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Direito à Memória e à Verdade - DHnet

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DIREITO À MEMÓRIA E À VERDADEDirigente da VAR-Palmares, cursava o 5º ano de Medicina na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo em1968, integrando a Executiva da União Estadual dos Estudantes. Após a decretação do AI–5, passou a atuar na clandestinidade. Tinha sidoantes militante da DISP. Participou da redação e distribuição de um jornal denominado Luta Operária. Documentos dos órgãos de segurançaregistram sua participação em algumas ações armadas em São Paulo, inclusive em dois assaltos a banco onde ocorreram mortes.Foi preso no dia 21/11/1969, em uma casa no bairro de Lins de Vasconcelos, Rio de Janeiro, onde residia com Maria AuxiliadoraLara Barcelos, a Dora, e Antônio Roberto Espinosa, também integrantes da VAR-Palmares. Os três foram levados para o Batalhão daPolícia do Exército e Chael morreu no dia seguinte, submetido a indescritíveis torturas, como chegou a ser noticiado pela revistaVeja, driblando a rigorosa censura de imprensa vigente na época. O caso também foi publicado em veículos internacionais como oNew York Times, Le Monde e The Times.A versão oficial, registrada em documento do II Exército encontrado nos arquivos do DOPS/SP, resumia: “reagiram violentamente comdisparos de revólver, espingarda e mesmo com bombas caseiras. Da refrega, os três terroristas saíram feridos, sendo Chael o que estava emestado mais grave. Foram medicados no HCE, entretanto Chael sofreu um ataque cardíaco, vindo a falecer”.Em depoimentos à Auditoria Militar, Dora e Espinoza denunciaram a morte de Chael e a tortura sofrida pelos três. Marcada profundamentepela violência a que foi submetida, Maria Auxiliadora viria a cometer suicídio em 1976, atirando-se nos trilhos do metrô na Alemanha. Naúltima vez em que ambos viram Chael na Polícia do Exército, ele tinha o pênis dilacerado e o corpo ensopado de sangue. Apontaram, emjuízo, o nome dos torturadores e responsáveis pela morte de Chael: capitão João Luís, tenente Celso Lauria e capitão Airton Guimarães,sendo este último um conhecido expoente do jogo de bicho no Rio de Janeiro, preso mais de uma vez em anos recentes por contravençõese crimes mais graves.Outro importante depoimento constante do processo de Chael na CEMDP é do coronel Carlos Luiz Helvécio da Silveira Leite, publicado nojornal O Estado de São Paulo, em 24/02/1988. Conforme declarou na entrevista, esse oficial estava de plantão quando recebeu a comunicaçãoda Vila Militar de que o universitário paulista havia falecido naquela dependência durante o interrogatório. O coronel, que fora membrodo Centro de Informações do Exército, declarou que o oficial por ele enviado para esclarecer os fatos lhe disse: “Fiquei encabulado de ver ocorpo despido e o número de equimoses e sevícias que o cadáver apresentava”.Em A Ditadura Escancarada, Elio Gaspari acrescenta mais informações e analisa: “Havia um cadáver na 1ª Companhia da PE. Em casos anterioresesse tipo de problema fora resolvido com um procedimento rotineiro. Fechava-se o caixão, proclamava-se o suicídio e sepultava-seo morto. O método já dera certo duas vezes, naquele mesmo quartel. Em maio, com Severino Viana Colou, e em setembro, com Roberto Cieto.Tratava-se de seguir o manual, e Helvécio despachou para a PE de Deodoro o tenente-coronel Murilo Fernando Alexander, do CIE.O cadáver de Chael foi levado por Alexander para o hospital central do Exército. ‘Não concordaram em aceitá-lo como se tivesse entrado vivo’,contou o tenente-coronel Helvécio. A decisão fora tomada pelo próprio diretor do hospital, general Galeno da Penha Franco. Pior: o generalreteve o morto e determinou que se procedesse à autópsia. O CIE tinha dois problemas. O tiroteio e as prisões da rua Aquidabã eram públicos,pois haviam sido noticiados pelas rádios. Ademais, os presos foram três, e dois estavam vivos. Isso excluía a fórmula do sumiço do corpo,usado dois meses antes na Operação Bandeirante, depois do assassinato de Virgílio Gomes da Silva. O atestado de óbito excluía a versão desuicídio. A origem social de Chael, um ex-estudante de medicina saído de uma família judia da classe média paulista, cortava o caminho aofuneral de indigente que ajudara a abafar a morte de Severino Colou”.No parecer acatado por unanimidade na CEMDP, a relatora realçou como prova definitiva a natureza das lesões descritas pelos legistasRubens Pedro M. Janini, Oswaldo Caymmi Ferreira e Guilherme Achilles de Faria Mello: “contusão abdominal, ruptura dos mesocolonstransversos e mesetéricos, e hemorragia interna”. No laudo da necropsia, não consta qualquer descrição de entrada ou saída de projéteisno corpo de Chael.| 110 |

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