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Direito à Memória e à Verdade - DHnet

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DIREITO À MEMÓRIA E À VERDADESegundo as autoridades do regime militar, morreu na operação o Major José Júlio Toja Martinez Filho, que teria sido baleado por Marilena,ficando ferido um capitão.Marilena Villas Boas Pinto, estudante do segundo ano de Psicologia da Universidade Santa Úrsula, no Rio de Janeiro (RJ), passou a viver naclandestinidade a partir de 1969. Inicialmente atuou na ALN, ligando-se posteriormente ao MR-8. Não foi possível coletar mais informaçõessobre sua biografia e militância política anterior.Mário Prata foi estudante de engenharia na Universidade Federal do Rio de Janeiro e iniciou sua militância política no Movimento Estudantil,passando a atuar na clandestinidade em 1969, quando sua prisão preventiva foi decretada pela Justiça Militar. Era intensamenteprocurado pelos órgãos de segurança, acusado de matar um PM que, em 1970, o conduzia preso, quando lograra fugir. Em 1982, os alunosda Faculdade de Filosofia Santa Dorotéia, em Nova Friburgo (RJ), aprovaram homenagear a memória desse militante batizando com o seunome o Diretório Central dos Estudantes.A morte de Mário e Marilena somente foi divulgada em junho, dois meses após o ocorrido. Mas a versão oficial já existia bem antes, conformea informação nº 624/71-G do Ministério do Exército, 2ª seção, datada de 23/04/71, localizada nos arquivos do DOPS. Marilena foilevada para o sítio clandestino em Petrópolis (RJ), que ficou conhecido como “Casa da Morte”, conforme relatório de prisão feito por InêsEtienne Romeu em 1981 e ratificado a pedido da CEMDP.Em abril de 1997, Inês confirmou seu depoimento: “A pedido, confirmo integralmente o meu depoimento de próprio punho, sobre fatos ocorridosna casa em Petrópolis-RJ, onde fiquei presa de 08/05 a 11/08 de 1971. Esse depoimento é parte integrante do Processo nº MJ-7252/81do CDDPH, do MJ. Nesse depoimento está registrado que ‘Dr. Pepe’ contou ainda que Marilena Villas Boas Pinto estivera naquela casa e quefora, como Carlos Alberto Soares de Freiras, condenada à morte e executada. Declaro ainda que estive internada no HCE, no Rio de Janeiro-RJ, de 06 a 08/05, que Marilena Villas Boas Pinto havia chegado morta ao HCE; que no dia 08/05, na casa de Petrópolis, o ‘Dr. Pepe’ disseque Marilena havia morrido exatamente na mesma cama de campanha onde eu me encontrava, afirmando também que, embora baleada,Marilena tinha sido dura”.O corpo de Marilena foi entregue à família, em caixão lacrado, cinco dias depois da data da morte, sendo enterrada no cemitério São FranciscoXavier, no Caju. O atestado de óbito registra a morte em 03/04/1971 no Hospital Central do Exército e foi assinado pelo médico Rubens PedroMacuco Janini. A causa mortis foi estabelecida como “ferimento penetrante de tórax com lesões do pulmão direito e hemorragia interna”.O processo de Marilena foi deferido por unanimidade e, após o voto inicial pelo indeferimento do requerimento dos familiares deMário Prata, houve pedido de vistas de Nilmário Miranda. A CEMDP não conseguiu apurar as reais circunstâncias das duas mortes ese realmente houve o alegado enfrentamento na Rua Niquelândia, já que não foi localizada perícia de local e tampouco o laudo necroscópicode Mário Prata. Foram apontadas contradições nas datas e horários da morte de Mário nos documentos oficiais, havendoreferências aos dias 2 ou 3 de abril.A certidão de óbito, lavrada como de “um homem”, informa que a morte se deu no dia 2 de abril, às 20h45, mas o corpo foi encaminhadoao IML somente às 7h40 do dia seguinte, conforme documento obtido por Nilmário Miranda, que viajou ao Rio de Janeiro na busca deinformações sobre a morte de Mário Prata. Ou ainda às 11 horas, conforme registrou o Centro de Informações do Exército. O atestado, assinadopor José Guilherme Figueiredo, repete a causa mortis que consta no livro de registros do IML: “feridas penetrantes do tórax e abdomee transfixantes do abdome com lesão do pulmão esquerdo, fígado e baço - hemorragia interna, anemia aguda”.O enterro de Mário somente foi realizado no dia 23 de abril e, apesar de reconhecido no próprio dia 3, como atesta ofício da SSP/RJ à AuditoriaMilitar, foi sepultado no cemitério de Ricardo de Albuquerque como desconhecido, tendo seus restos mortais ido parar, anos depois,na vala clandestina do cemitério. A foto do corpo, encontrada nos arquivos do DOPS/RJ, mostra somente o rosto, sendo visíveis hematomase outras marcas, além de edema na parte frontal do crânio.| 154 |

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