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Empresa Amiga da Criança - Fundação Abrinq

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C O L E Ç Ã O<strong>Empresa</strong> <strong>Amiga</strong><strong>da</strong> <strong>Criança</strong>Volume 3O que as empresas podemfazer para combater o trabalhoinfantil e suas piores formas


C O L E Ç Ã O<strong>Empresa</strong> <strong>Amiga</strong><strong>da</strong> <strong>Criança</strong>Volume 3O que as empresas podem fazer para combatero trabalho infantil e suas piores formas1ª ediçãoSão Paulo – BrasilFun<strong>da</strong>ção <strong>Abrinq</strong> pelos Direitos <strong>da</strong> <strong>Criança</strong> e do Adolescente2012


CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃOPatrícia Maria Antunes, Perla Schein Steirensis, RenatoEducação: Amélia Isabeth Bampi, Ana GiovanaPresidente: Synésio Batista <strong>da</strong> CostaAlves dos Santos, Renato Mathias, Talita de PaulaMendes Puzzo, Andrea de Carvalho Zichia, CleibeVice-Presidente: Carlos Antonio TilkianFerreira, Tatiana de Jesus Pardo Lopes, Thais Prina BergPereira Viana de Assis, Fabiana Rodrigues dos Santos,Secretário: Bento José Gonçalves AlcoforadoMarketing – Comunicação e Captação: Aline CristinaFernan<strong>da</strong> Viana Gobbo Jaber, Flávia Ribeiro de Assis,Conselheiros: Albert Alcouloumbre Júnior, Bentode Franca, Alisson Alves Santos (Estagiário), Aman<strong>da</strong>Kelly Cristina Rosa, Nelma dos Santos SilvaJosé Gonçalves Alcoforado, Carlos Antonio Tilkian,Baptista Naufel, Aman<strong>da</strong> Santos Marchetti (JovemProteção: Adriana Merencio Sebastião, Ana CristinaCláudio Chen, Daniel Trevisan, Dilson Suplicy Funaro,Aprendiz), Aman<strong>da</strong> Souza Lima (Estagiária), Átila AcácioDubeux Dourado, Ana Paula Welsch <strong>da</strong> Silva,Eduardo José Bernini, Eliane Pinheiro Belfort Mattos,de Lima, Bruna Cagide Salomão (Estagiária), BrunoAndréia Lavelli, Cláudia Dias Nogueira, DanielaElias Landsberger Glik, José Carlos Grubisich, JoséSoares de Almei<strong>da</strong> (Estagiário), Camila Faria <strong>da</strong> Silva,Resende Florio, Elza Maria de Souza Ferraz, FabriciaEduardo Planas Pañella, José Roberto Nicolau, KathiaCecília Mendes Barros, Cristina Horacio Vilar de Sousa,Ribeiro de Melo, Jeniffer Caroline Luiz, Júnia MilaniLavin Gamboa Dejean, Lourival Kiçula, Luiz FernandoCristiane Rodrigues, Debora Cristina dos Santos SilvaFerrentini, Letícia Souto Maior, Lidiane OliveiraBrino Guerra, Mauro Antônio Ré, Natania do Carmo(Estagiária), Eder Lucas Dias Cussolini, Flavia ReginaSantos, Lilyan Regina Somazz Reis Amorim,Oliveira Sequeira, Nelson Fazen<strong>da</strong>, Oscar Pilnik, OtávioDilello Gomes de Freitas, Gislaine Cristina de Carvalho,Lisandra Barrales Faria, Marcela Renata Garcia Silva,Lage de Siqueira Filho, Roberto Oliveira de Lima,Halexa Helen <strong>da</strong> Silva Ferreira (Estagiária), Ivan DavidMichelly Lima Antunes, Miguel Benjamin MinguilloSynésio Batista <strong>da</strong> Costa, Vitor Gonçalo Seravalli<strong>da</strong> Silva Júnior (Estagiário), Jacqueline RezendeNeto, Renata Abi Rached Torres, Thais de MoraisQueiroz, Jenifer Brito <strong>da</strong> Silva (Estagiária), JulianaEscudeiro, Vanessa Daniela França AraújoCONSELHO FISCALLeticia Chalita de Oliveira (Estagiária), João SérgioSaúde: Juliana Lordello Sicoli, Luyla Karina TeixeiraConselheiros: Audir Queixa Giovanni, Dévora FischerFedschenko, Larissa Anunciação Chaves (Estagiária),dos Santos Pinto, Márcia Cristina Pereira <strong>da</strong> SilvaTreves, Geraldo Zinato, João Carlos Ebert, MauroLarissa Maria Maschio Vieira (Estagiária), Leiliane SantosThomazinho, Marisa Cedro de Oliveira, SilvoneyVicente Palandri Arru<strong>da</strong>, Roberto Moimáz Cardeñade Souza (Estagiária), Lucas Oliveira Cunha (Estagiário),Oliveira Matos JúniorMaiara de Oliveira Carvalho (Estagiária), Natalia Del PozEmergência: Rodrigo Xavier D’ Almei<strong>da</strong>CONSELHO CONSULTIVORibeiro (Estagiária), Raissa Jordão Alves (Estagiária),Presidente: Rubens NavesConselheiros: Alex Aparecido Alves, Antonio CarlosMalheiros, Carla Bertuol, Carmita Helena Najjar Abdo,Rebeca Larissa Santos Carneiro, Renata FernandesCabral (Estagiária), Sabrina Bispo Dionísio, SérgioDonisete <strong>da</strong> Silva Bezerra Júnior (Estagiário), TatianaFICHA TÉCNICA:Coleção <strong>Empresa</strong> <strong>Amiga</strong> <strong>da</strong> <strong>Criança</strong> – Volume 3Claudio Hortêncio, Hubert Alquéres, Isa Maria deOliveira, Ivone Maria Valente, Jefferson Drezett, JoséCristina Molini, Tatiana Pereira Rodrigues, Thais CristinaCardoso Rabelo (Jovem Aprendiz), Vanessa Alves Mello,ISBN: 978-85-88060-46-34Marcelino de Rezende Pinto, Luiz Antonio MiguelFerreira, Marcio Ruiz Schiavo, Maria AmericaUngaretti, Martin Villarroel, Moisés Rodrigues <strong>da</strong>Silva Júnior, Myrian Veras Baptista, Patricia LuciaSaboya Ferreira Gomes, Paulo Roberto Nassar deOliveira, Rachel Gevertz, Sandra Regina de SouzaCOLABORADORES – ÁREASSecretaria ExecutivaAdministradora Executiva: Heloisa Helena Silvade OliveiraGerente de Desenvolvimento de Programas eProjetos: Denise Maria CesarioGerente de Desenvolvimento Institucional:Victor Alcântara <strong>da</strong> GraçaAnna Carolina Sant’Anna de Souza, Marta Volpi,Vanessa de Souza Gomes (Jovem Aprendiz), Ye<strong>da</strong>Mariana Rocha de Magalhães Pereira, Ygor RibeiroMacedo <strong>da</strong> Silva (Jovem Aprendiz)Tecnologia <strong>da</strong> Informação: Aline Barbosa do Vale,Daniela Maria Fonseca, Renato Lourenço (Estagiário),Renato GushikenAdministrativo-Financeiro: Alex Bruno Nunes Silva,Ana Claudia Pereira, Cristiane Ribeiro AlvarengaBrasil, Cristina Maria de Lima Nunes, Douglas Silvade Souza, Fábio Rodrigues de Arru<strong>da</strong>, Fernan<strong>da</strong> deFátima <strong>da</strong> Silva, Gisele Correa Ghirardelli, HenriqueGomes de Sousa (Jovem Aprendiz), Hugo JucelysLima dos Santos, Luiz Mendonça <strong>da</strong> Silva, Maria doCarmo Neves dos Reis, Maria Dolores de Oliveira,Patrícia Galindo Rodrigues, Paulo Rogério Pires,Péricles Coelho Barbosa, Thais <strong>da</strong> Costa SilvaTexto: Maria Pia ParenteLeitura Crítica: Denise Maria CesarioEdição: Lilyan Regina Somazz Reis AmorimColaboração: Andreia Lavelli, Denise Maria Cesario,Isa Maria de Oliveira (Fórum Nacional de Prevenção eErradicação do Trabalho Infantil – FNPETI), GislaineCristina de Carvalho, Júnia Milani Ferrentini, LilyanRegina Somazz Reis Amorim, Marcela Renata Garcia,Renato Mendes (OIT), Tatiana Cristina Molini, Thaisde Morais Escudeiro e Victor Alcântara <strong>da</strong> GraçaRevisão ortográfica: Mônica de Aguiar RochaProjeto gráfico e diagramação: Tre ComunicaçãoIlustração: Regisclei Gonzalez ReyImpressão: Editora Gráfica NYWGRAFTiragem: 3.000São Paulo, outubro de 2012


