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Direito à Memória e à Verdade - DHnet

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DIREITO À MEMÓRIA E À VERDADEpau-de-arara, já de noite, que vinha durando algum tempo, houve uma agitação coletiva, colocaram uma espécie de apoio nos meus quadris,de forma que fiquei só parcialmente pendurado e a maioria dos policiais deixou às pressas o sítio, deixando apenas dois ou três para trás. Nãosei quanto tempo isto durou (no mínimo 2 horas) mas, a um certo momento, fui tirado com as pernas totalmente inermes do pau-de-arara, sópodendo andar amparado e fiquei sentado na sala com uma venda nos olhos, mas que deixava uma fresta na parte de baixo. Logo depois, ouviuma pessoa chegando, arfando desesperadamente, com falta de ar, com sintomas muito parecidos com ataque cardíaco (que eu conheciapois eram semelhantes daqueles do meu pai, por ocasião de sua morte). Esta pessoa foi levada para o quarto que tinha a cama e não o paude-arara.Fiquei sabendo que era Toledo pelos comentários que vinham sendo feitos pelos policiais. Havia muita agitação entre eles e Toledonão parava de arfar. A um certo momento, vi pela fresta inferior da venda dos olhos, passarem duas pernas vestidas de branco, calçadas comsapatos brancos. Não havia dúvida que era um médico. Logo depois, Toledo parava de arfar. Muito rapidamente o acampamento foi levantadoe fomos levados de olhos vendados para o DOPS e, a seguir, para a OBAN. (...) Ouvi diversas manifestações de irritação do pessoal da OBANcom o pessoal do Fleury devido à morte de Toledo sem que eles pudessem tê-lo interrogado também (...) Soube depois, também, que Maria,Viriato e eu termos sobrevivido ao sítio se deveu, em boa parte, à morte prematura de Toledo”.Com base em todas essas informações, coletadas e sistematizadas no parecer apresentado à Comissão Especial na reunião de 23/04/1996,o caso foi deferido por unanimidade.ARY ABREU LIMA DA ROSA (1949-1970)Número do processo: 311/96Filiação: Maria Corina Abreu Lima da Rosa e Arci Cattani da RosaData e local de nascimento: 28/05/1949, Porto Alegre (RS)Organização política ou atividade: Movimento EstudantilData e local da morte: 28/10/1970, em Canoas (RS)Relator: general Osvaldo Pereira Gomes, com vistas de Suzana Keniger LisbôaDeferido em: 30/01/1997 por unanimidadeData da publicação no DOU: 18/02/1997Ary Abreu Lima da Rosa era estudante de Engenharia em Porto Alegre, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e morreu aos 21 anos.Na discussão do caso na CEMDP, foi apresentado inicialmente um voto pelo indeferimento por falta de provas. Ocorreu, então, um pedidode vistas que suscitou importante trabalho de investigação, levada adiante com sucesso pela Comissão Especial.A informação que se tinha até então era a de que Ary havia se suicidado, em 28/10/2007, na Base Aérea de Canoas, onde cumpria pena porcondenação política, conforme relatado no Dossiê dos Mortos e DesaparecidosPolíticos. Existia também uma referência no boletim de mar-ço de 1974 da Anistia Internacional, que informava ter o estudante morrido sob torturas, mas registrando como data novembro de 1970.Somente o fato de ser preso político e ter morrido em dependência policial bastaria para a aceitação do caso dentre os dispositivos da Leinº 9.140/95 , mas a investigação foi além. A CEMDP localizou no STM a Apelação nº 38.749, referente a um processo na 1ª Auditoria da 3ªCircunscrição Judiciária Militar, e o inquérito sobre o suposto suicídio. Os documentos encontrados causam impacto não só pelo motivo dacondenação, mas pelo teor de um laudo médico anexado ao processo, que revela a utilização da Psiquiatria como instrumento de repressãopolítica, seguindo a cartilha das piores sociedades totalitárias.Inicialmente, Ary foi preso em 09/01/1969, junto com Paulo Walter Radke, militante do POC e de um grupo dissidente denominado MRC(Movimento Revolucionário Comunista), quando ambos estariam distribuindo na Universidade um manifesto que criticava a falta de vagas,analisava a situação do ensino universitário, condenava o regime militar e conclamava os estudantes à união e à participação na eleiçãodo DCE-Livre, apoiando o MUC – Movimento Universidade Crítica. Ao tomar conhecimento da panfletagem, a diretora da Faculdade deFarmácia, Belchis Maria Smith Santana, chamou o DOPS, que levou os dois estudantes.| 136 |

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