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Direito à Memória e à Verdade - DHnet

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DIREITO À MEMÓRIA E À VERDADEafirmou que ouvira alguém dizendo baixinho: ‘pega, pega’. Mas os outros dois nada tinham ouvido. Acamparam a uns 200 metros. Durante anoite ouviram barulho que parecia de tropa de burro chegando na casa. De manhã cedo, ouviram barulho de pilão batendo. Aproximaram-secom cautela, protegendo-se nas árvores. Maria ia na frente. A uns 50 metros da casa, recebeu um tiro e caiu morta. Os outros dois retiraramserapidamente. Dez minutos depois, os helicópteros metralhavam as áreas próximas da casa. Alguns elementos de massa disseram, maistarde, que Maria fora morta com um tiro de espingarda desfechado por Coioió. Este logo depois desapareceu com toda a família”.No relatório apresentado pela Marinha ao ministro da Justiça Maurício Correa, em 1993, consta sobre Maria Lúcia: ”Junho-72 Mortadurante enfrentamento na tarde do dia 16/06 próximo a Pau Preto”. Seus irmãos Jaime e Lúcio Petit também desapareceram na região daguerrilha. Em 1991, familiares de mortos e desaparecidos do Araguaia, juntamente com membros da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocesede São Paulo e uma equipe de legistas da Unicamp estiveram em um cemitério da cidade de Xambioá, onde exumaram duas ossadas. Umadelas era de uma mulher jovem, enrolada num pedaço de pára-quedas. A ossada foi identificada em 14/05/1996 como sendo de Maria Lúcia,pelo Departamento de Medicina Legal da Unicamp, depois que o jornal O Globo apresentou fotos onde o seu corpo aparecia envolto em umpára-quedas igual ao que foi encontrado junto à ossada em Xambioá.Sobre Maria Lúcia Petit o “livro secreto” do Exército, recentemente divulgado pelo jornalista Lucas Figueiredo, registra: “No dia 16(de junho de 1972) esse destacamento (dos guerrilheiros) sofreria outra baixa com a morte de Maria Lúcia Petit da Silva (Maria) emchoque com as forças legais”.Merece registro a análise feita por Elio Gaspari no livro citado: “Os militares enterraram Maria num cemitério de Xambioá, com o corpoembrulhado num pedaço de pára-quedas e a cabeça envolta em plástico. A ditadura fixara um padrão de conduta. Fazia prisioneiros, mas nãoentregava cadáveres. Jamais reconheceria que existissem. Quem morria, sumia. Esse comportamento não pode ser atribuído às dificuldadeslogísticas da região, pois a tropa operava de acordo com uma instrução escrita: ‘Os PG (prisioneiros de guerra) falecidos deverão ser sepultadosem cemitério escolhido e comunicado. Deverão ser tomados os elementos de identificação (impressões digitais e fotografias)’”KLÉBER LEMOS DA SILVA (1942–1972)Número do processo: 254/96Filiação: Karitza Lemos da Silva e Norival Euphrosino da SilvaData e local de nascimento: 21/05/1942, Rio de Janeiro (RJ)Organização política ou atividade: PCdoBData do desaparecimento: entre 26/06/1972 e 29/06/1972Data da publicação no DOU: Lei nº 9.140/95 – 04/12/95Nascido no Rio de Janeiro e formado em Economia, Kleber tinha participado do Movimento Estudantil e vinculou-se ao PCdoB através deseu amigo Lincoln Bicalho Roque, dirigente do partido que também seria morto em 1973, no Rio de Janeiro. Antes de transferir-se para aregião do Araguaia, onde passou a morar na localidade de Caianos, tinha trabalhado no Instituto de Ciências Sociais.O Relatório do Ministério do Exército, de 1993, registra que Kleber “foi morto no dia 29/01/1972 em confronto com uma patrulha, sendosepultado na selva sem que se possa precisar o local exato”. Esta informação contém um equívoco evidente, pois os confrontos armados noAraguaia só tiveram início a partir do dia 12/04/1972. Já o Relatório do Ministério da Marinha afirma que “foi preso quando se encontravaacampado na mata”. Documento dos Fuzileiros Navais menciona que Kleber foi preso pela Brigada de Pára-quedistas no dia 26/06/1972 e,no dia 29/06/1972, sem precisar o local, “foi metralhado quando tentava fugir”. Relatório da Operação Sucuri, de maio de 1974, tambémconfirma sua morte. Familiares e entidades que insistem há mais de três décadas na localização dos restos mortais dos desaparecidos políticospossuem a informação de que seu corpo estaria enterrado na localidade chamada Abóbora.| 206 |

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