ApresentaçãoA história brasileira demonstra considerável enfrentamento dotrabalho infantil nas cadeias produtivas formais, denotandopolíticas efetivas de prevenção e combate do governo brasileiroe boas práticas de responsabili<strong>da</strong>de social <strong>da</strong>s empresas.Vale lembrar os pactos setoriais dos anos 1990, firmados entregoverno, empregadores e trabalhadores, e em que, ca<strong>da</strong> um,dentro do seu escopo e de suas possibili<strong>da</strong>des, se comprometeua identificar, combater e monitorar o não envolvimento laboralde crianças e adolescentes nas cadeias produtivas. Os setoresque mais empregavam essa população à época eram, dentreeles, o canavieiro, o calçadista, o citrícola, o fumageiro, queforam deixando de fazê-lo nas duas déca<strong>da</strong>s que se seguiram.Hoje, se apresentam novos desafios no combate ao trabalhoinfantil, permeados pela nova dinâmica <strong>da</strong> economia e <strong>da</strong>srelações do trabalho, caracteriza<strong>da</strong> pela terceirização e pelaquarteirização dos processos, que colocou as empresasdiante de um desafio que, talvez, seja um dos maiores <strong>da</strong>nossa época – ter conhecimento e capaci<strong>da</strong>de de gerir todosos elos envolvidos em sua cadeia produtiva.Como saber que não há microempresas empregando criançasou adolescentes, ou empresas familiares que envolvem todos osmembros <strong>da</strong> família no trabalho? Como garantir, por exemplo,que não haja crianças ou adolescentes no campo, na cadeiaprodutiva do leite, do couro ou nas ativi<strong>da</strong>des extrativistas?Como ter certeza de que essas crianças estão frequentando aescola e tendo tempo para brincar, estu<strong>da</strong>r e realizar ativi<strong>da</strong>despara ampliar seu universo cultural? É um desafio que encerratambém um dilema – a possibili<strong>da</strong>de de continuar buscando aredução do custo <strong>da</strong> mão de obra sem deixar de contemplar osaspectos ambientais e sociais do trabalho.A empresa socialmente responsável deve olhar para asustentabili<strong>da</strong>de social em to<strong>da</strong> a sua cadeia produtiva. Otrabalho infantil é crítico, pois acontece sem qualquer condição desegurança e saúde, em detrimento dos estudos e por um salárioirrisório. É crítico, pois a criança e o adolescente são privados doseu direito de brincar, estu<strong>da</strong>r e desenvolver-se plenamente.Ca<strong>da</strong> vez mais, as ativi<strong>da</strong>des lúdicas, a música, o esporte, asartes, o estímulo ao raciocínio por meio de distintas ferramentassão entendidos como ações que, junto com o estudo formal,promovem o desenvolvimento integral, incentivam a interaçãoentre os pares, a resolução construtiva de conflitos e a formaçãode ci<strong>da</strong>dãos conscientes, críticos e reflexivos.A atual posição econômica brasileira no cenário mundialrequer desenvolvimento social compatível, responsabili<strong>da</strong>de<strong>da</strong> qual as empresas podem em muito contribuir.Esperamos que este terceiro volume <strong>da</strong> Coleção <strong>Empresa</strong> <strong>Amiga</strong><strong>da</strong> <strong>Criança</strong> seja inspirador de boas práticas de prevenção eproteção <strong>da</strong>s crianças e dos adolescentes e oriente as empresasa comprometer to<strong>da</strong> a sua cadeia produtiva, seus funcionários ecomuni<strong>da</strong>de do entorno com a erradicação efetiva do trabalhoinfantil e suas piores formas no nosso país.Synésio Batista <strong>da</strong> CostaPresidente <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção <strong>Abrinq</strong> – Save the Children 5


SumárioCenário ..................................................................................................................................................... 7- Não faltam leis e políticas públicas contra o trabalho infantil ...................................................... 7O trabalho infantil compromete a educação e o trabalho futuro ............................................... 11O trabalho infantil compromete a saúde física e psicológica ...................................................... 15Ações integra<strong>da</strong>s com o governo, empresas e socie<strong>da</strong>de contra o trabalho infantil ............... 19Nenhuma criança deveria trabalhar ................................................................................................ 24Trabalho infantil na agricultura ........................................................................................................ 27- Trabalhar na enxa<strong>da</strong> machuca o corpo e a imaginação ............................................................. 27- Fazendo voar o vento ...................................................................................................................... 30Trabalho infantil na cadeia produtiva .............................................................................................. 31- <strong>Criança</strong> escondi<strong>da</strong> na cadeia produtiva não vê horizonte........................................................... 31- Pular amarelinha para conquistar o futuro ................................................................................. 34Trabalho infantil doméstico ............................................................................................................... 35- Trabalhar em casa faz a menina se sentir só ................................................................................ 35- Ciran<strong>da</strong>, cirandinha, um círculo de inclusão ............................................................................... 38Trabalho infantil urbano ..................................................................................................................... 39- Trabalhar nas ruas não leva a lugar algum ................................................................................ 39- Pulando elástico, superando obstáculos ........................................................................................ 41Exploração sexual ................................................................................................................................ 42- Exploração sexual comercial faz a criança desaprender a amar ............................................... 42- Aprendendo a amar ......................................................................................................................... 45Passo a passo ......................................................................................................................................... 46- O que sua empresa pode fazer para proteger a infância ............................................................. 46- Trabalhando com a comuni<strong>da</strong>de ................................................................................................... 52Denuncie ................................................................................................................................................ 566Para saber mais ..................................................................................................................................... 57Bibliografia ............................................................................................................................................ 58


CenárioNão faltamleis e políticaspúblicas contrao trabalhoinfantilO trabalho infantil é proibido no Brasil. A ConstituiçãoFederal de 1988 assegura amplos direitos à criança e aoadolescente e proteção contra to<strong>da</strong> forma de negligência,discriminação, exploração, violência, cruel<strong>da</strong>de e opressão.Proíbe explicitamente o trabalho noturno, perigoso ouinsalubre para menores de 18 anos e qualquer trabalho paraA legislação brasileira é reconheci<strong>da</strong> como uma <strong>da</strong>s mais avança<strong>da</strong>s do mundo no que dizrespeito aos direitos de meninos e meninas com menos de 18 anos. Entretanto, existem noBrasil 3,7 milhões de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos que trabalham, muitos deles,sem remuneração (IBGE/PNAD, 2011).menores de 16, salvo na condição de aprendiz, a partir de14 anos. O Estatuto <strong>da</strong> <strong>Criança</strong> e do Adolescente especifica aproteção integral <strong>da</strong> infância e <strong>da</strong> adolescência no âmbito dotrabalho. A Consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s Leis do Trabalho dispõe sobre aspossibili<strong>da</strong>des de trabalho para pessoas com menos de 18 anose o Decreto n. 6.481 traz uma lista com 93 ativi<strong>da</strong>des proibi<strong>da</strong>spara as crianças, considera<strong>da</strong>s como as piores formas.7


O Brasil é signatário <strong>da</strong>s convenções internacionais que tratamdo tema. Em 2000, ratificou a Convenção 182 <strong>da</strong> OrganizaçãoInternacional do Trabalho (OIT), que aponta e proíbe as pioresformas de trabalho infantil e determina a urgência de suaeliminação. Em 2002, ratificou a Convenção 138 <strong>da</strong> OIT, queimpõe uma i<strong>da</strong>de mínima para o trabalho levando em conta,entre outros aspectos, a escolari<strong>da</strong>de obrigatória e a proteção àsaúde e à segurança <strong>da</strong> criança.Na déca<strong>da</strong> de 1990, o governo federal instituiu uma série depolíticas públicas nessa direção. Em 1996, criou o Programade Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), que combinatransferência de ren<strong>da</strong>, projetos socioeducativos e de convivênciae articulação com os serviços <strong>da</strong> rede de proteção básica e social. Atransferência de ren<strong>da</strong> é condiciona<strong>da</strong> à permanência <strong>da</strong>s criançasna escola. O Ministério do Trabalho e Emprego fiscaliza e mapeiaperiodicamente os focos de trabalho infantil e há uma Rede deProteção à <strong>Criança</strong> e ao Adolescente, forma<strong>da</strong> por organizaçõesO Brasil é referência no mundo inteiro nas políticas de combate ao trabalho infantil.Entretanto, tudo indica que não conseguirá erradicá-lo até 2016, conforme as metas8assumi<strong>da</strong>s na Conferência Global de Haia.


