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Direito à Memória e à Verdade - DHnet

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COMISSÃO ESPECIAL SOBRE MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOSMaria Antônia, a frase: “Abaixo as leis da ditadura”. Voltou a ser presa em maio de 1968, quando convocava colegas a participarem de umapasseata na capital paulista.Naquele mesmo ano de fortes mobilizações estudantis, foi presa pela terceira vez em Ibiúna (SP), agora como delegada ao 30º Congresso daUNE, entidade da qual era vice-presidente. Na ocasião, quando o ônibus que transportava estudantes presos passou pela avenida Tiradentes,Helenira conseguiu entregar a um transeunte bilhete para ser levado à sua residência, no Cambuci, avisando a família sobre a prisão. Apontadacomo liderança no Movimento Estudantil, foi transferida do Presídio Tiradentes para o DOPS. Depois, a estudante seria transferida parao Presídio de Mulheres do Carandiru, onde ficou detida por dois meses. A família conseguiu libertá-la mediante habeas-corpusna vésperada edição do AI-5. A partir de então, Helenira, que já era militante do PCdoB, passou a viver e atuar na clandestinidade, morando em váriospontos da cidade e do país antes de mudar-se para o Araguaia.Conhecida como Fátima naquela região, integrou o Destacamento A da guerrilha, unidade que passou a ter seu nome após sua morte, em 28ou 29/09/1972. Teria matado um militar e ferido outro, antes de ser ferida e morta. Metralhada nas pernas e torturada até a morte, segundodepoimento da ex-presa política Elza de Lima Monnerat na Justiça Militar, foi enterrada na localidade de Oito Barracas.O jornal A Voz da Terra, de Assis, publicou na edição de 08/02/1979 extensa reportagem sob o título A Comovente História de Helenira.A matéria descreve sua juventude na cidade, filha de um médico negro, conhecido e respeitado por suas tendências humanistas. Informatambém que a jovem se destacou como atleta, com desempenho especial na equipe de basquete da cidade, uma das melhores na regiãosorocabana. De acordo com esse jornal, o lugar onde Helenira tombou ferida se tornou uma poça de sangue, segundo soldados do Pelotãode Investigações Criminais, confirmando que a coragem da moça irritou a tropa.Além da descrição de sua morte feita por Ângelo Arroyo, já registrada anteriormente, sabe-se que o Relatório da Aeronáutica, de 1993,afirma que Helenira era militante do PCdoB e guerrilheira no Araguaia. No arquivo do DOPS/PR, sua ficha foi encontrada na gaveta com aidentificação “falecidos”. No “livro secreto” do Exército, divulgado pela imprensa em abril de 2007, consta a respeito dela na página 724:“No dia 28(de setembro de 1972), um grupo que realizava um patrulhamento quase caiu numa emboscada fatal. No entanto, falhou a armaou fraquejou um dos terroristas e o grupo foi alertado. Como se tratasse de uma passagem perigosa, o grupo tinha exploradores evoluindopela mata, os quais reagiram a tempo. O terrorista cuja arma falhara logrou fugir. O outro, que abriu fogo com uma espingarda calibre 16,caiu morto no tiroteio que se seguiu. Trata-se de Helenira Resende de Souza Nazareth (Fátima), do destacamento A”No livro A Lei da Selva, Hugo Studart relata sua morte como ocorrendo na localidade chamada Remanso dos Botos, em choque com umapatrulha de fuzileiros navais, não do Exército, sem confirmar a ocorrência de baixas entre os militares da Marinha, que teriam sido retiradosda região em seguida, por falta de condições psicológicas para permanecerem na selva. Studart transcreve o seguinte trecho do diário deMaurício Grabois, de autenticidade ainda não comprovada, cuja narração tem pontos comuns e pontos divergentes em relação ao RelatórioArroyo, transcrito anteriormente:“Novas informações foram trazidas sobre o incidente em que o co Flávio tombou sem vida. Os combatentes do DA estavam preparando umaemboscada. Dividiram-se em 2 grupos que deveriam atuar em conjunto. Um sob o comando do Pe (da CM) e outro sob a direção de Nu. Esteúltimo, que vinha na frente, deixou no caminho da corrutela de S.José dois observadores, Lauro e Fátima, e fez alto a uma certa distância. Precisamentenesse momento surgiu na estrada uma força inimiga de 16 homens que acompanhava 4 burros tropeados pelo Edith. À frente daunidade do Exército vinham três batedores (o que levou Isauro a pensar que a tropa era constituída apenas de 3 soldados). Um deles, o sargento,veio para o lado do barranco onde estavam nossos combatentes. Lauro, que portava arma longa semi-automática de 9 tiros, atrapalhou-secom a arma, não atirou e fugiu. O milico pressentiu a Fátima e disparou o FAL em sua direção. Esta, com sua arma de caça 16, o fuzilou. Emseguida, correu e se entrincheirou mais adiante. Um soldado, que pesquisava o local à sua procura, foi por ela abatido mortalmente com tirosde revólver 38. Ferida nas pernas, foi presa. Perguntaram-lhe onde estavam seus co. Respondeu que poderiam matá-la, pois nada diria. Entãoos milicos a assassinaram friamente. Seu corpo foi enterrado nas Oito Barracas, para onde foi transportado em burro”.| 213 |

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