11.07.2015 Views

Direito à Memória e à Verdade - DHnet

Direito à Memória e à Verdade - DHnet

Direito à Memória e à Verdade - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

COMISSÃO ESPECIAL SOBRE MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOSA versão oficial divulgada foi de que se suicidara. Somente em 2003, a repórter Eliane Brum, da revista Época, foi procurada por uma testemunhacom novas informações. Mais do que isso, a matéria permitiu que o filho de Grenaldo de Jesus, Grenaldo Erdmundo da Silva Mesut,que ainda não conhecia as circunstâncias reais da morte do pai, encontrasse sua verdadeira história e sua família.O nome de Grenaldo de Jesus sempre constou do Dossiê dos Mortos e DesaparecidosPolíticos, apesar de não haver contato com seus fa-miliares. Seu corpo, enterrado como indigente no Cemitério Dom Bosco, em Perus, foi parar dentre as ossadas da vala clandestina daquelecemitério. A família não apresentou requerimento à CEMDP quando foi editada a Lei nº 9.140/95. Somente em 2002, um dos irmãos entroucom o pedido, cuja responsabilidade foi transferida ao filho quando finalmente localizado.Nascido no Maranhão, o marinheiro Grenaldo era o filho mais velho dentre 12 irmãos. Seu pai era alfaiate, a mãe servente de escola emSão Luís (MA). Ingressou na Escola de Aprendizes Marinheiros do Ceará em 1º/1/1960. Em 30/9/1964, quando era marinheiro de 2ª classe,foi expulso em função de sua participação política e terminou sendo condenado a 5 anos e dois meses de prisão, a mais alta pena dentreos 414 marinheiros julgados.Para evitar a prisão, mudou-se para Guarulhos, na Grande São Paulo. Durante cinco anos, trabalhou como porteiro e vigilante da empresaCamargo Corrêa. Casou-se com Mônica e tiveram um filho. Num dia de 1971, Grenaldo saiu de casa, nervoso após receber cartas que provavelmentelhe avisavam que fora descoberto. A mulher só voltou a saber dele quando foi divulgada sua morte por ocasião do seqüestro. Omenino Grenaldo tinha 4 anos e cresceu sem saber do pai.A requisição de exame ao IML, marcada com o “T” que identificava os militantes políticos, foi assinada pelo delegado do DOPS Alcides CintraBueno Filho. O laudo de necropsia foi assinado pelos legistas Sérgio Belmiro Acquesta e Helena Fumie Okajima, que definiram a morte por“traumatismo craniano encefálico”.A história começou a ser desvendada quando a foto de Grenaldo foi publicada em matéria da revista Época, de março de 2003. Uma testemunhado seqüestro procurou a revista. Era José Barazal Alvarez, sargento especialista da Aeronáutica e controlador de tráfego aéreono aeroporto de Congonhas, que estava trabalhando no dia da tentativa de seqüestro e alternava com os colegas a comunicação com atripulação do avião. Quando a tentativa de seqüestro acabou, ele recebeu a missão de reunir os pertences do seqüestrador e redigir umrelatório. Há 30 anos sofria pesadelos ao lembrar da carta-testamento para o filho, que ele mesmo retirou do peito de Grenaldo, junto a umsegundo tiro em seu corpo. Percebeu então que Grenaldo não se suicidara com um único tiro, como afirmaram a Aeronáutica e os legistasdo IML. Mas José Barazal decidiu permanecer calado até rever a foto publicada, quando então decidiu procurar o filho de Grenaldo e contar-lhea verdade. Não guardou a carta, mas se lembra que era dirigida ao filho, explicando que seqüestrava o avião para chegar ao Uruguaie que viria buscar a família assim que possível. Mas ninguém conhecia o filho de Grenaldo até que uma cunhada sua, meses depois, viu amesma revista num consultório dentário e Grenaldo Erdmundo passou a fazer parte desta história. A revista proporcionou um emocionanteencontro de José e Grenaldo Erdmundo, resgatando a verdade.A repórter localizou também o mecânico de vôo Alcides Pegruci Ferreira, a única pessoa que permaneceu no avião com Grenaldo após afuga da tripulação pela janela, e que encontrou o corpo caído, viu o buraco da bala, quase na nuca. Afirmou que “virou piada o seqüestradorsuicidado com um tiro na nuca”. “A ditadura decidiu que era suicídio e a gente teve de aceitar. Botaram um pano em cima”.A relatora do processo na CEMDP observou que, “embora o IPM seja inconclusivo quanto à motivação política de Grenaldo de Jesus da Silvano seqüestro que culminou em sua morte, assim como não há documentação reunida nos autos que comprove que o falecido participava deuma ação politicamente orientada, fica patente que esse entendimento foi o que conduziu toda a ação policial militar quanto aos fatos”.Por unanimidade, a Comissão Especial acompanhou o voto da relatora, no entendimento de que “a aeronave em que Grenaldo se encontravaquando morreu se assemelha às dependências policiais, já que a vítima estava sob custódia das forças de segurança”.| 299 |

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!