governamentais e não governamentais, incumbi<strong>da</strong> de proteger ascrianças do trabalho e de outras violações dos seus direitos.Em 2010, a comuni<strong>da</strong>de internacional presente à ConferênciaGlobal sobre Trabalho Infantil, promovi<strong>da</strong> pela OIT na ci<strong>da</strong>deholandesa, adotou um roteiro para eliminar as piores formas detrabalho infantil até 2016, destacando que não há como construirum mundo justo e igualitário sem proteger as crianças.Os <strong>da</strong>dos mostram que há no mundo 215 milhões decrianças que trabalham e mais <strong>da</strong> metade está envolvi<strong>da</strong> emativi<strong>da</strong>des perigosas, que colocam em risco sua saúde e seudesenvolvimento físico e psicológico. Embora o número decrianças que trabalham tenha diminuído consideravelmenteentre os anos 2000 e 2008, o percentual de adolescentes entre15 e 17 anos envolvido em ativi<strong>da</strong>des perigosas continuaaumentando, tendo passado de 52 milhões para 62 milhõesentre 2004 e 2008. No Brasil, a história não foi diferente. RenatoMendes, coordenador nacional do Programa Internacionalpara a Eliminação do Trabalho Infantil (Ipec) <strong>da</strong> OrganizaçãoInternacional do Trabalho, avalia que apenas na faixa etária de 5a 9 anos o trabalho pode ser eliminado ain<strong>da</strong> nesta déca<strong>da</strong>. Entreos adolescentes, a exploração continua a incidir gravemente, 9


interferindo na educação e no desenvolvimento de 3,3 milhõesde meninos e meninas entre 14 e 17 anos. Embora as causas dotrabalho infantil sejam múltiplas, um aspecto é incontestável: suaeliminação está liga<strong>da</strong> ao acesso <strong>da</strong>s crianças à escola. Essa foi aconclusão do relatório conjunto realizado pela OIT, pelo FundoInternacional de Emergência para a Infância <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s(Unicef) e pelo Banco Mundial, que estabeleceu paralelos entre aescolarização e a porcentagem de crianças que trabalham.10


O trabalho infantil compromete aeducação e o trabalho futuroUm estudo feito pelo Unicef em 2011 mostrou que mais de 85%dos adolescentes brasileiros, entre 15 e 17 anos, trabalhavame estu<strong>da</strong>vam ao mesmo tempo. Pouco mais <strong>da</strong> metade estavano nível de escolarização adequado para a i<strong>da</strong>de e grandeparte já tinha abandonado a escola. Estavam no comércio <strong>da</strong>sruas, no trabalho doméstico, na coleta de frutos, nas ativi<strong>da</strong>desextrativistas e em outros tantos trabalhos pouco qualificados emal remunerados. Pior do que isso, esses meninos e meninas,fora <strong>da</strong> escola e com empregos precários, correm mais riscos deserem vítimas <strong>da</strong> exploração sexual, do tráfico de drogas e outrasativi<strong>da</strong>des criminosas.A baixa escolari<strong>da</strong>de limita as oportuni<strong>da</strong>des de to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong>.A criança que não pode brincar, estu<strong>da</strong>r e aprender no tempocerto tem grande chance de ser um trabalhador despreparadono futuro e com uma ren<strong>da</strong> menor do que poderia ter. Dados<strong>da</strong> OIT relativos ao Brasil indicam que a entra<strong>da</strong> precoce nomercado de trabalho reduz de 13% a 20% a ren<strong>da</strong> obti<strong>da</strong> ao11


“Convencer as famílias mais pobres e sensibilizar aquelas mais abasta<strong>da</strong>s de que otrabalho não é mais importante do que a educação, mesmo em situações críticas,”pode ser o grande desafio <strong>da</strong>s ações de combate ao trabalho infantil.Plano Nacional de Prevenção e Erradicação do TrabalhoInfantil e Proteção ao Trabalhador Adolescente12


longo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Há estudos que mostram que ca<strong>da</strong> ano a mais naescola corresponde a 11% a mais na ren<strong>da</strong> (OIT, 2010).A pobreza é parte <strong>da</strong> engrenagem que leva ao trabalhoprecoce, que prejudica a educação que, por sua vez, limita odesenvolvimento pessoal e profissional, contribuindo para a suaperpetuação. Quando se assegura a ca<strong>da</strong> criança o acesso a umaboa educação, cria-se um efeito multiplicador de oportuni<strong>da</strong>despara ela e para as gerações futuras.13


Trabalho precoce, futuro mais pobreO trabalho infantil faz parte do ciclo perverso <strong>da</strong> pobreza. Quantomais cedo a criança 1 ou o adolescente 2 começa a trabalhar, menor éa sua ren<strong>da</strong> média durante a vi<strong>da</strong>.• <strong>Criança</strong>s e adolescentes que começaram a trabalhar antes dos17 anos não alcançam salário superior a R$ 1.500 até os 59 anos.• Jovens que começaram a trabalhar depois dos 18 anos chegarama ganhar R$ 2.500.• Uma pessoa terá 35% a mais de ren<strong>da</strong> durante a vi<strong>da</strong> se nãotrabalhar antes dos 9 anos.• Os jovens que não trabalharam antes dos 18 anos podem ter umacréscimo de 85% no rendimento mensal.• 68,6% dos meninos e meninas entre 7 e 17 anos que trabalhamestão atrasados na escola.Fontes: OIT/IBGE.Conceito:1<strong>Criança</strong> – 0 a 11 anos e 11 meses2Adolescente – 12 a 17 anos e 11 meses14


O trabalho infantil comprometea saúde física e psicológicaO ambiente de trabalho não foi feito para as crianças.As máquinas e ferramentas são grandes, pesa<strong>da</strong>s einadequa<strong>da</strong>s para o manejo infantil. Perigos ocupacionaisde baixo risco para os adultos assumem outras proporçõespara as crianças. Elas são mais vulneráveis porque seucorpo não está preparado para aquelas tarefas; não têmtamanho nem força e a falta de experiência as tornaincapazes de tomar decisões e reagir a tempo quandonecessário.Apesar de ser reconheci<strong>da</strong>mente prejudicial aodesenvolvimento integral <strong>da</strong> criança, o trabalho infantilain<strong>da</strong> persiste. Há quem diga que as crianças pobres devemtrabalhar para aju<strong>da</strong>r as famílias a sobreviver. Mas nãocabe à criança ser provedora <strong>da</strong> família. Cabe ao Estadoabrir oportuni<strong>da</strong>des para que os adultos assumam o papelprovedor e não precisem recorrer ao trabalho infantil. Ecabe à socie<strong>da</strong>de se manifestar para que a criança não seja15


priva<strong>da</strong> do seu tempo <strong>da</strong> infância. “Este é um tempode construção de estruturas e de bases de naturezaorgânica, intelectual e reprodutiva”, diz o professorMário Sérgio Cortella. De acordo com ele, ter umtrabalho remunerado não vai ajudá-la a se tornar umadulto responsável e produtivo e também não vai aju<strong>da</strong>ro País a criar recursos humanos capazes de impulsionarseu desenvolvimento.Riscos para a saúde <strong>da</strong> criança que trabalha1. Os ossos e músculos de uma criança não estão completamente desenvolvidos. O excesso deesforço, sobretudo quando combinado a movimentos repetitivos, pode prejudicar seu crescimento,<strong>da</strong>nificar as articulações e causar deformações irreversíveis.2. O coração <strong>da</strong>s crianças bate mais rápido do que o dos adultos, por isso elas cansam mais e sedesgastam mais.3. A respiração de uma criança é mais rápi<strong>da</strong> e mais profun<strong>da</strong> do que a de um adulto, o que aumentaa absorção de toxinas e o desgaste do sistema respiratório.4. Quando submeti<strong>da</strong> a um trabalho pesado, a criança gasta muito mais energia do que um adulto.Seu corpo produz mais calor e perde mais água, podendo levar à desidratação.5. A pele <strong>da</strong>s crianças é mais fina e mais vulnerável do que a pele de um adulto, por isso, absorve maistoxinas e é mais suscetível a cortes, panca<strong>da</strong>s e abrasões.166. <strong>Criança</strong>s são mais sensíveis aos ruídos que os adultos, correndo o risco de ter per<strong>da</strong>s auditivas


mais intensas e rápi<strong>da</strong>s.7. <strong>Criança</strong>s têm visão periférica menor que a do adulto, portanto, percebem menos o que aconteceao seu redor. Além disso, os instrumentos de trabalho e os equipamentos de proteção não foramfeitos para elas, assim, correm maior risco de sofrer acidentes de trabalho.8. <strong>Criança</strong>s pequenas têm menos capaci<strong>da</strong>de de reconhecer e avaliar possíveis riscos à sua saúde esegurança e de tomar decisões em relação a eles.9. Uma criança não está prepara<strong>da</strong> para aguentar as pressões do ambiente de trabalho, nem física nememocionalmente. O corpo reclama com dores de cabeça, tonturas, taquicardia e insônia. A criança ficairrita<strong>da</strong> e com dificul<strong>da</strong>de de se concentrar. Não raro, sente tristeza, medo e insegurança.10. <strong>Criança</strong>s que trabalham diminuem sua expectativa de vi<strong>da</strong>: embora seja difícil quantificar, quantomais cedo uma pessoa começa a trabalhar, mais prematuro será seu processo de envelhecimento.Fonte: Training resource pack on the elimination of hazardous child labour in agriculture: Book 1 – A Trainer’s Guide.Genebra: ILO-IPEC, 2005. 17


