11.07.2015 Views

Direito à Memória e à Verdade - DHnet

Direito à Memória e à Verdade - DHnet

Direito à Memória e à Verdade - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

COMISSÃO ESPECIAL SOBRE MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOSocorrer um suicídio nas condições alegadas pelas autoridades dos órgãos de segurança do regime militar: “Não é impossível, tecnicamente,que alguém se enforque nessa posição. É preciso, no entanto, fazer um bom esforço. A pessoa tem de amarrar a ponta de uma corda em pontoalto e bem firme, sentar-se, amarrar a outra ponta da corda no próprio pescoço, levantar-se e dar um salto acrobático para a frente. O difícilé explicar como o corpo vai parar exatamente sentado, encostado a uma parede, e a persiana se mantém intacta, como mostram as fotografias.A cena fica ainda mais inverossímil se for considerado que antes de Ismael morrer fora submetido a uma violenta sessão de torturas eespancamentos, encontrando-se impossibilitado de fazer tal ginástica”.Depoimento de Aguinaldo Lázaro Leão, amigo de infância de Ismael e também militante do PCB, que na época prestava serviço militarno 10º Batalhão, relata que chegou a trocar algumas palavras com Ismael durante seu turno de guarda. Disse que o amigo estavamuito rouco e revelou ter levado choques elétricos e pancadas por todo o corpo, ficando debilitado e com um braço quebrado. Ismaelpediu também que tranqüilizasse a família. Aguinaldo foi preso a seguir e levado encapuzado para a sala de interrogatórios doBatalhão, onde ouviu a porta se abrir e uma pessoa entrar arrastada. Um dos interrogadores perguntou para tal pessoa se conheciao soldado Lázaro. Aguinaldo reconheceu a voz imediatamente, que se mantinha rouca. Ismael, ao responder a seus interrogadores,procurou atenuar a participação política daquele soldado amigo. Por unanimidade, o requerimento apresentado pelos familiares deIsmael à CEMDP foi deferido, tendo sido colocado em votação na primeira reunião da Comissão Especial. Em sua homenagem, existehoje em Goiás a Escola Estadual Ismael Silva de Jesus.CÉLIO AUGUSTO GUEDES (1920-1972)Número do processo: 320/96Filiação: Adosina Santos Guedes e Julio Augusto GuedesData e local de nascimento: 21/06/1920, Mucugê (BA)Organização política ou atividade: PCBData e local da morte: 15/08/1972, Rio de Janeiro (RJ)Relator: Oswaldo Pereira GomesDeferido em: 01/08/96 por unanimidadeData da publicação no DOU: 05/08/96Baiano de Mucugê, Célio Augusto foi criado e educado em Salvador, onde se formou em Odontologia. Militou do PCB. e era irmão do jornalistae dirigente daquele partido Armênio Guedes. Ainda estudante, trabalhou como lapidário de pedras semi-preciosas, ofício que aprendeuem casa, e com isso pagou seus estudos e ajudou o sustento da família, depois da morte de seu pai. Adolescente, quando fazia cursocomplementar para prestar exame vestibular, seguindo a tradição da família, ingressou na célula da Juventude Comunista do Ginásio daBahia – isso na segunda metade dos anos 30, quando se instalou no País o Estado Novo. Numa panfletagem feita pela célula da JuventudeComunista no Ginásio da Bahia, denunciando violências da ditadura getulista, militantes foram presos e levados para o Dops, onde ficaramdetidos e submetidos a interrogatórios por mais de trinta dias. Entre eles, identificado como um dos líderes da “subversão”, estava Célio. Desdeentão, jamais se afastou da atividade do partido, fosse ela de simples militante ou como membro da direção estadual; tanto nos curtos períodos delegalidade como nos longos e difíceis anos de clandestinidade. Em abril de 1964, a casa de Célio em Salvador foi invadida e saqueada por militares– o que o obrigou à vida clandestina e a mudar-se para o Sul.Nessa época foi indicado para trabalhar no aparelho de segurança da direção nacional do partido. Nesse novo posto, durante vários anoscoube a ele a responsabilidade da movimentação de Prestes dentro do País - isso até a saída para o exílio do secretário geral do partido.Em julho de 1972, recebeu a missão de ir num carro do partido a Montevidéu, para encontrar o médico Fued Saad, que voltava de umaviagem ao exterior e devia ingressar clandestinamente no Brasil, tarefa em que Célio estava treinado e havia realizado com êxito em vezesanteriores. Ao cruzar um posto na fronteira, entre Jaraguarão e Rio Branco os dois foram identificados, detidos e transportados em aviãodiretamente para a sede do Cenimar no Rio de Janeiro onde Célio Guedes, segundo seu irmão Armênio, morreu sob tortura, aos 53 anos, em15/8/1972. A comunicação do falecimento só foi feita à família quinze dias depois.| 307 |

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!