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Direito à Memória e à Verdade - DHnet

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DIREITO À MEMÓRIA E À VERDADEA versão da morte em tiroteio com agentes dos órgãos de segurança foi desmentida no polêmico processo formado na CEMDP por requerimentode Maria Pavan Lamarca. Durante a apreciação do caso, houve pedidos de indeferimento e de vistas, antes de a maioria dos integrantes votarpelo deferimento, decisão que teve grande repercussão de imprensa. Os requerimentos foram deferidos com base na análise do Relatório Reservadoda Operação Pajuçara e no parecer dos peritos Celso Nenevê e Nelson Massini, após a exumação do corpo do capitão, em 18/06/1996.Com um histórico militar brilhante, Lamarca desenvolveu desde jovem idéias políticas nacionalistas e revolucionárias, que se tornaramproibidas no ambiente da caserna após abril de 1964. Filho de um sapateiro, nasceu no Rio de Janeiro e viveu até os 17 anos no Morro deSão Carlos. Em 1955, ingressou na Escola de Preparação de Cadetes de Porto Alegre, cursou a Academia Militar das Agulhas Negras a partirde 1958, formou-se aspirante-a-oficial em 1960. Em 1962, integrou o contingente das Nações Unidas em Suez, por 13 meses. Recebeu apatente de capitão em 1967, sendo conhecido como exímio atirador. Documentos dos organismos de segurança do regime militar registramque ele chegou a ser simpatizante do PCB e que, em dezembro de 1964, ajudou na fuga do capitão da Aeronáutica Alfredo Ribeiro Daudt,preso político no quartel da Polícia do Exército de Porto Alegre, onde Lamarca servia no dia da evasão.Em janeiro de 1969, já militante da VPR, liderou um grupo de militares do 4º Regimento de Infantaria, em Quitaúna, município de Osasco(SP), que desertaram daquela unidade levando consigo 63 fuzis e metralhadoras leves que deveriam servir para a luta armada contra oregime ditatorial. Meses depois da fuga de Quitaúna, a VPR se fundiu com o COLINA para formar a VAR-Palmares, mas Lamarca alinhou-seno grupo que deixou a nova sigla pouco tempo depois, para reconstituir a VPR. Viveu quase um ano clandestino em São Paulo, participandode ações de guerrilha urbana, até instalar-se no Vale do Ribeira, com um reduzido grupo de militantes, para realizar treinamentos militares.O local foi descoberto pelos órgãos de segurança em abril de 1970 e cercado por tropas do Exército e da Polícia Militar.Uma gigantesca operação de cerco se prolongou por 41 dias, mas, após dois choques armados, o pequeno grupo guerrilheiro, sob a liderança docapitão rebelde, conseguiu escapar rumo a São Paulo. Ficou enterrado na região o corpo do tenente PM Alberto Mendes Junior, promovido postmortema capitão e cultuado, a partir de então, como herói daquela corporação policial. Sua execução sob coronhadas pelos guerrilheiros, queargumentaram não poder disparar suas armas nas condições de cerco em que se encontravam, foi utilizada como propaganda contra a resistênciaao regime e, certamente, contribuiu para aprofundar o ódio visceral devotado pelos órgãos de segurança a Carlos Lamarca, que consideravamtraidor da Pátria. Militante disciplinado, Lamarca viveu dois anos e meio em condições de dura clandestinidade. Comandou importantes operaçõesde guerrilha urbana, como o seqüestro do embaixador suíço, estudou textos marxistas e escreveu documentos de discussão interna na VPR, bemcomo cartas de amor a Iara Iavelberg. Seis meses antes de sua morte, desligou-se da VPR para integrar-se ao MR-8, que o deslocou para o sertãoda Bahia com a finalidade de estabelecer uma base da organização naquela região.José Campos Barreto era o mais velho dos sete filhos de José e Adelaide, a quem todos conheciam por Dona Nair. O pai, já mencionadocomo vítima de violentas torturas 20 dias antes, era conhecido e respeitado no município de Brotas de Macaúbas. Em Buriti Cristalino, eraproprietário de roças e lavrador. Durante anos, fora proprietário de uma loja de tecidos. Educava os filhos com rigor, trazia e hospedava emsua casa uma professora para as crianças do vilarejo e mandara construir a igreja do lugar.Zequinha foi enviado a um seminário, em Garanhuns (PE), onde ficou por quatro anos. Aos 13 anos, já discutia política. Em 1963, decidiuque não queria ser padre e não voltou ao seminário. Lá estudou francês e inglês, além de conhecer o latim. Em 1964, mudou-se para SãoPaulo e serviu o Exército no ano seguinte, exatamente no quartel de Quitaúna. Estudou em Osasco, no Colégio Estadual e Escola NormalAntonio Raposo Tavares, tornando-se presidente do Círculo Estudantil Osasquense. Trabalhou como operário e destacou-se como importanteliderança no Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco em 1968.Em 1966, trabalhou na Lonaflex. Mas foi na Cobrasma, fabricante de vagões, que protagonizou um de seus mais conhecidos feitos, quandoa fábrica foi cercada, durante a greve de 1968. Barreto, de cima de um vagão, discursou aos soldados, explicando as razões do movimento:chegou a paralisar a tropa por um momento. Barreto, de posse de uma tocha acesa, ameaçou explodir o tanque de combustível da fábrica.A tropa hesitou e muitos operários conseguiram escapar da polícia. Cerca de 400 foram detidos. Barreto sofreu espancamentos já no ato daprisão. Permaneceu 98 dias entre os cárceres do DEIC e do DOPS, até ser libertado por força de um habeas-corpus.| 180 |

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