“Estima-se que 22 mil crianças morram anualmente no trabalho. O nível de risco paracrianças trabalhadoras é determinado mais pelas tarefas e condições nas quais são”realiza<strong>da</strong>s do que por um setor específico.OIT, 201018


Ações integra<strong>da</strong>s com o governo,empresas e socie<strong>da</strong>de contra otrabalho infantil“Não existe uma única política que, por si só, acabe com aspiores formas de trabalho infantil. Entretanto, a evidência temmostrado que a ação concentra<strong>da</strong> que cui<strong>da</strong> simultaneamente<strong>da</strong> implementação e cumprimento <strong>da</strong> legislação, a provisãoe acessibili<strong>da</strong>de dos serviços públicos (inclusive ensinoobrigatório de quali<strong>da</strong>de gratuito, treinamento e serviçossociais de proteção para todos), e o funcionamento dosmercados de trabalho, produz retornos elevados na lutacontra o trabalho infantil, inclusive suas piores formas.A eliminação do trabalho infantil deve, por conseguinte,ser integra<strong>da</strong> em estruturas políticas mais amplas nosníveis nacionais, estaduais e municipais, coordena<strong>da</strong>spor mecanismos interministeriais apropriados”, destacao princípio de nº 7 do Roteiro contra as piores formas detrabalho infantil, que resultou <strong>da</strong> Conferência de Haia 2010(http://www.ilo.org/ipec/).19


É responsabili<strong>da</strong>de primária do governo garantir educaçãobásica gratuita, obrigatória e de quali<strong>da</strong>de para to<strong>da</strong>s as criançasaté a i<strong>da</strong>de mínima para a admissão no emprego, e investir notreinamento e na qualificação dos jovens para facilitar seu ingressono mercado de trabalho. Estratégias de proteção social devem <strong>da</strong>rsuporte para famílias pobres para assegurar rendimento familiarmínimo e acesso aos serviços básicos de educação e saúde.Estratégias de emprego devem atestar que pais e jovens tenhamacesso ao trabalho digno, aju<strong>da</strong>ndo os adolescentes envolvidosirregularmente em ativi<strong>da</strong>des perigosas a mu<strong>da</strong>r de patamar.Sistemas nacionais de segurança e saúde no trabalho e serviços deinspeção do trabalho devem chegar às áreas rurais e à economiainformal, onde se encontra a maior parte do trabalho infantil.Para Synésio Batista <strong>da</strong> Costa, presidente <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção <strong>Abrinq</strong> –Save the Children, “somente com o esforço coletivo <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de,que deman<strong>da</strong> compromisso e ação do poder público, do setorprivado, <strong>da</strong>s organizações sociais e comuni<strong>da</strong>des, poderemostransformar a reali<strong>da</strong>de e as condições de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s nossas criançase adolescentes”. O Programa <strong>Empresa</strong> <strong>Amiga</strong> <strong>da</strong> <strong>Criança</strong>, criadoem 1995 pela Fun<strong>da</strong>ção <strong>Abrinq</strong>, é um exemplo de mobilização dosegundo setor, que reconhece as empresas que realizam açõessociais promovendo os direitos <strong>da</strong>s crianças e dos adolescentes. 21


Para receber o título de <strong>Empresa</strong> <strong>Amiga</strong> <strong>da</strong> <strong>Criança</strong>, é precisoassumir cinco compromissos:1. Não explorar o trabalho infantil e não empregar adolescentesem ativi<strong>da</strong>des noturnas, perigosas e insalubres, respeitando aLei n. 8.069/90 – Estatuto <strong>da</strong> <strong>Criança</strong> e do Adolescente.2. Alertar os fornecedores contratados que denúncia comprova<strong>da</strong>de trabalho infantil causará rompimento <strong>da</strong> relação comercial.3. Realizar ações de conscientização dos clientes, fornecedores ecomuni<strong>da</strong>de sobre os prejuízos do trabalho infantil.4. Desenvolver ações em benefício de crianças e adolescentes,filhos(as) de funcionários(as) nas áreas de educação, assistênciae saúde.5. Realizar ações sociais em benefício de crianças e adolescentesde comuni<strong>da</strong>des, conforme valores estabelecidos pelaFun<strong>da</strong>ção <strong>Abrinq</strong>.Renato Mendes, coordenador nacional do Ipec, avalia que éresponsabili<strong>da</strong>de primária <strong>da</strong>s empresas organizar as relações deprodução, de tal forma que os direitos fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong>s pessoassejam respeitados. “Se na ponta <strong>da</strong> cadeia produtiva há umadesorganização nas relações do trabalho, com uso intensivo demão de obra, muito provavelmente isso vai levar à mão de obra de22crianças e adolescentes ou à mão de obra adulta precária”, diz.


Avanços e limites do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI)O PETI, implementado pelo Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), articulaum conjunto de ações para retirar do trabalho crianças e adolescentes com i<strong>da</strong>de inferior a 16 anos,salvo na condição de aprendiz:• Transferência direta de ren<strong>da</strong> para as famílias com crianças que trabalham.• Serviços de convivência e fortalecimento de vínculos para crianças e adolescentes de até 16 anos.• Acompanhamento familiar no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e no Centro deReferência Especializado de Assistência Social (CREAS).Mais de 820 mil crianças foram afasta<strong>da</strong>s do trabalho em 3,5 mil municípios, tendo acesso à escola,saúde, alimentação, esporte, lazer, cultura e profissionalização, convivência familiar e comunitária.Ao ingressar no Programa, a família recebe a ren<strong>da</strong> do Bolsa Família e se compromete a retirar dotrabalho seus filhos menores de 16 anos. É exigido ain<strong>da</strong> que esses meninos e meninas tenham pelomenos 85% de frequência nos serviços educativos.Entretanto, na avaliação do Fórum Nacional, os programas de transferência de ren<strong>da</strong> têm seus limites.De acordo com a secretária executiva do Fórum, Isa de Oliveira, o PETI, criado em 1996, teve um forteimpacto nos primeiros anos, levando a uma redução muito significativa do trabalho infantil no Brasil.“Porém, ao longo do tempo, o programa não está conseguindo garantir a permanência <strong>da</strong>s criançasna escola”, diz ela.Fonte: MDS, 2012.23


Nenhuma criança deveria trabalharAs piores formas de trabalho infantil, de que trata a Convenção 182<strong>da</strong> OIT, nunca deveriam ser realiza<strong>da</strong>s por crianças e adolescentes:1. To<strong>da</strong>s as formas de escravidão ou práticas análogas àescravidão, o trabalho forçado ou obrigatório, o recrutamentoforçado ou obrigatório de crianças para os conflitos armados.2. A utilização, o recrutamento ou a oferta de crianças para aprostituição, a produção de pornografia ou atuações pornográficas.3. A utilização, recrutamento ou a oferta de crianças para arealização de ativi<strong>da</strong>des ilícitas, em particular na produção etráfico de entorpecentes.4. O trabalho que, por sua natureza ou pelas condições em que é realizado,prejudica a saúde, a segurança ou a moral <strong>da</strong>s crianças.5. Todos os trabalhos em que a criança fica exposta a abusos deordem física, psicológica ou sexual:a. subterrâneos, debaixo d’água, em alturas perigosas ou emlocais confinados;b. realizados com máquinas, equipamentos e ferramentasperigosos, ou que impliquem a manipulação ou transporte24manual de cargas pesa<strong>da</strong>s;


c. realizados em um meio insalubre, no qual as crianças fiquemexpostas a substâncias, agentes ou processos perigosos ou atemperaturas, níveis de ruído ou vibrações prejudiciais à saúde;d. executados em condições especialmente difíceis, comohorários prolongados, noturnos, ou que retenhaminjustifica<strong>da</strong>mente a criança no local de trabalho.No Decreto n. 6481/2008, que regulamenta os artigos 3º e 4º <strong>da</strong>Convenção 182 <strong>da</strong> OIT, estão lista<strong>da</strong>s 93 ativi<strong>da</strong>des considera<strong>da</strong>sas piores formas de trabalho infantil. Nesta publicação, optamospor agrupá-las em cinco ativi<strong>da</strong>des principais, representativasdos trabalhos nos quais as crianças nunca deveriam serenvolvi<strong>da</strong>s – agricultura, cadeias produtivas de todos ossegmentos de negócio, trabalho doméstico, trabalho urbano eexploração sexual.26


