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Direito à Memória e à Verdade - DHnet

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COMISSÃO ESPECIAL SOBRE MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOSmanhã, Cazuza convenceu Vítor a permitir que ele fosse ao local onde,na véspera, ouvira o barulho. Vítor ainda insistiu que não se devia ir aoponto, mas acabou concordando. Ao se aproximar do local do barulho,Cazuza foi metralhado e morreu”.Naqueles mesmos dias, os guerrilheiros travaram outro combatecom integrantes do Exército, em que morreram Francisco ManoelChaves e José Toledo de Oliveira. Antônio Carlos foi ferido elevado para São Geraldo do Araguaia, onde teria sido torturadoaté a morte, na base do Exército. No relatório Arroyo consta que,“Como estivessem sem alimento, Vítor (José Toledo de Oliveira)resolveu ir à roça de um tal de Rodrigues, apanhar mandioca. Oscompanheiros disseram que lá não tinha mais mandioca. Vítor,porém insistiu. Quando se aproximavam da roça viram rastros desoldados. Então Vítor decidiu que os quatro deveriam esconder-sena capoeira, próxima à estrada, certamente para ver se os soldadospassavam e depois então ir apanhar mandioca. Acontece que, nomomento exato em que os soldados passavam pelo local onde elesestavam um dos companheiros fez um ruído acidental. Os soldadosimediatamente metralharam os quatro. Dois morreram logo: Vítore Zé Francisco (Francisco Manoel Chaves). Antônio foi gravementeferido e levado para São Geraldo, onde foi torturado e assassinado.Escapou a companheira Dina, que sofreu um arranhão de bala nopescoço.(Provavelmente 21/09/72)”.Ex-diretora da UNE, Helenira teria matado um militar antes de seratingida por uma rajada de balas, sendo presa ferida. No relatórioArroyo consta que: “No dia 29 de setembro, houve um choquedo qual resultou a morte de Helenira Resende (Helenira Resende deSouza Nazareth). Ela, juntamente com outro companheiro, estavade guarda num ponto alto da mata para permitir a passagem, semsurpresas, de grupos do destacamento. Nessa ocasião, pela estradavinham tropas. Como estas achassem a passagem perigosa, enviarambatedores para explorar a margem da estrada, precisamenteonde se encontrava Helenira e o outro companheiro. Este, quandoviu os soldados, acionou a metralhadora, que não funcionou. Elecorreu e Helenira não se deu conta do que estava sucedendo. Quandoviu, já os soldados estavam diante dela. Helenira atirou comuma espingarda 16. Matou um. O outro soldado deu uma rajadade metralhadora que a atingiu. Ferida, sacou o revólver e atirou nosoldado, que deve ter sido atingido. Foi presa e torturada até a morte.Elementos da massa dizem que seu corpo foi enterrado no localchamado Oito Barracas”.Referindo-se ao dia seguinte, continua o mesmo Relatório: “imediatamenteouviu-se uma rajada. Juca (João Carlos Haas) e Flávio (CiroFávio) caíram mortos. Raul (Antônio Teodoro de Castro) foi ferido nobraço, escapando juntamente com Walk (Walquíria Afonso Costa).Gil (Manoel José) ainda se aproximou de Juca tentando reanimá-lo.Ocorreram novos disparos. Depois não se soube mais de Gil. Deve termorrido. Raul e Walk, que não conheciam bem a região, vagaram durantedois meses pela mata até que se encontrarem novamente com oscompanheiros do destacamento B. (30/09/72)”Segue o registro individualizado desses oito casos de mortes/desaparecimentoscorrespondentes a setembro de 1972:MIGUEL PEREIRA DOS SANTOS (1943–1972)Número do processo: 103/96Filiação: Helena Pereira dos Santos e Pedro Francisco dos SantosData e local de nascimento: 12/07/1943, Recife (PE)Organização política ou atividade: PCdoBData do desaparecimento: 20 ou 26 ou 27/09/1972Data da publicação no DOU: Lei nº 9.140/95 – 04/12/95O pernambucano Miguel começou a trabalhar quando tinha apenas 13 anos. Em 1964, mudou-se com a família para São Paulo e, nessemesmo ano, concluiu o curso científico no Colégio de Aplicação da USP. Trabalhava no Banco Intercontinental do Brasil. Iniciou cedo suaparticipação na vida política, filiando-se ao PCdoB. Em 1965, já teve de assumir militância clandestina devido à perseguição política. Em1968, agentes do DOPS, ao procurarem Miguel, interrogaram sua mãe, ocasião em que o delegado Wanderico mostrou-lhe fotocópias dedocumentos de Miguel que teriam sido enviadas pela Central Intelligence Agency – CIA -, dizendo que Miguel estivera na China. Por estemotivo, a casa de sua mãe foi várias vezes invadida pela polícia política.Miguel residiu inicialmente na Praia Chata, norte de Goiás às margens do Rio Tocantins e, posteriormente, no sul do Pará, na localidade dePau Preto, integrando o Destacamento C dos guerrilheiros. Segundo Regilena Carvalho Leão de Aquino, uma das poucas sobreviventes doAraguaia, em depoimento prestado na Câmara dos Vereadores de São Paulo perante a Comissão de Inquérito de Desaparecidos Políticos,| 209 |

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