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Direito à Memória e à Verdade - DHnet

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COMISSÃO ESPECIAL SOBRE MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOSte, Valderez foi transferida para uma sala onde estavam todas as roupas com as quais José Júlio havia sido preso, ensangüentadas, algumasrasgadas, e nada mais lhe foi perguntado a respeito dele. José Júlio foi enterrado como indigente no cemitério de Perus.Sua família viveria ainda outra tragédia, só conhecida em toda sua extensão 20 anos depois, quando um encanador, que era também informantepolicial e fazia serviços na casa da mãe de José Júlio, em Belo Horizonte, denunciou à polícia o encontro de uma caixa com ossoshumanos no sótão da residência. Foi aberto inquérito contra a mãe e a irmã de José Júlio, por ocultação de cadáver, e mais um capítulodoloroso na vida dessa família foi tornado público.Márcio, psiquiatra, o irmão que fisicamente mais se assemelhava a José Júlio, viajou para São Paulo em agosto de 1975, obedecendo oprazo estabelecido pelo cemitério para recuperar os restos mortais no Cemitério Dom Bosco, em Perus. Havia adquirido uma sepultura noCemitério da Lapa, também em São Paulo, onde pretendia realizar o enterro do irmão. Mas sua dor e sua ligação com José Júlio eram tãofortes, que não conseguiu separar-se do que restara dele. Levou a caixa de madeira com os restos mortais do irmão para Belo Horizonte ea escondeu no sótão da casa, sem contar a ninguém.Acometido de profunda crise depressiva, Márcio suicidou-se no ano seguinte, 1976. Após a morte de Márcio, a mãe, desconfiada do caixoteno sótão, guardado com tanto cuidado, descobriu os ossos de José Júlio e optou por manter o segredo, já que não dispunha de qualquerdocumento sobre o ocorrido para que pudesse oficializar o enterro. Somente após os exames periciais e o resgate público da história, oinquérito foi encerrado e José Júlio sepultado, em 6/12/1993, no Cemitério Parque da Colina. Esse exame pericial contribuiu, entretanto,para refutar definitivamente a falsa versão divulgada em 1972. Os legistas mineiros descreveram a trajetória de uma bala no crânio que nãoseria compatível com a descrição de que José Júlio fugia em ziguezague, sendo mais indicativa de um tiro de misericórdia.No processo formado junto à CEMDP, todos os integrantes do colegiado acompanharam o voto do relator a favor do deferimento do caso.LUIZ EURICO TEJERA LISBÔA (1948-1972)Número do processo: 248/96Filiação: Clélia Tejera Lisbôa e Eurico Siqueira LisbôaData e local de nascimento: 19/01/1948, Porto União (SC)Organização política ou atividade: ALNData e local do desaparecimento: setembro de 1972, em São PauloData da publicação no DOU: Lei nº 9.140/95 – 04/12/95O nome de Luiz Eurico Tejera Lisbôa fazia parte da lista anexa à Lei nº 9.140/95 e seu caso tornou-se um divisor de águas na luta dos familiares,por ter sido o primeiro desaparecido político a ter seu corpo encontrado, após uma longa e minuciosa busca de sete anos, em meioa um labirinto de boatos e pistas falsas.Catarinense de Porto União, Luiz Eurico era o mais velho de sete irmãos. Morou em outras cidades daquele estado: Caçador, Tubarão, Itajaíe Florianópolis. Em 1957, a família mudou para o Rio Grande do Sul. Em Caxias do Sul, estudou no Colégio Santa Terezinha e no ColégioNossa Senhora do Carmo. Quando ocorreu o Golpe de Estado de 1964, cursava o clássico na Escola Cristóvão de Mendonça, em Caxias. Naingenuidade de seus 15 anos, escreveu e assinou um manifesto contra a ditadura, que saiu a distribuir pela cidade. Acuado pelas conseqüências,mudou-se para Porto Alegre, ingressando no Colégio Estadual Júlio de Castilhos – o Julinho, onde organizadamente começou sua militânciapolítica na Juventude Estudantil Católica (JEC). Foi uma das lideranças do Movimento Estudantil secundarista gaúcho, atuando na UniãoGaúcha dos Estudantes Secundários - UGES.A militância ativa e a participação destacada de Luiz Eurico chamaram a atenção dos órgãos de segurança, que passaram a prendê-lo preventivamentea cada anúncio de manifestação a ser realizada. Uma dessas prisões selaria seu destino. Em 1969, foi condenado pela LSN a| 309 |

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