Trabalho infantil na agriculturaTrabalharna enxa<strong>da</strong>machuca ocorpo e aimaginaçãoA criança que trabalha no campo fica exposta de sol a sol. Sentefome, cansaço e realiza ativi<strong>da</strong>des que deman<strong>da</strong>m mais esforçodo que seu corpo pode aguentar. Corre o risco de se machucarmanuseando não apenas a enxa<strong>da</strong> e o forcado, mas tambémmaquinários modernos. Pode se contaminar com produtosA agricultura é a área que mais emprega crianças entre 5 e 17 anos, 59% em ativi<strong>da</strong>desperigosas e boa parte sem remuneração. Fazem parte desse setor a pesca, a silvicultura, opastoreio e a agricultura de subsistência (OIT, 2010).27


químicos e adoecer. Quantas dessas crianças podem estar naorigem <strong>da</strong> cadeia produtiva dos negócios ligados à agricultura, àpecuária, à silvicultura e à exploração florestal?Com a crescente pressão sobre as empresas e a aplicaçãomais rigorosa <strong>da</strong>s leis, o trabalho infantil praticamentedesapareceu <strong>da</strong> economia formal. O desafio encontra-se emidentificar o que está na informali<strong>da</strong>de, fora do alcance <strong>da</strong>fiscalização do governo. Nos países em desenvolvimento, osnegócios informais respondem por até 50% do número total deempregos na agricultura.A agricultura familiar, em especial, é a grande empregadorade crianças e adolescentes, em condições precárias eperigosas. Sua presença é diretamente relaciona<strong>da</strong> ao nívelde mecanização <strong>da</strong> zona rural. Onde há mecanização, nãohá uso intensivo de mão de obra e, portanto, o envolvimentode crianças é menor. Onde predomina o trabalho braçal, apobreza é maior e as famílias dificilmente conseguem garantirren<strong>da</strong> suficiente para a sobrevivência, sem envolver os filhosno trabalho, sem se <strong>da</strong>r conta dos <strong>da</strong>nos físicos, intelectuais eemocionais a que os expõem.28


Riscos para a criança e o adolescente que trabalha na agricultura, pecuária, silviculturae exploração florestalDescrição do trabalho Prováveis riscos ocupacionais Prováveis repercussões à saúdeNa direção e operação detratores, máquinas agrícolas eesmeris, quando motorizadose em movimento.Acidentes com máquinas,instrumentos ou ferramentasperigosas.Afecções musculoesqueléticas (bursites, tendinites,dor nas costas); mutilações; esmagamentos efraturas.No processo produtivo dofumo, algodão, sisal,cana-de-açúcar e abacaxi.Esforço físico e posturas viciosas;exposição a poeiras orgânicase seus contaminantes, comofungos e agrotóxicos; contatocom substâncias tóxicas <strong>da</strong>própria planta; acidentes comanimais peçonhentos; exposição,sem proteção adequa<strong>da</strong>, àradiação solar, calor, umi<strong>da</strong>de,chuva e frio; acidentes cominstrumentos perfurocortantes.Afecções musculoesqueléticas (bursites, tendinites,dor nas costas); intoxicações; cânceres; urticárias;envenenamentos; insolação; queimaduras na pele;envelhecimento precoce; desidratação; doençasrespiratórias; ferimentos e mutilações; apagamentode digitais.Na colheita de cítricos,pimenta-malagueta esemelhantes.Esforço físico, levantamentoe transporte manual de peso;posturas viciosas; exposição, semproteção adequa<strong>da</strong>, à radiaçãosolar, calor, umi<strong>da</strong>de, chuva efrio; contato com ácido <strong>da</strong> casca;acidentes com instrumentosperfurocortantes.Afecções musculoesqueléticas (bursites, tendinites,dor nas costas); insolação; queimaduras napele; envelhecimento precoce; câncer de pele;desidratação; doenças respiratórias; doençasdermatológicas; apagamento de digitais; ferimentos;mutilações.Fonte: Decreto n. 6481, 2008.29


Fazendo voaro vento<strong>Criança</strong> adora voar, subir, sair do chão, em todos os sentidos.Capas, asas, hélices, motores, cor<strong>da</strong>s, papéis, fios – tudo secoloca a serviço <strong>da</strong> fantasia de levantar voo. Tomando parasi as proprie<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s asas, as crianças criam, com seusbrinquedos e brincadeiras, maneirassimples de se despregarem do chãoe praticarem um voo imaginário.Ao trocar a pipa pela enxa<strong>da</strong>,a criança fica prega<strong>da</strong> aochão, curva<strong>da</strong> pelo peso <strong>da</strong>enxa<strong>da</strong>, priva<strong>da</strong> de imaginar:o que eu posso ser, até ondeposso ir. Com isso, reduz suasperspectivas, suacapaci<strong>da</strong>de de imaginare refletir, de se tornarum adulto criativo,capaz de tomar a vi<strong>da</strong>nas próprias mãos.30


Trabalho infantil nacadeia produtiva<strong>Criança</strong>escondi<strong>da</strong>na cadeiaprodutiva nãovê horizontePode haver criança trabalhando nas fazen<strong>da</strong>s que fornecemleite para a indústria de laticínios, coletando castanhas paraa indústria cosmética ou costurando roupas que sustentama indústria <strong>da</strong> mo<strong>da</strong>. Difícil de ver, difícil de fiscalizar. Essascrianças, incluí<strong>da</strong>s no mercado de trabalho de forma precáriae precoce, provavelmente, terão baixa escolari<strong>da</strong>de e nãoalcançarão um nível de qualificação que lhes permita ter trabalhoe ren<strong>da</strong> dignos no futuro.Se, por um lado, os pais man<strong>da</strong>m seus filhos trabalhar para aju<strong>da</strong>rna ren<strong>da</strong> familiar, por outro, o trabalho infantil só existe porquehá deman<strong>da</strong>. As empresas, pressiona<strong>da</strong>s pela busca contínuaA Agen<strong>da</strong> do Trabalho Decente <strong>da</strong> OIT defende que a sustentabili<strong>da</strong>de de uma empresatambém diz respeito às condições de trabalho dignas para o trabalhador, seja qual for a suai<strong>da</strong>de. O trabalho infantil é a antítese do trabalho decente, pois não existem condições detrabalho digno para as crianças.31


<strong>da</strong> redução de custos, terceirizam a mão de obra, o que tornamais difícil conhecer todos os elos envolvidos nas suas cadeiasprodutivas, até chegar ao seu produto final.A proposta é avançar para além <strong>da</strong>s leis e dos pactos eimplementar a logística reversa, basea<strong>da</strong> em critérios deauditoria social, tal como é feito na esfera ambiental. É precisoincluir parâmetros sociais para verificar se os critérios detrabalho decente foram respeitados de ponta a ponta, garantindoque não existe ativi<strong>da</strong>de precária ou escrava e não houve oenvolvimento de crianças e adolescentes em nenhum ponto <strong>da</strong>cadeia produtiva. Esse é o grande desafio para o setor formal<strong>da</strong> economia brasileira, principalmente para as empresas queenvolvem, em sua cadeia, a terceirização 1 e a quarteirização 2 –as famosas bancas familiares.321Forma de organização que permite a uma empresa a contratação de outras empresas, com mão deobra especializa<strong>da</strong>, para realização de serviços temporários ou determinados.2Prática em que as empresas terceiriza<strong>da</strong>s contratam outras empresas ou pessoas físicas autônomaspara execução de mão de obra.


