, Aurora teria matado um policial. Após correr alguns metros,foi aprisionada viva, dentro de um ônibus onde havia se refugiado, sendo conduzida imediatamente para a delegacia policial de Invernada de Olaria.Aurora foi submetida ao pau-de-arara, sessões de choques elétricos, espancamentos, afogamentos e queimaduras. Aplicaram-lhe também a“coroa de cristo”, fita de aço que vai gradativamente sendo apertada, esmagando aos poucos o crânio. Morreu no dia seguinte. Entretanto,| 317 |

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