Pularamarelinhaparaconquistaro futuroTraça<strong>da</strong> no chão com giz ou carvão, a amarelinha é uma <strong>da</strong>sbrincadeiras mais conheci<strong>da</strong>s do mundo, com dezenas dedesenhos e variações, dependendo <strong>da</strong> cultura.É um jogo de paciência e ousadia. Tem de ter ambição de vencedore cautela, para não deixar a pedrinha cair fora do jogo e poderalcançar o fim. O importante é que todo mundo pode chegar lá.A amarelinha convi<strong>da</strong> a criança a avançar, testarsuas habili<strong>da</strong>des e se aperfeiçoar a ca<strong>da</strong>salto. O fim representa o futuro, ameta que se quer alcançar.A criança que não brincanão consegue vislumbraresse horizonte diantede si. Não tem ideia deonde poderia chegar.Não se sente desafia<strong>da</strong>nem estimula<strong>da</strong>. Edificilmente será o quepoderia ser.34


Trabalho infantil domésticoTrabalharem casa faza menina sesentir sóDurante muito tempo discutiu-se se o trabalho domésticodeveria entrar para o rol <strong>da</strong>s piores formas. Ca<strong>da</strong> vez mais,as crianças estão sendo submeti<strong>da</strong>s ao trabalho infantildoméstico, um trabalho “invisível” aos olhos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de.Desde pequenas, cui<strong>da</strong>m <strong>da</strong> casa e dos irmãos enquanto ospais saem para trabalhar. A responsabili<strong>da</strong>de é muito grandee os riscos, enormes. Para as adolescentes, muitas vezes,essa parece ser uma alternativa de vi<strong>da</strong> melhor; morar numacasa boa, poder frequentar a escola, ser cui<strong>da</strong><strong>da</strong> pela ‘patroamadrinha’que faria as vezes <strong>da</strong> mãe. Aí se situa a inversão depapéis. Numa época em que ela deveria estar sendo cui<strong>da</strong><strong>da</strong>,exerce a função de cui<strong>da</strong>dora. Trabalha enquanto as outrascrianças brincam.Meninas que moram no emprego têm, em média, 1,6 ano deestudo a menos do que aquelas que começaram em outrasocupações. É uma maneira perigosa de começar. A baixaescolari<strong>da</strong>de passa de mãe para a filha e perpetua a miséria.O trabalho doméstico maltrata o corpo e expõe as meninas35


a todo tipo de risco: queimaduras, cortes com facas e acidentescom produtos químicos. São sujeitas a maus-tratos, xingamentose abuso sexual, acompanhados dos <strong>da</strong>nos mais sutis na esferaafetiva e emocional, que se manifestam em insegurança, medo etristeza. Tudo invisível, escondido nas casas.Riscos para a criança e o adolescente no trabalho infantil domésticoDescrição do trabalho Prováveis riscos ocupacionais Prováveis repercussões à saúdeDomésticosEsforços físicos intensos;isolamento; abuso físico,psicológico e sexual; longasjorna<strong>da</strong>s de trabalho; trabalhonoturno; calor; exposição aofogo, posições antiergonômicase movimentos repetitivos;tracionamento <strong>da</strong> colunavertebral; sobrecarga muscular.Afecções musculoesqueléticas (bursites,tendinites, dor nas costas); contusões;fraturas; ferimentos; queimaduras; ansie<strong>da</strong>de;alterações na vi<strong>da</strong> familiar; transtornos dociclo vigília-sono; Dort/LER; deformi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>coluna vertebral (lombalgias, lombociatalgias,escolioses, cifoses, lordoses); síndromedo esgotamento profissional e neuroseprofissional; traumatismos; tonturas e fobias.Fonte: Decreto n. 6481, 2008.36


“Em 2008, o trabalho infantil doméstico entrou para a lista <strong>da</strong>s piores formas. Em 2010,<strong>da</strong>dos do Censo revelaram que 257 mil crianças e adolescentes entre 10 e 17 anos sãotrabalhadores domésticos no Brasil, dessas, 93,8% são meninas. Na faixa etária de 10 a”14 anos o número de crianças em trabalho doméstico soma 67 mil.IBGE/Censo 201037


Ciran<strong>da</strong>,cirandinha,um círculo deinclusão“Ciran<strong>da</strong>, cirandinha, vamos todos ciran<strong>da</strong>r.” Ciran<strong>da</strong>r é socializar.É ro<strong>da</strong>r numa ro<strong>da</strong> de afeto e cumplici<strong>da</strong>de. A infância morana ro<strong>da</strong>. As crianças se entendem pelos gestos, pela cantoriae se movimentam juntas, como um todo indivisível, uma ro<strong>da</strong>impulsiona<strong>da</strong> pela energia do movimento coletivo.Na ro<strong>da</strong>, tudo tem sentido. To<strong>da</strong>s as mãos se levantam para sau<strong>da</strong>ro nascer do sol, esfregam imitando o gesto <strong>da</strong> lavadeira, balançamcomo a roupa a secar no varal. Ora todos cantam o mesmo verso,ora ca<strong>da</strong> um diz o seu individual. Ao tirar a criança do coletivo <strong>da</strong>ro<strong>da</strong> e colocá-la na solidão do trabalho doméstico, ela é priva<strong>da</strong>do espaço <strong>da</strong> infância. Que é alegre, afetivo, inclusivo e seguro.E onde exercita muitas <strong>da</strong>s quali<strong>da</strong>des que farão dela um adultoautônomo, criativo e seguro de si.38


Trabalho infantil urbanoTrabalhar nasruas não leva alugar algumMais de 80% <strong>da</strong> população brasileira mora em áreas urbanas,cenários de enormes desigual<strong>da</strong>des sociais que afetamprofun<strong>da</strong>mente a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s crianças e dos adolescentes quevivem nas comuni<strong>da</strong>des. Enquanto alguns se beneficiam <strong>da</strong>soportuni<strong>da</strong>des urbanas de acesso à educação, à cultura e ao lazer,outros ficam especialmente vulneráveis à violência e à entra<strong>da</strong>precoce no mundo do trabalho. O comércio e os serviços de baixaqualificação são os setores que mais empregam crianças nasgrandes ci<strong>da</strong>des. Trabalham como vigias e lavadores de carros,catam latinhas nas ruas e nos lixões, fazem malabarismos nosfaróis, vendem balas e distribuem panfletos.Há mais menino na rua e mais menina nos empregos domésticos.Os riscos são igualmente grandes. As meninas estão mais sujeitasCerca de 6 milhões de adolescentes vivem nas dez maiores regiões metropolitanas do País. Entreeles, há 1,6 milhão de meninas e meninos pobres ou muito pobres, que vivem em famílias comren<strong>da</strong> per capita de até meio salário mínimo (Situação <strong>da</strong> Adolescência Brasileira, Unicef, 2011).39


à exploração sexual e os meninos, à ligação com o tráfico dedrogas. Todos convivem pouco com a família, estu<strong>da</strong>m e brincammenos do que deveriam e correm sério risco de envolvimento emativi<strong>da</strong>des criminosas.A mão de obra infantil está em to<strong>da</strong> parte. Na informali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>sempresas terceiriza<strong>da</strong>s que contratam crianças e adolescentespara distribuir folhetos nas esquinas e na precarie<strong>da</strong>de dosnegócios familiares que fornecem marmita nas obras <strong>da</strong>construção civil, entre outras ativi<strong>da</strong>des.40


Pulandoelástico,superandoobstáculosPara este jogo, bastam três crianças e um elástico. Duas delas seguramo elástico com as pernas e a outra pula. Na falta de uma pessoa,podem ser usa<strong>da</strong>s as pernas de uma cadeira ou até uma coluna. Ojogo tem a ver com o improviso, com a agili<strong>da</strong>de, o raciocínio espaciale, principalmente, com a superação de etapas, pois a dificul<strong>da</strong>de vaificando ca<strong>da</strong> vez maior. Não há como pular etapas. Para iniciar asegun<strong>da</strong>, será preciso ter superado a primeira. E assim por diante.Crescer é muito parecido com isso. As aprendizagens eexperiências vão se acumulando e <strong>da</strong>ndo consistência ao que ca<strong>da</strong>um será. Ao trocar a convivência com os amigos pelo trabalho ea vi<strong>da</strong> na rua, a criança é priva<strong>da</strong> de etapas importantes do seudesenvolvimento. Como no jogo de elástico, não há como pularetapas sem ser penaliza<strong>da</strong> por isso.41


Exploração sexualExploraçãosexualcomercialfaz a criançadesaprendera amarA exploração e o abuso sexual deixam marcas profun<strong>da</strong>s nascrianças e nos adolescentes, comprometendo sua integri<strong>da</strong>de, suaautoestima e sua capaci<strong>da</strong>de de confiar e amar. São violênciascom muitas facetas, liga<strong>da</strong>s à pobreza e à exclusão social, mastambém às relações de poder dos adultos sobre as crianças e osadolescentes e dos homens sobre as mulheres. Estudos apontamque a maior parte <strong>da</strong>s vítimas são meninas e que o autor do abusocostuma ser alguém bastante próximo, como pai, padrasto, tio ouvizinho. No Brasil, a violência sexual é considera<strong>da</strong> grave violaçãode direitos e uma questão de saúde pública, pois afeta a saúdefísica e emocional e pode estar associa<strong>da</strong> ao consumo de drogas, àgravidez e às doenças sexualmente transmissíveis.No primeiro semestre de 2010, 80% <strong>da</strong>s denúncias de violência sexual feitas ao Disque DenúnciaNacional 1 diziam respeito a crianças e adolescentes do sexo feminino. As meninas também sãomaioria entre as vítimas de abuso sexual e tráfico de pessoas para fins sexuais e pornografia.421O Disque Denúncia (Disque 100) é um serviço de chama<strong>da</strong>s gratuitas e anônimas, alocado naSecretaria de Direitos Humanos do governo federal, em que é possível denunciar violências contracrianças e adolescentes.


Segundo estudo realizado em 2007 pela Agência de Notíciasdos Direitos <strong>da</strong> Infância (Andi) e publicado no guia ExploraçãoSexual de <strong>Criança</strong>s e Adolescentes, os locais onde mais ocorre aprática ou oferta de exploração sexual são casas de massagem,agências de modelos, prostíbulos, bares e casas noturnas,pensões e pousa<strong>da</strong>s, hotéis, praças, rodoviárias, aeroportos, áreasturísticas, áreas de garimpo e de extração de minérios, rodovias,postos de combustível, portos marítimos e fluviais. É importanteque as empresas, dentro de sua esfera de influência, estejamparticularmente atentas à área de logística e transporte, uma <strong>da</strong>smais suscetíveis à exploração sexual.43


Riscos para a criança e o adolescente sujeitos à exploração sexual comercialDescrição do trabalhoProváveis repercussões à saúdeAqueles prestados de qualquer modo em prostíbulos, boates,bares, cabarés, <strong>da</strong>nceterias, casas de massagem, saunas, motéis,salas ou lugares de espetáculos obscenos, salas de jogos de azar eestabelecimentos análogos.De produção, composição, distribuição, impressão ou comérciode objetos sexuais, livros, revistas, fitas de vídeo ou cinema e CDspornográficos, de escritos, cartazes, desenhos, gravuras, pinturas,emblemas, imagens e quaisquer outros objetos pornográficos.Frequentemente as crianças e os adolescentessubmetidos à exploração sexual sofrem <strong>da</strong>nosirreparáveis à sua saúde física e psicológica. Asmeninas enfrentam a gravidez precoce e todos,inclusive os meninos, correm o risco de contrairdoenças sexualmente transmissíveis e HIV/Aids.De ven<strong>da</strong>, a varejo, de bebi<strong>da</strong>s alcoólicas.Fonte: Decreto n. 6481, 2008.44


Aprendendoa amarDe uma vassoura faz um cavalo, de cadeiras faz um trem, <strong>da</strong> areiafaz um bolo de aniversário. Quando a criança brinca constrói areali<strong>da</strong>de de maneira sofistica<strong>da</strong> e desenvolve seu potencial criativo,transformando os objetos para atender os seus desejos. Com a bonecano colo, a menina se imagina no papel de mãe e, brincando, consegueelaborar situações vivencia<strong>da</strong>s.Brincar é uma ativi<strong>da</strong>de séria, em que a criança investe muito afeto.Brincando é capaz de criar um mundo para si, submete os objetosque estão à sua volta a uma nova ordem, queela controla soberanamente. Ao trocar omundo do faz de conta pelo mundo real,a criança perde a possibili<strong>da</strong>de deexercitar o controle, de realizardesejos, de compensarfrustrações e ampliar opróprio eu tanto quantopossível.45


Passo a passoO que suaempresapode fazerpara protegera infância1. Respeitar inteiramente a legislação que proíbe o trabalhoinfantil e empreender ações neste sentido.2. Colocar em prática a Lei do Aprendiz, cumprindo as cotase <strong>da</strong>ndo preferência aos jovens entre 14 e 16 anos que,por serem jovens demais, têm pouca experiência e, àsvezes, pouca escolarização, sendo preteridos em favor dosmais velhos.3. Incentivar o voluntariado corporativo em prol de criançase adolescentes.4. Utilizar a força de comunicação interna e marketing paracampanhas de conscientização volta<strong>da</strong>s aos funcionários efornecedores, a fim de sensibilizá-los sobre a temática dotrabalho infantil.5. Inserir, nos contratos referentes a fornecimentos, uma cláusulasocial, pela qual os fornecedores se comprometem a não utilizarmão de obra infantil, sob pena de tê-los cancelados.6. Fazer ações de advocacy cobrando procedimentos afirmativospor parte do governo, no sentido de garantir a escolari<strong>da</strong>de de46quali<strong>da</strong>de dos jovens, por exemplo.


7. Usar a capaci<strong>da</strong>de de planejamento e organização para gerarrecursos em favor <strong>da</strong> criança e do adolescente – investindonos Fundos <strong>da</strong> <strong>Criança</strong> e do Adolescente, ou por meio dofinanciamento de ações.8. Divulgar o posicionamento <strong>da</strong> empresa e as ações realiza<strong>da</strong>scom foco na erradicação do trabalho infantil em relatório anualou de sustentabili<strong>da</strong>de.9. Durante os eventos realizados para os filhos de funcionários,abrir um espaço de discussão para alertar as crianças e osadolescentes sobre o que é trabalho infantil e como evitá-lo. 47


“É na infância e na adolescência que se constroem os alicerces do que uma pessoase tornará na vi<strong>da</strong> adulta. É preciso viver com plenitude essas fases essenciais parao desenvolvimento do ser humano. Garantir as condições para que todos possam sedesenvolver com digni<strong>da</strong>de é dever de todos os ci<strong>da</strong>dãos e empresas sustentáveis.Somente assim faremos a nossa parte para construir um futuro brilhante para o País. Épor isso que, entre os investimentos sociais <strong>da</strong> Transpetro, a garantia dos direitos <strong>da</strong>scrianças e dos adolescentes é priori<strong>da</strong>de” (Sergio Machado, presidente <strong>da</strong> Transpetro).“É nosso dever como empresa contribuir para o esclarecimento e conscientização no que serefere ao enfrentamento <strong>da</strong> violência sexual contra crianças e adolescentes. É um dos pilares maisimportantes para o desenvolvimento do turismo sustentável. Entendemos que os profissionaisdo Turismo têm um papel de extrema importância na sensibilização dos atores envolvidos e noprocesso para a erradicação dessa violência.Desde 2006, a Meliá Hotels International, juntamente com o Centro de Defesa <strong>da</strong> <strong>Criança</strong>e do Adolescente (Cedeca) – BA, realiza diversas ações como: orientação e capacitação doscolaboradores; elaboração <strong>da</strong> Cartilha de Enfrentamento à Violência Sexual contra <strong>Criança</strong>s eAdolescentes para distribuição aos hóspedes, colaboradores, fornecedores e parceiros; inserção decláusulas específicas nos contratos de colaboradores e fornecedores sobre o tema; e campanhasanuais com hóspedes e colaboradores para arreca<strong>da</strong>ção de fundos em prol <strong>da</strong> instituiçãono mês de maio, por ser o dia 18 o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual48Infantojuvenil” (Rui Manuel Oliveira, vice-presidente <strong>da</strong> Meliá Hotels International – Divisão Brasil).


O que as empresas devem fazer para aplicar a Lei do Aprendiz1. Conhecer a lei e, em caso de dúvi<strong>da</strong>, buscar esclarecimentos com asDelegacias Regionais do Trabalho (DRTs) e com o Ministério Público doTrabalho.2. Ter uma visão clara de sua própria ativi<strong>da</strong>de e do seu processo produtivo,para proporcionar ao jovem uma aprendizagem ampla, conhecimentos maiselaborados e um embasamento para o futuro.3. Entender a aprendizagem como um direito constitucional do jovem, assumindoa sua contratação como uma posição ética e de responsabili<strong>da</strong>de social.4. Cumprir a cota estabeleci<strong>da</strong> por lei.5. Procurar o Sistema S, se ele estiver vinculado ao seu setor de atuação: aempresa pode selecionar os adolescentes e encaminhá-los para a formação,selecionar jovens já formados ou em formação no próprio Sistema S.6. Procurar uma escola técnica ou uma organização não governamental,certificando-se de que ela está inscrita no Conselho Municipal de Direitos <strong>da</strong><strong>Criança</strong> e do Adolescente e tem o seu projeto de formação depositado junto aeste órgão: a empresa pode selecionar os adolescentes e encaminhá-los para aformação, selecionar jovens já formados ou em formação na própria enti<strong>da</strong>de.7. Procurar o Grupo Especial de Controle do Trabalho Infantil e Proteção doAdolescente (Gectipa) ou a fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego.Para saber mais, consulte www.mte.gov.br.49


As empresas podem aplicar 1% do seu imposto de ren<strong>da</strong>na causa <strong>da</strong> infância/adolescênciaÉ direito de todo ci<strong>da</strong>dão, pessoa física ou jurídica, decidiro destino de parte do seu imposto de ren<strong>da</strong>. Destiná-lo aoFundo <strong>da</strong> <strong>Criança</strong> e do Adolescente é usar o dinheiro, queseria pago ao governo, para financiar projetos de instituições.O Estatuto <strong>da</strong> <strong>Criança</strong> e do Adolescente instituiu apossibili<strong>da</strong>de de deduzir do seu imposto de ren<strong>da</strong> valoresdoados aos fundos, controlados pelos Conselhos Municipais,Estaduais ou o Nacional. Pessoas físicas podem destinar6% do seu imposto devido e pessoas jurídicas, 1%. É umincentivo fiscal, ou seja, uma isenção de parcela do impostode ren<strong>da</strong>. Também pode ser chamado de renúncia fiscal, poiso governo deixa de arreca<strong>da</strong>r, em favor de programas e açõesem benefício de crianças e adolescentes.Para saber mais, entre em contato com o Conselho Municipal,Estadual, além do Nacional, o Conan<strong>da</strong> (http://www.direitoshumanos.gov.br/clientes/sedh/sedh/conselho/conan<strong>da</strong>/fundos).50


Trabalhandocom acomuni<strong>da</strong>de1. Atuar em cooperação com o Conselho Tutelar, MinistérioPúblico, escolas, hospitais, postos de saúde e facul<strong>da</strong>des.2. Estabelecer contato com associações de moradores, creches,igrejas, centros de convivência, organizações não governamentaise órgãos públicos do seu entorno, a fim de buscar soluçõesconjuntas para eliminar o trabalho infantil na região.3. Utilizar locais ociosos <strong>da</strong> empresa para construir espaçossocioeducativos como biblioteca, centro de convivência,creche, brinquedoteca, quadras de esporte, centros deinformática, entre outros.4. Usar sua força de comunicação e marketing em campanhas deconscientização <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de em relação ao tema do trabalho<strong>da</strong>s crianças e dos adolescentes brasileiros.Comunicar é precisoO modelo de gestão <strong>da</strong> Usina Coruripe tem por base a ética, a preservação <strong>da</strong> natureza e o respeito aoser humano. Acreditamos também que o trabalho infantil é muito prejudicial e que deve ser repelidoe combatido. Há cerca de quatro anos, sempre na semana que marca o Dia de Combate ao TrabalhoInfantil, colocamos em rádios de Maceió e Coruripe um jingle que lembra que lugar de criança éna escola, e não no cabo de uma enxa<strong>da</strong> ou facão. Com isso esperamos que as pessoas possam terconsciência de que é impossível obter qualquer tipo de vantagem quando substituímos o calendárioescolar pelo cartão de ponto. Enquanto prevalecer essa prática equivoca<strong>da</strong>, todos saímos perdendo52(Nelson Ferreira, gerente de comunicação <strong>da</strong> Usina Coruripe).


Jorna<strong>da</strong> de trabalho dos jovens aprendizesA Petrobras Distribuidora instituiu a jorna<strong>da</strong> reduzi<strong>da</strong> de 20 horas semanais para os jovens aprendizescontratados pela empresa, a fim de ampliar o seu horário de descanso e de dedicação ao estudo.De acordo com Tereza Cristina Alves dos Santos, gerente de Treinamento e Desenvolvimentode Competências, todos estão sendo beneficiados pela presença dos jovens aprendizes. Osempregados contribuem com a experiência para aju<strong>da</strong>r na sua qualificação e eles passam a teruma visão mais ampla de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, tornando-se mais responsáveis pelo seu crescimento pessoale profissional. Tereza afirma que “A mu<strong>da</strong>nça no comportamento dos jovens é perceptível. Eles setornam mais maduros, com uma desenvoltura maior nas ativi<strong>da</strong>des práticas na empresa, além de<strong>da</strong>rem um grande passo em direção ao mercado de trabalho. Estamos aju<strong>da</strong>ndo o jovem a realizar oseu sonho de se tornar um profissional qualificado”.53


Mais educação produz mão de obra mais qualifica<strong>da</strong>“Seria uma grande missão para os empresários acolher osadolescentes mais novos e investir na sua formação profissional”, dizIsa de Oliveira, secretária executiva do Fórum Nacional do Programade Erradicação do Trabalho Infantil (FNPETI).O Fórum defende a escolarização obrigatória dos 4 aos 17 anos, poisconsidera que o investimento público na educação de quali<strong>da</strong>de ena qualificação dos jovens com menos de 18 anos é o caminho paraa formação de bons ci<strong>da</strong>dãos e profissionais competentes. Açõesde advocacy nesse sentido, por parte dos empresários, produzirãoimpactos positivos no futuro dos jovens e <strong>da</strong>s próprias empresas,pois estarão estimulando o desenvolvimento de mão de obraqualifica<strong>da</strong> para o trabalho.Hoje, considerando que a escolarização só é obrigatória até os 14anos e que a faixa etária do aprendiz foi amplia<strong>da</strong> até os 24 anos, asempresas têm preferido contratar aprendizes mais velhos, preterindoos demais por serem muito jovens, com menor escolari<strong>da</strong>de e menorqualificação. Sendo assim, os jovens com mais de 18 anos, que jápoderiam estar sendo absorvidos pelo mercado formal de trabalho,estão sendo contratados como aprendizes, em detrimento <strong>da</strong>oportuni<strong>da</strong>de de qualificação e desenvolvimento dos mais jovens.55


DenuncieMINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO – MPTGratuito e de abrangência nacional, o MPT recebe denúncias desituação de trabalho infantil por meio do 0800-111616 e do sitewww.mpt.gov.br.DISQUE DENÚNCIA NACIONAL (DISQUE 100)Gratuito e de abrangência nacional, o Disque 100 recebe denúnciasde violação contra crianças e adolescentes e encaminha os casosàs autori<strong>da</strong>des competentes. Além de violência sexual, acolheregistros de tráfico de pessoas, negligência e maus-tratos. É geridopela Secretaria Especial dos Direitos Humanos.CONSELHOS TUTELARESO Conselho Tutelar é um órgãopermanente e autônomo, não jurisdicional,encarregado pela socie<strong>da</strong>de de zelar pelocumprimento dos direitos <strong>da</strong> criança e doadolescente. Em ca<strong>da</strong> município é possível56encontrar o Conselho Tutelar.


Para saber maisCONANDAO Conselho Nacional dos Direitos <strong>da</strong> <strong>Criança</strong> e do Adolescente(Conan<strong>da</strong>), instância máxima de formulação, deliberação econtrole <strong>da</strong>s políticas públicas para a infância e a adolescênciana esfera federal, foi criado pela Lei n. 8.242, de 12 de outubrode 1991, e é o órgão responsável por tornar efetivo os direitos,princípios e diretrizes contidos no Estatuto <strong>da</strong> <strong>Criança</strong> e doAdolescente. Acesse http://www.direitoshumanos.gov.br/conselho/conan<strong>da</strong>.FÓRUM NACIONAL DE PREVENÇÃO E ERRADICAÇÃO DOTRABALHO INFANTILO Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do TrabalhoInfantil é uma estratégia não governamental de articulação,mobilização e sensibilização <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de brasileira na lutapela prevenção e o fim <strong>da</strong> exploração do trabalho de milhõesde crianças e pela proteção ao adolescente trabalhador emnosso país. Acesse http://www.fnpeti.org.br.57


BibliografiaANDI. Agência de Notícias dos Direitos <strong>da</strong> Infância. Exploraçãosexual de crianças e adolescentes – guia de referência para acobertura jornalística. Brasília: Patrocínio Petrobras; ApoioUnicef, 2007.CONFERÊNCIA GLOBAL DO TRABALHO INFANTIL DE HAIA.Roteiro para alcançar a eliminação <strong>da</strong>s piores formas detrabalho infantil até 2016. Haia, 2010.CORTELLA, Mário Sérgio. Meninos e meninas nas ruas do estadomais rico do país. Entrevista concedi<strong>da</strong> à Ação Educativa. SãoPaulo, 2 fev. 2009.FNPETI. Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do TrabalhoInfantil. Disponível em: . Acesso em:10 out. 2012.FUNDAÇÃO ABRINQ. Incentivos fiscais em benefício de crianças e58adolescentes. Coleção <strong>Empresa</strong> <strong>Amiga</strong> <strong>da</strong> <strong>Criança</strong>. v. 1.


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Escritório PernambucoRua Ernesto Paula Santos, 1.260 | 4º an<strong>da</strong>rBoa Viagem | 51021-330 | Recife/PE55 81 3033-1282www.fun<strong>da</strong>brinq.org.br/peac55 11 3848-4880/fun<strong>da</strong>brinqEscritório São PauloAv. Santo Amaro, 1.386 | 1º an<strong>da</strong>rVl. Nova Conceição | 04506-001 | São Paulo/SP55 11 3848-8799@Fun<strong>da</strong>cao<strong>Abrinq</strong>ISBN 978-85-88060-46-3

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